O Vidro Que Sumiu (parte II)

O Vidro Que Sumiu (parte II)



O Vidro que Sumiu (parte II)


— E agora? — perguntou tia Petúnia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo. Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.


-Oh, Harry. Eu sinto tanto, tanto... – Lily conseguiu falar entre os soluços.


-Mãe... você não teve culpa de nada. Não foi culpa sua.


-Mas... mas... – não conseguiu completar a frase, pois o choro se intensificou.


— Poderíamos ligar para a Guida — sugeriu tio Válter.


— Não diga bobagem, Válter, ela detesta o menino.


-Ah! O sentimento é reciproco.


-Harry. – Ron o chamou.


-Sim?


-Guida não é aquela...


-Sim, sim... ela mesma. Agora, shh.


-Ela, o que?


-Nada, nada. – os olhares desconfiados e curiosos de todos na sala se viraram para Harry que tinha um sorriso maroto no rosto.


Com frequência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não estivesse presente, ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.


-É claro que Harry não entenderia. – Marlene falou. Todos olharam para a mesma como se fosse um monstro no lugar dela. – A mente dele é mais desenvolvida do que isso. – completou e todos voltaram ao normal.


— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?


— Está passando férias em Majorca — respondeu Petúnia, com rispidez.


— Vocês podiam me deixar aqui — arriscou Harry esperançoso (ele poderia assistir ao que quisesse na televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha no computador de Duda).


Lily não aguentou mais ouvir o jeito como sua irmã tratava seu filho e saiu em direção ao dormitório feminino. James tentou ir atrás dela, mas Harry tomou à dianteira e disse:


-Deixe que eu vou pai. – Harry acreditava que estava próximo da parte em que ele falava com a cobra no zoológico e não queria ver os olhares de decepção de seu pai e seu padrinho quando descobrissem que ele falava a língua


-Mas...


-Eu quero conversar com ela.


-Mas...


-Por favor, pai.


-Mas...


-Obrigado. Estou indo. – Harry se levantou e seguiu para o dormitório feminino. Murmurou um feitiço e subiu as escadas enquanto James se encontrava boquiaberto.


-Mas...


-Engoliu um repetidor, veado?


-É cervo, seu idiota, CERVO.


-Huum... tá certo.


Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.


— E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? — rosnou.


-Não é como se ele fosse explodir a casa. – James falou


— Não vou explodir a casa — prometeu Harry, mas os tios não estavam mais escutando.


Um sorriso triste podia ser encontrado no rosto de James.


— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico — disse tia Petúnia lentamente — e deixá-lo no carro.


— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho.


-E ele vai fazer o que, pelo amor de Merlin, fazer o carro começar a voar? – Sirius perguntou retoricamente.


Ron soltou um sorrisinho.


Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.


— Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! — exclamou abraçando-o


-Mas que garoto mimado! – exclamou Frank.


-Mas que mãe idiota! – Falou Hermione.


— Não... Quero... Que... Ele... Vá! — Duda berrou entre grandes soluços fingidos — Ele sempre estraga tudo! — E lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.


-Ele devia aproveitar e estragar a sua cara de porco. – disse Dorcas.


Naquele instante a campainha tocou.


— Ah, meu Deus, são eles chegando! — disse tia Petúnia nervosa um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro entrou acompanhado da mãe. Pedro era um menino magricela, com cara de rato.


-Será que todos os Peter's tem cara de rato? – James perguntou.


E ninguém soube responder.


Em geral era quem segurava por trás os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.


-Se fosse amigo de verdade, fingiria que estava chorando junto. – disse Sirius sorrindo para James.


- Minha mãe cai nessa até hoje. – sorrindo junto com o amigo.


Remus apenas balançou a cabeça, revirando os olhos. Aqueles eram seu amigo e seu namorado, não era possível muda-los.


Meia hora depois, Harry, que não conseguia acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de saírem, tio Válter puxara Harry para o lado.


— Estou lhe avisando — disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry — Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele armário até o Natal.


-Ai de você se fizer alguma coisa com ele, Dursley, AI DE VOCÊ! – James rosnou e algumas pessoas tiveram arrepios, por que não era comum ver o maroto irritado.


— Não vou fazer nada — disse Harry — juro...


-Não de propósito. – Gina comentou sob sua respiração.


-O que você disse? – Dorcas perguntou.


-Nada, nada.


Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca acreditava.


O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta de Harry e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa.


Uma vez tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou, para esconder aquela cicatriz horrorosa. Duda morrera de rir de Harry, que passou à noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos emendados com fita adesiva. Na manha seguinte, porém, quando se levantou os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los.


-Maaaaalldição Poootter! – cantarolaram Sirius e Remus novamente.


Mas dessa vez ninguém riu. Não sabendo dos fatos que acabaram de ser narrados.


Tinham-no deixado preso uma semana no armário por causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que não saberia explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa.


-Petúnia sabia que era magia acidental. Ela sabia. – Severus falou.


-E então porque...? – James perguntou.


-É como eu disse: Ela sempre teve inveja da Lily. Lily era bruxa e ela não. Ela nunca conseguiu superar isso. E por isso ela descontou tudo em seu filho, Potter.


Mal sabia Snape que estava explicando o porquê de ser intolerante com o filho de sua amiga.


Outra vez, tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja).


-Que tipo de mãe compra macacões marrons com pompons cor de laranja?


-O tipo de mãe que não tem censo de ridículo. – respondeu Marlene.


Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, tanto menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alivio, não foi castigado.


-Não é como se ele tivesse culpa de alguma coisa. – Alice suspirou


-A vida nem sempre é justa com as pessoas, Alice. Harry é o exemplo vivo disso – Hermione falou.


Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé.


-E-ele aparatou? – George perguntou incrédulo.


-É bem provável... do jeito que o Harry é... – respondeu Neville


Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para tio Valter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.


-Ninguém é magro o suficiente para isso... – comentou Frank


Hermione preferiu não comentar que quando conheceu Harry, com onze anos, o garoto tinha a aparência de uma criança de nove.


Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em outro lugar que não fosse à escola, o armário, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.


-Do jeito que a sorte do Harry é, é capaz de dar tudo errado. – falou Ron.


-Por quê? – Dorcas indagou.


-Espere e verá.


Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, do banco e Harry eram seus dois assuntos preferidos.


-Percebe-se que ele gosta muito do Harry, não?


Esta manhã eram as motocicletas.


-Qual o problema desse cara? – Sirius perguntou – as motocicletas são o melhor transporte que os trouxas já inventaram!


-Todos nós sabemos da tara que você tem por motos, Padfoot. – Remus tentou acalmar o namorado – mas se aquieta um pouco, por favor. Agradecido.


— ... Roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros — disse, quando uma moto emparelhou com eles.


— Tive um sonho com uma motocicleta — falou Harry, lembrando-se de repente — Ela voava.


-Wow! Que memória boa, hein? – Exclamou Marlene ao mesmo tempo em que Hermione falava.


- Eu não me lembrava que Harry era tão obtuso. Por Merlin! O que o garoto tinha na cabeça pra falar disso bem na frente dos Dursley?!


-Mione, calma! Já passou, viu?


A garota respirou fundo e fez sinal para Remus continuar a leitura.


Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:


— MOTOCICLETAS NÃO VOAM!


-Mas elas podem voar, sua baleia ambulante! – Sirius exclamou novamente


-Eles são trouxas, Padfoot! E não fale mais nada sobre motos, por favor. Eu acho que a vida do seu afilhado é mais importante do que as motos, não? – o licantropo ficou estressado e após a reprimenda que deu em Sirius, o animago ficou com amuado com uma expressão de cachorrinho sem dono. Então Remus puxou-o para encostar a cabeça em seu ombro, fazendo carinho em seus cabelos negros enquanto voltava a ler.


Duda e Pedro deram risadinhas.


— Sei que não voam — respondeu Harry — Foi só um sonho.


-Não foi só um sonho, Harry. – James murmurou para o nada.


Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado, pareciam pensar que ele poderia arranjar ideias perigosas.


-Mione, será que depois dá para você mostrar uns desenhos animados? – George perguntou para a cunhada com um sorriso maroto.


A garota assentiu sem nem prestar atenção no que o outro falou e não o ouviu dizer:


-Estamos em Hogwarts, afinal.


Mas James ouviu e não pode deixar de pensar que aquele Weasley em especial poderia ser de bela utilidade para os marotos.


Era um sábado muito ensolarado e o zoo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé barato de limão. Não era ruim, Harry pensou, lambendo-o enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que não eram louros.


A sala explodiu em risadas e Mione pensou que o garoto poderia ter sido um ótimo maroto se todas aquelas coisas não tivessem acontecido com ele.


Harry passou a melhor manhã que já tivera em muito tempo.


Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater no primo.


James já estava para azarar um. Como seu filho poderia ter o azar de ser obrigado a morar com esses trouxas estúpidos?


Almoçaram no restaurante do zoo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro.


Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.


Terminado o almoço foram visitar o alojamento dos répteis.


Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas


-É só ir para Slytherin – Sirius comentou – lá você encontra os piores tipos de cobras. – e olhou desafiadoramente para Severus.


-Pelo menos, Black – Snape retrucou – não temos pessoas ignóbeis, infantis e prepotentes que acham que podem sair azarando todos os que veem pela frente.


-Olha bem aqui, Snape. Só porque...


-Sirius, não temos tempo para isso! Será que dá para você deixar essa rixa boba de lado e fazer o que é importante agora? – Marlene o interrompeu, repreendendo-o.


O garoto assentiu contra vontade e Remus continuou a ler.


e as grossas pítons que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio Valter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo, mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.


Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.


-Que visão horrível! Eu tenho sorte de não ser essa cobra. – George comentou


— Faz ela se mexer — choramingou para o pai. Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra no se mexeu.


-Que garoto idiota!


— Faz outra vez — mandou Duda. Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.


-Certa ela, eu também não faria questão de acordar para ver duas caras feias. – Frank disse


— Que chato — queixou-se Duda. E saiu arrastando os pés, Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio. Não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.


Mesmo já sabendo que seu filho não vivia mais com esses idiotas, não podia deixar de sentir raiva quando o fato de que Harry vivia dentro de um armário.


A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas.


Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry.


E piscou.


-Mas cobras não piscam! - Alice exclamou


-Eu conheço algumas que piscam, falam e até mesmo andam.


-Sirius! - Remus, Marlene, Gina e Hermione exclamaram


-Tá certo, desculpa, desculpa...


Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também.


-Que tipo de pessoa normal pisca para uma cobra?! - Dorcas perguntou


-O Harry não é uma pessoa normal. - Ron respondeu


A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:


— "Isso é o que me acontece o tempo todo".


— Eu sei — murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo — deve ser bem chato.


-NNNÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO! Isso não pode ser possível, não pode! - um Sirius histérico gritou


-O que não pode ser possível, Sirius? - Marlene perguntou


-O Harry é um parselmouth¹!


-E daí, Sirius? - Ginny perguntou


-E daí que... que...


-Que ele é uma pessoa ruim por que as pessoas que falam parseltongue têm que necessariamente ser más? Eu sinceramente esperava mais de você, Sirius. - Hermione o interrompeu, parecendo decepcionada.


-Mas... mas...


-Jimmy? - Marlene tentava se comunicar com o garoto que paracia em choque - Jimmy? JAMES!


-AAH! Que foi? - o maroto finalmente acordou de seu transe.


-O que aconteceu com você?


-Nada... é só que, os Potter nunca tiveram um parselmouth antes. E a Lily é nascida-trouxa, não tem como tere vindo dela... - o garoto começou a divagar.


-James, eu acho melhor você se acalmar, eu tenho certeza que depois o Harry irá explicar tudo para vocês - Ginny falou - e isso vale para você também, Sirius.


A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.


— Mas de onde é que você veio? — perguntou Harry.


A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro.


Harry espiou.


— Boa Constrictor, Brasil, era bom lá?


A jibóia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu:


"Este espécime nasceu em cativeiro".


— Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?


A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry fez os dois pularem:


— DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!


Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.


— Cai fora — falou dando um soco nas costelas de Harry.


-Ah! mas se eu pego você garoto, se eu pego você! - James rosnou para o livro enquanto seu amigo continuava a ler.


Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto.


O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror.


Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jibóia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão, as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas.


-AÊ! Finalmente!


-Dá-lhe Harry!


-Isso aí, cara!


-Nossa, ele fez isso como magia acidental e eu demorei anos para consegui fazer esse feitiço direito.


As exclamações e comemorações sairam de todos, menos de Severus Snape. Ele ainda não entendia por que tinha que ficar ali, no meio de tantos grifinórios.


Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: "Brasil, aqui vou eu... Obrigado, amigo".


O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.


— Mas o vidro — ele não parava de repetir, para onde foi o vidro?


O diretor do zôo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes.


Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar. Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:


— Harry estava conversando com ela, não estava, Harry?


-Esse garoto é um filhote de cruz-credo, pelo amor de deus, que pessoa mais insuportável! - George disse já se irritando com aquelas pessoas.


Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar com Harry, Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:


— Vá... Armário,... Harry... Sem comida — antes de desmontar em uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.


-Dursley! Ouse deixar meu filho sem comida e você vai ter uma prévia de sua morte.


-James! Você está falando com um livro.


Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer.


Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçava a memória durante longas horas em seu armário, lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa. Isto supunha ele, era o acidente, embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa.


Quando era mais novo Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera, os Dursley eram sua única família.


Remus e Sirius se entreolharam com olhares pesarosos. Não entendiam como não tinham ido tirar Harry daquele lugar horrível.


Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o conheciam.


-Óbivio que conheciam. Que pessoa não conheceria o garoto-que-sobreviveu?! - Ron resmungou


E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura, chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava vê-los melhor.


-Eles aparatavam...


-É, agora eu sei disso. - a voz de Harry veio das escadas que ligavam o salão ao dormitório feminino do 7º ano. O garoto vinha acompanhado de sua mãe atrás dele.


-O capítulo já está terminando, mas se vocês quiserem eu volto - Remus falou.


-Não se preocupe, Remmie. O Harry já me explicou algumas coisas, então...


-Tudo bem, então.


Os outros dois se sentaram e o licantropo voltou a ler.


Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.


Um silêncio sepulcral tomou conta do salão comunal, quando de repente várias exclamações de dor foram ouvidas no meio do local.


Eu gostaria de dar alguns avisos:


Primeiro: Nesta fic Sirius e Remus formam um casal. Se alguém se incomodar ou algo do tipo eu não posso fazer nada, eles vão ser mencionados e vão ter momentos como qualquer outro casal.


Segundo: Só para vocês ficarem sabendo, apareceu um pequeno contra-tempo, mas nada que vá interferi no andamento da fanfic. O blog em que eu pegava os capítulos foi excluído então se alguém tiver algum, pode me indicar, eu agradeço desde já.

Sem querer botar pressão nem nada, mas o próximo capítulo só sai quando a resposta de vocês (se querem os livros completos ou as partes mais importantes) por que ele depende da resposta.


Annie73, se tu ainda me acompanha, eu tive que diminuir sua surpresa, mas ela ainda está aí. E aparecerá no próximo capítulo.


See you later, guys!

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