Capítulo I



E estava Astoria, ah, a doce e ingênua Astoria de nove anos que... Acabara de cair da cama, acordando abruptamente e olhando o relógio na cabeceira da cama.


“Droga, droga, droga!”, ficava repetindo isso enquanto vestia sua roupa tradicional, que de tão tradicional ela teve de brigar com Astoria para comprar um novo guarda roupa: um jeans azul claro, seu converse preto e sua camisa de botões xadrez. Detalhe: era vermelha.


“Vermelho... Ela odeia vermelho. Sempre insiste em me ver de verde ou preto”, pensou, alisando sua camisa preferida com cuidado para não amassar.


Pansy Parkinson, a garota de cabelos pretos curtos e com franja, a garota da mesma idade de Astoria, porém de idade mental era avançada, a garota que ninguém tinha a capacidade de enfrentá-la, pois sabia que teria revanche. Os pais dela? Só pensam em si próprios e esquecem-se da filha. O irmão? Era um alcoólatra da vida que nos finais de semana usava drogas. E olha que era de família rica.


A caçula dos Greengrass suspirou, com pena da amiga, que ao contrário dela, tinha seus pais que se arriscariam jogando-se na frente dela até se a maldição da morte fosse lançada.


Olhou novamente para o relógio e arregalou os olhos azuis, surpresos. Ficara quase dez minutos perdida em pensamentos! Foi até sua penteadeira e passou seu gloss de morango. Apenas deu uma olhada rápida no espelho antes de sair do seu quarto, correndo escada abaixo.


– Pai! Mãe! Vou ir me encontrar com as garotas! – disse no trajeto.


Nem esperou a confirmação deles, já estava correndo para a pracinha que havia lá perto.


– Até que enfim, vossa majestade. – falou Pansy rispidamente para a garota morena na sua frente que tentava recuperar o ar após sua corrida.


– Desculpe, eu... – Astoria tentou se explicar, mas foi interrompida.


– Relaxa, Pan, a mercearia não fechou. – Hermione ficou entre as duas, tentando amenizar as coisas enquanto outras duas garotas, Luna e Gina, assistiam a cena de braços entrelaçados.


Astoria não pode deixar de sorrir para Hermione. Conhecia o gênio de Pansy e sabia qual seria sua reação se a mercearia estivesse fechada. Às vezes ela se sentia culpada por ter que esconder de Hermione o mundo bruxo, ela era a única trouxa entre elas. Hermione era morena, com cabelos castanhos encaracolados que chegavam até a cintura, seus olhos de amêndoas eram perspicazes e se tivessem braços, daria um abraço em cada um que visse pela frente, era uma sensação boa, como tomar chocolate quente no inverno e enrolada em sua colcha de frente a lareira acesa, segundo Astoria.


Luna era loira e tinha olhos azuis claríssimos, refletindo um oceano de mansidão, incapaz de se revoltar com alguém e lhe jogar uma onda. Gina era ruiva, cheia de sardinhas pela região do nariz e abaixo dos olhos. E todas elas tinham a mesma idade, nove anos.


Pansy apenas fez um gesto com as mãos e rolando os olhos castanhos escuros, o gesto traduzido ao pé da letra, significava “tanto faz”.


– Mercearia? – perguntou Astoria confusa.


Hermione lhe abriu um sorriso, mostrando todos os dentes brancos e sem falha alguma.


– Sim, Ast. Hoje dormiremos na casa da Pan. Não se preocupe, avisamos aos seus pais bem antes de você acordar, dorminhoca. – riu levemente, mostrando as mínimas covinhas em suas bochechas.


Astoria conseguiu abrir um sorriso para a amiga. Tudo é tão fácil sem Pansy Parkinson. Sem se sentir um lixo perto dela e sem ser humilhada uma vez ou outra por ela.


– Vamos meninas. – chamou Luna, ainda de braços dados com Gina.


As cinco compraram o necessário e um pouco mais além: uma grande quantidade de doces, refrigerantes e salgadinhos. Haviam dividido a conta com suas mesadas.


Só foram para a casa de Pansy para deixar os suprimentos e ficaram de papo para o ar na pracinha. Quando a tarde chegou ao fim, cada uma foi para sua respectiva casa, pegando suas mochilas e sacos de dormir. Não iriam só dormir na casa de uma garota qualquer, iriam acampar no jardim da mansão de uma Pansy que ficou olhando a cada cinco minutos para o relógio da cozinha, estranhando a demora de suas “operárias”. Levantou-se num salto quando a campainha tocou. Mal esperou qualquer uma das quatro falarem, puxou-as rapidamente para dentro.


– Achei que não viriam.


Gina logo se adiantou.


– Desculpe Pan, mas não estava achando meu pijama e chamei-as para me ajudar a achar.


Pan olhou desconfiada para elas, mas logo relaxou, vendo que não era mentira.


– Certo, a barraca está montada. Vamos ir lá e nos entupir de doces para que amanhã acordemos com dor de barriga. – disse, com um brilho no olhos. E lá foi o quinteto, fazendo o que Pansy havia acabado de dizer.


Já era tarde da noite, as garotas estavam dormindo tranquilamente sem sonhos, exceto Hermione, que estava perdida em pensamentos.


Sentia-se excluída algumas vezes pela impressão das garotas saberem de algo que ela não sabe, porém não demonstrava qualquer sentimento em relação a isso, iria parecer uma boba se reclamasse, embora a vontade de perguntar era imensa. Caiu no sono depois de um tempo.


Até que Astoria acorda assustada, sentando-se. Gina, que acordou com o movimento da amiga que estava ao seu lado, logo lhe pergunta:


– O que houve Ast?


Alguns segundos se passaram, parecendo minutos, tempo suficiente de Luna e Hermione acordarem também.


– O que houve Ast? – perguntou Hermione, imitando Gina.


Astoria estava mais branca que o normal, os lábios entreabertos.


– O-onde está Pansy? – ela perguntou.


– Deve ter ido beber água em casa ou coisa parecida. Por quê? – perguntou Gina despreocupada.


– Sinto um mau pressentimento... – sussurrou.


– Que é isso, nada acontecerá a Pansy. Ela é forte... – Luna foi interrompida por um grito que claramente vinha do outro lado do imenso jardim.


As garotas na barraca se entreolharam, assustadas. E saíram rumo ao ser que soltou esse grito, Hermione liderando com uma lanterna na mão. Depois de algum tempo procurando a garota de cabelos pretos, não conseguiram evitar e chamaram por ela.


– Pansy!


Nada.


Seria possível que Pansy fizesse uma brincadeira como essa, para aterrorizá-las?


Não, Pansy não fazia esse tipo de coisa com elas e nunca faria.


Hermione, Astoria, Luna e Gina deram um abraço coletivo, como quem dá para se proteger do frio intenso.

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