Amor de vampiro
Capitulo um
Senti o medo dela antes de ouvir seus gritos.
O pesadelo dela pulsou dentro de mim, arrancando-me do meu próprio sonho. Imagens -dela, não minha- invadiram-me a mente: fogo e sangue, o cheiro de fumaça, a lataria retorcida de um carro. As figuras me circulavam, me embrulhavam me sufocavam, até que alguma parte racional do meu cérebro me lembrou de que aquele não era o meu sonho.
Acordei, mechas de meu cabelo estavam grudados em minha testa.
Hermione estava deitada em sua cama debatendo-se e gritando. Eu pulei da minha cama, cruzei rapidamente os poucos centímetros que nos separavam.
-Hermione - disse eu, sacudindo-a.- Mione,acorde.
Os gritos cessaram, substituídos por um pranto leve:
-André -ela gemeu- Ai, meu deus.
Eu a ajudei a se sentar.
-Hermione, você não está mais lá. Acorde.
Depois de alguns minutos, seus olhos se abriram hesitantes, e, sob sua mente. A respiração frenética foi se acalmando, e ela se recostou em mim, descansando a cabeça no ombro. Eu a abracei e passei a mão sobre os seus cabelos.
-Tudo bem - disse a ela calmamente. - Está tudo bem.
-Eu tive aquele sonho.
-É. Eu sei.
Nós ficamos sentados ali durante algum tempo, sem dizer mais nada. Quando senti que ela estava se acalmando, inclinei-me em direção á mesinha de cabeceira que ficava entre as nossas camas e acendi o abajur. A luz era fraca, mas nenhum de nós precisava de muita claridade para enxergar. Atraído pela luz, Oscar, o gato do rapaz que dividia a casa conosco, saltou para dentro pela janela aberta.
Ele recuou para longe de mim -por alguma razão, os animais não gostam de dampiros -mas subiu na cama e roçou a cabeça em Hermione, ronronando baixinho. Os animais não tem problema algum com os Moroi, e todos amavam Hermione de modo especial. Sorrindo, ela acariciou-lhe o queixo, e eu senti que ela ia gradualmente se acalmando.
-Quando foi á última vez que você se alimentou? -perguntei, estudando-lhe a fisionomia. Sua pele clara estava mais pálida do que de costume. Círculos escuros se estendiam embaixo dos olhos, e ela parecia enfraquecida. Tinha sido uma semana puxada na escola, e eu não conseguia lembrar quando fora a última vez que eu fornecera sangue a ela. -Foi há... Mais de dois dias, não foi? Três? Por que você não disse nada?
Ela deu de ombros e evitou o meu olhar.
-Você estava ocupado. Eu não quis...
-Ocupado? Que se dane - disse eu, mudando de posição. Era de se esperar que ela parecesse tão fraca. Oscar, evitando a minha aproximação, saltou da cama e voltou para a janela, de onde podia assistir a tudo a uma distância segura. -Venha. Vamos fazer isso.
-Harry.
-Venha. Você vai se sentir melhor.
Eu inclinei a cabeça para o lado, deixando o pescoço a mostra. Ela hesitou, mais a visão do meu pescoço e do que ele oferecia era tentador demais. Uma expressão de fome invadiu-lhe o rosto, e seus lábios se abriram levemente, expondo os caninos que ela normalmente mantinha escondidos enquanto circulavam entre os humanos. Aqueles caninos contrastavam estranhamente com o resto de suas feições. Seu belo rosto e os cabelos Louro-escuro faziam com que ela parecesse mais um anjo do que uma vampira para mim.
Assim que seus dentes se aproximaram da minha pele, eu senti o coração disparar num misto de medo e ansiedade. Sempre detestei sentir essa expectativa, mas era inerente a mim, uma fraqueza que eu não conseguia conter.
Seus caninos me rasgaram a pele, com força, e eu fechei os punhos com força sentindo a breve chama de dor. Depois passou e se transformou em puro prazer, que fazia meu pênis ficar duro e dolorido ainda mais no meu estado (abstinência), sempre me sentia constrangido por sentir isso pela minha amiga. Mais fazer o que né?.
E o prazer continuava a me preencher, a química da sua saliva disparava uma onda de endorfina, e eu perdia a noção de quem eu era só sabia o prazer que aquilo fazia para meu corpo e a dor em meu membro. (só que essa dor eu suporto).
Então, infelizmente, acabou. Demorara menos de um minuto.
Ela se afastou, passando as costas das mãos nos lábios, enquanto me examinava com o olhar.
-Você está bem?
-Eu... estou. -Me deitei de costas na cama, tonto por causa da perda de sangue e meu membro que doía ainda. -Eu só preciso descansar um pouco. Estou bem.
Seus olhos claros, de uma castanha cor de mel, me olharam com preocupação. Ela se levantou.
-Vou ver alguma coisa para você comer.
Meu protesto chegou sufocado aos meus lábios, e ela saiu antes que eu conseguisse formar uma frase. O frisson da mordida dela em mim se esvanecera assim que o contato físico se interrompeu, mas um rastro dele ainda corria pelas minhas veias, e eu senti um sorriso tolo me invadir os lábios. Virei a cabeça e vi Oscar, ainda sentado na janela.
-Você não sabe o que está perdendo - disse a ele.
Sua atenção agora estava concentrada em algo lá fora. Ele se agachou, e eriçou o pelo preto escuro. Depois contorceu o rabo.
O sorriso desapareceu do meu rosto, e fiz um esforço para me sentar. O mundo a minha volta girava, e eu esperei até que ele parasse para tentar me pôr de pé. Quando consegui, a tontura tomou conta de mim novamente, e desta vez se recusou a ir embora. Mesmo assim, pude ir aos tropeços até a janela e ver, ao lado de Oscar, o que havia do lado de fora da janela. Ele me olhou cauteloso, afastou-se um pouco para o lado, e depois voltou novamente os olhos para o que chamara anteriormente a sua atenção.
Uma brisa morna - morna demais para um outono em Portland - bateu em meu rosto quando me debrucei na janela. A rua estava escura e relativamente silenciosa. Eram três horas da manha, basicamente a única hora em que não há quase movimento. A casa na qual há oito meses alugávamos um quarto ficava numa rua residencial cheia de casas velhas e de arquiteturas variadas. Do outro lado da rua, a lâmpada de um poste de luz piscava prestes a se apagar. Mas ainda me fornecia claridade suficiente para distinguir as formas dos carros e dos prédios. No nosso próprio quintal eu pude ver as silhuetas das arvores e dos arbustos.
E um homem me observando.
Esquivei-me surpreendido. Havia um vulto de pé ao lado de uma arvore no quintal, a uns dez metros de distancia, de onde ele podia facilmente ver através da janela. Ele estava tão perto que eu provavelmente conseguiria atingi-lo se jogasse algo em sua direção. Com certeza ele estava perto o suficiente para ver o que Hermione e eu tínhamos acabado de fazer.
As sombras o cobriram tão bem que, mesmo com minha visão aguçada, não consegui enxergar suas feições, apenas a altura. Ele era alto. Muito alto. Ficou ali de pé, pouco visível por apenas um instante, e depois se afastou e desapareceu escondido pelas sombras das arvores que ficavam mais adiante no quintal. Eu estava certo de ter percebido mais alguém se movimentando ali por perto e se juntando a ele antes que a escuridão os engolisse.
Fossem quem Fossem Oscar não gostou nada deles. Á exceção de mim, ele geralmente se dava bem com a maioria das pessoas, e se deixava perturbar apenas quando alguém parecia uma ameaça iminente para ele. O sujeito do lado de fora não fizera nada de intimidante para Oscar, mas o gato sentira algo, algo que o pusera em alerta.
Um medo de arrepiar percorreu-me o corpo, quase -mas não inteiramente -erradicando o agradável êxtase da mordida de Hermione. Afastando-me da janela, apanhei uma camisa e o casaco de Hermione e as nossas carteiras. Enfiando os pés no primeiro par de sapatos que encontrei, dirigi-me então para a porta.
Lá embaixo, encontrei-a na cozinha desarrumada, investigando a geladeira. Um dos nossos colegas de casa, Robert, estava sentado á mesa com as mãos na testa, olhando tristemente para um livro de cálculo.
Hermione olhou pra mim surpresa.
-Você não devia estar de pé.
-Nós temos que ir. Agora.
Ela arregalou os olhos, e, então,um segundo depois,compreendeu do que se tratava.
-Você tem... mesmo? Você tem certeza?
Fiz que sim com a cabeça. Não sabia explicar por que eu tinha certeza. Mas eu tinha.
Robert olhou intrigado para nós.
-Aconteceu alguma coisa?
Eu tive uma ideia.
-Mione, pegue a chave do carro dele.
Ele olhava para mim e depois para ela alternadamente.
-O que vocês estão...
Hermione caminhou até ele sem hesitar. O medo dela me invadiu por meio de nosso laço psíquico, mas havia algo mais alem do temor: a certeza plena dela de que eu cuidaria de tudo, de que ambos ficaríamos seguros. Como sempre, eu esperava me mostrar merecedor de tamanho confiança. Ela abriu um sorri largo e olhou bem dentro dos olhos dele. Durante um momento, Robert apenas olhou de volta, ainda confuso, e então pude ver o transe tomar conta dele. Seus olhos tornaram-se vítreos, e ele a olhou de modo submisso, em estado adoração.
-Vamos precisar do seu carro - disse ela com voz suave. - Onde está a chave?
Ele sorriu e eu estremeci. Eu tinha uma alta capacidade de resistência á compulsão, mas, ainda assim, podia sentir seus efeitos mesmo quando dirigida a outra pessoa. Estremeci também, pois, durante toda a minha vida, tinham-me ensinado que era errado usar a compulsão. Robert tirou do bolso um molho de chaves penduradas num grande chaveiro vermelho e o entregou a Hermione.
-Obrigado - disse Hermione. - E onde está estacionado?
-Na rua, mais para baixo - respondeu ele em transe. - Na esquina. Na Brown. A quatro quarteirões de distancia.
-Obrigado - disse ela, afastando-se. - Assim que sairmos, quero que você volte para os seus estudos. Esqueça que nos viu esta noite.
Ele fez, servilmente, um sinal afirmativo com a cabeça. Tive a impressão de que ele teria se jogado de um penhasco por ela sem hesitar se ela o tivesse pedido. Todos os humanos são suscetíveis á compulsão, mas Robert parecia ainda mais fraco do que a maioria deles. Isso foi bem útil para nós naquele momento.
-Vamos -disse eu a ela- Temos que ir.
Saímos e fomos em direção á esquina que ele nos indicara. Eu ainda estava tonto por causa da mordida e andando meio trôpego, não conseguindo me movimentar com a rapidez que desejava. Hermione teve de me amparar algumas vezes para que eu não caísse. O tempo todo a angustia dela me invadia o pensamento, vinda diretamente da sua mente. Tentei ao máximo ignorá-La; eu já tinha que lidar com meus próprios medos.
-Harry... o que você vai fazer se eles nos pegarem? -sussurrou ela.
-Eles não vão nos pegar - respondi com firmeza. - Eu não vou deixar.
-Mas, se eles tiverem nos encontrado...
-Eles já nos encontraram antes. E não conseguiram nos pegar. Nós vamos de carro até a estação de trem e de lá vamos para Los Angeles. Eles vão perder o nosso rastro.
Fiz com que esse plano parecesse simples. Era o que eu sempre fazia, embora não fosse nada simples manter-se em constante fuga das pessoas junto ás quais tínhamos crescido. Vínhamos fazendo isso havia dois anos, escondendo-nos onde quer que pudéssemos e tentando ver se ao menos conseguíamos terminar o ensino médio. Nosso ultimo ano do ensino médio acabara de começar, e morar num campus universitário parecia de algum modo mais seguro. Estávamos muito perto da liberdade.
Ela não disse mais nada, e eu senti a confiança dela em mim aumentar repentinamente mais uma vez. Sempre fora assim entre nós. Eu era o que agia que fazia as coisas acontecerem - ás vezes precipitadamente. Ela era a mais racional, a que planejava as coisas e as pesquisava exaustivamente antes de agir. Ambos os estilos tinham as suas vantagens, mas naquele momento, era preciso que nos precipitássemos. Não tínhamos tempo para hesitação.
Hermione e eu éramos melhores amigos desde o jardim de infância, quando a nossa professora nos pôs em dupla para fazermos trabalhos escolares jutos. Forçar crianças de três anos a soletrar Hermione Granger e Harry Potter, porém, era algo que ia além da crueldade, e nós -ou melhor, ela- respondemos á altura. Atirei meu livro na professora e a chamei de fascista canalha. Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas sabia muito bem como atingir um alvo em movimento.
Hermione e eu nos tornamos inseparáveis desde então.
-Você ouviu isso? -perguntou ela de repente.
Levei alguns segundos para me dar conta do que os sentidos aguçados dela já haviam percebido. Passos, movendo-se rapidamente.
Eu contrai o rosto preocupado. Tínhamos ainda dois quarteirões pela frente.
-Vamos ter que correr até lá - disse eu, agarrando o braço dela.
-Mas você não pode...
-Corre.
Usei até a última reserva da minha força de vontade para não desmaiar na calçada. Meu corpo não queria correr depois de ter perdido tanto sangue e enquanto ainda metabolizava os efeitos da saliva dela. Mas eu ordenei aos meus músculos que parassem de reclamar e me agarrei á Hermione enquanto nossos pés se moviam pesadamente sobre o concreto. Em geral eu poderia correr mais rápido do que ela sem maior esforço - principalmente ela estando descalça-, mas, naquela noite, era ela quem me mantinha em pé.
Os passos que nos perseguiam foram ficando mais fortes, e chagando mais perto. Estrelas negras dançavam diante dos meus olhos. Á nossa frente, eu pude distinguir o Honda verde de Robert. Meu Deus, se ao menos conseguíssemos chegar até lá...
A pouco mais de três metros do carro, um homem atravessou bem no meio do nosso caminho. Nós demos uma parada brusca, e eu puxei Hermione para trás pelo braço. Era ele, o sujeito que eu vira do outro lado da rua me observando. Ele era mais velho do que nós, com seus trinta e tantos, talvez, e parecia tão alto quanto eu o imaginara, teria provavelmente um metro e noventa ou noventa e cinco de altura. Eu tinha um metro e oitenta mais mesmo assim ele era mais alto do que eu.
Ele era apenas um obstáculo impedindo Hermione e eu de alcançarmos o carro e a nossa liberdade. Os passos atrás de nós diminuíram, e eu percebi que nossos perseguidores afinal haviam nos alcançado. Vindo de ambos os lados, eu detectei mais movimentos, mais pessoas fechando o círculo. Deus. Eles mandaram quase uma dúzia de guardiões para nos buscar de volta. Eu não podia acreditar. A própria rainha não levava tantos guardiões com ela em suas viagens.
Em pânico, e sem o controle total de minha racionalidade mais aguçada, agi por instinto. Grudei-me em Hermione, mantendo-a atrás de mim e longe do homem que parecia ser o líder do grupo de perseguidores.
-Deixe-a em paz - rosnei. - Não toque nela.
A expressão dele era vazia, mas estendeu a mão num gesto que supostamente pedia calma, como se eu fosse um animal furioso que ele planejasse sedar.
-Eu não vou...
Ele deu um passo á frente. Chegou perto demais.
Eu o ataquei, dando um salto e usando uma manobra ofensiva que eu não empregava havia dois anos, desde que Hermione e eu tínhamos fugido. O gesto foi burro, outra reação guiado pelo instinto e pelo medo. E não havia esperança. Ele era um guardião experiente, não um aprendiz que ainda nem tivesse terminado o treinamento. Alem disso, ele não estava fraco e quase a ponto de desmaiar.
E, caramba, ele era rápido. Eu me esquecera de como podem ser rápidos os guardiões, de como eles conseguem se movimentar e atacar como cobras. Ele me derrotou como quem afasta uma mosca. As mãos dele bateram em mim e me jogaram para trás.
Quando consegui me estabilizar, percebi que ele me encarava - ou, mais precisamente, que olhava fixo para o meu pescoço. Ainda desorientado, não entendi de imediato. Depois, aos poucos, com minha mão alcancei meu pescoço e toquei levemente na ferida que Hermione fizera mais cedo. Quando tirei os dedos, vi que havia um sangue grudento e escuro na minha pele. Virei o rosto de modo que a mordida ficasse do lado contrario dele.
Os olhos escuros do sujeito se deixaram pousar um pouco mais sobre a mordida agora do outro lado e depois encontraram os meus. Eu correspondi com um olha desafiador. Lutando contra a tontura nauseante, eu me aproximei de Hermione novamente protegendo-a, firmando-me na expectativa de um novo ataque. Subitamente a mão dela agarrou a minha.
-Harry -disse ela calmamente- Não.
Suas palavras, a principio, não surtiram qualquer efeito em mim, ma, aos poucos, pensamentos tranquilizadores foram se instalando na minha mente, passando dela para mim por meio do laço que nos unia. Não era exatamente compulsão - ela não usaria esta habilidade comigo-, mas era eficaz, assim como o reconhecimento do fato de que eles estavam desanimadoramente em maior numero do que nós e eram lutadores mais experientes. Até eu sabia que não tinha mais jeito. A tensão abandonou o meu corpo, e eu cedi, derrotado.
Percebendo a minha submissão, o homem deu um passo á frente, voltando agora á atenção para Hermione. Seu rosto estava calmo. Ele fez uma reverencia, o que me surpreendeu, considerando sua altura.
-Meu nome é Sirius Black - disse. - Vim para levá-la de volta á Escola São Vladimir, princesa.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!