Capítulo Único



Ela se virou e o viu sentado na escada que dava acesso ao andar de cima. Sua cabeça estava abaixada, o rosto quase enfiado entre as pernas e as mãos seguravam os cabelos ruivos com força. Assim ela o viu. Como se ele estivesse estado sempre ali, apesar de só percebê-lo naquele momento. Encarou-o em silêncio por alguns segundos. Precisava desse tempo para que sua mente pudesse raciocinar. Mas ela não se lembrava de muita coisa. Na verdade, ela só se lembrava dele. E que eles não deveriam ter se separado daquela forma. Talvez a pior forma possível.

Deu um passo e o viu erguer a cabeça como se tivesse a ouvido. Os olhos azuis-piscina banhados de água a encontraram. Os músculos das pernas o fizeram se levantar de imediato e sua face se contraiu em espanto.


– Mione? – ele sussurrou, rouco.


Ela não respondeu. A imagem dele descendo as escadas e vindo até ela era surreal demais. Ainda não conseguia acreditar. Deus, ele estava ali!


Rony sorriu incrédulo ao encarar profundamente seus olhos castanhos. Ela piscou e abriu a boca mas de lá nada saiu. Fechou-a. Balançou a cabeça, confusa. Levou uma mão a testa e o olhou de esguelha. Ele ainda sorria. Fechou os olhos por um segundo e ao abri-los Ronald havia sumido.


x

Parecia que ele estava ali. A toalha largada sobre a cama, a porta do guarda-roupa aberta e os pratos sujos na pia da cozinha. Sim, ele estava ali.


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Alcançou a cozinha. Ele estava lá, com a porta da geladeira aberta procurando alguma coisa. Após fechá-la, ela viu uma garrafa de firewisky em sua mão. O rapaz se virou para ela e pulou de susto, deixando que a garrafa caísse no chão e se espatifasse.

– Nossa, Mione! – falou se acalmando – Você tem que parar de fazer isso. – pediu pegando outra garrafa.


– Rony. – disse, como se quisesse saber a forma como o nome dele soava dito por seus lábios.


– Sim? – perguntou depois de tirar um gole.


– Isso é real?


Ele riu.


– Não sei. – balançou a cabeça – Quando te vi mais cedo foi muito estranho. Ainda é muito estranho depois de tudo, mas não sei... É muito confuso para mim – coçou a cabeça – Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer, entende? Já faz um mês. Eu nunca ia imaginar que fosse te ver de novo. – pausou – Não queria que fosse assim. Não era para ser assim. Somos tão jovens... – ela se aproximou.

– Você precisa aprender a se expressar melhor – comentou franzindo o cenho.


Ele abriu a boca e a fechou. Depois a abriu de novo e disse:


– Eu sei... – sorriu encabulado – Você já me falou isso antes. Antes de tudo.


– Será que foi tudo um sonho? – perguntou cruzando os braços.


– Não. – respondeu triste – Eu lembro da sensação. Todos os dias ela percorre o meu corpo sempre que lembro de você. E posso dizer que é quase o dia inteiro – riu desanimado.


A jovem derreou a cabeça quando ele a encarou forçando um sorriso que escondia toda a solidão e dor. E no instante seguinte ele não estava mais ali.


x

Suspirou. Havia o perdido de novo. Não podia mais tirar os olhos dele se não ele sumiria. E ela sentia um aperto quando pensava que nunca mais o veria tão perto de novo.


x

Abriu os olhos. Ele estava ali a encarando com uma cara de bobo. Como adorava aquele sorriso besta. Ronald balançou levemente a cabeça quando a viu se sentar no sofá e sorriu sentando-se ao seu lado. Os olhos grudados nela, o corpo tenso e os dedos das mãos inquietos.


– Eu não quero te perder de novo. – Hermione sussurrou.


– Mas você nunca vai me perder... – respondeu – Nós ainda teremos nossas lembranças. E nosso amor.


– As lembranças se dissipam e o amor diminui. – rebateu.


Mas nem uma lágrima. Por mais que fosse isso o que queria nem uma lágrima caiu. E ela não entendeu o porquê.


– Por que tanto pessimismo? – questionou com um pouco de irritação – Por que tanto racionalismo? As coisas nem sempre seguem o caminho mais provável. Por que você acha que está aqui?


– Não sei. – disse confusa – Eu nem sei se estou mesmo aqui.


– Eu preciso de você. – falou com os olhos azuis-piscina banhados em lágrimas novamente – Por isso você está aqui.


– Não. – desmentiu com o olhar perdido no rosto dele – Estou aqui para que você me deixe ir. Você precisa me deixar ir.


Lágrimas caíram dos olhos dele.


– Não posso... – sussurrou erguendo uma mão e a aproximando do rosto dela.

Frio. Imaterial. Sem vida.


Afastou a mão, triste.


– É claro que pode. – sorriu doce – Assim como imaginou que estou aqui, agora, você pode imaginar o contrário. Você precisa.


– Não vou conseguir sem você. – desesperou-se.


– Eu não vou deixar de estar ao seu lado por quanto tempo você quiser. Até que você encontre outra pessoa.


– Isso não nunca vai acontecer!


– Vai. – afirmou suave – Mas sei que ainda se lembrará de mim com carinho. E é isso que quero que guarde. Não me importo caso esqueça os detalhes do meu rosto e corpo. Não quero é que se esqueça das coisas boas que eu pude te proporcionar.

– A morte não é o fim, Mione. – comentou com os olhos vermelhos. As lágrimas que ainda insistiam em cair.


– Eu sei. – sorriu – Adeus, Rony. – repousou seus lábios nos dele.


Frios. Impalpáveis. Irreais.



Dedicatória:


Dedico a short a uma das maiores RHr do fandon: Betynha G. Weasley. Pela amiga que ela é. Por estar do meu lado não apenas em momentos ruins. Por eu me identificar tanto com ela quando o assunto é sofrimento. Por nos entendermos mesmo tendo gostos diferente. Por me adorar. E por ser uma das pessoas que inconsciente ou conscientemente fez com que eu topasse o desafio e escrevesse uma fic RHr. Espero que sirva de exemplo para os que ainda alimentam essa guerra entre HHr e RHr.


Te lovo, amoura da minha vida! *emoticon dos cílios*

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