Único
Então, sou meio viciada em fics Rose e Scorpius, quem tiver algumaé só me falar.
Espero que gostem!
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Tentava me concentrar na aula, enquanto o Professor Binns explicava a Revolução dos Duendes. Eu, Rose Weasley, Grifinória nata, monitora chefe e aluna modelo, não poderia estar mais distraída. O sono tomava conta de mim completamente, fazendo-me perder o sentido da consciência. Aquela droga de festa havia acabado comigo. Amaldiçoei minha prima Lily Luna. Maldita! Enquanto tudo escurecia aos poucos, não pude deixar de notar um olhar recriminativo pairando sobre mim. Lutei contra o esforço de dormir, e levantei o rosto à procura do que pudesse ter causado tão brusca interrupção ao que estava fadado a ser uma bela de uma soneca. Ao levantar os olhos, não pude deixar de notar um céu nublado a me fitar. A intensidade com que ele me encarava me perturbava, mas ele não se esquivou, nem fez nenhuma menção de que iria se retirar. E eu também não. Por alguma razão, gostava de poder ver dentro daqueles olhos tempestuosos algum raio de sol.
Encarava a Weasley já fazia um tempo. Não queria, e acho que nem mesmo poderia tirar meus olhos de dentro dos seus. Azul. Era a palavra que me vinha à mente naquele momento. Azul claro, como o céu em um dia de sol. Era o que todos diziam sobre os olhos dela. Mas agora, olhando-a como eu a olhava agora, percebia que todos aqueles idiotas não sabiam nada sobre a cor dos olhos de Rose Weasley. E apenas eu, Scorpius Malfoy, dentre todas as pessoas, notara isso. Azul claro, como um dia ensolarado que a qualquer momento pode se tornar tempestuoso. Essa era a cor exata dos olhos dela.
Depois, ainda a fitando, percebi seus cabelos, e pensei em fogo. Era isso o que diziam sobre a cor de seus cabelos. Mas algo me incomodava. Não. Seu cabelo é mais do que apenas fogo. Fogo era uma palavra muito fraca para descrever seu tom. Não condizia com sua personalidade. Labaredas. Eles são como labaredas, pois toda vez que a luz reflete em suas madeixas, elas adquirem uma coloração diferente. Não. Pensei. As pessoas não sabem nada sobre Rose. E pela primeira vez na vida, senti vontade de saber quem era Rose Weasley.
A aula passou em um instante, assim como meu sono. Por mais que tentasse, não conseguia me impedir de tentar decifrar Scorpius Malfoy. Não pude deixar de notar que em minha vida não existiam mistérios. Nada que eu não soubesse, ou não pudesse descobrir. Todas as pessoas, eu conhecia e descobria em uma fração de segundo com apenas uma olhadela. Mas não ele. Seu olhar era milenar, apesar de ser possuído por um garoto de apenas 17 anos. Séculos de segredos, mágoas aflições e medos escondiam-se sob as abas daqueles olhos. Mas também alegrias e felicidades para mim inimagináveis. E não haveria nada que eu pudesse fazer para conhecê-lo ao todo. E pela primeira vez, Rose Weasley se orgulhava em dizer que nunca conseguiria uma resposta definitiva para esse problema irresoluto que era Scorpius Malfoy.
Eu estava começando a me perguntar quando eu iria parar de olhar a ruiva. Esperava que a aula não tivesse fim, que aquilo tudo durasse pela eternidade. Desde quando eu a notava mesmo? Ela nunca tinha passado pela minha cabeça como nada menos que uma inimiga. Ah... Acho que deve ter sido aquela vez que eu fiz a grande besteira de entrar no castelo com os pés cheios de lama, depois do treino de quadribol no campo enlameado, e ela monitorando os corredores me pegou, mas depois disse que eu poderia ir se limpasse meus pés e o corredor. Ou talvez tenha sido aquela vez que eu tinha lançado um feitiço trava-língua no Gaspar Tolstskey. (Aquele cara não parava de falar por um minuto!) Dezenas de outras situações parecidas perpassaram minha mente naquele segundo. Qualquer que tenha sido o motivo de tê-la notado, amaldiçoei a Weasley por ter me ajudado tantas vezes quando eu precisava. Mas essa maldição não chegou a ser exatamente verdadeira, já que eu não poderia desejar-lhe nenhum mal enquanto estivesse olhando na imensidão de seus olhos azuis.
Blargh. Aqueles olhos de tempestade eram tão adoravelmente irritantes e lindos que me dava vontade de encará-los mais um pouco. Aqueles olhos a quem eu devia tanto. Ele deveria estar me olhando porque sabia que eu lhe devia favores não pagos, e estava esperando para que a aula acabasse para cobrá-los. Ele devia querer um favor meu, depois daquele dia em que acobertou minha fuga para a cabana do Hagrid no aniversário dele. Ou será que era daquele dia em que eu tinha quebrado o telescópio da professora de Astrologia e fiquei tão nervosa que nem conseguia lembrar do feitiço pra consertar as coisas, e ele apareceu e me lembrou que eu deveria falar reparo? Talvez tenha sido também... Ai meu Merlin! Quantas coisas eu devia à doninha? Muitas, pelo que poderia imaginar. E uma coisa que eu sabia era que qualquer que fosse a coisa que o Malfoy queria, ele manteria a certeza de me humilhar no final. Ou será que não?
Capim limão. Orvalho. Limões colhidos na hora. Eram todos os aromas que eu sentia naquele momento. Tudo isso junto e misturado, formando uma combinação tão afrodisíaca que me fazia querer voar alto no céu. Não havia parado olhar a Grifinória por um milésimo sequer. E o que eu queria exatamente com tudo aquilo? Eu não sabia, mas depois de todas as coisas que eu devia a ela, pensei que seria sensato tentar me redimir por nossas brigas, que já pareciam um tanto bobas e sem real fundamento. Interrompi por um instante o nosso contato visual, e peguei um pergaminho e uma pena. Escrevi com a melhor caligrafia que consegui e depois fiz um aviãozinho de papel, que foi para o alto, e fez uma aterrissagem perfeita, bem no tampo da mesa de Rose.
Quando Scorpius abaixou os olhos, acho que o sentimento que me invadiu foi o de desespero. Há. Que engraçado. E estranho ao mesmo tempo. Tentei me focar de novo na aula de História da Magia, mas a imagem daquele céu tempestuoso invadia minha cabeça toda a vez que eu pensava que conseguira me focar. Mas então... Um aviãozinho de papel veio parar na minha carteira. Abri-o sem pensar e me deparei com talvez a coisa mais estranha da minha vida.
Oi. Tudo bem?
Olhei em volta. Scorpius Malfoy me encarava, com a testa um pouco franzida e os lábios cerrados de preocupação. Quando percebeu que eu o olhava, sorriu. E eu não pude deixar de concordar com todas as garotas de Hogwarts que no quesito beleza, ninguém superava a minha doninha. Abaixei os olhos para o pergaminho à minha frente, e respondi com pressa. Mal podia esperar para ver aquele céu nublado se abrindo em um dia claro e ensolarado de novo. Aquele céu sem nuvens, aberto só pra mim.
A Weasley parecia meio desconfiada. Fiquei preocupado. Talvez ela não me respondesse. Admiti para mim mesmo que ela, por mais mandona, irritante, traidora de sangue e metida que fosse também tinha qualidades. Ela era delicada. Decidida. E o mais importante: ela era a minha Weasley. Ela me olhou, e eu não consegui evitar que um sorriso escapasse por entre meus lábios. Ela se virou e rapidamente anotou alguma coisa. Colocou um feitiço no aviãozinho, e ele voou até minhas mãos espalmadas, que já aguardavam por ele. Abri ainda mais rapidamente que ela.
Oi... Está tudo bem aqui do lado dos leões. Eles não mordem depois que você aprende a repeli-los. E como vai o ninho de cobras?
Eu dei uma risada silenciosa. Aquela Weasley sabia colocar um Malfoy de bom humor. Escrevi ainda mais rapidamente que ela. Claro, eu sou o mais rápido.
As cobras vão ótimas. Novas cobrinhas estão prestes a chegar, em Setembro. Mamãe basilisco sempre fica orgulhosa lá na câmara quando chega mais uma ninhada de nós.
Eu a vi sorrir depois de ler o papel, e depois vi seus olhos se levantarem e encontrarem os meus. Céu azul e tempestade colidiram uma com a outra, misturando-se e se difundindo. Raios passavam de um lado para o outro. Nuvens escuras pairavam sem rumo entre nós. Uma mudança climática caótica, presente em nossos olhares. Foi nessa hora que eu percebi Scorpius Malfoy refletido nos olhos de Rose Weasley. Droga.
Recebi o bilhete do Malfoy em uma velocidade ainda maior que quando eu o havia enviado. Maldito! Escreveria mais rápido dessa vez. Abri o papel, que já começava a ter marcas, de tanto ser dobrado e desdobrado. Ri com o que tinha anotado dentro dele. Scorpius poderia ser um completo idiota, galinha e arrogante, mas ele ainda conseguia ser muito engraçado quando queria. Sem querer, como se fosse a primeira vez, meu olhar gravitou em direção ao seu. Naquela hora, não posso explicar bem o que aconteceu. Milhares de explosões aconteceram simultaneamente. Uma explosão cósmica, dois universos completamente distintos colidindo um com o outro, formando apenas um. Dois estranhos se viam pela primeira vez naquela aula de História da Magia. Eu não era mais Weasley, e ele não era mais Malfoy. Éramos apenas Rose e Scorpius. E eu não poderia deixar de odiá-lo por me fazer perceber que Rose e Scorpius eram dois nomes que pareciam ter sido feitos um para o outro.
E então eu escrevi no bilhete:
Eu te odeio Malfoy.
E ele me respondeu na mesma linha de pensamentos que eu:
Eu também te odeio Weasley.
E quando eu levantei a cabeça, vi seus lábios sussurrando:
- Eu te amo, Rose.
E eu também respondi, do mesmo jeito que ele.
- Eu te amo Scorpius.
E o cérebro por trás daquele céu cinzento nem imaginava o quanto eu odiava amar Scorpius Malfoy.
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