Dia dos Namorados
Nos dias que se seguiram, Amanda e Draco se viam quase todos os dias. Tinham concordado em se encontrar apenas de quarta, sexta, sábado e domingo, para não deixar o povo muito desconfiado. Mesmo assim, ainda havia os enxeridos que viviam perguntando a eles aonde iam. Além disso, também tinham os deveres escolares. Amanda tinha que estudar para os N.O.M.’s do final do ano e Draco tinha uma pilha de lições a fazer.
Draco estava cada vez mais agindo naturalmente com Amanda. Às vezes se esquecia de manter sua postura firme e agia como um garoto normal com uma namorada.
- Ah! Olha que maravilha: vai ter um passeio a Hogsmead no domingo! – Gina avisou Amanda, na quinta-feira, ao passarem pelo quadro de avisos do salão comunal da Grifinória.
- Que bom, já estava na hora mesmo.
- É verdade.
- Cadê o Erick? Ele sempre vem aqui com a gente depois das aulas.
- Deve estar com a nova namorada. – respondeu Gina, indiferente.
- Desde quando ele namora? – Amanda perguntou, surpresa.
- Não faz muito tempo, um mês, eu acho.
- O quê?! – Amanda espantou-se.
- Estou brincando. Faz uma semana mais ou menos. – Gina respondeu rindo.
- Que susto. – Amanda respirou aliviada. - E como eu não fiquei sabendo?
- Você estava muito ocupada se encontrando com você-sabe-quem.
- Mas eu fico aqui uma boa parte da semana...
- Aí é porque eu me esqueci de contar! – Gina disse, sorrindo e se desculpando.
- E quem é a garota? – Amanda perguntou.
- Uma garota do quarto ano da Lufa-Lufa, chamada Milena Williams.
- Hum... não faço idéia de quem seja.
- Eu só a conheço de vista, o Erick nunca nos apresentou.
- Mas é hoje que ele vai. Vem comigo. – Amanda disse, indo em direção à saída da Torre da Grifinória.
- Aonde vamos?
- Procurar ele, onde mais? – Amanda perguntou como se fosse óbvio.
- Ah, facinho. Este castelo nem é grande. – Gina disse, irônica.
- Tem algo mais interessante pra fazer?
- Na verdade eu tinha que estudar... mas isso é mais legal. – Gina respondeu, animada seguindo Amanda até a porta da torre.
Saíram, e ao virarem o primeiro corredor, deram de cara com Erick.
- Erick! O quê está fazendo aqui? – Gina perguntou brava.
- Estava indo para a torre da Grifinória. Algum problema? – Erick perguntou, sem entender o motivo.
- Fiquei sabendo que você está namorando. – Amanda disse sorrindo maliciosamente.
- É... mais ou menos. – respondeu ele, encabulado.
- Como assim? – Gina perguntou.
- Eu não a pedi em namoro. A gente só está “ficando”.
- E por que você não pede logo? – Amanda perguntou.
- Tá louca? Só de pensar em namorar já fico todo arrepiado. – Erick gemeu.
- Mas por quê? – Amanda insistiu.
- Eu não quero namorar sério. Se eu namorar, não vou poder trocar quando eu quiser.
- Como é que é? – perguntou Gina, descrente.
- É o seguinte: a Milena é como um doce que eu gosto muito. Ele é ótimo, sem dúvidas, mas às vezes dá vontade de experimentar outro tipo de doce, aí eu troco. Seria ruim ficar só com um doce, não acha? E não seria justo com os outros doces.
Amanda e Gina ficaram olhando-o de boca aberta.
- Você está comparando garotas com doces? – Gina perguntou pasma.
- É só um exemplo. Se eu namorar ela, não vou poder ficar com as outras garotas.
- Sei, e com quantas garotas você ficou esse ano, mesmo? – Amanda perguntou, fingindo não saber.
Erick a olhou bravo.
- Ela é a única, mas há varias outras mulheres querendo me beijar. – respondeu ele convencido.
- Sua mãe não vale. – Gina disse.
- Engraçadinha. Tá bom, não tem nenhuma, mas se tiver eu estarei livre para terminar com a Milena.
- Ai, Erick, você é muito tonto... não acredito no que você está dizendo. – Gina disse incrédula, com a mão no rosto.
- Olha, Gina, acho que está na hora de você parar de disfarçar e admitir que você é uma mulher que quer me beijar. Pode falar, não se acanhe. – Erick disse de uma forma muito carinhosa e incentivadora.
Gina encarou-o por alguns segundos com uma expressão neutra. O clima de repente pareceu mais pesado, mas nenhum dos dois relaxou a postura até que Gina quebrou o silêncio.
- Amanda, vamos embora? Acho que seu ficar aqui por muito mais tempo corro o risco de cometer assassinato. – ela disse da maneira mais tranquila possível e com um sorriso no final.
- É claro, eu não quero parar numa sala de interrogatório depois. – Amanda respondeu e as duas começaram a andar.
- Ei! Não me larguem aqui, eu vou junto. – Erick gritou e seguiu-as.
Os três foram dar uma volta pela escola e Amanda não pôde deixar de reparar na onda de casais que estava tendo em Hogwarts. Por onde se ia, havia casais abraçados, de mãos dadas ou coisas do tipo.
- Nossa, por que tem tantos casais assim? Parece que brotaram do nada. – Erick disse, ao passarem pelo décimo casal grudado em um dos corredores. Erick passava longe deles, como se os casais tivessem alguma doença contagiosa.
- O dia dos namorados está chegando. O amor está no ar! – Gina respondeu forçadamente romântica.
- Hum, ainda bem que eu não tenho namorada.
- Quer dizer que você não vai fazer nada de especial com a Milena? – Amanda perguntou.
- Claro que não.
- Então creio que vocês irão terminar logo. – Gina disse.
- Por quê? – Erick perguntou, surpreso.
- Se você não fizer nada com ela ou para ela, ela ficará triste, provavelmente irá brigar com você e vocês irão terminar. – Gina concluiu.
- Ah, não acredito... meninas são tão complicadas.
- Faz assim: no dia dos namorados pede pra namorar ela. Se não der certo você termina. – Amanda aconselhou.
- De jeito maneira. Vou terminar com ela hoje.
- Mas, Erick... – Amanda começou
- Sem “mas”. Vou fazer isso e acabou. – Erick disse decidido.
Amanda e Gina se entreolharam. Parece que nada podia convencê-lo do contrário.
- Tá bom, então...
Erick foi, então, procurar Milena, e Amanda e Gina foram para os jardins da escola e sentaram em baixo de um salgueiro. Estava um fim de tarde fresco e tranqüilo.
Após uns dez minutos conversando e rindo, um garoto que aparentava ser do segundo ano, veio com um buquê de rosas brancas bem arranjado até Gina.
- Para você, moça. – disse ele, acanhado.
Gina olhou espantada para o buquê e pegou-as.
- De quem são?
- Só me pediram para entregar. – disse o garoto rápido, e foi embora.
- Olha só! Gina tem um admirador secreto! – Amanda disse alegre cutucando a amiga com o cotovelo.
- Mas não tem nenhum cartão. – Gina comentou, procurando em meio às rosas alguma coisa.
- Não reclama, você recebeu flores! Que lindo! – Amanda disse sonhadora.
- Bom, espero que esse “ser” se revele logo.
Mais tarde, voltaram à Torre da Grifinória, onde Gina largou as rosas em um canto qualquer. Ela não gostava desse negócio de admirador secreto, achava muito bobo. Logo depois foram jantar.
Na sexta-feira , Amanda, Gina e Erick tiraram a tarde para fazerem os deveres da semana, assim ficariam livres para o fim desta, principalmente domingo, que era o passeio à Hogsmead.
- E aí, Erick, falou com a Milena? – Gina perguntou, no salão comunal da Grifinória.
- Falei. – respondeu ele, indiferente.
- E como foi? – perguntou Amanda.
- Ela aceitou bem. Agora somos amigos.
- Mulher é outra coisa, não é? – Gina perguntou virando-se para Amanda, que riu.
- Que bom que deu tudo certo. – Amanda comentou.
- Pois é.
Voltaram-se para seus deveres que estavam muito chatos de serem feitos. Felizmente, Erick não parava de falar asneira para descontrair o ambiente, o que tornava a tarde mais divertida.
- Com licença, você é Gina Weasley, não é? – perguntou uma garota, que havia chegado perto deles com outro buquê de flores, dessa vez de rosas amarelas.
- Eu mesma. – Gina respondeu olhando as flores.
- São pra você. – disse a garota, lhe entregando o buquê.
- De quem são?
- Não posso dizer. Tchau! – a garota disse alegre e foi se juntar a um grupinho de meninas.
- Hummmm, a Gina tem um admirador secreto! – Erick disse, perturbando-a.
- É, esse é o segundo que me mandam. – Gina respondeu, colocando as flores de lado.
- Que maneiro, Gina! Será que só eu estou curiosa para saber quem é? – Amanda perguntou.
- Eu também estou! – Erick respondeu, fuçando as flores em busca de uma pista.
- Não tem nada aí. Mas eu não gosto muito desse negócio de presente anônimos ou coisa do tipo. Acho meio brega.
- Pode até ser, mas é legal. – Amanda disse.
- Depende de quem seja. – Erick comentou.
- É, vamos ver. – Gina finalizou a conversa, continuando a fazer o dever.
- Imagina se for o Goyle? – Erick gargalhou. – Eu vou rir tanto da sua cara, Gina, você nem tem ideia.
- Para com isso! Está me deixando com medo.
À noite, Amanda foi até a Sala Precisa para se encontrar com Draco. Às nove horas, mais ou menos, ela estava de volta à Torre da Grifinória.
No sábado à noite, Amanda resolveu comentar com Draco sobre o dia dos namorados. Os dois estavam sentados no sofá da sala, Amanda com a cabeça encostada no ombro de Draco, e este com o braço em volta dela.
- Sabe que dia é segunda-feira? – perguntou ela como quem não quer nada.
- Não. – respondeu ele, seco.
- Dia catorze de fevereiro.
- E daí?
Amanda virou o rosto para ele.
- É dia dos namorados.
O rosto de Draco imediatamente ficou mais branco do que o normal. “Dia dos Namorados? Desde quando?“.
- Sério? – perguntou ele, tentando disfarçar.
- Sério. – respondeu Amanda, sentando-se direito no sofá, para ficar de frente para Draco. – E eu estava pensando... nós podíamos nos encontrar na segunda também.
- Ah, claro. – respondeu ele, ainda meio fora de si, mas aliviado. Achou que ela ia exigir algo mais sério ou pedir que aparecessem juntos em público. Ainda não estava pronto para isso.
Mesmo assim, o que ele faria para esse dia tão especial para ela e tão... não especial para ele? Afinal, ele nunca havia se preocupado com isso antes, nunca se importara em dar um presente ou fazer algo diferente para uma garota nesse dia. Sempre achou ridículo os homens se importarem com isso e não seria agora que ele o faria.
- Que bom! – Amanda disse, alegre. Olhou para seu relógio de pulso. – Acho que já vou indo, são quase nove horas. – deu um último beijo em Draco e saiu.
Por outro lado, Draco percebeu o quão Amanda estava empolgada por esse dia e sentiu-se amolecer. Ele não queria ser o namorado chato – namorado? Ele pensou isso mesmo? – que não fez nada para a namorada – é, ele pensou isso mesmo. - no Dia dos Namorados. Pelo menos, não para Amanda.
Draco lembrou do sorriso radiante que ela lhe lançou quando concordou em se encontrarem segunda-feira. Ele precisava fazer alguma coisa. Mas ele não fazia ideia do quê e, pra variar, não tinha a quem recorrer para pedir ajuda. Ele sabia apenas de uma coisa, a qual o deixou espantado: ele não queria decepcionar Amanda.
Amanda chegou ao dormitório das meninas na Torre da Grifinória e viu Gina na cama, pronta para dormir. No criado-mudo ao lado da cama dela, havia um buquê de flores vermelhas.
- Outro buquê do seu admirador, Gina?! – Amanda perguntou, indo até sua cama e se jogando nela.
- Pois é. Mas dessa vez veio com um bilhete. – respondeu Gina.
- Legal! – Amanda disse, sentando-se na cama. – E o que dizia?
- Que é pra eu encontrar o meu “admirador” em Hogsmead amanhã perto da Zonko’s. – respondeu ela, parecendo um pouco mais animada.
- Ah, que bom! Está mais animadinha agora, não é?! – Amanda perguntou, com um sorriso divertido.
- É, né! Vou conhecê-lo finalmente.
- Espero que você goste dele.
- Eu também.
- Podia ser o Harry, não é?! – Amanda sugeriu, sorridente.
- É, podia. Mas acho que não... – Gina respondeu desanimada.
- Por que não?!
- Ele não é de fazer essas coisas. Ele nem soube o que fazer no ano passado com a Cho no dia dos namorados. Até parece que ele iria fazer algo assim, ainda mais para mim.
- O que tem você?
- Amanda, para ele eu sou a “irmã do Rony”. Intocável. Acho que ele nem pensa em ficar comigo. – Gina respondeu, meio triste.
- Não fica assim, Gina. Vamos descobrir quem é o seu admirador amanhã e você gostará dele, você vai ver. – Amanda consolou a amiga.
- Espero que sim...
Amanda acordou bem-humorada e disposta na manhã de domingo. Se vestiu e desceu para o café com Gina e Erick. O dia estava limpo e ensolarado, mas ainda um pouco frio. Mesmo assim, estava ótimo para um passeio.
Ao encaminharem-se para as portas do Salão Principal, Gina comentou para Erick.
- Olha lá, Erick, não é a Milena ali, com aquele garoto?
Erick olhou na direção em que Gina apontava discretamente. Amanda olhou também, e viu a “ex-namorada” de Erick, conversando animadamente com um garoto muito bonito que ela não conhecia.
- É sim. – Erick respondeu indiferente.
- E você não está com ciúmes?
- Não. – respondeu ele, dando de ombros.
- E agora, você está?
Erick e Amanda olharam novamente. Milena e o garoto estavam se beijando. Os dois estavam agarrados ali, em um lugar razoavelmente visível.
- Agora eu estou. – Erick respondeu, parando de andar e fitando com raiva o casal.
Amanda e Gina trocaram olhares apreensivos e puxaram-no para fora do castelo.
A manhã em Hogsmead foi até divertida. Os três foram até a Dedosdemel, Zonko’s e ao Três Vassouras. Infelizmente, depois do acontecimento da manhã, Erick não parava de falar em Milena. Amanda e Gina estavam ficando realmente irritadas.
- Caramba, Erick! Vai logo falar com ela, pelamor! – Gina reclamou, visivelmente impaciente.
- É, você está incomodando. – Amanda concordou.
- Acho que vou mesmo, nos vemos mais tarde. – dizendo isso, saiu e foi pra qualquer lugar procurar Milena.
Depois de mais alguns minutos no Três Vassouras, Amanda e Gina pagaram e saíram do bar.
- Que horas são? – perguntou Gina.
- Quase uma da tarde. – Amanda respondeu, olhando para seu relógio de pulso.
- Já? Tenho que ir. Vou me encontrar com o meu admirador. – Gina disse ansiosa.
- Que bom que ficou mais empolgada.
Gina deu um risinho, se despediu e foi.
Amanda ficou ali, parada, sem saber direito o que fazer. Já havia ido às lojas legais e seus dois amigos estavam se encontrando com alguém.
Resolveu dar uma volta pelo vilarejo. Ficava olhando para os lados em busca de Claire e Hanna, quem sabe elas lhe fariam companhia pelo resto da tarde.
Não havia nada de interessante para ela fazer e nenhum lugar para entrar, então resolveu sentar em um dos bancos no centro do vilarejo. Também não havia nada para se olhar, então ficou reparando nas pessoas que passavam. Vários alunos de Hogwarts passavam por ali, a maioria casais de mãos dadas. Amanda ficou um pouco triste com isso. Também queria estar passeando de mãos dadas com seu namorado – ela não tinha problemas em chamá-lo de namorado -, mas sabia que seria impossível.
Perdeu a noção de quanto tempo ficara ali observando a vida alheia, quando alguém chegou perto dela.
- Oi. Posso sentar aqui? – uma voz de rapaz lhe perguntara.
Amanda focou-se nele. Era Harry.
- Claro, fique à vontade. – respondeu ela, indo um pouco mais para o canto do banco para dar espaço a ele.
- Obrigado. – agradeceu ele, sentando-se. – Por que está aqui sozinha?
- Bom, o Erick foi atrás da Milena e a Gina foi se encontrar com o admirador dela.
- Admirador? – Harry perguntou interessando-se.
- É. Ela andou recebendo flores esses dias e hoje foi se encontrar com ele.
Harry apenas balançou a cabeça concordando. “Então não era mesmo Harry o admirador de Gina”, pensou Amanda torcendo a boa.
- E por que você está sozinho?
- Ah, o Rony está enfurnado na Dedosdemel até agora e a Hermione voltou para o castelo.
- Legal... pelo jeito sobraram só nós dois. – Amanda comentou, pensativa.
- Eu acho...
Amanda ficou numa situação desconfortável. Não sabia sobre o que falar com Harry, nunca ficaram sozinhos para conversar, então era estranho. Percebeu que ele estava na mesma situação que ela.
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Apesar de já ser de tarde, custou para Draco conseguir sair da Dedosdemel, que estava entupida de gente. Teve que se espremer por tudo que é pessoa até conseguir chegar à porta. “Malditos doce-maníacos.”, pensou ele revoltado.
Uma vez fora da loja de doces, Draco foi andar. Passou pelo centro de Hogsmead e viu Amanda sentada num banco, conversando com a pessoa que ele mais odiava: Harry Potter. E pareciam estar se divertindo pelo modo como conversavam. Draco sentiu vontade de pular em cima de Potter e tirá-lo de perto de Amanda. Seria inapropriado, mas se não houvesse tantas pessoas por ali, com certeza o faria.
Foi então que lembrou que no dia seguinte seria o Dia dos Namorados. Ficou com uma pontada de desespero, não havia comprado nada para Amanda e em Hogsmead não tinha nenhuma loja boa o suficiente. Teria de improvisar. Deu uma última olhada em Amanda, que não havia notado sua presença e voltou para Hogwarts. Tinha que fazer algo esplêndido, se não Harry poderia roubar Amanda dele e isso jamais poderia acontecer.
“Tudo bem. Não é nada demais. É apenas um dia como todos os outros só que mais importante. É, isso não está ajudando”. Draco pensava durante seu caminho de volta. “A Amanda vai me bater se eu não der pelo menos uma flor para ela. É isso! Vou dar uma flor! Mas que miséria, Draco“. Ele estava realmente tendo um grande problema.
Relutante em aceitar, ele precisava de ajuda. Pensou em mandar uma carta para sua mãe pedindo conselhos, mas descartou a idéia. Não queria ajuda, teria de pensar sozinho. Iria fazer alguma coisa na Sala Precisa, mas para isso, ele não poderia se encontrar com Amanda hoje.
Foi ao seu dormitório, rabiscou um bilhete e depois foi ao corujal enviá-lo à Amanda. Tinha um dia e um pouquinho para fazer alguma coisa. Ficou o resto do dia pensando no que fazer, mas no final, foi dormir com a cabeça tão cheia de idéias quanto no início da tarde.
Acordou no dia seguinte com um mau-humor que nem Crabbe e Goyle conseguiam aguentar. Ele não conseguia parar de pensar em como uma coisa tão boba podia fazê-lo ficar nesse estado e ocupar-lhe tanto tempo. “Por que isso é tão complicado? Parecia tão simples...”.
Foi para a aula e tentou prestar atenção. Preocupar-se-ia com a noite depois. Não iria permitir que uma garota lhe tirasse a atenção novamente. Era ridículo ficar pensando nisso quando havia coisas mais importantes para fazer, como por exemplo, (...) Pensaria nisso depois também.
Quando tocou a sineta para o almoço, Draco saiu da sala ladeado por Crabbe e Goyle, que não haviam desistido de tentar andar com ele.
- Malfoy, o que há com você? – Crabbe perguntou visivelmente irritado com Draco, à mesa no almoço.
- Nada, por quê? – respondeu ele grosso.
- Você está tão mal-humorado e distraído que está incomodando. – Goyle respondeu.
- Então não fica perto de mim! – Draco gritou, mas os dois continuaram ali.
Draco não agüentava mais esses dois seguindo-o pra todo lado, mas mesmo ele sendo grosso, estúpido e chato eles não o largavam. Estava difícil. Mas um dia eles servirão para alguma coisa.
Draco estava ficando ansioso quanto à noite. Já estava quase na hora do jantar e ele não havia feito nada para Amanda. Resolveu que não iria descer ao Salão Principal porque além dele ter perdido a fome iria tentar fazer alguma coisa na Sala Precisa.
Foi então até ela. Ficou de frente para a parede decidindo-se no que pensar para fazer a sala aparecer. Passou três vezes pela parede pensando em algum lugar romântico, mas nada aconteceu. Achava a idéia tão boba que não conseguia levar a sério. Entrou, então, na sala habitual e iria tentar decorar com alguma coisa que ele ainda não sabia o quê.
Draco enfrentava uma terrível contradição: achava extremamente bobo fazer qualquer tipo de coisa romântica, mas ao mesmo tempo queria agradar Amanda. Mais um vez, esse pensamento o fez entrar em choque. Ele realmente queria agradá-la. Porém, não sabia como.
Tentou conjurar umas almofadas em forma de coração, mas não obtivera sucesso. Suas flores apareciam murchas e feias. Tentou várias coisas, mas nada saía certo. Olhou para o relógio e eram quase oito horas. Amanda estaria ali em poucos minutos e ele não conseguira fazer nada. Olhou o aposento e viu que estava um caos; havia penas de almofadas por todo o quarto, pétalas de flores caídas no chão, mal se podia ver o piso. Não daria tempo para consertar tudo aquilo. Olhou para o estrago que fizera e falou para si mesmo:
- Socorro...
Logo depois ouviu o barulho da porta se abrindo. Passou-lhe pela cabeça em se esconder, mas ao tentar faze-lo, tropeçou em um móvel e falou um palavrão.
- Nossa, que recepção mais calorosa. – Amanda disse entrando e fechando a porta.
Draco se endireitou depressa e ficou olhando-a sem se mexer nem dizer nada. Não sabia o que fazer.
Amanda começou a andar, mas ao reparar no quarto, parou e observou melhor. O quarto que ela vira no sábado havia sumido e no lugar dele aparecera um todo estranho.
- Por Merlin... quando foi o furacão? – Amanda perguntou, sem se mexer.
- Há uns dez minutos... – Draco respondeu e deu um sorriso cômico.
- O que aconteceu?!
- Eu estava tentando dar uma ajeitada na sala, mas não deu certo. – Draco respondeu, tirando algumas penas de seus ombros.
- Estou vendo. Mas o que exatamente você estava fazendo?
- Tentando fazer aparecer almofadas e flores. – respondeu ele, pouco à vontade.
- Isso explica as penas e as pétalas. – Amanda disse, indo em direção ao namorado. – Por que fez isso?
- Achei que você iria gostar. – Draco respondeu de cabeça baixa.
- Você tentou fazer isso por mim? – Amanda falou com a voz emocionada. – Que lindo.
- Não ficou tão lindo assim...
- Está perfeito. Só de imaginar o quão difícil deve ter sido para você fazer isso e ainda pensando em mim é o melhor presente que eu poderia receber. – Amanda abraçou forte Draco e deu-lhe um beijo rápido. – Mas não se preocupe com isso. Eu gosto de um pouco de romantismo, mas sei que você não. Além disso, o Dia dos Namorados é para fazermos coisas juntos, para nós dois, não só para mim. Não vou te forçar a isso. – Amanda falou docemente, tirando uma pétala vermelha bem escura dos cabelos louros dele.
Draco sentiu um arrepio quando ela passou a mão por seu cabelo. Olhou para ela e viu que ela estava sorrindo. Detestava toda essa compreensão da parte dela, mas ao mesmo tempo gostava. Não, ele não detestava. Nunca tinha aceitado que as pessoas fossem legais com ele dessa forma, mesmo sua mãe. Entretanto, era tão fácil aceitar esse tipo de compreensão quando vinda de Amanda. Deixou-se perder em seu sorriso, sem tentar resistir.
Levantou a mão direita, encostou-a em seu rosto e a beijou. Sentiu seus lábios se encostando e um enorme bem-estar invadindo-o. Incrível como aquela ação podia fazê-lo esquecer de todo o resto.
- Eu adorei o que fez! – Amanda disse, confirmando o que havia dito.
- Gostou que eu destruí a sala? – Draco perguntou irônico.
Amanda riu.
- É, a sala ficou um pouco bagunçada. Mas nada que duas varinhas não resolvam.
Mesmo com a bagunça da sala, Draco estava aliviado por ter agradado Amanda, mesmo as coisas não terem saído como planejado.
- Tenho um presente para você. – disse ela, dando a ele um embrulho que trouxera consigo.
Draco não disse nada, apenas deu um sorriso meio forçado. Pegou o pacote. Era pequeno e estreito. Abriu, sem saber o que esperava, e de dentro tirou um broche em forma de serpente simples, de metal.
- Obrigado. – agradeceu ele, a voz um tanto animada, examinando o broche. Ele tinha gostado do presente.
- Você gostou?
“Gosto de tudo que venha de você”. Draco pensou imediatamente. Quando se deu conta de tal pensamento, deu-se um tapa no rosto.
- Opa, o que foi isso? – Amanda perguntou assustada.
- Não foi nada... sou só eu tendo pensamentos indevidos. – Draco explicou, passando a mão aonde se dera o tapa.
- Ah ta... – Amanda disse, olhando de modo estranho para Draco. Decidiu que era melhor não pedir explicações e mudar de assunto. – E aí, por que não podíamos nos encontrar ontem?
A imagem de Harry conversando feliz e cheio de intimidade com Amanda veio-lhe à mente e o bom humor que estava sentindo até agora, foi-se rapidamente.
- Precisamos conversar. – disse ele curto e grosso, dirigindo-se ao sofá coberto de penas, segurando o pulso de Amanda. Esta se assustou com a reação do namorado, mas seguiu-o. Draco passou a mão pelo sofá para tirar um pouco da bagunça e sentou-se. Amanda fez o mesmo.
A garota ficou olhando Draco esperando que ele começasse a falar. Não fazia idéia do por que da repentina “discussão de relação” naquele dia.
- Quero falar sobre ontem, em Hogsmead. – Draco começou sem rodeios.
- Estou ouvindo. – disse Amanda, prestando atenção.
Draco respirou fundo e continuou.
- Por que você estava conversando tão entusiasmada com o Potter?
Amanda espantou-se ao ouvir isso. Ficou encarando-o e não conseguiu evitar o riso.
- Contei uma piada, por acaso? – Draco perguntou, irônico e grosso.
Amanda, imediatamente, ficou séria.
- Só estava conversando, algum problema?
- Você não estava só conversando. Estava rindo alegre e feliz! – Draco disse se revoltando.
- Mas era só uma conversa amigável. Além disso, o quê que tem eu conversar com ele? Somos colegas de casa.
- Mas é o Potter! Você sabe que eu o odeio.
- Mas eu não. – Amanda respondeu sentindo uma pontada de irritação.
Draco respirou fundo novamente para não gritar.
- Eu não quero mais vê-la conversando com ele.
- Como é que é? – Amanda perguntou olhando-o incrédula.
- É isso mesmo. – Draco respondeu, tentando finalizar a discussão, mas sem sucesso.
- Você não pode fazer isso!
- Claro que posso, sou seu namorado! Se eu não quero vê-la com outro homem você tem que aceitar.
Amanda não acreditava no que ele estava dizendo. Era um absurdo. Se ela estivesse se abraçando e dando beijinhos em Harry, ele estaria certo, mas eles só estavam conversando. Tentou ficar calma e disse:
- Draco, tentarei te explicar com palavras bem simples para você poder entender: somos – apenas – colegas. Nem amigos nós somos. Eu só estava conversando com ele porque Gina e Erick foram cuidar de seus assuntos e meu suposto namorado não que ser visto comigo em público.
- Pode para aí. Está insinuando que a culpa é minha?
- Não. Estou apenas dizendo que se você não se importasse com essa coisa das casas, eu não teria conversado com Harry, teria ficado com você! – Amanda disse, aumentando o tom de voz.
- E você não se importa por eu ser da Sonserina?
Amanda pensou um momento para responder.
- Não.
- Eu duvido. Você parou para responder, com certeza também ficaria constrangida de ser vista comigo.
- Ninguém tem nada a ver com isso. Eu saio com quem eu quero e acabou, quem liga para o que os outros pensam?
- Eu ligo. – ele respondeu imediatamente.
- Então você é um otário. Desculpa ser tão sincera. – Amanda disse.
Draco olhou com raiva para ela.
- Mas nós dois concordamos em nos encontrar escondido, certo?
- Certo.
- Então fim de papo. A questão aqui é que eu não quero você conversando com o Potter e ponto final! – Draco elevou a voz.
- Eu não vou parar de falar com ele!
- Não importa. Eu não quero mais te ver com ele.
- Você está exagerando! E o que você me diz da Parkinson? Ela vive te agarrando. – Amanda disse acusando-o.
- Exatamente. Ela me agarra, não eu.
- Mas você deixa!
- Eu tento evitá-la, mas ela é muito chata! – Draco disse se revoltando.
- Olha Draco, eu sei o que está havendo. Você está com ciúmes! – Amanda disse com um sorriso divertido e perturbando-o.
- Não estou não! – Draco respondeu, se defendendo e ficando ligeiramente corado.
- Então por que todo esse drama? – perguntou ela, olhando-o compreensivamente.
Draco não disse nada, apenas chegou mais perto dela e a beijou. Amanda encarou isso como um escape da resposta que ele não tinha. Aceitou, também, como um “sim, tenho ciúmes”, mas resolveu não comentar.
Ficaram ali por mais uma hora mais ou menos. Perderam metade dela arrumando a bagunça que Draco fizera na sala, mas Amanda achou bem agradável, os dois pareciam um casal de namorados comum agindo com naturalidade.
Quando Amanda ia embora, Draco lembrou-a:
- Nada de Potter, heim.
- Ai, Draco esse seu ciúmes está me incomodando. – Amanda respondeu com cara de cansada. Achava que ele tinha entendido, mas pelo jeito não. Seria um grande desafio fazê-lo parar com isso. – Eu não vou me agarrar com ele.
- Eu não acredito.
- Você não confia em mim? – perguntou ela, sem acreditar no que ele dissera.
- Eu não confio nele. – respondeu Draco, se explicando.
- Draco, ele nem gosta de mim. Não vai acontecer nada. – acalmou-o ela.
- Ainda não acredito.
Amanda bufou. Estava ficando realmente cansativo isso, não estava mais suportando. No começo até gostara por ele estar com ciúmes dela, mas agora já estava demais e pelo jeito era só com o Harry, pois ela passava mais tempo com Erick e Draco nunca falou nada. Ela teria que fazer alguma coisa pra ver se ele parava. Ele estava muito chato.
- Tudo bem, Draco. Eu estou falando uma coisa pra você e você não acredita. Só me resta fazer uma coisa.
- O quê? – perguntou ele, desconfiado.
- Na quarta-feira a gente conversa. – finalizou ela a conversa, deu um beijinho rápido em Draco e saiu depressa da sala.
“O que ela quis dizer com isso?”, Draco tentou descobrir, mas não conseguiu chegar a uma conclusão. Quarta ele saberia.
Comentários (1)
Essas brigas por ciúmes são péssimas. Mas eu acho que a Amanda é bem amdura e saberá lidar com isso de forma a ficar tudo bem.Agora o Draco também não pode ficar exigindo nada se ELE não a assume publicamente, né?
2016-01-01