Amor de vampiro



Capitulo Três


 


Mandar-nos direto para a sala de aula logo depois da reunião seria mais do que cruel, mas foi exatamente isso o que Minerva fez. Hermione foi levada para longe, e eu assisti a isso contente, porque o laço que nos unia me permitiria continuar medindo sua temperatura emocional.


 


Eles na verdade me mandaram primeiro para um dos orientadores educacionais. Era um velho Moroi, e eu me lembrava dele antes da fuga. O sujeito era tão absurdamente velho que já devia ter se aposentado. Ou morrido.


 


A reunião não levou mais do que cinco minutos. Ele não disse nada sobre a minha volta e fez algumas perguntas sobre quais matérias eu estudara em Chicago e em Portland. Comparou-as ao meu antigo histórico e rabiscou apressadamente um novo horário. Eu o apanhei mal-humorado e segui para a minha primeira aula.


 


1° tempo       Técnicas avançadas de combate para guardiões


2º tempo       Teoria de guarda-costas e defesa pessoal III


3º tempo       Treinamento de peso e condicionamento


4º Tempo      Linguagens artísticas avançadas (aprendizes)


Almoço


5º tempo       Comportamento dos animais e fisiologia


6º tempo       Pré-cálculo


7º tempo      Cultura Moroi IV


8º tempo      Arte eslava


 


 Nossa! Eu esquecera como o dia letivo era longo na São Vladimir. Aprendizes e Moroi tinham aulas separadas na primeira parte do dia, o que significa que eu só veria Hermione depois do almoço – se tivéssemos alguma aula juntos na parte da tarde. A maior parte delas eram matérias regulares do ultimo ano do ensino médio, então achei que minhas chances eram grandes. Arte eslava me parecia uma eletiva na qual ninguém se matriculava, então tive a esperança de que a tivessem posto nessa aula também.


 


Sirius e Tonks me escoltaram até o ginásio dos guardiões para o primeiro tempo, os dois ignorando solenemente a minha existência. Percebi, enquanto caminhava atrás deles, que Tonks usava um corte de cabelo curto estilo duende, o que deixava á mostra sua marca da promessa e suas marcas molnija. Muitas guardiãs faziam isso. Eu achava esquisito cortar o cabelo só para deixar à mostra as marcas, mas essas mulheres vai saber né.


 


Ela e Sirius não disseram nada e caminharam juntos como se aquele fosse um dia comum. Quando nós chagamos, a reação dos meus colegas indicava que era tudo, menos um dia comum. Eles estavam montando os equipamentos para a aula quando entramos no ginásio, e, exatamente como acontecera no refeitório, todos os olhares se voltaram para mim. Não sabia se me sentia como um cantor de rock ou como uma figura de circo.


 


Tudo bem, então. Se eu teria de ficar preso ali durante algum tempo, não devia mais me comportar como se tivesse medo deles todos. Hermione e eu já tínhamos conquistado o respeito da escola uma vez, e estava na hora de lembrar a todos disso. Passando os olhos pelos aprendizes que me encaram boquiabertos, procurei por rostos familiares. A maioria deles era de garotas. Uma delas cruzou o olhar com o meu e eu mal pude segurar um sorriso.


 


-Ei Katharine você continua bonitinha ainda.


 


Katharine Ashford saiu do estado catatônico e me lançou um sorriso com malicia. Com seus cabelos ruivos e poucas sardas, ela era bonitinha, embora não fosse exatamente uma gata. Eu já tinha transado com elas algumas vezes mais não queria nada serio com ela.


 


Sirius balançou a cabeça e saiu andando, murmurando alguma coisa que não parecia um elogio. Mas quanto a mim... bem, simples assim, eu voltei a seu um dos aprendizes novamente. Eles formavam  um grupo fácil de lidar, menos preocupados com pedigree e hierarquias do que os alunos Moroi.


 


A turma partiu para cima de mim, e, quando me dei conta, estava rindo revendo aqueles de quem eu quase me esquecera. Todos queriam saber por onde nós andáramos; parece que Hermione e eu tínhamos nos tornados verdadeiras lendas. Não pude contar a eles por que nós fugimos, é claro, então lancei vários comentários provocativos e disse coisas do tipo vocês-não-iam-querer-saber. É isso funcionou muito bem.


 


A confraternização durou ainda alguns minutos antes que o guardião adulto que supervisionava o treinamento assumisse a liderança e latisse ordens para todos, explicando que exercícios dariam inicio ao treinamento. Desconfortável, me dei conta de que não conhecia a maior parte deles.


 


-Venha Potter – disse Masson. – Você pode ser meu parceiro. Vamos ver o que você andou fazendo durante todo esse tempo.


 


Uma hora depois ele teve a resposta.


-Não andou treinando, hein?


 


-Hum –grunhi, de repente incapaz de anunciar uma fala normal.


Ele estendeu a mão e me ajudou a levantar do tatame no qual me derrubara umas... cinquenta vezes.


 


-Odeio você – disse a ele.


 


-Você me odiaria ainda mais se eu tivesse pegado leve com você.


 


-É. Isso é verdade –concordei, cambaleando para longe enquanto os outros arrumavam os equipamentos.


 


 -Você se saiu bem, na verdade.


 


-O quê? Acabei de levar uma surra das boas.


 


-Bem, é claro que você levou. Dois anos sem treinar. Mas, olhe só, você ainda está andando. Isso já é alguma coisa. –Ele sorriu, debochando.


 


-Eu já disse que odeio você?


 


-Não leve a mal... você é realmente um guerreiro, mas não vai ter jeito de passar nos testes na primavera...


 


-Vão me fazer ter aulas práticas extras – expliquei. Não que isso tivesse importância. Eu planejava tirar Hermione e a mim mesmo deli antes que essas aulas de fato acontecessem. – Estarei preparada para os testes.


 


-Aulas extras com quem?


 


-Com aquele cara alto. Sirius.


 


Mason parou de andar e me encarou.


-Você vai ter aulas particulares com o Black? 


 


-Vou, e daí?


 


-O cara é um deus.


 


-Não acha que está exagerando, não? –perguntei.


 


-Não, estou falando serio. Ele é geralmente todo na dele e bem antissocial, mas quando está lutando... Uau. Se você está com dor agora, vão estar morto quando ele tiver acabado com você.


 


Ótimo. Mais uma coisa para animar o meu dia.


Dei uma cotovelada nele e segui para o meu segundo tempo. Essa disciplina cobria tudo a respeito de como ser um guarda-costas e era obrigatório para todos os alunos do ultimo ano. Na verdade ela era a terceira parte de um assunto que a gente começava a aprender no primeiro ano do ensino médio. Isso significava que nessa matéria eu também estava atrasado, mais tinha esperanças de que a pratica de proteger Hermione no mundo real tivesse me dado algumas dicas.


 


Nosso instrutor era Severo Snape, a quem nós nos referíamos simplesmente como “Snape” quando ele não estava presente, e como “Guardião Severo” quando falávamos formalmente. Era um pouco mais velho do que Sirius, da mesma altura, e parecia estar sempre zangado. Naquele dia, o seu semblante se intensifica quando ele entrou na sala e me viu sentado ali. Seus olhos se arregalaram, fingindo ter sido surpreendido enquanto dava a volta na sala e se punha em pé ao lado da minha carteira.


 


-Mas o que é isso? Ninguém me contou que teríamos um palestrante convidado aqui hoje. Harry Potter. Que privilégio! Que grande generosidade da sua parte ceder algum tempo da sua agenda tão cheia de compromissos para dividir um pouco do seu conhecimento aqui conosco.


 


Senti minhas bochechas arderem, mas, mostrando grande capacidade de autocontrole, eu me segurei para não mandá-lo ir para o inferno. Tenho certeza, no entanto, de que a expressão do meu rosto me traiu, pois o tom do sarcástico de Snape aumentou. Ele, então, fez um gesto para que eu me levantasse.


 


-Bom, vamos, vamos. Não fique aí sentado! Venha para a frente da sala para me ajudar a dar aula.


 


Eu me afundei na cadeira.


-Você não está falando sério...


 


O sorriso sarcástico desapareceu.


-Estou falando muito sério, Potter. Vá para a frente da sala.


 


Um silêncio pesado envolveu o ambiente. Snape era um instrutor aterrador, e a maioria da turma ainda estava petrificada demais para rir da minha desgraça. Eu me recusei a demonstrar fraqueza. Fui pisando firme até a frente da sala e me virei para encarar a turma. Olhei para todos corajosamente. Percebi então que tinha um publico maior do que o esperado. Alguns guardiões –incluindo Sirius- permaneciam no fundo da sala. Fora da Escola, os guardiões tinham muito mais gente para proteger e ainda tinham de treinar os aprendizes. Então, em vez de seguir uma só pessoa o tempo todo, eles trabalhavam em turnos, tomando conta da escola como um todo e monitorando as aulas.


 


-Então, Potter – disse Snape alegremente, caminhando com firmeza para a frente da sala, onde eu estava. – Instrua-nos com as suas técnicas de proteção.


 


-Minha... técnicas?


 


-É claro. Pois seria de esperar que você tivesse algum tipo de plano que todos nós não pudemos compreender quando você levou uma Moroi da realeza, menor de idade, para fora da Escola e a expôs a constantes ameaças dos Strigoi.


 


Eu estava ouvindo novamente o sermão de Minerva, só que, dessa vez, com um número maior de espectadores.


 


-Nós nunca esbarramos com nenhum Strigoi – respondi com firmeza.


 


 -Evidentemente – disse ele, com um riso maldoso. – Eu já havia concluído isso, uma vez que vocês dois ainda estão vivos.


 


A minha vontade foi gritar que eu poderia ter derrotado um Strigoi, mas que, depois de ter levado uma surra na aula anterior, suspeitava agora que não poderia sobreviver a um ataque de Mason, muito menos ao de um verdadeiro Strigoi.


 


Como eu não disse nada, Snape começou a caminhar de um lado para o outro na frente da turma.


-Então, o que você fazia? Como você se certificava de que ela estava a salvo? Vocês evitavam sair durante a noite?


 


-Ás vezes. –isso era verdade, principalmente no início. Nós relaxamos um pouco depois de alguns meses sem nenhum ataque. 


 


-Ás vezes – repetiu ele, elevando o timbre da voz a um tom aguçado, e fazendo com que minha resposta parecesse incrivelmente idiota. – Bem, então, eu imagino que você dormia durante o dia e ficava em estado de alerta durante a noite.


 


-É... Não.


 


-Não? Mas esta é uma das primeiras lições mencionadas no capitulo sobre como proteger sozinho uma só pessoa. Ah, não, você não conhece esta lição, pois você não estava aqui.


 


Engoli mais alguns palavrões.


-Eu examinava a área todas as vezes que nós saiamos – disse, pois precisava me defender.


 


-Mesmo? Bom, isso já é alguma coisa. Você usou o Método Carnegie de Fiscalização Quadrante ou preferiu a Fiscalização Rotacional?


 


Eu não disse nada.


 


-Ah. Imagino que você tenha usado o Método Potter Dá-Uma-Olhada-Em-Volta-Quando-Você-Lembrar.


 


-Não! – exclamei com raiva. – Isso não é verdade. Eu a protegi. Ela ainda está viva, não está?


 


Ele veio andando em minha direção e se inclinou para perto do meu rosto.


-Porque você teve sorte.


 


-Os Strigoi não estão escondidos em todas as esquinas lá fora – eu atirei de volta. – Não é como nos ensinam aqui. É mais seguro do que vocês fazem parecer.


 


-SEGURO? SEGURO? NÓS ESTAMOS EM MEIO A UMA GUERRA CONTRA OS STRIGOI! –gritou Snape. Ele estava tão perto que eu pude sentir o cheiro do café em seu hálito. – Um deles poderia ter ido direto até você e quebrado seu pescoço sem que você sequer chegasse a perceber a presença dele, e não derramaria nem mesmo uma gota de suor fazendo isso. Você pode ser veloz e mais forte do que um Moroi ou do que um humano, mas você não é nada, nada, se comparado a um Strigoi. Eles são letais e poderosos. E você sabe o que os torna mais poderosos?


 


Estava fazendo de tudo para não falar uns bons palavrões para ele. Tentei me concentrar em alguma outra coisa, olhando para longe dele. Meus olhos pousaram em Sirius e nos outros guardiões. Eles estavam assistindo á minha humilhação, sem qualquer expressão facial.


 


-Sangue Moroi – Sussurrei.


 


-O que foi que você disse? – perguntou Snape em voz alta. – Eu não ouvi.


 


Eu me virei de volta para olhar diretamente para ele.


-Sangue Moroi! É o sangue Moroi que os fortalece.


 


Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça, satisfeito com a resposta.


-Exatamente. O sangue Moroi torna-os mais fortes e mais indestrutíveis. Eles matam e bebem sangue de humanos e de dampiros, mas o que eles anseiam mais do que qualquer coisa é o sangue Moroi. Eles o buscam. Eles se voltaram para o lado negro para ganhar imortalidade, e querem fazer o que for preciso para manter essa conquista. Strigoi desesperados já atacam Moroi em público. Grupos de Strigoi já tomaram de assalto escolas exatamente como esta. Existem Strigoi que viveram durante milhões de anos alimentando-se de gerações de Moroi. É quase impossível matá-los. E é por isso que o número de Moroi está diminuindo. Não são fortes o suficiente, mesmo com seus guardiões, para se protegerem. Alguns Moroi não veem nem mesmo mais por que continuar fugindo e estão simplesmente transformando-se em Strigoi por escolha. E se os Moroi desaparecerem...


 


-Os dampiros desaparecem também – completei a frase dele.


 


-Bem – disse ele, tirando com a língua as gotas de cuspes do lábio. – Parece que você aprendeu alguma coisa, afinal. Agora vamos ver se você consegue aprender o suficiente para passar nesta matéria e se qualificar para a experiência de campo no próximo semestre.


 


Ai. Eu passei o resto daquela aula horrível – na minha cadeira, graças aos céus –reprisando aquelas ultimas palavras na minha cabeça. A experiência de campo do último ano era a melhor parte da educação escolar de um aprendiz. Nós não tínhamos mais nenhuma aula durante metade do semestre. Em vez de aulas, cada um de nós seria responsável por um aluno Moroi, por mantê-lo a salvo e segui-lo onde quer que fosse. Os guardiões adultos nos monitorariam e nos testariam com ataques ensaiados e outras ameaças. A atuação de um aprendiz durante essa experiência de campo era quase tão importante quanto todas as suas demais notas somadas. Poderia inclusive influenciar na escolha do Moroi de quem você seria o guardião depois da formatura.


E quanto a mim? Havia apenas uma Moroi que eu queria.


 


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Duas aulas depois, finalmente consegui meu merecido intervalo durante o horário de almoço. Enquanto eu mancava pelo campus para chegar ao refeitório, Sirius surgiu no meu caminho.


 


-Imagino que você tenha visto o que aconteceu na aula de Snape –perguntei, sem me preocupar com formalidades do modo de tratamento.


 


-Vi.


 


-E você não acha que foi injusto?


 


-Ele não estava certo? Você acha que estava totalmente preparado para proteger Hermione.


 


-Eu a mantive viva. –murmurei.


 


-Como você se saiu hoje, lutando com os seus colegas de classe?


 


A pergunta foi cruel. Eu não respondi e sabia que não precisava fazê-lo. Tivera outra aula de treinamento depois da de Snape, e sem dúvida Sirius me viu levar outra surra.


 


-Se você não consegue lutar contra eles...


 


-Eu sei, eu sei – respondi de mau jeito.


 


Ele diminuiu a velocidade dos seus passo largos para acompanhar o meu ritmo, diminuído pela dor.


 


-Você é forte e veloz por natureza. Só precisa continuar em forma. Você não praticou nenhum esporte enquanto esteve fora?


 


-Claro – dei os ombros – De vez em quando.


 


-Não chegou a fazer parte de nenhum time?


 


-Dava muito trabalho. Se eu quisesse praticar tanto assim, teria ficado aqui.


 


Ele me lançou um olhar exasperado.


-Você nunca será capaz de realmente proteger a princesa se não aperfeiçoar as suas habilidades. Ficará sempre faltando alguma coisa.


 


-Eu saberei como protegê-la – disse com firmeza.


 


-Não há qualquer garantia de que você vá ser o escolhido para protegê-la, sabe, seja durante a sua experiência de campo seja depois da formatura.


 


A voz de Sirius era baixa e sem qualquer sinal de arrependimento. Eles não me indicaram como mentor alguém caloroso e pouco claro.


 


-Ninguém que desperdiçar o laço, mas ninguém vai dar a ela um guardião inadequado também. Se quiser ficar ao lado dela, terá de se esforçar para conseguir isso. Você tem as suas aulas. Tem a mim. Pode fazer uso de nós ou não. Você é a escolha ideal para ser o guardião de Hermione quando ambos se formarem, caso você de fato prove ser merecedor de exercer essa função. Eu espero que você o faça.


 


Ele se afastou deli, e, subitamente, eu não me senti mais tão temperamental.


 


Mas, àquela altura, eu havia perdido tempo demais saindo da aula. Quase todos já tinham corrido para o refeitório para almoçar, loucos para usar ao máximo seu momento de socialização. Eu estava quase chegando quando uma voz sob o portal me chamou.


 


-Harry?


 


Olhei para o lugar de onde vinha a voz e vislumbrei Arthur Weasley, a expressão gentil do seu rosto sorrindo para mim enquanto ele se apoiava numa bengala perto da parede do prédio. Seus dois guardiões estavam parados de pé mantendo uma distância educada.


 


-Senhor Weasley, quero dizer, Sua Alteza. Olá.


 


Corrigi-me bem a tempo, quase me esquecendo dos termos usados para a realeza dos Moroi. Eu não os usava enquanto estive vivendo entre humanos. Os Moroi escolhiam seus governantes dentre doze famílias reais. O mais velho da família ganhava o titulo de “príncipe” ou “princesa”. Hermione ganhara o titulo porque era a última que restara de sua linhagem.


 


-Como foi o seu primeiro dia? –perguntou ele.


 


-Ainda não acabo. – Tentei pensar em algo para dizer. – O senhor está aqui de visita por um tempo?


 


-Irei embora esta tarde, depois de falar com Gina. Quando soube que Hermione e você estavam de volta, tive de vir vê-los.


 


Fiz que sim com a cabeça, sem saber o que mais dizer. Ele era mais amigo de Hermione do que meu.


 


-Eu queria dizer a você... – disse ele, hesitante. – Entendo a gravidade do que você fez, mas acho que a diretora Minerva falhou quando não reconheceu uma coisa. Você de fato manteve Hermione a salvo durante todo esse tempo. Isso é impressionante.


 


-Bom, não cheguei a ter de enfrentar um Strigoi nem nada semelhante – respondi.


 


-Mas você teve de enfrentar algumas coisas?


 


-Com certeza. Uma vez, a escola mandou cães de caça paranormais.


 


-Extraordinário.


 


-Não muito. Foi bem fácil me livrar deles.


 


Ele riu.


-Eu já cacei com eles antes. Não são tão fáceis de iludir, são muito inteligentes e poderosos.


 


Isso era verdade. Cães de caça paranormais são uma espécie entre as muitas criaturas mágicas que vagam pelo mundo, criaturas das quais os humanos nunca tomaram conhecimento e nem sequer acreditam que possam ter visto realmente. Os cães de caça andam em matilhas e possuem uma espécie de comunicação telepática que os torna uma ameaça particularmente letal para suas presas, assim como de fato de eles se parecem com lobos mutantes.


 


-Você enfrentou mais alguma coisa?


 


Dei de ombros.


-Umas coisinhas aqui e ali.


 


-Extraordinário – repetiu ele.


 


-Sorte, eu acho. Na verdade, estou bastante atrasado em todas as matérias de guardiões. – Neste momento, eu parecia estar repetindo Snape.


 


-Você é um garoto inteligente. Vai alcançar os colegas. E além disso, você tem também o seu laço.


 


Eu desvie o olhar. Minha capacidade de “sentir” Hermione fora um segredo durante tanto tempo que parecia estranho outras pessoas saberem da nossa forma peculiar de ligação.


 


-História está cheia de contos sobre guardiões que podiam pressentir quando seus protegidos estavam em perigo – continuou Arthur – O estudo dessas historias e de alguns dos hábitos dos antigos tornou-se um hobby para mim. Soube que uma habilidade e tanto.


 


-Parece. –Dei de ombros. “Que hobby mais chato”, pensei imaginando-o debruçado sobre histórias de da Idade da Pedra em alguma biblioteca cheia de mofo, coberta de teias de aranha.


 


Arthur inclinou a cabeça para o lado, a curiosidade tomando-lhe todo o rosto. Minerva e os outros tinham feito a mesma cara quando mencionamos a nossa conexão, como se fôssemos ratos de laboratório.


 


-Como é? Se você não se importa que eu pergunte.


 


-É... eu não sei. Eu simplesmente convivo sempre com uma espécie de sussurro de como ela se sente. Geralmente são só emoções. Não podemos mandar mensagens um para o outro, ou coisa do tipo. –Não contei a ele sobre aquilo de entrar na cabeça dela. Essa parte do laço até para mim era difícil de entender.


 


-Mas o contrario não acontece? Ela não consegue sentir você também?


 


Eu balancei a cabeça em sinal negativo.


O rosto dele brilhou maravilhado.


-Como foi que isso aconteceu?


 


-Não sei –disse, ainda desviando o meu olhar do dele. -  Isso simplesmente começou a  acontecer há dois anos.


 


Ele franziu o cenho.


-Perto da ocasião do acidente?


 


Fiz que sim com a cabeça, hesitante. O acidente não era um assunto sobre qual eu tivesse vontade de conversar, disse eu tinha certeza. As lembranças de Hermione já eram terríveis demais sem que eu juntasse a elas as minhas próprias. Lataria retorcida. Uma sensação de calor, depois de frio, depois novamente de calor. Hermione gritando perto de mim, gritando para eu acordar, gritando para os pais e o irmão dela acordarem. Nenhum deles acordou, só eu. E os médicos disseram que foi um milagre. Disseram que não tinha como eu ter sobrevivido.


 


Arthur pareceu sentir o meu desconforto e deixou passar o assunto. Voltou para a questão que o interessara antes.


 


-Eu mal posso acreditar nisso ainda. Aconteceu há tanto tempo. Se isso acontecesse com mais frequência... Imagine como essa habilidade poderia ser útil para a segurança de todos os Moroi. Se outros pudessem ter essa experiência também. Eu terei que pesquisar mais sobre isso e ver se podemos repetir algo assim com os outros.


 


-Ah, é.


 


Eu estava ficando impaciente, apesar do quanto ele era legal. Gina divagava muito, e estava bem claro que fora do pai que herdara aquela característica. A hora do almoço estava terminando, e, embora os Moroi e os aprendizes se juntassem para as aulas do período da tarde, Hermione e eu não teríamos muito tempo para conversar.


 


-Talvez nós pudéssemos... –Ele começou a tossir, um ataque de tosse forte que fez todo o corpo dele estremecer. A sua doença, a síndrome de Sandovsky, tomava os pulmões arrastava o corpo para a morte. Lancei um olhar ansioso para os guardiões encarregados da segurança dele, e um deles veio até nós.


 


-Sua Alteza – disse ele, educadamente. -, o senhor precisa entrar. Está muito frio aqui fora.


 


Arthur fez que sim com a cabeça.


-Claro, claro. E tenho certeza de que Harry está querendo ir comer alguma coisa. –ele se virou para mim. – Obrigado por conversar comigo. Nem sei como enfatizar o quanto significa para mim o fato de Hermione estar a salvo, de você ter ajudado a mantê-la segura. Eu prometi ao pai dela que cuidaria dela se alguma coisa acontecesse a ele, e senti como se tivesse falhado quando vocês fugiram.


 


Uma angustia tomou o meu estômago enquanto eu o imaginava torturado pela culpa e pela preocupação por causa do nosso desaparecimento. Até aquele momento eu não tinha pensado sobre como os outros se sentiram com relação a nossa partida.


 


Nós então nos despedimos e eu finalmente consegui entrar na escola. Como sempre acontecia, eu senti a ansiedade de Hermione cravar em mim. Ignorando a dor nas pernas, apertei o passo até chegar ao refeitório.


E quase esbarrei direto nela.


 


Hermione, no entanto, não me viu. E nem as pessoas que estavam de pé á sua volta: Rony e a garotinha com jeito de boneca. Eu parei e fiquei ouvindo, peguei apenas o final da conversa. A garotinha se inclinava em direção a Hermione, que parecia estar mais que atordoada do que qualquer outra coisa.


 


-Para mim, parece que isso veio de uma lojinha de coisas usadas. Eu pensava que uma preciosa Granger tivesse elevados padrões a seguir. –A palavra Granger saiu de sua boca respingando desprezo.


 


Agarrei aquela boneca pelos ombros e a empurrei longe – não muito, forte devo admitir -. Ela era tão leve que tropeçou a um metro e quase caiu.


 


-Ela tem, sim, padrões elevados –disse eu -, e é exatamente por isso que a sua conversa com ela acabou.

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Comentários (3)

  • Saito

    Bacana! Gostei da sua fic! ela é realmente bem interessante! espero que não nos deixe esperando muito!

    2013-06-09
  • Nety_Potter

    Por favor eu realmente preciso saber o que vai acontecer!!! Serio sua Fic é demais!! To viciada!!! Será que o Harry Vai se ferrar por causa do modo como ele tratou esse Menina? Puzt tenho certeza de que o Sirius vai ser um mestre muito legal!!!Aguardo ansiosamente o proximo capitulo!!!!Serio eu realmente to viciada, então Please! Tenha piedade e poste o mais breve o possivel! Valeu!!!!!!!!!

    2013-06-01
  • Venatrix

    Wow, por favor não pare! eu realmente preciso saber o que ira acontecer! Serio o que levou-os a fugir da escola? como foi que os pais da Mione morram? Eu estou amando essa fic! Parabéns!Você disse que pegou de um livro poderia me dizer qual é? Aguardo ansiosamente as proximas atualizações! E Pode contar com meus comentarios! 

    2013-05-30
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