A profecia

24. A profecia

“A verdade que fere é pior do que a mentira que consola.”

Carlos A Baccelli

— Olá Harry.

A minha resposta ao cumprimento dele foi sentar-me, sabendo que não iria conseguir fugir mais daquela conversa. Como prometido por ele, mais uma vez, eu tinha acabado por ir parar àquele escritório com a figura do Tom Riddle à minha frente, tendo este, um sorriso orgulhoso no rosto.

 — Fico feliz que tenhas permitido esta conversa entre nós – observou.

Eu levantei uma sobrancelha para ele.

 — Como assim?

 — Podias ter usado oclumência e ter posto um obstáculo à nossa conversa.

Inclinei a cabeça pensativo. Realmente, poderia ter feito isso, no entanto, como ele tinha dito que iríamos conversar naquela manhã, nem tinha pensado em usá-la, afinal ele era o todo-poderoso Voldemort e iria conseguir superar os meus escudos mentais.

— Realmente…

Houve um silêncio constrangedor de um minuto, todavia, ele voltou rapidamente a falar, com o sorriso que me fazia ter dificuldades em associar ao monstro que era o Voldemort.

— Como tem sido a tua aventura no mundo mágico desde a última vez que falamos?

Ele estava mesmo querendo ter uma conversa comigo como se fôssemos velhos amigos?

— Normal.

O Riddle olhou para mim e o seu sorriso pareceu perder a sua força, estando a começar a desaparecer.

 — Tens aprendido facilmente os vários ramos da magia?

Eu assenti com a cabeça, não me dando ao trabalho de responder e desejando fervorosamente para que ele me desse como um caso perdido e me permitisse voltar a dormir.

— Harry, tu ainda não tens confiança em mim, não é?

Eu paralisei com a pergunta dele, dita num tom mais triste.

 — Como assim?

 — Tu ainda pensas que eu estou a manipular-te e não consigo me importar com ninguém. Não é esse o caso? – Ele perguntou, levantando-se e indo até a lareira, virando-me as costas.

Qual era a resposta correta, sendo que estava falando com um psicopata? Sim e depois morrer com uma morte dolorosa? Mentir?

O Riddle deu um suspiro e a figura dele virou-se para mim, parecendo genuinamente triste.

 — Não precisas responder. O teu silêncio disse tudo.  

Mordi a parte de dentro da bochecha para controlar o meu nervosismo. Eu sabia que estava a navegar por águas muito perigosas e que qualquer coisinha o iria fazer irritar-se.

— Se calhar, não te perguntaste porque não te contatei neste mês, mas eu fiz isso por um motivo. – Eu não consegui não demonstrar espanto. Ele era realmente uma pessoa muito carismática, pela forma como falava e gesticulava. – Eu estava à espera que conhecesses a tua família, o mundo mágico e criasses uma opinião tua sobre ele. –Riddle fez um breve silêncio, encostando-se à lareira e ao ver que não iria falar, ele continuou: — E esperava que as pessoas à tua volta fossem sinceras e te explicassem muitas coisas sobre o teu passado. Como, por exemplo, como é que sobreviveste? E, principalmente, porque é que eu te ataquei? Eu não ataco bebés sem motivo… Apesar de que mesmo tendo tido um motivo, eu admito que não fiz a coisa correta.

Eu abri a boca inconscientemente. Como é que eu tinha sobrevivido? E ele tinha-me atacado por um motivo?

 — Pela tua reação compreendo que não te tenham dito. Eu compreendo, afinal é uma parte que eles querem esconder e, por esse motivo, não vou comentar sobre o lado deles. No entanto, acho que está na hora de eu te mostrar o meu ponto de vista e explicar porque é que eu te ataquei com um ano de idade e voltei a atacar quando foi descoberto que tu estavas vivo. Isto não justifica as minhas ações porque eu estava demasiado enlouquecido, mas acredito que te irá permitir confiar um pouco mais em mim, afinal, agora não tenho nenhum motivo para te atacar.

Eu continuei paralisado, ouvindo com atenção as suas palavras calmas e sedosas e, por outro lado, ansioso por saber que iria ouvir o outro lado da história, que ninguém queria contar.

 — Harry, eu te ataquei com um ano de idade, porque havia uma profecia que dizia que tu eras o escolhido que poderia me derrotar.

Eu acho que até o meu coração parou de bater por um segundo ao ouvir as palavras dele, para começar a bater furiosamente a seguir.

Profecia? Havia uma profecia? E dizia que eu iria derrotar o Voldemort? E ninguém quis me contar quando me reencontraram? Agora fazia sentido porque é que todos queriam que eu continuasse com eles. O Voldemort tinha ressuscitado e eu era o único que poderia derrotá-lo.

 — Não reajas assim. Eles, provavelmente, planeavam te dizer no futuro. – Ele suspirou. – Eu próprio estive pensando em esperar mais tempo, mas ao ver que continuavas desconfiado, não aguentei e tive que me justificar.

Abri a boca para protestar, mas voltei a fechar. Justificar? Com ou sem profecia, ele achou que o melhor caminho era matar-me.

 — Eu não sei a profecia totalmente, porém posso dizer-te o que sei.

Eu continuei chocado e, por isso, não respondi.

 — Aquele com o poder de vencer o Lord das Trevas aproxima-se… nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês… ela continua, no entanto, eu não tenho conhecimento do resto.

Eu fiquei revoltado ao ouvir aquilo e proferi os meus sentimentos.

 — E foi atrás de todas as crianças que nasceram nesse mês? Isso é uma loucura e não tem justificativa.

O Riddle deu um sorriso triste.

 — Eu não fui atrás de todas as crianças. Só ataquei uma, que foste tu. E antes que penses que haviam muitas mais, esta profecia só poderia corresponder a duas pessoas. Tu e Neville Longbottom. Não existem muitas pessoas que podem dizer que me atacaram três vezes.

Houve um silêncio perturbador. Apesar de tudo o que ele disse, eu continuava a achar cada vez mais que ele era um psicopata e que nada justificava matar bebés.

 — No entanto, isto não justifica as minhas ações como deves estar a concluir, pela tua expressão. Mas eu já não estava racional nessa altura, temo em dizer, e foi por isso que tomei essa atitude drástica. – Ele suspirou outra vez e andou até parar à minha frente, observando-me com uma expressão triste e cansada. – Se fosse hoje eu nunca faria isso. As profecias são demasiado vagas para agir de acordo com elas, principalmente, quando elas nos fazem atacar um bebé inocente.

Ele olhou para mim, com os seus olhos cor de rubi que pareciam ler a minha alma até que ele suspirou e sentou-se na poltrona à minha frente.

— Mas isto já não tem interesse para o nosso presente. Eu não pretendo tomar nenhuma ação por uma profecia que considero realizada.

Eu pisquei os olhos, confuso.

Realizada?

Ou eu tinha entendido mal ou aquela profecia dizia que havia um escolhido que iria derrotar o Lord das Trevas e pela interpretação dele era eu ou o Neville, sendo que ambos nos encontrávamos vivos.

 — Eu consigo perceber a tua confusão, no entanto, o meu pensamento é bastante simples. O que a profecia dizia, pelo que tenho conhecimento, é que existe uma pessoa com poder para derrotar o Voldemort e realmente houve… tu.

 — Eu?!

Ele sorriu ao ver o meu espanto.

 — Sim, tu derrotaste o Voldemort quando tinhas um ano de idade.

Pela expressão dele, ele estava tendo prazer devido à minha confusão e era devido a isso que não se explicava. No entanto, eu estava a ficar demasiado curioso para ficar calado.

 — Como assim?

 — Tu, para mim e para o mundo, derrotaste o Lord das Trevas mais conhecido como Voldemort, com um ano de idade.

Eu devo ter feito uma cara tão incrédula que ele riu pelo nariz, não se contendo.

 — Harry — ele explicou —, eu não sou o Voldemort.

A minha única resposta foi piscar os olhos, com o cérebro completamente paralisado. Eu expirei o ar quando percebi que o Riddle olhava para mim com divertimento.

Ele não era o Voldemort? Mas ele era o Tom Riddle que era o Voldemort!

 — Acho que está na altura de justificar decentemente a minha opinião. – Disse, vendo que eu tinha voltado ao meu normal. – Para mim, o Voldemort faz parte da personalidade que eu tinha quando estava enlouquecido devido aos rituais que tinha feito. Como, atualmente, não sou essa pessoa, considero que para todos os efeitos o Voldemort ou Lord das Trevas como está na profecia, morreu. Quem está na tua frente é o Tom Riddle. – Ele disse, sorrindo. – Por isso, a profecia já foi cumprida, afinal foi graças a ti que eu voltei ao meu normal.

Eu pisquei os olhos, raciocinando e achando aquela teoria um bocado forçada.

 — Eu sei que podes achar confuso mas tens que te lembrar que nós também não sabemos a profecia no seu total, os únicos que sabem são o Dumbledore e os teus pais. Mas de qualquer forma, eu não vou reger a minha vida por uma profecia. O que tiver que acontecer, acontecerá. O meu passado já magoou demasiados inocentes e recuso-me a magoar mais. – Ele deu de ombros. – Por isso, mesmo que me derrotes no futuro, isso irá querer dizer que me transformei no Voldemort e, por isso, eu percebo o porquê de  me combateres.

— Eu não percebo.

 — Harry, o meu objetivo ainda é o mesmo: mudar o mundo mágico! No entanto, eu não quero mais magoar tantos inocentes. Existem outras vias e eu vou por elas. Então, se algum dia me derrotares é porque por algum motivo eu falhei neste objetivo ou então tu foste corrompido pelo poder. Eu tenho confiança em mim e como também tenho confiança em ti não estou preocupado. Logo, podes estar descansado que não tenho nenhum motivo para te atacar.

Eu continuei sem falar, somente processando todas as informações que tive naquele curto espaço de tempo. No entanto, ele continuou a falar:

 — Por isso, Harry — ele disse, levantando-se da poltrona e chegando mais perto de mim—, vou-me apresentar outra vez, agora que tens todos os fatos sobres a minha vida. Eu chamo-me Tom Riddle e pretendo fazer a nossa sociedade melhorar. – O dito não-Voldemort estendeu a mão para mim. – É um enorme prazer poder falar e aprender contigo.

Eu olhei para a mão dele e para a sua face atenta. Eu sei o que ele queria, que era eu apertar a mão e apresentar-me, fazendo-nos começar de novo e esquecer-me que ele era o psicopata que tinha atacado o Charles. Ele até podia estar mudado — eu não sabia o suficiente sobre a magia para saber se era possível ou não e as opiniões das pessoas que me rodeavam iria ser só uma —, mas eu não iria dar assim a minha confiança a ele.

 — Harry Potter. – Eu murmurei, levantando-me e ignorando a mão dele. – E eu não tenho conhecimento o suficiente sobre este mundo para o senhor aprender alguma coisa comigo. – Eu paralisei ao ver a expressão ligeiramente decepcionada no rosto dele. – No entanto, vou ter em consideração a sua perspectiva. Posso sair?

Ele suspirou e deu um passo para trás para me dar mais espaço.

 — Sim, não posso pedir mais do que isso, por isso, fico feliz. – Eu assenti, pronto para sair, no entanto, ele continuou. – Harry, eu não quero influenciar nas tuas decisões futuras só estou a fazer isto para tu veres o meu lado. Tudo na vida tem um motivo, inclusive, as minhas ações.

Eu assenti para ele, ainda pensando em tudo o que tinha aprendido com aquela conversa e a última coisa que vi, foi o sorriso dele para mim.

 

 — OLC —

 

Eu acordei irritado. Irritado por ainda existirem segredos e irritado pelo Riddle conseguir fazer-me ficar sem sono.

Levantei-me quando dei a vigésima volta na cama e fui até à minha mesinha de escrever iluminando o quarto com um “lumus”. Sentei-me, observando a capa do livro de poções que estava lá em cima. Parecia ter passado tanto tempo, entre o dia anterior e aquela madrugada. Tinha encontrado a Hermione, descoberto um novo lado do Snape, tinha sido sincero com a Lily e tinha descoberto que ela e o James não o estavam a ser comigo.

Soltei um grunhido de frustração lembrando-me das palavras do Riddle. Havia uma profecia e alguma coisa relacionada à forma que me tinha permitido viver e eles não me diziam nada!

Porquê?

Estariam eles somente a manipular-me para eu derrotar o Lord das Trevas da profecia? Por isso, é que me ajudavam a estudar? Estariam eles a fazer isso de uma forma perfeita fazendo com que eu, desconfiado por natureza, não percebesse?

Fechei os olhos e lembrei-me da face da Lily, completamente emocionada para mim. Aquilo não parecia mentira. Ela parecia gostar realmente de mim. No entanto, ela podia ser uma excelente atriz.

Eu suspirei e abri os olhos, indeciso sobre o que pensar. Eu não queria confiar neles, mas também não podia ignorar tudo.

O que a Hermione faria nesta situação?

Provavelmente, tentaria obter mais informações. Era isso! Eu iria dar-lhes mais uma oportunidade. Iria fingir que não sabia de nada e esperar que eles me dissessem. O que eu não sabia, quando tomei aquela decisão, era o quão difícil era fingir.

N.A. Está aqui mais um capítulo, em cima do prazo e pequeno, no entanto, eu tive muito pouco tempo disponível para escrever neste tempo. Vou dar um prazo mais alargado para o próximo, para caso eu continue sem tempo, no entanto, pretendo apresentar um capítulo maior daqui a uma ou duas semanas de forma a recompensar o tamanho minúsculo deste.

De qualquer das maneiras, espero que vocês continuem a gostar e qualquer coisa avisem =).

PS: Data limite: 1 de Dezembro

Milton Geraldo da Silva Ferreira: Provavelmente vou colocar o Harry a ter uma conversa sobre o seu avanço a aprender mas além de uma extrema facilidade a aprender, ele não tem nenhuma capacidade muito especial agora (que se saiba pelo menos). Mas obrigada pela sugestão e espero que continue a gostar^^.

Neuzimar de Faria: Muito obrigada :D. Ele está a mudar mas como vimos aqui, existem pessoas que não lhe querem facilitar a vida em relação a deixá-lo confiar nos pais. Contudo, acredito que o futuro ainda terá mais surpresas, tanto positivas como negativas ;).

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