Capítulo 3
3. Capítulo 3
Narcisa Malfoy
Tomou o desjejum sozinha. Como sempre. Havia preparado o jantar na noite anterior quando Lúcio lhe dissera que iria para casa. Mas ele não viera. Ficou imaginando em que quarto de hotel barato ele havia ido dormir com sua amante. Isso sequer a entristecia mais. Ou talvez ela pensasse que não a entristecia. Doía mais saber que era uma mulher sozinha do que pensar em Lúcio a traindo. Lúcio a traía desde o dia em que haviam noivado.
Antigamente, ela teria jogado o jantar no chão e teria o esperado para gritar o tanto que pudesse quando ele voltasse para casa. Mas no dia anterior, assim como em muitos outros, ela apenas se levantou cansada de esperá-lo. Guardou a comida por ela mesma, subiu para o quarto, tirou o vestido impecável, que comprara apenas para a ocasião, limpou-se da maquiagem, desfez o penteado, leu um capítulo de seu livro e dormiu. Sozinha. Como sempre.
Ela imaginava com frequência como teria sido se nunca tivesse se animado tanto em se tornar uma Malfoy quando os pais de Lúcio propuseram o noivado. Imaginava-se casada com sua pequena paixão adolescente. O vizinho de seu residencial. Qualquer um que não possuísse o sobrenome Malfoy. Talvez agora ela tivesse um homem que a amasse, que não a traísse, que estaria um casa para o jantar todos os dias.
Suspirou.
Pobre do destino da garota sangue-ruim. Se ela soubesse as maldições daquela família certamente estaria a procura da morte nesse momento. Ou talvez ela estivesse fadada a uma história diferente da sua. Sabia que a sangue-ruim sempre havia odiado seu filho, muito diferente dela, que amara Lúcio Malfoy desde o momento que colocara os olhos sobre ele. Lindo, forte, alto, sedutor. Era o homem perfeito, mas com um coração podre. Suficientemente canalha para fazê-la acreditar que ele também poderia amá-la e que juntos seriam uma família perfeita. Mas a dura convivência a mostrara quem ele era.
Talvez se ela não amasse tanto a Lúcio, teria um amante. Assim como ele tinha tantas. Mas não podia. Por mais que nunca tivesse sido a mulher mais adorável do mundo, era uma mulher íntegra e honrava a aliança que carregava no dedo. Por orgulho e por amor a Lúcio. Talvez nisso a sangue-ruim poderia ter um destino diferente. Talvez ela encontrasse um amante, era uma mulher muito bonita. Talvez ela fosse esperta o bastante para desonrar seus votos de casamento e fidelidade.
Ou talvez ela tivesse criado Draco bem o bastante para ter passado um pouco de seu coração para ele. Mas Draco era demasiado filho de seu pai. Lúcio havia sido seu grande herói durante toda a infância. Havia sido seu herói tempo o suficiente até que crescesse e percebesse que a família que imaginava ter era uma farsa e por grande culpa de Lúcio. Mas Lúcio havia se aproveitado do reinado na vida do filho para enfiar na cabeça do garoto tudo que ele mesmo era e Draco se mostrou ter absorvido bem a medida em que atingiu a adolescência. Era até um bom garoto, mas assim que passou a ter consciência de todo o seu potencial com as garotas, da lábia que poderia ter para ser influente e do poder que tinha para conseguir as coisas, ele se tornou tão Lúcio Malfoy quanto o próprio pai.
A garota sangue-ruim estava mesmo perdida.
Terminou seu chá, dobrou o jornal e se levantou. Quando cruzou a sala para tomar a escada e voltar ao quarto a porta se abriu e ela foi presenteada com a visão de seu marido. Cabelos despenteados, gravata frouxa e o terno dobrado em seu braço. Não queria sentir nem o cheiro que ele exalava. Os olhos maravilhosamente cinzas dele caíram sobre ela e Narcisa foi obrigada a voltar um degrau e ajeitar a postura.
- O que faz aqui? – ele tinha a voz rouca.
- Eu moro aqui. – ela foi fria.
Ele bateu forte a porta em resposta e ela lutou para não se sobressaltar com o barulho estrondoso.
- Não deveria estar com a sangue-ruim vendo vestidos por aí? – ele passou por ela. – Ainda tem café da manhã? – Narcisa o seguiu enquanto ele avançava meio grogue para a sala de jantar. – Onde está aquele maldito elfo que ainda não apareceu?
- Ainda é muito cedo para se olhar vestidos no centro da cidade. O desjejum ainda está posto e Rubby está podando os arbustos do jardim. – respondeu enquanto recebia o terno que ele praticamente jogara sobre ela.
Lúcio desmoronou em sua cadeira na mesa de jantar, encheu seu copo de chá preto e puxou um prato onde jogou tomates, ovos, batatas e bacon.
- É melhor que esse casamento seja o melhor casamento da história da família Malfoy. É uma grande quebra na tradição. Sei que posso contar com você para isso. Portanto trate de fazer com que as lojas abram mais cedo para recebê-la. – ele parecia ainda bêbado, mas tinha uma postura perfeita sentado em sua cadeira de mestre da casa. – Pode ir agora. – ele a dispensou como se ela fosse um elfo doméstico.
Narcisa soltou o ar frustrada, deu as costas e saiu da presença de seu carinhoso, dócil e benevolente marido. Subiu para o quarto, estendeu o terno sobre a poltrona dele, mas não antes de cheirá-lo. Fedia a sexo. Quase o jogou no chão, mas era melhor deixar onde saberia que Rubby trataria de levar para limpar. Ela sabia que para não sofrer mais do que sofria, era preferível fingir que tudo estava bem. Que Lúcio tivera uma dura noite de intenso trabalho em seu escritório no Ministério da Magia e que tudo que ele precisava agora era de uma massagem e um bom tempo para o sono.
Vestiu-se da melhor forma possível. Gostava sempre de estar apresentável, afinal era uma Malfoy. Ajeitou seus fios dourados e maquiou-se com muita habilidade. Tornou a descer e encontrou Lúcio subindo as escadas. Ela agiu como se tudo estivesse perfeitamente bem. Agiu como a esposa de seu marido.
- Vou a catedral. – ela o abordou. Estalou seus lábios sobre os dele e continuou a descer as escadas. – Se precisar de algo estarei no centro durante a tarde.
Ela continuou a avançar. Ele não respondeu e não era de hoje que ela se abateria por isso. Saiu pela porta, desceu os eternos degraus da fachada neoclássica de sua casa e entrou na cabine de sua carruagem. O caminho para a catedral era sempre rápido. O fazia com frequência.
Assim que desceu no pátio sul, atravessou a ala que separava o salão principal e andou por debaixo de uma longa marquise até chegar ao jardim interno onde encontrou Bellatrix Lestrange sentada num dos agradáveis mobiliários do jardim tomando seu desjejum.
- Que bom que veio. – Bella disse assim que Narcisa se juntou a ela. Fechou a revista da qual estava se ocupando e estendeu-a para sua nova companheira. – Veja. Seu filhinho e a sangue-ruim ainda são notícia. – e sugou um pouco do chá em sua xícara. – Parece que a cidade realmente não encontra nada de bom do qual falar.
Narcisa pegou a revista, olhou a capa e soltou um muxoxo.
- Me surpreende que um quinzenário sobreviva as custas das novidades dessa cidade! – disse e folheou a revista – Ainda publicam mais imagens diferente da noite desse jantar?! – comentou enquanto olhava as imagens. - Pensei que eles já houvessem acabado com todo o estoque.
- Não. Há rumores de que o Diário do Imperador possuem fotografias deles dentro do restaurante. Tudo esta girando em torno dessa especulação. Quem irá comprar as imagens e se elas realmente existem. Ah, e claro! – Bella revirou os olhos. – As roupas da sangue-ruim. Sabe quem está a vestindo?
- Draco colocou Tryn a disposição dela. – responder Narcisa.
Bellatrix fez uma careta enquanto engolia mais um gole de seu chá.
- Ah! Maldita elfa. – praguejou. – Ela é boa.
- Sim. O mestre colocou a sangue-ruim sobre a responsabilidade de Draco sabe que ele nunca o decepcionou. A garota é preciosa demais para que fosse jogada diante do seus deveres como comensal sem a devida orientação.
Bellatrix resmungou baixo.
- Eu teria matado essa horrorosa no dia em que aquela marca apareceu no braço dela! Ela está tomando meu lugar.
Narcisa fez uma careta.
- Por favor, Bella! Está mesmo pensando nessa estupidez? Sabemos que para o mestre você é insubstituível. Ele já tratou de deixar isso bem claro em muitas das missões e até mesmo aqui dentro da catedral.
- Eram tempos de guerra muito diferentes do de agora. Seu filho herdou o exército do lorde das trevas e todos nós pudemos nos banhar da futilidade de Brampton Fort sem se preocupar com as batalhas travadas entre essas resistências devido a ditadura do mestre! – ela debruçou-se sobre a mesinha - Me escute bem, Cissa. Eu sou a rainha desse palácio. Sempre fui! E agora essa garota estúpida apareceu, tomou conta dos jornais, das revistas, dos comentários, da moda. Ela virou a menina dos olhos do mestre! O lorde deu minha cadeira nos jantares coletivos para ela, Cissa! Minha cadeira! Meu lugar! – ela bufou e tornou a sentar-se corretamente em sua cadeira. – Mas eu estou trabalhando nisso. – Bella manteve a xícara nas mãos muito refinadamente. – Estou deixando Nightmare Grey. – era o seu quarto na catedral – Estou de olhou em uma das mansões da Vila dos Comensais. Aquela do alto da colina. Com pedras cinzas e um pequeno lago na frente. Quero ver qual será o movimento do lorde quando eu deixar a catedral.
Bellatrix eram uma das poucos que poderia jogar com o mestre daquela forma e não sair morta. Sabe-se lá o que Voldemort nutria por aquela mulher.
- Seria ótimo estarmos mais próximas. – Narcisa se reservou a comentar.
- Seria ótimo ouvir um pedido do mestre para que eu voltasse. – ela bebeu do chá.
- Tome cuidado nas situações que anda encurralando o mestre. Ele é imprevisível, Bella. Sabe disso.
- Nunca foi comigo. – ela retrucou quase sabiamente. – Me diga, o que fará durante a tarde? – desvirtuou o assunto.
- Sairei com a sangue-ruim para o centro da cidade provavelmente e não sei quanto tempo isso irá me tomar. Tenho visitas agendadas em talvez umas mil lojas.
Bellatrix revirou os olhos.
- Ah, claro. “Quem irá fazer o vestido da estúpida noivinha?” – soltou um muxoxo – Estou farta dessa sangue imundo!
- Não me desanime mais, por favor. – retrucou Narcisa.
- Bem, é uma pena que não poderá estar aqui. Estava planejando deixar Brampton Fort para conseguir alguns ingredientes exclusivos e inéditos para a cidade. Vou abrir uma loja de ingredientes para poções no centro.
Narcisa ergueu as sobrancelhas surpresa.
- Uau. Isso é uma nova!
- Sim. A cidade está precisando.
A loira riu.
- A cidade já tem três, Bella.
- Que nunca tem os ingredientes que eu preciso na hora que eu preciso, portanto, quem melhor do que eu para abrir uma loja de ingredientes. Tenho acesso para entrar e sair da cidade. Draco me daria sempre que eu precisasse.
- Deve tomar cuidado. Sabe que o lado de fora não é estável e vive em constante perigo.
Foi a vez de Bellatrix rir.
- Por favor, Cissa! Está mesmo falando comigo sobre perigo? Está me ofendendo! – ela soltou um riso desdém. – Eu sou o perigo! – e tomou o último gole de seu chá.
Narcisa revirou os olhos.
- Certo. – levantou-se. – Espero que Draco te alerte mais detalhadamente sobre isso quando for pedir para sair.
Bellatrix ignorou.
- Pansy estava a procurando.
- Tão cedo?
- Sim. Não perguntei a ela o que queria.
- Certo. Ela certamente arrumará um jeito de me encontrar. Se voltar a vê-la, diga estou aqui.
- Não será um problema.
Então Narcisa deu as costas e seguiu de volta pela marquise até estar de volta ao edifício. Percorreu todo o caminho para a ala leste, subiu as escadas principais, parou para dar seus cumprimentos a filha de um dos amigos de seu marido e entrou finalmente no labirinto de corredores do segundo pavimento. Não demorou para estar de frente a porta do Whitehall. Ajeitou o vestido e a postura antes de bater educadamente.
Tryn abriu a porta. Narcisa não pediu licença para entrar. Encontrou Hermione sentada na beirada de uma cadeira, debruçada sobre um pequeno caderno e com uma pena nas mãos. Ergueu os olhos para Narcisa assim que terminou de escrever o que quer que estivesse trabalhando.
Ambas trocaram um segundo de silêncio.
- Eu poderia ter ordenado que viesse a minha casa, mas não gostaria de alguém como você lá. – Narcisa disse.
Hermione abriu um sorriso irônico como se já estivesse acostumada com todas as ofensas que recebia, ou apenas já soubesse que ela diria algo do tipo.
- É um prazer recebê-la aqui, Sra. Malfoy. – disse acompanhada do sorriso forçado. – Por favor, sente-se. – apontou para a cadeira a sua frente.
Narcisa também forçou seu sorriso. Ajeitou a bolsa sobre um dos ombros e avançou para sentar-se na cadeira indicada.
- Temos muito o que fazer. – tirou da bolsa uma agenda e a abriu sobre a mesa. – Agendei uma série de entrevistas com equipes de cerimoniais. – ela voltou-se para a elfa. – Tryn, trate de nos arrumar um salão vazio na catedral para recebermos todos eles. E também estará responsável por levá-los até nós.
- Sim, Sra. Malfoy! – Tryn fez uma reverência exagerada e sumiu num estalar de dedos.
- Bem. – continuou Narcisa voltando-se para sua agenda na mesa. – Mais tarde iremos deixar a catedral para ir ao centro. Alguns estilistas prepararam um desfile de vestido de noivas e gostaria que fosse se familiarizando com o perfil de cada um deles. – ela virou a página. – Suas damas de honra serão Pansy Parkinson e Lesl...
- Luna Lovegood. – Hermione a cortou. Houve um segundo de silêncio e então Narcisa levantou seus olhos para encarar o da outra.
- Perdão? – indagou confusa.
- Luna Lovegood. – repetiu Hermione. – Será minha segunda dama de honra.
Narcisa resfolegou.
- Não querida. Sua amiga está bem presa nas masmorras...
- Ela será minha segunda dama de honra. – tornou a repetir Hermione muito confiante nas palavras que soltava. – Desconsidere quem quer que seja para esse papel.
- Escute, o que quer que tenham dito a você sobre sua amiga, não passa de uma ferramenta para torná-la mais obediente.
- Sou obediente o suficiente. – Hermione deu um sorriso forçado. – Foi uma promessa que eu recebi do seu mestre, portanto desconsidere quem quer que seja para minha segunda dama de honra.
Narcisa encarou os olhos orgulhosos da mulher a sua frente. Torceu a boca, voltou para sua agenda e riscou o nome de Leslie Chupp. Pigarreou e continuou:
- Então na próxima semana estaremos olhando os locais para a cerimônia. O mestre não permitirá que façamos fora da cidade, portanto podemos até procurar por alguns salões nas vilas mais abastadas da cidade, mas ainda assim o lugar mais pomposo que encontraremos será a catedral.
- Não quero que seja aqui.
- Sua opinião não conta, querida.
- Não me chame de querida. – Hermione foi séria.
Narcisa ergueu os olhos para ela em silêncio, lançou um olhar desaprovador e continuou como se não houvesse escutado nada da parte da outra.
- Conheço o desenhista perfeito para fazer o vestido das damas. Mas não quero que ele faça o seu. Veremos alguns trabalhos dele antes que eu possa decidir sobre isso...
- Por acaso eu poderei escolher algo do meu casamento? – interrompeu Hermione.
Narcisa processou a pergunta dela. Que insolência da parte dela! Teria muito no que trabalhar para que ela se tornasse uma Malfoy! Pensou que um “não” bastaria, mas não foi exatamente o que conseguir responder.
- É uma sangue-ruim, rebelde, pobre e de péssimo mal gosto. Eu não seria estúpida o bastante para deixar que estragasse tudo com suas péssima escolhas. Entenda, garota! Isso será um grande evento. Não será só mais um casamento da família Malfoy! O mestre quer que seja grande e será!
- Não sou uma sangue-ruim, sou nascida trouxa. Não sou rebelde, faço parte da resistência. Nunca fui pobre e você não conhece os meus gostos. – Hermione foi dura e firme. – Minha decisão será a decisão final. É o meu casamento e eu não me importo que seja com um Malfoy nem tão pouco me importo com as ordens de seu mestre.
Narcisa fechou brutalmente sua agenda.
- Está sendo abusada, sangue-ruim!
- Estou? – Hermione fingiu surpresa. – Não vejo abuso algum em querer tomar as decisões do meu casamento.
- Não é seu! – Narcisa sentiu uma veia sua querendo pulsar. – Esse casamento é tudo menos seu! Não foi você quem escolheu se casar! Escolheram você como noiva! Não há nada de feliz no seu destino para que queira fazer escolhas de um casamento que estará fadado ao fracasso! – Narcisa parou para ofegar quando se viu fazer um discurso que gostaria que a Sra. Malfoy tivesse feito a ela quando estava noiva de seu marido.
Hermione pegou ar para retrucar, mas fechou a boca. Fez uma careta de desgosto ao saber que não poderia competir com a verdade. Por um segundo só Narcisa voltou a ter dó daquela pobre criatura. Sabia de todos os sonhos de menina que ela carregou a vida toda. O casamento dos sonhos. Aquele que toda garota tem em mente, aquele que toda garota sonha realizar um dia.
- Só estava tentando encontrar um jeito de aproveitar a tempestade, já que sou obrigada a ficar debaixo dela. – a voz de Hermione foi baixa porém séria.
Narcisa puxou o ar e ajeitou a postura.
- Guarde isso para o futuro. Vai precisar mais do que agora. – guardou sua agenda. – Levante-se. Me deixe ver o que está vestindo. – viu a mulher se levantar relutante e se afastar para que pudesse ser observada por inteiro de um ângulo melhor. Narcisa analisou com cuidado. – Vire-se. – pediu e Hermione se virou. – Adorável e frágil. – disse finalmente – Não é como eu quero que esteja. Quem a vestiu?
- Tryn.
- Sim, ela é boa, mas não está como sempre deve estar. Vamos ao seu closet. – se levantou. – Mostre-me onde é. – e seguiu Hermione. O quarto dela era muito bonito, o lavatório espetacular e o closet, bem, o closet era peculiar. – Bem, isso é bastante pequeno. – viu a outra erguer as sobrancelhas por seu comentário. – Certo. Vamos lá. – Puxou sua varinha e começou a ordenar que as araras se mostrassem, descessem e subissem fazendo todas as roupas passarem por seus olhos. – Primeiro, não terá Tryn para sempre. Deverá aprender a se vestir de maneira adequada e nunca, jamais, em situação alguma, mostre-se... – hesitou – confortável demais. – completou. Hermione entenderia. – Deve estar sempre com os cabelos penteados e de maquiagem no rosto. Nada exagerado, mas um batom, pelo menos, faz muita diferença. Pareça sempre natural. Tem um rosto bonito, não precisa de muita coisa. – ela tirou alguns vestidos e jogou-os sobre um banco – Escolha roupas com o decote mais arredondado ou quadrados. Use decotes em “V” apenas para festas, apresentações, jantares e saídas importante. – estendeu um vestido para ela após passar o olho em muitos. Hermione o pegou. – Use roupas com esse fechamento envelope, alguns modelos incitam uma fenda na perna quando anda. Cuidado com modelos rodados, podem te fazer parecer muito menina. Nunca use cores muito vivas, a vida não é uma festa para isso. Precisa mostrar as curva do seu corpo de maneira discreta e chamar atenção com algum outro elemento. Tem um corpo muito bonito, portanto deve tomar cuidado com vestidos muito apertados e muito curtos, pode te deixar vulgar demais e vadia com o sobrenome Malfoy é inaceitável. Pode escolher chamar atenção com um chapéu no verão ou primavera. Ou pode escolher chamar atenção com jóias. Onde estão suas jóias?
- Não tenho muitas. – respondeu Hermione apontando para a mesa de vidro que abrigava as poucas peças.
Narcisa fez uma careta assim que a viu.
- Draco te deu alguma?
- Todas essas foram Tryn quem trouxe. Ele deve ter dado a ela.
- Deve pedir mais a ele.
- O que? – Hermione quase engasgou com a própria saliva.
- Se não encontrar uma forma de gastar o dinheiro do seu marido, ele encontrará alguém com quem gastar. – pegou um colar e um par de brincos. – Isso ajudará. – estendeu para Hermione. – Os sapatos... – ela parou de frente a estante de sapatos que se estendia até o teto e a rolou para poder ver todos. – Deve escolher sempre cores neutras. Pode até escolher alguns exagerados quando sua roupa for mais discreta, mas nunca, me escute bem, nunca deixe de usar salto alto. – pegou um sapato e deu a Hermione. Virou-se para ela e a encontrou carregando tudo que havia lhe passado. – Sua roupa deve completar o sobrenome que carregará. Nunca esteja exageradamente vulgar. Seduza com o elegante. Incite a curiosidade. Sua roupa deve lhe ajudar a estar sempre no domínio de sua soberania e sempre com o orgulho intacto. Nunca frágil demais. Nunca! Lembre-se disso. Agora vista-se. Vou estar esperando-a na porta. Temos muita gente para receber.
Deu as costas e saiu.
**
Estava farta de como todos os grupos de cerimoniais que recebiam pareciam querer lamber o chão para que passasse. Estava disposta a pagar por um que tivesse bons trabalhos, boas indicações, fosse discreto o suficiente e competente o bastante, mas tinha a enorme impressão de que assim que contratasse qualquer um daqueles, o felizardo sairia se vangloriando por toda a cidade. Conviveu quieta com essa impressão até que Hermione Granger comentou algo sobre isso numa das trocas. Quase sorriu por sentir um breve momento de afeto pela mulher por estarem compartilhando do mesmo pensamento.
Bastava que mais alguns grupos entrassem pela porta daquele salão e logo ela estaria bêbada junto com a noiva de seu filho já que se afogavam em álcool cada vez que um deles resolvia discursar longamente sobre seus incríveis feitos.
- Deveríamos parar isso e fazer um sorteio com os grupos agendados. São todos iguais, afinal. – Hermione disse assim que um dos grupos saiu pela porta do salão que se encontravam.
Narcisa quase concordou se não fosse apenas um comentário irônico dotado de insensatez.
- Tragam-nos doces. – disse para qualquer um dos elfos. – E parem com todo esse álcool ou vamos estar bêbadas logo pela manhã! Aposto que em algum lugar dessa catedral encontrarão sucos para nos servir!
Os elfos se agitaram em seus afazeres e logo quem estava entrando pela porta para anunciar o próximo grupo era Tryn.
- A Srta. Pansy Parkinson pede para poder falar com a Sra. Narcisa Malfoy antes do próximo grupo. – disse a elfa tremendo de medo por ter sido obrigada a quebrar a rotina da manhã.
Por algum motivo, Narcisa sentiu-se iluminar.
- Claro, mande-a entrar. – respondeu quase imediatamente.
Escutou Hermione soltar um longo suspiro ao seu lado.
- Devia ter mandado nos servir algo mais forte. – ela murmurou mais para ela mesma do que para a Sra. Malfoy.
Narcisa ignorou e se levantou assim que Pansy irrompeu pelo salão em sua direção.
- Bom dia, Sra. Malfoy! – ela estava radiante em um vestido de renda escura e transparente. Os cabelos negros e extremamente lisos esvoaçavam quando andava e a sua beleza e juventude parecia afetar até mesmo as paredes de pedra do salão. – Estive a procurando durante toda a manhã.
- Bella me avisou. – Narcisa recebeu beijos educados um de cada lado do rosto. – Está cada dia mais bonita, Pansy. – elogiou-a.
- Obrigada. – a outra agradeceu esnobemente e tomou da mão de um dos elfos uma taça da bebida que estavam retirando. – Tinha a esperança de encontrá-la antes de começar sua agenda, mas não haverá problemas. Tenho uma ótima proposta a fazer.
Narcisa apreciou a empolgação explicita no sorriso de Pansy, mas temeu pela ideia que estivesse passando pela cabeça da mulher. Conhecia aquela criatura desde criança e não havia nada que Pansy Parkinson quisesse que não conseguisse.
- Faça-a. – disse embora já temesse pelo que poderia ouvir.
Pansy puxou o ar após um gole de sua bebida.
- Deixe-me escolher a equipe para a cerimônia e o banquete. Sabe que sei organizar bem qualquer espécie de evento e nunca ouvi critica alguma sobre meus trabalhos. Sabe disso. – Ela fez um sinal de aviso que ainda não havia terminado quando Narcisa sugou ar para dizer qualquer coisa. – Sei que precisa fazer um evento brilhante. Conheço as pessoas certas que não serão compradas para abrir a boca a imprensa e manterão sigilo sobre qualquer escolha feita e qualquer decisão tomada.
- Não. – Hermione levantou-se de sua cadeira e Narcisa se lembrou de que ela também estava no salão.
O sorriso de Pansy morreu rapidamente e seus olhos pularam de Hermione para a Sra. Malfoy avaliando ambas muito precisamente. Pela primeira vez, Narcisa viu Pansy sentir-se aparentemente desconfortável com a roupa que usava. Ela nunca havia sido um exemplo de mulher íntegra, vestia-se como vestia-se para ter a atenção de seu filho.
- Não estávamos falando com você, sangue-ruim. – Pansy emboçou uma cara de nojo.
- Não irá tomar decisão alguma sobre o meu casamento. – reafirmou Hermione.
- Já conversamos sobre isso, Srta. Granger. – Narcisa interrompeu tentando fazer soar o mais educada possível.
- Parece bem satisfeita com a ideia do seu casamento! – Pansy aproximou-se da outra mulher com um sorriso esnobe e superior. Hermione não deixou por baixo quando uniu o par de salto que tinha nos pés e ajeitou perfeitamente sua postura. – Acaso está feliz com o destino que terá? Oh! – Pansy soltou um riso irônico. – Claro que está! Que mulher não estaria feliz em ter Draco Malfoy para o resto da vida? Um homem e tanto, não é? Mas eu deveria alertá-la de que ele a odeia, sangue-ruim. Sempre odiou.
- Não pense que não me lembro que é obcecada por Draco Malfoy, Pansy Parkinson! – retrucou Hermione numa expressão fria e dominadora. – Lembro-me bem do pouco tempo que namoraram em Hogwarts e lembro-me bem de todo o seu comportamento quando Malfoy a deixou. – ela se aproximou. – Tenho um anel que não tem. Um anel que quer tanto quanto quer a ele. A ideia do meu casamento te incomoda. Não sou burra, sabe disso. – pulou os olhos de Pansy para a Sra. Malfoy. – Se forem tomar todas as decisões, – Colocou o copo que carregava numa das bandejas que um elfo equilibrava. – podem me chamar no dia da cerimônia, me enfiar em um vestido qualquer e me fazer decorar tudo que eu tiver que dizer. Não preciso perder meu tempo aqui. – deu as costas e saiu.
O silêncio durou entre ambas as mulheres que restaram no salão. Narcisa sentiu-se querendo abrir um sorriso fino no canto dos lábios. Ela daria uma boa Malfoy. Mas Pansy voltou-se para ela e teve que engolir qualquer pensamento sobre Hermione.
- Quem deu permissão para todo esse abuso? – protestou Pansy claramente enfurecida. – Vou fazer essa garota engolir todas aquelas palavras...
- Pansy, escute! – cortou Narcisa. – Sei que os eventos que organiza agradam sempre a todos, mas esse precisa ser histórico.
- Sabe que posso fazer ser! – exclamou Pansy.
- Sei que pode, mas...
- Mas? – cortou Pansy surpresa e irritada. – Está defendendo a sangue-ruim? – aumentou a voz - Vi a forma como olhou a olhou quando ela saiu daqui! Eu deveria estar no lugar dela! Sempre quiseram isso! Você e o Sr. Malfoy! Por que maldição está a defendendo? Ela irá manchar o nome de toda a história da sua família! Os Malfoy nunca mais serão como antes...
- Não estou defendendo-a! – Narcisa quase precisou gritar para calar a outra e Pansy fechou a boca imediatamente deixando passar em seu olhar a vergonha por seu comportamento histérico e impensado. – Estou sendo sensata em dizer que preciso pensar! – algumas atitudes de Pansy a irritava. – E sabe que Draco jamais se casaria se ninguém nunca o obrigasse. Teria sido você, mas creio que deva ter consciência de que precisaria mudar muita coisa para ser uma Malfoy! Precisaria mudar mais do que a sangue-ruim precisará. – calou-se surpresa ao escutar suas própria palavras.
O olhar que Pansy lhe lançou foi ainda mais surpreso. Quase tornou a abrir a boca para dizer que não era exatamente aquilo que queria dizer, mas as palavras não saíram. Irritou-se por isso. Deu as costas e tomou o mesmo rumo de Hermione parando apenas para ordenar a Tryn que cancelasse o restante da agenda.
**
Estava exausta e não havia produzido quase nada.
Seria possível que toda aquela responsabilidade pudesse lhe gerar tanta pressão?
Havia ido ao centro sozinha. Se encontrara com todos os desenhistas e opinara em todos os modelos de vestido de noiva que haviam apresentado a ela. Não gostara de nenhum e até que não levar Hermione fora um alívio. Não queria que ela criasse expectativas com nenhum daqueles modelos horrorosos. Ainda havia muito no que trabalhar na mente daquela pobre criatura e uma influência errada poderia fazer o trabalho ser ainda mais árduo.
A noite estava caindo e esperava em pé por Draco ao lado de um gigantesco totem de concreto que anunciava a entrada da ala do Q.G. de Voldemort. Agradecia a merlin por seu filho ter se tornado exageradamente pontual.
Não demorou muito e logo o viu cruzar o hall da ala. Os olhos dele caíram sobre ela quase que imediatamente. As vezes se assustava ao ver seu filho de longe. Sempre tinha a imagem de uma criança em sua cabeça e quando o via se surpreendia como homem que ele havia se tornado. Era quase como olhar para Lúcio Malfoy quando o conhecera. Lindo, alto, loiro, forte, olhos assustadores.
- Mãe, o que faz em pé aqui? – ele perguntou assim que chegou até ela. – Deveria ter entrado.
- Acabei de chegar do centro e sei que já estava na hora da sua saída do Q.G. – ela se justificou.
- Por que não foi para casa? Tem algo para fazer aqui? – ele perguntou quando começaram a andar lado a lado.
- Tenho que me encontrar com a sua noiva. – não escondeu o desapontamento na voz. Ela teria que extrair forças de algum lugar para ter que lidar com a sangue-ruim. Granger não poderia tomar decisões sobre o casamento, mas deveria estar ao seu lado e o orgulho daquela mulher era difícil. – Deve dar mais jóias a ela. Fui ao seu closet e não dá para fazer muitas combinações.
Draco soltou um protesto infantil.
- Não vou ficar sustentando as futilidades de uma sangue-ruim!
- Não é uma futilidade, Draco! Ela saíra nas revistas e jornais toda a semana carregando o anel de noivado da nossa família! Não irá demorar e teremos imagens dela no Profeta Diário para o mundo inteiro assim que a notícia vazar de Brampton Fort! Quero-a muito bem apresentável!
Seu filho bufou.
- Providenciarei. – ele fez soar como Lúcio fazia quando era obrigado a levá-la para algum evento importante e apresentá-la como sua esposa para garotas com metade da sua idade.
- Pansy me fez uma proposta hoje pela manhã. – ela disse e eles saíram para o pátio leste. – Ela quer organizar a cerimônia e o banquete.
- Não. – Draco respondeu quase que imediatamente.
- Draco, sabe que ela faz eventos excelentes. E o mestre gosta de como ela trabalhar para agradar seus gostos.
- Não. – reafirmou ele. – Sabe que Pansy sempre me amou. É o meu casamento e não é com ela que eu estarei casando. A conhece e sabe que ela encontraria alguma forma de humilhar Granger publicamente. Gostaria de ver isso nas revistas?
Narcisa sentiu um calafrio percorrer toda a sua espinha apenas de imaginar alguma polêmica envolvendo erros no evento histórico que deveria organizar.
- Não. – limitou-se a responder e continuou a caminhar calada ao lado de seu filho.
- Talvez a pressão seja grande, mas sei que fará um ótimo trabalho, mãe. – ele quebrou o silêncio. Narcisa apenas sorriu.
Era sempre preocupante ver ser filho soltar de modo sempre desajeitado qualquer tentativa de ser amável. Tinha a sensação de que era como se ele estivesse tentando calçar o pé esquerdo no sapato do direito.
Era demasiado filho de seu pai.
- Seu pai está em casa. – ela começou. – Estive pensando que talvez se jantasse em casa hoje...
- Não posso. – ele a cortou. – Não me use para fazer com que meu pai se esforce para se lembrar de que tem uma família.
- Draco! – ela parou e o segurou pelo braço. Ele era forte e podia facilmente se esquivar e continuar seu caminho, mas por boa vontade ele parou. Encarou o filho e viu aquele olhar frio e as sobrancelhas unidas com seu ar zangado. Era a expressão que seu filho carregava sempre. Havia rancor demais naquele coração sempre quando fitava de muito perto aqueles olhos. – Você é o único acerto que eu tive para o seu pai.
Viu a expressão de Draco mudar quase que instantaneamente. Ele não disse nada, mas suas sobrancelhas se separaram e seus olhos brilharam de uma forma tão acolhedora que Narcisa sentia que no final de tudo, seu filho não era de todo modo, apenas filho de seu pai. Sentiu as mãos frias dele tocarem seu rosto.
- Diz isso com tanta frieza, sem desfazer sua seriedade e ao mesmo tempo sei que é sua maior tristeza. – a voz do filho foi mansa e verdadeira.
- Só queria que estivéssemos juntos. – foi tudo que ela conseguiu dizer.
Ele pegou sua mão e beijou o nó de seus dedos.
- Nunca vamos estar realmente juntos. – e foi embora.
Narcisa não se moveu e apenas observou o filho sumiu de sua vista. Sabia Draco Malfoy nunca negava a sinceridade, mesmo que ela fosse dura. Fechou os olhos e inspirou muito devagar.
Talvez o mundo nunca soubesse realmente qual era a face de sua dor porque os anos congelaram sua expressão fria e seu orgulho já havia secado qualquer lágrima. Ninguém nunca saberia o quanto doía. Nunca.
Hermione Granger
Ela esperava de pé ao lado de Tryn no lugar mais fundo cavado debaixo da catedral. O silêncio era grande e ela sentia um profundo aperto no coração. Suspirou e mostrou a mão para seus olhos.
O anel dos Malfoy era milenar. Passara a ser registrado na história faziam poucos séculos, mas sabia que ele existira muito antes disso. Era visível pelo aspecto medieval perfeitamente conservado. Um dragão belamente singelo envolvendo uma rubi gloriosa. Bem prata e bem vermelho. Muito Malfoy. Por aquele anel, a rubi era conhecida como a pedra da família. Muitos livros citavam aquilo. Mas a pedra só a fazia se lembrar do colar que Pansy Parkinson carregava no pescoço.
Aquilo pesava em sua mão todos os dias. Pesava tanto que doía, mas ela ainda tentava desvendar se sua dor não era psicológica porque não era exatamente a mão que lhe doía. Era o coração.
O sonho de seu casamento dos sonhos seria para sempre um sonho.
Se sua mãe ainda fosse viva e a visse nessa situação, choraria por saber que todos os seus planos de menina estavam agora no ralo. Nada mais foram do que ilusões cheias de expectativas. Todas frustradas.
Deixou seus lamentos de lado quando escutou passos descendo pela escada de pedras. Ajeitou a postura. Sentia-se arrumada demais para um lugar como aquele, com o chão de terra batida e as paredes cavernosas de pedras pouco polidas. Mas ao invés de desejar ir para um lugar próprio de suas vestimentas almejava era por trocar suas roupas caras e se adequar ao lugar. Era ali o seu lugar. Deveria estar ali. Não usufruindo dos confortos de Whitehall.
O homem que surgiu carregava uma lamparina na mão e tinha a cara que um carcereiro poderia ter. Tinha um maço de cigarro encardido pendendo pelos lábios finos e tortos, uma barba rala, um rosto oleoso e fedia como se não tomasse banho a uma quinzena.
- Olá mocinha. – ele resmungou quando passou por ela e começou a abrir uma pesada porta de ferro presa contra as pedras frias que os confinavam. – Me siga em silêncio.
Hermione foi obediente. Seguiu por um corredor que só foi iluminado pela lamparina do homem. Era estreito e infinito. As curvas que os guiavam serpenteavam pelo subsolo e tudo que havia de novo era o número em tintas desbotadas estampadas na porta de ferro de cada sela que se seguia. Uma após a outra. Infinitamente.
164 foi o número que estava na porta onde o carcereiro estancou. Ele tirou do bolso um enorme bolo de chaves enferrujadas e Hermione presumiu que naquele lugar não havia magia pelo modo como ele tratava toda a situação desajeitadamente. Tanto a lamparina como o bolo enorme de chaves.
Foi quase eterna a busca pela chave certa. Quando a tranca foi finalmente aberta, o carcereiro precisou de muito força para conseguir empurrar a porta e Hermione poder entrar no ambiente frio, úmido, escuro e assustador da cela.
Era alto. Muito alto. Lá em cima havia uma pequena abertura que trazia a luz azulada da noite para dentro do enorme poço. Uma grade descia de lá de cima e ia até o chão dividindo o espaço em dois. Hermione ainda precisava que seus olhos se acostumassem com o escuro.
- Luna? – ela chamou e sua voz ecoou poço acima.
Ainda houve um segundo de silêncio até que ela escutasse a doce e sonhadora voz de sua amiga.
- Você é uma ilusão? – estava fraca.
- Não Luna, sou eu, Hermione! Não sou nenhuma ilusão. – Hermione sentia sua garganta apertar. Viu a amiga deitada encolhida contra o chão do outro lado da grade quando ela começou a se esforçar para erguer a cabeça. Aproximou-se da grade e tocou-a. – Luna... – sentiu sua voz fraquejar. – Me desculpe.
- Você está tão bonita, Hermione. Quem a arrumou? – a loira sentou-se dessa vez.
- Eu mesma dessa vez. – precisou lembrar-se muito bem de todo o discurso de Narcisa Malfoy para acertar na roupa, no cabelo, nas jóias e no sapato. – Tenho que andar assim.
Luna desencostou-se da parede e arrastou-se até a grade. Hermione pôs-se de joelhos e finalmente fitou a amiga de perto. Ela tinha os cabelos desalinhados, a boca inchada e os olhos fundos. Hermione sentiu seu coração se apertar ainda mais.
- É verdade? – a voz dela foi baixa.
- Muitas coisas aqui são verdades. Verdade muito dolorosas. – Hermione respondeu.
- Voldemort fez de você uma comensal? – ela foi mais especifica dessa vez.
Hermione sentiu a dor da afirmação que teria que dar a ela. Se ao menos tivesse apenas essa triste notícia.
- Sim. – respondeu tristemente.
- Me deixe ver. – ela pediu e Hermione soube do que ela se referia.
Enfiou o braço pelo espaço das barras de ferro e o virou para Luna, que segurou-o e o fitou por muito tempo.
- Não pode escapar. – a voz de Luna foi um sussurro. – É a eterna prisioneira dele.
Hermione fechou os olhos sentindo que poderia chorar mais uma vez por aquilo. Os abriu e puxou o ar tentando manter-se firme. Trouxe seu braço de volta quando a amiga o deixou.
- Sou, Luna. Mas sou apenas eu. – ela não queria ser tão direta dizendo que seu caso não se aplicava também a amiga, mas tinha medo de que pudessem estar escutando-a. – Tenho sido obediente para que não a maltratem.
- Sim. – ela sorriu fracamente encostando a cabeça nas grades. – Eles tem me tratado melhor. Enviam-me comida todos os dias e já não me trazem dementadores com frequência. Até me mudaram de cela. Agora tenho a luz lá em cima para saber se é dia ou noite.
Hermione teve de sorrir pela satisfação de Luna, mas queria tanto lamentar por ela.
- Tenho a esperança de que te deem um quarto lá em cima. Tenho sido realmente obediente, Luna! Obedeço a tudo. Faço tudo o que me mandam fazer...
- Por que se rende a eles? – Luna a cortou mesmo com a voz frágil.
Hermione engoliu as palavras como se não entendesse o porque da pergunta. Será que não havia ficado claro o suficiente para ela?
- Porque se eu não me render farão mal a você!
- Posso aguentar! Tenho aguentado bem!
- Não aguentaria uma vida inteira!
- Não se sacrifique por mim, Hermione!
Soltou o ar frustrada.
- Será que ainda não entendeu que eu não tenho esperança? – tentou Hermione novamente. – De nós duas você é a única que ainda tem alguma!
- Para alguém tão inteligente está sendo bem burra em acreditar que eu sairia daqui e deixaria você! – Luna foi direta. – Se for ficar aqui, vou ficar com você. – Por que ela tinha que ser tão teimosa? Luna não media o perigo das coisas nem mesmo depois de ter recebido amostras o suficiente de tortura. – O que é isso em seu dedo? – a voz dela foi curiosa dessa vez.
Hermione recuou a mão que segurava a grade com rapidez numa atitude bobamente receosa. Mordeu o canto dos lábios nervosamente ao se lembrar de que ainda tinha que compartilhar isso com a amiga. Estendeu a mão pela grade e Luna pregou os olhos enormemente azuis no anel.
Levou alguns longos segundos para que a voz de Luna tornasse a ecoar pelo poço.
- É o anel da família Malfoy? – ela ainda parecia não entender bem. – Sim, é o anel. O anel de noivado dos Malfoy. Já o vi desenhado em livros antes. É exatamente assim! – os olhos dela se despregaram do anel e se encontraram com os de Hermione. – É o anel de noivado da família. – repetiu receosa. - O que faz no seu dedo, Hermione?
A essa altura Hermione sabia que a amiga havia desvendado o segredo, mas os olhos dela afirmavam que queria escutar uma resposta de sua boca.
- Vão me casar com Draco Malfoy. – disse Hermione.
O silêncio veio duradouro dessa vez. Ambas trocavam olhares. Hermione apenas esperava uma reação de Luna, mas ela parecia lunática como sempre.
- Ele é um homem bastante desejável. – ela comentou depois de muito tempo.
Hermione quase bufou, mas segurou-se.
- Não, Luna! – exclamou frustrada. – Não consegue se lembrar de Draco Malfoy? Um garoto insuportável e um homem horrível! Aquele que lidera as coisas terríveis que sempre combatemos!
- Não sou estúpida, Hermione! – ela exclamou – Estou tentando mostrar que ao menos não se casará com um monstro deformado!
- Não é uma brincadeira, Luna. – ela disse porém soou mais como um alívio por saber que sua amiga apenas estava tentando mostrar um ponto positivo. Talvez tivesse mostrado tristeza demais no seu olhar para que sua amiga precisasse encontrar algo para o seu consolo.
- Ele pediu para casar com você? Pensei que ele a odiasse. Há algum plano nisso? Nenhum Malfoy nunca desposou um Nascido Trouxa.
- Obrigaram a ele também. – Hermione passou a justificar. – Ele ainda me odeia tanto quanto sempre odiou. Voldemort quer um herdeiro e ele quer que venha de uma união entre mim e Draco Malfoy.
Luna ponderou algum tempo sobre aquilo e então sorriu fracamente.
- Faz todo o sentido. – ela disse.
- Não faz sentido nenhum, Luna!
- Claro que faz! – ela foi rápida – Já se olhou no espelho, Hermione? Já olhou a aparência de Draco Malfoy? Voldemort quer um herdeiro perfeito e vocês dois o darão a ele sem dúvida alguma.
Hermione recuou em silêncio fazendo uma cara de nojo. Lembrou-se do dia em que Voldemort dissera a ela que deveria dar um herdeiro a ele. Fechou os olhos sentido uma pontada de angústia e nojo, e ao mesmo tempo, uma pontada de alívio.
- Ah, Luna. – ela suspirou tristemente sentido a bílis subir do seu estomago. – Foi horrível quando Voldemort disse que eu deveria dar um herdeiro a ele. Cheguei a pensar que... – teve que parar para engolir a saliva amarga em sua boca. – Que ele e eu... – ela não conseguiria dizer.
Luna soltou uma risada fraca.
- Eu duvido que aquela... coisa... seja capaz de produzir filhos. – disse Luna.
Hermione abriu um sorriso que tão logo morreu.
- Mas quando penso em Malfoy me sinto tão enjoada quanto. – ela confessou.
- Hermione, por favor. Não se lembra que todas as garotas sempre quiseram Draco Malfoy em Hogwarts?
- Não é isso! É o que Malfoy representa. É tudo que ele é e sempre foi. Me casarei com ele, Luna! Um dos dias mais importantes da vida de uma mulher! Serei entregue a ninguém menos que Draco Malfoy e por Merlin eu não o quero! Sabe que não o quero Luna! Quero o homem que sempre amei.
Viu os enormes olhos de Luna caírem em lamento. Luna sabia de sua história.
- Harry Potter... – sussurrou Luna e Hermione achou que poderia cair num choro estético e profundo, mas apenas limitou-se a fechar os olhos e encostar o rosto na grade quase sem forças. – Eu também pensei que um dia fossem se acertar, que tudo iria dar certo e que finalmente os veria juntos.
- Eu também pensei, Luna. – ela sussurrou como a amiga. – Pensei que mesmo depois de todos os caminhos errados que tomamos, um dia seríamos finalmente apenas ele e eu. Mas eu ainda acredito. – ela abriu os olhos. – Harry precisa chegar até Voldemort e cumprir a profecia. Posso ser eternamente feliz e posso ser eternamente infeliz. – ela sorriu para Luna. – Ele ainda é minha esperança, Luna. A última que me resta. Me ama e encontrará uma forma de não me desapontar. Ele nunca me desapontou.
Luna sorriu fracamente. Hermione sabia que era o sorriso que merecia receber ao saber que o seu estava bobamente sonhador. Sentia uma enorme falta de Harry. Seu amigo. Seu melhor amigo e seu amante. O homem que amava, o homem que a entendia, sempre a compreendia, a valorizava. Eram como irmãos amantes e nada nunca poderia os fazer mais completos do que isso. Nunca estiveram juntos realmente como ela já havia estado com outros homens. Rony, Krum e seus demais namorados, mas era para Harry que ela sempre voltava e era para ela que ele também sempre voltava. Harry era seu. Seu conto de fadas. Seu herói. Seu personagem principal.
- Espero que Harry seja rápido então. – foi tudo que Luna disse.
Hermione suspirou sentindo o peso da realidade. Desencostou-se das grades da cela de Luna e segurou a mão da amiga.
- Talvez consiga com que seja minha dama de honra. Se conseguir vão tirá-la daqui. Pelo menos para o dia do meu infeliz casamento. – disse para a loira. – Precisa ver esse lugar, Luna! É uma catedral enorme! Eles tem uma cidade gigantesca onde moram todos os comensais, os protegidos de Voldemort e suas famílias. É assustador, enorme e tão cheio de gente. É uma cidade fortificada. Chamam-na de Brampton Fort.
Luna ergueu as sobrancelhas.
- Eles construíram sobre as terras antigas de Brampton? – disse a loira e Hermione não compreendeu. – Voldemort é mesmo ousado em abusar de antigas lendas bruxas...
Ela teria continuado se a porta de ferro tão tivesse sido aberta e o carcereiro tivesse gritado para Hermione que seu tempo havia se esgotado.
- Luna, há mais uma coisa que deveria saber. – apressou-se Hermione. – Viktor Krum é um deles. Ele é um comensal.
- Que previsível! – disse ela mas sem esconder sua expressão de surpresa. – Sempre desconfiei daquele Durmstrang!
- Luna! Minha descoberta não muda em nada. Viktor continua dentro da Ordem...
- Moça! – o carcereiro quase gritou. Hermione olhou aflita de Luna para o homem e soube que a amiga estava tentando entender o que esperava dela. Queria que Luna lhe desse uma direção, mas ao mesmo tempo sabia que a loira não daria. – Não me faça ir até aí buscá-la. Não serei educado nem gentil.
Hermione se levantou e lamentou mentalmente por ter comentado sobre Krum tarde demais.
- Pense sobre isso, por favor. – disse a Luna e a amiga assentiu. Havia um pesar tão grande nos seus olhos azuis por saber que ficaria novamente sozinha que Hermione quase quis plantar raízes ali e criar uma guerra com o carcereiro. – Serei obediente e prometo tirá-la daqui. – o homem havia entrado e segurado seu braço com força. Hermione precisou de outra duas vezes maior para se esquivar do homem. – Me toque outra vez e farei com que perca a cabeça! – rugiu para o homem ao se lembrar do anel que carregava no dedo. Ajeitou a postura orgulhosa, lançou um olhar triste para Luna e saiu para o caminho de volta.
Não seria a última vez que a deixariam ver Luna. Não mesmo!
**
Acordou quase que num susto e se deparou com o breu de Whitehall. Sua respiração estava ofegante mas não conseguia se lembrar com o que estava sonhado.
Sentou-se.
Eram quase quatro da manhã quando conseguiu piscar o suficiente para limpar suas vistas e enxergar os ponteiros do relógio na saída de pedras da lareira. A luz da penseira a ajudou.
Deitou-se novamente e encarou o teto distante e abobadado através do tecido fino das cortinas que cobriam os dosséis da cama. Sua respiração já havia se estabilizado.
Não havia sono, mas ela fechou os olhos e tentou dormir. Obviamente não foi capaz. Tornou a abrir os olhos se esforçou para conseguir lembrar de seu sonho, mas também não foi capaz.
Soltou o ar frustrada e tornou a sentar-se. Sua primeira noite foi a única que se lembrava de que havia tido um sono pacificado. O resto era apenas assim. Acordava com frequências, tinha o sono leve e demorava horrores para conseguir dormir. Quando o dia chegava ela simplesmente estava moída. Devia confessar que quase dormira durante as entrevistas dos cerimoniais que Narcisa Malfoy havia agendado.
Era tudo culpa daquela maldita sensação de estar sendo vigiada em qualquer lugar. Até mesmo em Whitehall, em sua cama ou em seu banheiro. A sensação de que se chegasse sequer a pensar algo errado, arrastariam Luna de seu poço mal iluminado para alguma sala de tortura. Se é que aquele poço já não era.
Sentou-se e afastou os pesados mantos e peles para o lado sentindo o vento frio atingir seu corpo através da fina camisola que usava. Pisou os pés no mármore e vestiu o robe que pendurava ao lado da cama. Não ajudou muito a espantar o frio, mas ela podia conviver com isso já que não tinha uma varinha para acender a lareira. Maldita dependência. Teve dificuldades até para riscar um fósforo e acender as velas que tinha sobre sua mesa sem queimar os dedos.
Sentou-se e encarou a grande bagunça sobre o mogno lustroso que quase não se via. Marcou a página de alguns livros, fechou-os e empilhou-os para limpar um pouco da bagunça. Estava tentando ler os livros da parede de estantes de Whitehall, mas todos falavam sobre magia ilegal, métodos medievais, rituais sangrentos e poções malignas. Ela ainda tinha a esperança de encontrar na biblioteca da catedral algum livro sobre medibruxaria, mas parecia ser uma busca bastante trabalhosa e também não podia negar que os livros de sua estante eram interessantíssimos.
Puxou uma imagem que havia recortado do jornal local de debaixo de um dos cadernos de couro de dragão que ganhara de Narcisa Malfoy para que pudesse se organizar com as agendas dos preparativos do casamento. Era uma das fotos que haviam tirado no dia em que Draco Malfoy a levara para jantar. Estavam saindo do restaurante e por algum motivo muito curioso ela se via encarando aquela imagens por horas quando acordava de madrugada sem o seu tão precioso sono.
Ele trajava aquele finíssimo terno e ela seu glorioso vestido longo. Ambos pareciam celebridades, mas o que fazia Hermione encarar aquela imagem por horas era o modo como Draco se inclinava para dizer discretamente a ela que mostrasse melhor o anel e a forma como ela havia se aproximado e suspendido sua mão pelo braço dele tentando mostrar a valiosa peça dos Malfoy. Foram movimentos muito bem justificados, mas na fotografia era como escutar Malfoy sussurrar para ela qualquer coisa amável e vê-la se enroscar em seu braço de maneira a aumentar as superfícies de contato entre eles. Romântico demais. Até a matéria do dia ousara inventar uma relação que eles mantinham desde Hogwarts.
Ridículo.
Sempre que olhava para aquele recorte no jornal tinha seu estomago embrulhando aos poucos. As vezes se perguntava como seria o toque de Draco Malfoy e considerava até que poderia sobreviver as noites que haveria de ser obrigada a ter com seu futuro marido, mas então ela se lembrava da figura estúpida que ele era em Hogwarts ao passar a mão nas garotas que queria, a hora que queria. Se perguntava quantas de lá para cá ele havia levado para a cama. Imaginava aquela mão imunda dele que havia passado em inúmeras mulheres percorrendo seu corpo, aquela boca que beijara a boca de incontáveis outras em sua pele e então ela quase saia correndo para despejar na privada qualquer refeição anterior aos seus pensamentos.
Respirou fundo largando a fotografia e tentou limpar sua mente antes que seu estômago a traísse. Até mesmo Gina havia cedido para Malfoy em Hogwarts.
Bufou.
Levantou-se de sua cadeira e puxou, apenas um pouco, a cortina da fachada envidraçada. Sentou-se numa das poltronas ali e abraçou as pernas enquanto encarava o céu negro e sem estrelas. Fechou os olhos e limpou a mente. Talvez conseguisse algum pouco de sono se fizesse isso.
Mas ele não veio como em quase todas as noites que fazia o mesmo. Os minutos passaram silenciosos enquanto ela permanecia ali em sua poltrona. Sentia lá no fundo, a dor que a acordara e não a deixava voltar a dormir. Seu futuro infeliz. Seu casamento infeliz. Um filho que não seria seu. Ela não conseguia ter idéia da dimensão em que aquilo a afetaria. Sabia que a afetaria, mas não sabia o que era um casamento nem mesmo sabia o que era amar um filho. Sabia que eram coisas intensas porque os outros falavam que era. Seria forte o suficiente para enfrentar tudo aquilo sem ter esperança alguma? Ela estaria presa aquela vida para sempre. Para sempre! Por que não a matavam logo? Seria tão mais fácil para ela! Por que Harry não a vinha buscar? Ele deveria matar Voldemort! Se Voldemort fosse morto ela seria livre! Livre para estarem juntos! Livre para não ter que se casar com Draco Malfoy nem fazer filhos com um homem que odiava!
Ah, seus sonhos...
Suspirou longamente.
Talvez ela ainda não tivesse idéia do que era ter um filho ou do que era ser casada, mas o sonho de seu casamento perfeito era tão vívido agora. Tão vívido pelo seu brutal assassinato. Tudo destruído. Todo seu conto de fadas destruído. O que poderia ser mais doloroso do que isso agora?
Tornou a abrir os olhos e viu que o céu já era de um profundo cinza esverdeado. A aurora. Minutos depois ela escutou a movimentação no pátio a dois pavimentos abaixo. A multidão de homens se juntou uniformemente assim como o som. Hermione tornou a fechar os olhos e um espasmo elétrico percorreu todo o seu corpo quando a voz de Draco Malfoy chegou aos seus ouvido dura, abafada e muito viril.
Escutou de longe todo o discurso de Malfoy enquanto escutava ao mesmo tempo a própria respiração. Ele tinha uma voz muito forte e piorava quando estava discursando para seu exército. Era uma voz diferente da do Draco que ela havia conhecido. O Draco que havia conhecido sabia esbanjar o poder, mas era tudo que sabia. Apenas esbanjava o poder do sobrenome que carregava. A primeira oportunidade que Draco tivesse para enfrentar qualquer coisa que fosse, ele se mostraria covarde. Mas será que tudo havia mudado? Porque quem ganhava a guerra era o exército do homem covarde que ela havia conhecido na escola. Aqueles discursos de Malfoy não incitavam qualquer faísca de covardia. Quem havia tratado isso em Draco Malfoy?
Abriu os olhos quando já era silêncio a um bom tempo tanto no pátio do lado de fora quanto em seu quarto. O céu já era de um cinza mais suave e quando ela esticou o pescoço para olhar o relógio em cima da lareira, julgou que era hora de se arrumar para o desjejum. Hoje ela teria uma companhia especial.
Não teve pressa para o banho nem mesmo para passar na sua difícil tarefa de escolher uma roupa conforme os padrões que Narcisa Malfoy a fizera estudar. Por fim acabou por colocar um bom vestido matinal de um púrpura bem fechado. Nada de cores fortes, a vida não é uma festa. Escolheu jóias adequadas e não ousou no sapato para não correr o risco de errar. Prendeu os cabelos sabendo que aquilo deveria aliviar o peso da cor de sua roupa. Estava ótima. O tecido era leve, mas a cor lhe passava seriedade. O sapato lhe dava elegância e o salto o orgulho que deveria conservar sempre inatingível. Os cabelos presos poderia ser o seu erro. Talvez adorável demais, mas a cor de sua roupa e o salto que usava quebrava qualquer intenção de fragilidade, portanto manteve. Talvez algum chapéu, mas logo recusou a idéia ao se lembrar de que não era verão nem primavera.
Maquiou-se. Não era tão boa quanto Tryn, mas não precisava de muita coisa e era manhã. Selecionou um par de luvas de qualquer cor clara, vestiu-as e finalmente saiu de Whitehall desejando poder ficar ali o resto do dia.
A catedral já estava em pura movimentação. Hermione torceu para não encontrar ninguém que soltasse qualquer comentário ofensivo. Vestiu sua máscara fria e intocável e caminhou sobre seu salto cruzando toda sua ala até o jardim interno.
O encontrou lindamente verde mesmo que fosse outono. Parecia ter sido fechado aquela manhã. Havia uma vez desfrutado de um belo café-da-manhã na companhia de Narcisa Malfoy ali e os mobiliários externos estavam quase todos ocupados. Hoje estavam todos vazios.
Encontrou uma mesa posta. Muito bonita. Muito colorida. Parecia primavera. Faltava apenas o sol. Sempre faltava o sol em Brampton Fort. Sabia que era sua mesa principalmente porque Tryn estava de pé logo ao lado.
- Tryn fica satisfeita que a Srta. Sangue ruim tenha encontrado o caminho sozinha. - comentou a elfa assim que ela se aproximou o suficiente.
- Depois de um tempo se descobre que não há tantos segredos para se trocar de ala. – respondeu Hermione tirando as luvas e sentando-se no seu lugar. Olhou para a comida e a desejou, mas tornou a encarar a elfa. – Onde está Malfoy?
- O Sr. Malfoy tem reunião com o conselho todas as manhãs. – respondeu a pequena criatura. – A Srta. Sangue-ruim deve esperar por ele.
Hermione tamborilou o dedos sobre o vidro da mesa e quase, muito minimamente quase, se sentiu feliz pelo verde que a cercava e pelo colorido da mesa, mas o peso do anel em seu dedo e a marca em seu braço sempre a lembrava de que não tinha motivos para se sentir nem sequer miseravelmente contente.
- Está muito bonita, Srta. Sangue-ruim. – elfa quebrou o silêncio mesmo que de maneira displicente.
Hermione sorriu satisfeita pelo tempo que havia levado escolhendo todo seu maldito visual. Sabia que o comentário da elfa era nada mais do que uma aprovação das lições que Narcisa havia dado a ela.
- Obrigada, Tryn. – gostava mesmo de ser uma boa aluna, mesmo que não fosse uma matéria que apreciasse. – Ao menos um elogio vou receber.
Notou que a elfa pareceu contente por saber que havia considerado sua opinião. Gostava daquela elfa, mesmo que ela a chamasse de sangue-ruim. Estava se tornando um tratamento tão comum que a cada dia o insulto da palavra diminuía mais.
Draco Malfoy veio ao longe acompanhado de ninguém menos que... Severo Snape? Seria possível? Ele parecia ter envelhecido muito mais do que os anos que haviam se passado. Era uma figura quase extinta na guerra, pelo que Hermione que se lembrava. Ele liderava o exército de Voldemort antes de Draco.
As feições de Malfoy não estavam nada amigáveis enquanto avançava pelo jardim e Snape o seguia. Ambos dialogavam secamente e Hermione não era capaz de escutar nem ruídos do que se passava entre eles. Viu apenas quando Draco se virou e disse algo que fez a expressão de Snape se tornar uma divertida, desdém e então ele retrucou algo, se virou e foi embora, mas não antes de fixar seus olhos nela. Hermione sentiu todos os seus pelos levantarem quando os olhos do antigo professor se fixou por segundos sobre ela.
Draco ainda permaneceu um tempo lá até alisar a farda e voltar seu caminho para mesa com aquela mesma expressão de que mataria qualquer mosca que ousasse cruzar sua visão.
- Não quis fazê-la esperar. – disse ele puxando as mangas ao se sentar já pegando a jarra de suco mais próxima. Não a olhou, portanto quando fez soar aquela cordial frase num tom desprezível, quase que parecera ter sido direcionado a um fantasma.
Hermione o viu encher sua taça de prata e percebeu tudo ao seu redor morrer. A mesa já não parecia tão colorida e o verde do jardim já se mostrava quase prestes a falecer. Até mesmo a fome que tinha desaparecera. No entanto forçou-se a encher, nem que fosse um pouco, a sua taça.
Levou-a a boca e tentou encontrar o sabor da fruta, mas pareceu que bebia água estranha. Serviu-se de qualquer coisa a sua frente e o sabor também era escasso. Comeu então para não passar fome, mas desejou estar sozinha. Sozinha tudo tinha sabor e cor. Malfoy estragava tudo.
Ele comia como se estivesse em alguma conferência aberta ao público e fosse o palestrante. Havia muitos movimentos calculados, mas ele parecia se sentir confortável assim e a comida parecia também estar suavizando as linhas de ódio que havia em seu rosto quando sentou-se a mesa.
Ficaram em silêncio por tanto tempo que Hermione quase se esqueceu de que ele estava ao seu lado. A comida já estava ganhando até sabor, mas então ele tratou de estragar tudo novamente ao quebrar o silêncio.
- Presumo que tenha cofre em Gringotes com seu nome. Colocarei algum ouro nele assim que for ao banco. – ele pausou para tomar um gole de sua taça. – Minha mãe disse que irão ao centro portanto compre o que quiser. Não tenho tempo nem vontade de ficar escolhendo presentes para você.
Soltou o ar muito incomodada. Teve vontade de vomitar o que havia ingerido. A idéia de usar o dinheiro de Draco Malfoy como se fosse o seu era no mínimo humilhante.
- O cofre que tenho está no Beco Diagonal. – ela respondeu sentindo um gosto amargo na boca.
- Pode ter certeza de que o mestre já tratou de providenciar a transferência a muito tempo. Além do mais, deverá fechá-lo assim que nos casarmos. Meu cofre passará a ser também seu. – ele disse aquilo e engoliu a saliva como se estivesse ingerindo uma pedra goela abaixo.
Ela soltou um riso fraco e forçado de completo desprezo. De todos os assuntos que poderia se esforçar em ter com Draco Malfoy, aquele era um dos que ela fugiria eternamente. Hermione sabia que ele poderia até se incomodar em ter que partilhar seu ouro com ela, mas ele era rico o suficiente para não lhe fazer tanta diferença e muito obviamente a idéia de ter seu orgulho ferido por ser dependente de um homem que odiava era bastante satisfatória para ele. Não daria o prazer a ele de ver isso estampado em sua cara. Ajeitou a postura em sua cadeira, comeu rapidamente um pedaço de sua batata e aproveitou que ele já havia quebrado o silêncio.
- Krum faz parte do seu exército? – ela tentou ser discreta e desinteressada.
- Trata-o pelo sobrenome agora? – Hermione esperou que aquilo pudesse ter sido dito em tom de deboche pelo Draco que conhecia, mas ao invés disso foi frio enquanto ele ainda se mantinha concentrado em tudo a sua volta menos nela.
- Não foi a resposta adequada a minha pergunta. – ela retrucou.
Ele colocou os olhos nela pela primeira vez desde que havia se sentado a mesa. Mastigava o que quer estivesse comendo e usou o tempo em que sua boca estivera ocupada para estudá-la com os olhos.
- Sim, Granger. Ele é do meu exército. – respondeu indiferente após ter passado tanto tempo calado com os olhos nela que Hermione quase começava a sentir que poderia vacilar em sua postura intacta. Ele tinha olhos abominavelmente poderosos e quase hipnotizantes.
- Presumo que ele esteja com vocês desde o início. – ela não desviaria o olhar.
- Por que não pergunta a ele? – Draco não desviaria os dele muito menos. – Já dividiram uma cama portanto devem ter intimidade o suficiente para discutir questões como essa.
Agora ele havia ido muito longe. Hermione quis se levantar e jogar o bule de chá preto e leite inteiro em cima dele, mas limitou-se apenas a estreitar os olhos.
- Isso foi há muito tempo atrás! – disse ríspida e seca. – Deveria respeitar a privacidade alheia ou também tomarei a liberdade para falar de suas prostitutas!
Ele riu. Riu! E dessa vez não havia mais qualquer resquício das linhas de expressão aborrecidas que Snape colocara nele. Hermione se lembrou porque socou aquela linda cara em seu terceiro ano e quase o fez de novo.
- Tem uma língua afiada para responder provocações, Granger. – ele finalmente desviou o olhar voltando a concentração para sua refeição. – Exatamente como em Hogwarts.
Ela ficou calada num misto de raiva e confusão. O Draco que conhecia não teria parado ali. Por que ele sempre a surpreendia quando menos esperava? Não que ele estivesse tentando agradá-la, ele não se importava com ela e isso era um fato. Talvez aquele só fosse ele agora? Será? Teria mesmo aquela guerra transformado a infantilidade insuportável de Draco Malfoy? Ela esperava que sim, mas ao mesmo tempo tinha medo da pessoas desconhecida em que ele pudesse ter se transformado. Aqueles olhos cinzas a assustavam, o modo como ele sempre tinha domínio sobre o que falava e sua expressão sempre fria, sempre desinteressada, sempre imutável, como se tivesse sob controle tudo que o rodeava, como se tivesse poder para partir o mundo ao meio se precisasse. Quando pensava nisso sentia os pelos de sua nuca se eriçarem. Seus receios eram quase tão grandes que a fazia até desejar que ele fosse o debochado e irritante que conhecera.
Preferiu que o desjejum seguisse daquela maneira. Em completo silêncio. Sentia-se um pouco mais tranquila quando Draco a ignorava. Ele terminou sua pequena refeição, puxou o jornal, o abriu e enterrou-se na leitura.
Hermione apenas o observava ocasionalmente quando ele levava displicentemente, sua taça a boca, mas foi quando a marca em seu pulso queimou que um frio percorreu toda a sua espinha e ela foi obrigada a recolher a mão numa pressa desajeitada que fez derrubar seus talheres e virar sua taça. Num reflexo rápido, ela arrastou a cadeira para não molhar o vestido com o suco que escorreu pelo vidro e pingou pelo seu lado da mesa, mas havia sido apenas um reflexo e a dor em seu braço era o que tinha toda a sua atenção.
A agitação tirou Draco de seu jornal e ele levou seus olhos para Hermione. Um sorriso irritante se esboçou pela lateral de sua boca e ele apenas estralou os dedos para que Tryn imediatamente interferisse na bagunça causada pela mulher.
- Ele faz doer mais em você, não é? – comentou Draco ainda com aquele sorriso.
Hermione não respondeu. Apenas tapou a marca e a pressionou tentando aliviar a dor de algum modo. A marca no braço dele estava mais evidente, por outro lado no dela, estava pulsante e fazia a pele ao redor ficar vermelha.
Já sabia que havia se entregado as expressões do medo que a cobriu. Sim, o medo. Ela temia Voldemort. Nunca temera, mas agora ela temia. Pertencia a ele e não havia uma maneira sequer de se defender sem uma varinha.
Draco havia dobrado o jornal, passado rapidamente os olhos pelo relógio e se colocado de pé. Hermione viu Voldemort surgir por uma das entradas do jardim e foi obrigada a se levantar também. Sentiu suas mãos suarem ao mesmo tempo em que a dor aliviava.
- Mestre. – Draco fez uma reverência simplista quando Voldemort chegou a mesa.
- Draco. – foi tudo que o ofídico respondeu, mas seus olhos estavam em Hermione. Talvez ele estivesse esperando pela reverência que deveria receber, mas ela não veio. – Está particularmente mais bela a cada dia.
Hermione sentia seus dedos tremerem, mas manteve os pés unidos, a postura ereta, os olhos nele e a boca fechada. Sua marca ainda ardia, mas não demonstraria qualquer aversão a isso.
- Não seja mal educada, Granger. – alertou Draco.
- Obrigada. – disse secamente, mas não foi o suficiente. Os olhos ainda continuavam nela. – Mestre. – acrescentou pensando muito em Luna.
Voldemort abriu um sorriso nauseante. Pareceu muito satisfeito com as palavras dela. Sentou-se e apreciou a mesa.
- É uma mesa muito bonita. – comentou enquanto Draco e Hermione tomaram seus assentos e ele puxava o bule e enchia uma xícara com chá preto. – Estive pensando bastante sobre os dois. – deu um gole no chá. – Está satisfeito com onde mora, Draco?
- Sim. – respondeu Draco. Hermione notou que ele usava com Voldemort a mesma expressão que usava com ela: nenhuma expressão.
- Acho um lugar pequeno para um casal. – comentou ele.
- É o suficiente para um casal. – foi quando Hermione percebeu que uma linha tênue de desconforto começou a surgir na expressão do homem.
- Não gosto da palavra suficiente. – disse Voldemort.
- Para mim é suficiente. – repetiu Draco.
O modo pausado que Draco havia usado para dizer aquilo fizera soar quase que como uma provocação, mas se havia sido Voldemort desconsiderara.
- Estive pensando nas mansões das ilhas do lago de verão. Há casas muito boas por...
- Não vou me mudar. – Draco o cortou. Voldemort claramente não havia apreciado o ato. – Mestre. – acrescentou o homem e aquilo pareceu atenuar a expressão severa que Voldemort adotara.
- Diga-me, sangue-ruim. – Voldemort deixou Draco de lado. – Já foi a casa de Draco?
As mãos de Hermione suavam.
- Sim. – seria onde iria acontecer sua festa de noivado.
- Sim, mestre. – corrigiu Voldemort. – Não achou um tanto simplista?
- Achei um lugar bastante generoso, mestre. - não conseguia evitar que soasse com nojo.
- Não gostaria de um espaço maior? – sugeriu o ofídico.
- Não me faria diferença, mestre. – talvez aquilo pudesse o irritar, já que a irritava bastante.
- Imagino suas referências de padrões de espaço por considerar a casa de Draco um lugar generoso. – debochou Voldemort e tomou um gole do chá.
- Nunca vivi em espaços muito grandes, portanto seria confortável manter os meus padrões. – Hermione ousou retrucar e arrependeu-se quase que imediatamente. Teve medo de que Voldemort pudesse se irritar, mas ele apenas deu de ombros e tomou mais um gole.
- São dois contra um. – disse ele e Hermione soube que ele só estava abrindo mão de obrigar Draco a trocar de casa. – Pensei que seria interessante que ambos procurassem um novo lugar para viver, mas vejo que já possuem muito em comum por defenderem uma mesma causa. Talvez já tenham discutido sobre isso.
- Não gostamos de conversar. – foi a vez de Draco dizer algo ainda com aquela feição inexpressiva.
- Uma pena, pois vejo então que terei que obrigá-los a fazer isso. – tinha algo divertido no tom de Voldemort e por algum motivo Hermione sentia que Draco estava tão incomodado quanto ela. – Quero que a partir de hoje compartilhe com ela toda as nossas estratégias, os nossos movimentos e os nossos ataques.
- Por favor, não! – Hermione se viu suplicar quase que imediatamente. Arrependeu-se também tão imediatamente e voltou a sua postura.
- Não vejo necessidade, mestre. – Draco disse e dessa vez havia quase que uma preguiça no sem tom de voz.
Voldemort passou os olhos pelos dois muito atentamente. Hermione quase suplicou de novo, mas manteve-se calada. Aquilo era uma espécie horrível de tortura. Ela não queria saber qualquer movimento dos comensais. Saber sobre seus planos e estratégias era ver a Ordem a beira de ataques e não poder fazer nada. Era saber tudo que sempre quis saber e não ter poder para mudar absolutamente nada. Era uma tortura.
- É uma ordem, Draco. – Voldemort disse e Draco rolou os olhos, mostrou as mãos e soltou o ar aborrecido em forma de rendição.
- Como quiser, mestre. – agora havia o tédio em sua voz.
Voldemort sorriu novamente satisfeito.
- Bem então não quero continuar a atrapalhar o café da manhã dos dois. São um belo casal. Me darão um herdeiro excelente. – levantou-se deixando a xícara ainda cheia e Draco levantou em sinal de respeito a licença do mestre. Hermione fez o mesmo.
Ambos viram o ofídico se afastar em completo silêncio. Apenas quando Voldemort havia sumido de vista e Hermione pensara em tornar a se sentar que Draco abriu a boca.
- Patético. – resmungou o loiro, deu as costas e também foi embora.
Foi estranho e perturbador quando ela conseguiu captar pela primeira vez que havia algo de errado entre a devoção que, como comensal, Draco devia a Voldemort.
Lorde Voldemort
Sua torre era a mais alta e a central. Seus melhores momentos estavam reservados aos que ficava de pé voltado para a janela leste sentindo o vento cortar sua figura pequena em relação ao mundo. Ali ele observava o vasto campo vazio para fora da muralha e também a gigantesca cidade de Brampton Fort perder-se em seu campo de visão.
Gostava do anoitecer porque o escuro o acalmava. Gostava também quando Bellatrix estava come ele. Ela era doentia e ele gostava da insanidade dela. Mas era quando estava sozinho que o seu nível de insatisfação o alertava sobre o mundo.
Ele era o ditador de seus protegidos, o mestre de seus comensais, o bruxo mais poderoso de todos os tempos. Mas apenas dentro de suas cidades. Cidades fortificadas, protegidas por seu exército, e de uma sociedade paralela muito bem estabelecida. A segregação era evidente e ele a detestava. Não queria aquele poder.
Voldemort sempre se imaginara o ditador do mundo, onde uma maioria o seguiria e resistente minoria sofreria uma incansável perseguição até se extinguir, mas não havia sido bem isso que acontecera quando ele se reergueu das cinzas. Seus ideia fizeram com que famílias clássicas, bem afortunadas e de fortes valores o seguissem, o que lhe garantiu uma proteção forte e um grupo seleto de seguidores. Tudo tomou uma proporção de crescimento muito grande e uma boa parcela do mundo inteiro o defendia e lhes prestava juramento. No entanto a outra parcela caiu muito fortemente contra todo o seu império em ascendência e ele se obrigara a criar suas cidades para manter e proteger seus seguidores, suas famílias e seus amigos.
O mundo fora de suas muralhas eram um caos. Draco fizera o favor de torná-lo um pouco mais estável com seu exército, mas o número de resistências era alarmante. Os Ministérios eram todos seus, todo o poder era seu, no entanto isso ainda não amedrontava as pessoas ao pontos delas se renderem. Elas preferiam morrer a segui-lo. Estúpidas! Tudo por causa de Harry Potter e de sua maldita profecia. Voldemort era indestrutível!
Escutou a portas de sua sala se abrir cautelosamente. Conhecia a única pessoa ousada o suficiente para entrar em sua sala sem permissão. Não precisou nem mesmo se virar e suas certezas se tornaram ainda mais certezas quando o cheiro cítrico dela se espalhou pelo ar e não foi levado pelo vento que atravessava todas as suas janelas abertas.
- Mandou me chamar, mestre? – a fonética era rouca, mansa e densa.
- Mandei a chamar faz mais de uma semana, Bella. – respondeu ríspido.
- Esperei para que sentisse minha falta. – ela não usava um tom muito agradável.
- Soube que comprou uma casa na vila dos comensais. – ele foi direto ao ponto.
- Estou cansada desse lugar.
Ele se virou.
- Está querendo chamar atenção. – e havia conseguido.
Ela se aproximou naquele andado sedutor que só ela possuía.
- Só a sua atenção que eu quero. – ela disse baixo pela proximidade.
Voldemort segurou o rosto da mulher com sua mão ossuda. Bellatrix era a serva mais devota que ele tinha, a mais ousada e a mais abusada. Ela era sua mulher. A única que teria, a única que possuiria. Quando era bonito costumava ter centenas de mulheres o seguindo, o admirando, o babando, mas quando ressurgiu, Bellatrix foi a única a se dobrar diante dele e se entregar por inteira a quem ele era. Aquela mulher era a única merecedora de recompensas. A única.
- Está com ciúmes.
- Evidentemente estou. – seu tom de desagrado ainda estava lá.
- É minha única mulher, não há nenhum porque para ciúmes.
Ela riu desdenhosamente incrédula e se esquivou de sua mão fria gingando o seu andado para longe dele.
- Você aprecia a beleza dela! – exclamou Bella claramente insatisfeita. – Eu observo a forma como a olha! A deseja! Assim como metade dos homens dessa maldita cidade! – estava irritada – Vi bem como tocou a boca dela quando fez daquela sangue-ruim uma comensal! - segurou um pequeno frasco de poção que encontrou sobre sua mesa. – Você a deseja! Não a matou porque a quer! – repetiu girando o frasco entre os dedos enquanto seus olhos faiscavam. – QUER POSSUÍ-LA! – espatifou o frasco quando o lançou contra a parede.
- Por favor, Bella. Me poupe da sua infantilidade. Eu a deu ao seu sobrinho. – ele revirou os olhos e se jogou em seu sofá. Ela era doentia.
- Deu ela ao líder do seu exército! Uma sangue-ruim! Fez ela se sentar em meu lugar! – estava furiosa – MEU LUGAR! – aproximou-se novamente. – Meu lugar ao seu lado! Sempre foi o meu lugar! Deu ela a Draco, mas tem poder para levá-la a sua cama quando quiser e Draco nunca poderá protestar contra isso!
- Draco protesta contra muitas coisas...
- Ela é bonita! – Bella o cortou sem se importar com Draco. – Ela é jovem! Bonita! Irá te satisfazer bem! – o tom dela já era alto e contínuo o bastante para lhe dar dor de cabeça. – Todos falam sobre ela! Todos comentam o quanto ela é sua pedra preciosa! O quanto ela é bonita! O quanto você se importa apenas com ela agora! O quanto...
- BASTA, BELLA! – ele a cortou severo o suficiente para fazer com que ela se assustasse e calasse a irritante boca. – Deveria ter parado quando disse para me poupar de sua infantilidade! Você é minha única mulher! – repetiu pausadamente e mais claramente – Não irá a lugar algum! Ficará na catedral.
Ela tinha os olhos brilhando daquela forma insana. Os Cabelos altos e pretos, a maquiagem exagerada e o vestido com um corpete que a deixava ainda mais bela. Ela era uma mulher e tanto. Ela era sua e nada mais o satisfazia do que posses.
Bellatrix quase correu até ele, levantou a saia de seu vestido com as mãos, passou as pernas um de cada lado de seu corpo e sentou-se em seu colo. Quase colou seu rosto ao dele.
- Suplique, mestre. Suplique para que eu não vá! Para que eu não fique longe!
- Não. – disse calmamente. – Conhece-me o suficiente para saber o que eu desejo.
- Acho que deseja a sangue-ruim! Suplique, minha serpente! – segurou o rosto dele com as duas mãos. – Por favor.
- Não! – dessa vez ele foi mais firme.
- Então diga que não a deseja!
- Ela nos dará um filho! Um que eu não posso dar a você, Bella! Será o nosso herdeiro!
- DIGA QUE NÃO A DESEJA! – Bella irritou-se mais uma vez e Voldemort manteve-se calado. Manteve-se calado tempo o suficiente para Bella entender que ele não diria o que ela queria que ele dissesse. Foi quando ela saltou para longe dele e dessa vez havia tristeza em seus olhos. – Diga que não a deseja, mestre. Por favor. – foi quase uma súplica.
Ele manteve-se calado.
Bella chegou a abrir a boca mais duas vezes como se fosse dizer qualquer outra coisa, mas sempre tornava a fechá-la como se não tivesse palavra nenhuma para soltar. Deu as costas e saiu batendo a porta com uma força brutal. Voldemort apenas alisou o polegar em seus dedos um tanto perturbado. Visitaria o quarto dela mais tarde para acalmá-la.
Bellatrix não deixaria a catedral. Ela nunca deixaria.
__
NA: Primeiramente eu devo desculpas pela demora, mas posso me justificar. Sou uma pessoa organizada e bem precavida, mas acabei por me empolgar demais com os comentários e postei o capítulo 2 antes de ter acabado o capítulo seguinte. Por isso demorou para que eu terminasse o capítulo de hoje e o seguinte. Mas juro não cometer o mesmo erro novamente e manter um padrão de postagem que não venha gerar insatisfação por parte do longo período de espera.
Queridos leitores, antes de partir para o meu comentário com relação a esse capítulo, vou agradecer pelas respostas aos meus receios expostos na minha nota do cap. anterior. Tranquilizada pelo comentário da maioria, vou manter a classificação 16/17 e dependendo do andamento dos próximos capítulos, avisarei no título ou aumentarei para 18 para ter mais liberdade. Obrigada pela sinceridade de todos! :)
Enfim, gostei bastante de escrever sobre a Narcisa. Sempre a achei uma personagem de um potencial enorme. Na verdade, eu sempre achei a família Malfoy muito mais interessante do que a saga toda de Harry Potter. Gosto de viajar nas coisas não exploradas. Por isso não se assuntem tanto com a glória que eu vou dar aos Malfoy, ok? Nesse capítulo eu dei uma introduzida em como será mais ou menos as torturas que a Hermione vai ter que passar. Voldemort e suas estratégias para fazer a Hermione sofrer aos poucos. O negócio vai piorando e agravando com o tempo. Aguardem. Mas coisas boas também acontecerão.
Quando ao café da manhã com Draco Malfoy no jardim interno da catedral, tenho que dizer que já cansei de como hermione e draco ficam interagindo, mas é necessário pra não haver um baque na mudança da relação deles. Vamos entender mais pra frente as estratégias que eles usarão para conseguirem suportar um ao outro. E foi só eu que percebi ou Draco e Hermione mesmo se odiando tem muita coisa em comum? :) Interesses futuros rolando solto por aí...
Voldemort e Bellatrix me encantam! Um amor meio insano, meio sem direção, sem fundamento, meio louco e doentio. Acho lindo! Só Voldemort que está desejando demais a Hermione, não acham?
No mais, capítulo que vem teremos a festa de noivado! Mais Malfoys para vocês!
Perguntinha: Tem alguém aqui acompanhando a nova temporada de Game Of Throne que leu os livros?
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Liza Joker: Influências? Bernard Cornwell, Douglas Adams, George R. R. Martin, Dan Brown, Edgar Allan Poe, Sylvia Plath, Philip Pullman, C. S. Lewis, Marion Zimmer Bradley, J. R. R. Tolkien (REI), Anne Rice... e muitos outros. Mas esses são quase que os principais que eu estou me lembrando agora. Sou apaixonada por qualquer obra que eles publicarem (menos os mortos). Cornwell, Martin e Brown principalmente. Agora, eu sou incapaz de escrever livros. Talvez eu nunca vá publicar um. Escrevo fanfics pq Harry Potter foi minha primeira frustação literária (não por causa da história, mas por causa do romance) e eu carrego isso até hoje. Eu era muito nova e me enfiei no mundo muito facilmente, daí de repente me jogam Harry e Gina e Rony e Hermione como uma coisa meio cuspida no meio de todos os acontecimentos da série. Foi decepcionante para quem esperava algo mais profundo, tipo eu. Foi meio que o primeiro trauma e carrego ele até hoje. Fanfics me aliviam desse trauma, haha. Nós compartilhamos o mesmo pensamento quanto as fics NC's daqui do site. Realmente eu também sinto que é um absurdo ler fics que o Draco se apaixona pela Hermione e já faz ela ser o amor da vida dele porque o sexo deles é inigualável. Não acho que o amor nasce assim! Amor é mais escolha do que sentimento. Acho até que é uma das minhas intenções na fic. Quebrar esse paradigma hollywoodiano mostrando a "prática" do romance no "mundo real" sem deixar de ser memorável.
Ruby Black: Obrigado por ter exposto o que gostaria de ver nesse capítulo com relação as palavras duras que o Draco lançou para Hermione. Também achei bem pesado ele ter falado aquelas coisas para ela, mas como coloquei no capítulo, Hermione ainda não tem muita idéia da intensidade de tudo isso. Ela vai passar cada dor ao seu tempo aí sim ela vai entender o quão insensível foi Draco ter dito isso. Até mesmo Draco vai perceber o quão duro ele foi.
Landa MS: E põe difícil nisso! Draco e Hermione é orgulho versus orgulho! É potencial demais para um casal só! haha. Fico feliz da sua idéia de 2008 ter chegado ao meu cérebro! Também tenho muitos projetos que ficaram parados no passado!
Dennis Luis: Obrigada por reparar em algo que eu acho que ninguém nunca reparou. Ou se reparou nunca comentou! Diálogos são importantes, mas a história ta mais nos parágrafos descritivos do que só nos diálogos. Espero que eles nunca se tornem cansativos pra vc! E obrigada pelos elogios!
Dark Moon: Sobre o final triste, vc sabe que eu adoro um drama. Mas acho que não... é uma long e muita coisa boa e ruim vai acontecer. Terei de medir muito cautelosamente tudo isso pra montar um final memorável. Tenho ele firme na minha cabeça, mas com o decorrer do desenvolvimento da fic ele pode mudar. Mas sofrimento demais já é forçar muito! O final vc terá que ler para saber! :) Mas não pretendo forçar demais. haha Apenas confie e aprecie a fic!
Caderninho azul: gostei muito de um comentário que vc fez numa outra fic minha. Acho que foi Made of Stone. Gostei de como vc achou que o trabalho era sério e que é difícil encontrar autores assim. Obrigada verdadeiramente! :)
Taís Lila: O casamento ainda não ta aí, mas capítulo que vem tem festa de noivado! :) haha
Nataly D.S., Nicole Ninfadora, Letícia Dias: Ciumes da Pansy com o Draco é perfeitamente normal, até eu, mas queria deixar a personagem bem humana pelo ponto de vista dela e bem maldita pelo ponto de vista dos outros. Por isso vcs vão nutir um sentimento de ódio e dó ao mesmo tempo. Apreciem isso! O Draco pertence a Hermione e ninguém vai tirar isso deles! Não nessa fic! haha fiquem tranquilas!
Essa aqui é a música da Pansy:
M R C, Anna Malfoy: Quando chegar a hora da NC Draco e Hermione, preparem-se. Não vai ser nada tão selvagem, mas vai ser linda como tem que ser! :)
Luciana Firme Rodrigues, alana_miguxa, Christine Martins, Scarlett, Laís Cristyne Alexandre, RiemiSam: Muito obrigada pelos elogios e pelo comentário! Espero continuar a não decepcioná-los. O comentário de vocês é muito importante, portanto continuem. Divirtam-se com esse capítulo! Boa leitura e não esqueçam de comentar, claro!
obs: Capítulo não revisado.
Comentários (13)
Sua fic fica cadia melhor!Adorei essa sua abordagem da Narcisa Malfoy!E também gosto da Hermione observando o Draco com um pouco mais de interesse! Estou aguardando o próximo!
2013-04-21O que eu posso dizer? Vc realmente surpreende. Acho que o termo correto para sua originalidade. Conseguiu definir muito bem a Narcisa e a Bellatrix com o Voldemort. AGUARDANDO os PROX. CAP.
2013-04-21O que eu posso dizer? Vc realmente surpreende. Acho que o termo correto para sua originalidade. Conseguiu definir muito bem a Narcisa e a Bellatrix com o Voldemort. AGUARDANDO os PROX. CAP.
2013-04-21