Capitulo Único



 


Era mais um gole de cerveja que descia pela garganta do loiro.


Era mais alguém que sentava na cadeira ao lado.


Não, não era qualquer pessoa.


“O que faz em um bar, Granger? Seu namorado perfeito não costuma deixar você frequentar tal tipo de local.”


“Rony e eu terminamos.” Hermione deu um longo gole na bebida que lhe foi servida pelo garçom.


“E você veio aqui me contar isso? Sou um ex-Death Eater vigiado, não um colunista de fofoca do Profeta Diário.”


“Você é a única pessoa que pensei para contar.”


“Não sirvo como porto seguro para ninguém.”


“Você mal cuida de si mesmo, quanto mais de outra pessoa, Draco.”


Ela estava certa, detestava admitir. Ela estava certa, mas não queria estar.


“Onde está Astoria?”


“Você sabe muito bem a resposta.”


Astoria havia o deixado. Assim como sua família alguns anos atrás. Mas Hermione sabia disso. Todos sabiam. Draco não era uma pessoa da qual consegue se conviver muito bem.


“Na sua antiga casa, quando fui torturada por Bellatrix, o que tentava me dizer?”


“O que te faz pensar que eu queria dizer algo, Granger?”


“Seus olhos. Eles diziam algo.”


“Como pode perceber alguma coisa quando se contorcia de dor no chão?”


Fez-se, então, o silêncio. Durou pouco.


 “Pare de achar que me conhece”


“Mas eu conheço você.”


“Não conhece nem a si mesmo, Malfoy.”


Draco riu. Não soube dizer direito o porquê.


“Então achamos algo em comum. Desde quando aprendeu esses joguinhos, Granger? Não combina com você.”


“E o que combina comigo? Diga seu ultimato.”


“Rony. Casa. Filhos. Nada que inclua lugares como esse e pessoas como eu.”


“E você combina com solidão e lugares como esse? Por favor, Draco, me chama de fraca, mas não consegue ver hipocrisia estampada no seu rosto. Você é o cúmulo da autolamentação.”


“Estaremos quites assim para sempre então, não é mesmo?”


Trocando amarguras e desavenças. Era assim que eles sempre estariam.


“Lembro de ter pago para beber, não para ouvir suas lições de moral. Agora entendo porque o Wesley te largou.”


Som de vidro quebrado. O pulso de Hermione sendo segurado forte. Um tapa impedido.


Cinza no castanho, os olhos que agora se encontravam.


“Sem escândalos no bar, por favor. Também não paguei por isso.” Ele pedia calmo, enquanto a largava de volta na cadeira.


“Você é estúpido, Malfoy.”


“Eu sei disso. E você também sabe. Por isso perguntei o que veio fazer aqui.”


Ambos não tinham respostas. Ambos não tinham verdades.


“Não brinque com o que não sabe, Granger. Eu preferiria levar mais uma maldição imperdoável ao invés disso, se fosse você.”


E foi assim que ele se despediu.


Era seu hábito deixas as pessoas sozinhas. Era hábito dela se cuidar sozinha. Não era vontade de nenhum dos dois que acabasse daquele jeito.



Mas não acabaria.
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Ela andava tonta pela rua. Encontrava-se em estado febril em meio à neve, e não conseguia enxergar nada além do embaçado. Seus cachos castanhos eram a única com cor naquele momento, já que a pele pálida avisava a falta de forças para continuar.


E ela não queria continuar.


Sentia-se fraca. Não era a mesma Hermione que lutara bravamente em uma guerra. Agora era um corpo flácido que não aguentava seu próprio peso. Sua própria dor. Talvez fosse para aprender. Aprender a tomar as decisões certas. Quem sabe conseguiria tal feito em outra vida. Porque, no momento, a única coisa que conseguia enxergar era o nada, com um fim próximo.


Isso até sentir ser carregada por braços fortes, sendo acolhida por uma sensação de aconchego. Tentou falar algo, mas o frio e a dor não permitiam que a voz saísse.


“Você vai continuar me dando trabalho até quando?” Ela conhecia aquela voz. Bem demais.


Mas só pôde ver alguns fios loiros até sua visão desaparecer completamente.


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Draco se questionava sobre o que estava fazendo.  Não estava em dívida com Hermione e nem era sua obrigação. Poderia ter a deixado morrendo na neve, não faria falta.


Ou será que faria?


“Hora de acordar, Granger. Aqui não é hotel.” Disse o loiro assim que percebeu os primeiros indícios de recuperação da garota.


“Onde eu estou, Malfoy? Não me sequestrou, certo?”


“Obrigada, Draco, por me resgatar da neve enquanto eu morria e me trazer para o conforto da sua casa.” Draco fez a melhor imitação da voz de Hermione que conseguiu. “De nada, vou cobrar da próxima vez.”


Hermione olhou ao redor e reconheceu a mansão Malfoy. Reconheceu também que havia recebido cuidados a noite inteira e sido bem acomodada no quarto, onde Draco lhe observava da poltrona. Lembrou-se então do momento em que fraquejou na neve e estava perto da morte.


“Obrigada...” Draco revirou os olhos pra janela, ignorando o agradecimento. “Mas eu não pedi para ser salva, Malfoy.”


“E nem eu pedi para você nascer e vim me dar trabalho, mas aqui estamos. A vida nem sempre é justa, Granger.”


Ele só conseguiu ouvir a mesma saindo das cobertas, certamente irritada, e dirigindo-se até a porta do quarto.


Suspirou.


“Não vai chegar muito longe, pelo menos não no estado em que está. Sugiro que fique aqui e descanse.”


Hermione desistiu nesse momento. Desistiu de entender, de se controlar, de não falar.


“Por que você se importa, Draco?! Você me deixou. Naquela maldita guerra, você deu as costas sem ao menos pensar em mim. Em nós.”


“Não existia nós, Hermione.” Era a primeira vez que ele a tratava pelo nome em muito tempo. “Eu já disse que seu lugar era ao lado do Weasley. Era o certo a fazer.”


“Rony está morto! E hoje eu choro por nunca ter conseguido amá-lo inteiramente depois que você apareceu! Certo? Você nunca se importou com o certo, Draco. Você não teria se envolvido com uma sangue-ruim se pensasse nisso.”


Draco a empresou contra a parede. Era covardia, ela estava fraca, e ele sabia.


“Nunca mais repita isso. Não se chame disso.”


“Você o fez primeiramente, não se lembra? Não se lembra da época em que me odiava, Draco? De quando você me deixou ser torturada pela sua tia até quase a morte? Ou quando fugiu como um covarde todo esse tempo?!”


A respiração de ambos era ofegante.


“Eu nunca prometi que daria certo.”


“Você nunca fez nada para dar certo.”


Draco não esperava mais vindo de Hermione. Como sempre, era ela quem jogava a verdade na sua cara.


Ele a soltou brutamente, dando as costas para que ela fizesse o que escolhesse. A porta estava ali perto para que ela saísse se desejasse. Hermione não esperava coragem. Nem da parte dele e nem da própria. Ela apenas deslizou pela parede até se encontrar sentada ao chão, fitando os próprios pés, ainda sem reação.


E continuou sem reação até o momento que Draco explodiu.


“Hipócrita. Acho que isso define bem você, Granger. Você acha que foi fácil para mim, aguentar toda aquela pressão? Acha que foi fácil aguentar tudo isso?”


Draco havia retirado uma pilha de jornais de uma gaveta e jogado na direção de Hermione. A mesma abaixou o rosto para algumas lágrimas caírem, mas conseguiu olhar em direção aos papéis logo após.


Quanto mais olhava, mais reportagens sobre Draco ou sua família ela conseguia ler. E nenhuma se encontrava ao lado deles.


“Toda a humilhação, todo o sofrimento. Você não passou por aquilo, você sempre esteve do lado dos seus amiguinhos para se apoiar! Eu aguentei tudo sozinho, e ainda pensei em você. Pensei no seu maldito bem, no que era melhor para você! E me chama de covarde? Covarde é você que nunca soube admitir o que sente.”


“O que você sabe sobre o que eu sinto, Draco?! Você viu sua tia me torturando na sua frente e não fez absolutamente nada! É desse jeito que você acha que sabe o que eu sinto?”


“Você me viu sofrer durante anos, vendo você feliz com eles enquanto eu sofria sozinho. Acha justo, Granger? Se sim, pode sair por aquela porta e nunca mais aparecer na minha frente. Aliás, acho que você já deveria ter o feito. Só está aqui porque o Weasley morreu, deve ser a carência.”


O Estupefaça lançado pela castanha foi desviado a tempo por Draco, mas resultou na destruição de alguns objetos da estante. Hermione chorava de raiva, enquanto o loiro a olhava buscando explicação.


“Vai querer me matar agora também?! Vai em frente, tenta.”


“Pare. Só pare. Pare de agir como se tivesse poder sobre mim!” Hermione gritou com a maior força que tinha, com os olhos marejados.


Draco havia exagerado, e aquilo era verdade. Mas faltava uma verdade em meio daquilo.


“Então, negue, Hermione! Negue que me ama, negue que precisa de mim, negue que você sempre quis que fosse eu ao invés dele! Que você preferiu se esconder ao invés de admitir que eu sou a pessoa que sempre fez bem a você.”


Essa verdade.


Draco caminhou lentamente até Hermione, que abraçava suas pernas enquanto engolia o máximo que podia das lágrimas. Ele a pegou no colo e levou até a cama, onde encarou a figura dela sentada por alguns instantes.


Isso até tomar para si os lábios que vinha desejando há muito tempo.


O beijo era repleto de necessidade. Tal sentimento era o que mais predominava entre ambos. Um necessitava do outro assim como precisavam de ar para sobreviver. Draco apertava cada vez o corpo de Hermione contra o seu, enquanto as lágrimas salgadas desciam sobre a face da mesma.


Hermione o queria da mesma maneira. Suas mãos acariciavam com urgência os cabelos do loiro, enquanto ele a deitava na cama, depositando beijos em seu pescoço. Era uma mistura de saudade e luxúria.


Ela ainda sentia ódio dele. O sentimento era recíproco. Mas aquilo nunca os impedira de possuir sentimentos um pelo outro. Talvez aquele vício os tornasse dois loucos, mas achariam seu lugar, da sua maneira.


E se não desse certo, esperariam por mais. Mais oportunidades, mais coragem, mais atitude.


Naquele momento, a única coisa que importava era estarem juntos como um só e nada poderia acabar com aquilo. Deixariam de lado o certo ou o errado, por hora.


Talvez isso que signifique “deixar nas mãos do destino”.

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