Lágrimas



Capítulo 7 – Lágrimas


Draco cutucava os dedos na mesa, olhando impacientemente para as pessoas da mesa. Odiava café da manha, nunca tinha fome esta hora. Passou a mão pelos cabelos dando um longo suspiro. O tempo não passava, faltavam apenas algumas horas para o jogo. Não qualquer jogo. O jogo.

“É bem simples.” Disse um garoto que estava na mesa do café. “´É só fazer mais de cento e cinqüenta gols e enrolar a menina para ela não pegar o pomo. Fim.”

“A parte de enrolar a menina é que é complicado...” disse um outro.

“Ela podia quebrar uma perna...” Draco ouviu um menino murmurar do seu lado.

Aparentemente ele não era o único pensando no jogo. Na verdade não sabia ao certo porque estava nervoso, geralmente ficava bem calmo. Nunca gostou desse negócio de ficar parado em cima de uma vassoura esperando uma bolinha aparecer para ele sair correndo feito um desesperado. É bem estúpido se você parar para pensar.

Procurou por Brena no salão, ela não estava sentada no lugar de sempre. Já estava quase no fim do café e ela tinha o costume de chegar cedo. Estranho.

“Viu que ela não veio para o café?” comentou o menino que estava ao seu lado. Draco não se lembrava do nome do garoto e não se importava, nunca soube o nome de ninguém e nunca teve problemas.

“Reparei.” Respondeu sem emoção.

“Sabia...” o menino se aproximou e Draco reclinou um pouco, olhando torto para o garoto, que pareceu não se importar. “... assim, eu ouvi falar que ela vem cedo e só come peras, não aceita nenhuma outra fruta.”

“Mesmo...?” Draco rolou os olhos.

“Também falam que ela costuma jejuar 3 dias antes do jogo... sem falar que ela gosta de tomar banho antes do jogo também. Tem um ritual imenso de coisas que ela faz...”

Quanta asneira, Draco pensou enquanto ignorava completamente o garoto ao seu lado. As pessoas criavam tantos boatos engraçados, nem metade era verdade. Olhou mais uma vez para o lugar de Brena e ela não estava lá, aparentemente o boato do jejum era verdade.

Esta foi uma das semanas mais longas de sua vida. Treinou insanamente com o seu time, este jogo tinha que ser diferente. Estudou tudo que ele não tinha estudado direito durante o ano. Fez o que pode para esvaziar sua mente mas bastava um milésimo de segundo de distração e ele se pegava pensando em coisas que ele não deveria pensar.

Pensou durante todos estes dias, provavelmente durante todos os segundos, como ele faria para dar a Brena o anel. Qual seria a ocasião ideal? Quando a chama-se para o baile? Ainda tinha isso... tinha que chama-lá para o baile. Dar o anel no meio do baile? As coisas podiam ser mais simples.

O seu pai mandou umas três cartas que ele fez questão de não ler, embolar e jogar na fogueira. Não precisava ler mesmo, era com certeza a mesma asneira de sempre: ‘Me dê relatórios!’, ‘Vamos dominar o mundo!’, ‘hauhauahu’, este tipo de coisa.

Ainda faltava uma hora para o jogo e ele não suportava mais ficar sentado, provavelmente já tinha furado a mesa de tanto que tinha batucado os dedos. Brena não estava ali e aparentemente não vinha. Levantou repentinamente, algumas pessoas da mesa o olharam.

“Aonde você vai?” um dos jogadores perguntou.

Draco virou as costas. “Não te interessa.”

“Interessa sim, nós temos um jogo daqui a pouco!”

“Ah sim... eu já vou para o vestiário de uma vez e não demorem muito para descer, ainda temos que definir algumas estratégias.”

O garoto pareceu satisfeito com a resposta. “Até em breve.”

Draco acenou positivamente e foi embora do salão. Caminhou lentamente pelos corredores, que estavam bem vazios. Era um dia ensolarado, os feixes de luz que passavam por entre as pilastras davam uma iluminação especial. Draco tinha que admitir que era bonito.

Ainda bem que não tinha que descer até o seu dormitório para trocar de roupa. Ele reconhecia que tinha preguiça então ia de uma vez para o café da manha de uniforme de quabribol. Não entendia porque ninguém mais fazia isso.

Os seus pés o levaram até a lagoa. Será porque...? Ele pensou calmamente já sabendo a resposta. Lembranças daquele lugar não largavam a sua mente.

‘Accio firebolt” executou o feitiço tranquilamente quando notou que tinha esquecido a sua vassoura. Sentou-se embaixo de uma árvore.

Até que era divertido voar. Não jogar quabribol, que era um jogo estúpido, mas simplesmente voar. Um segundo... quando ele tinha admitido que não gostava de quabribol? Pouco importava na verdade.

Draco se pegou cutucando a grama que estava ao seu redor. Porque ele sempre tinha que mexer em alguma coisa? Tirou sua mão da grama e cruzou os braços. Não era possível que ainda não era a hora do jogo. Reclinou um pouco para tentar ver o campo de quabribol. Infelizmente viu um par de pernas na sua frente e perdeu o equilíbrio.

“Você não devia estar no campo? Eu já vi gente do seu time lá.” Era ela, com o cheiro dela, com a voz impetulante dela e todo o restante do pacote que compunha Brena Blair. Ele olhou feliz para cima.

Lá estava ela de uniforme, ele nunca tinha a visto de uniforme de quabribol, muito menos neste ângulo. Como sempre linda, ele pensou. O preto do uniforme mesclando com os seus longos cabelos negros molhados. Molhados? O boato do banho provavelmente também era verdade... será que ela só comia peras? Estranho...

Ela lhe estendeu a mão e Draco apoiou-se. “Porque o cabelo molhado?”

“Eu costumo tomar banho antes dos jogos” Ela terminou de coloca-lo de pé.

Ele riu. “Por que?”

“Ah...” ela coçou a cabeça. “vou colocar o uniforme que acabou de lavar toda suja?”

“Você não esta suja.” ele riu novamente. “acabou de acordar.”

Brena coçou as costas. “Gosto de tomar banho. É normal...” passou a mão pelos braços. “Estranho... estou coçando...”

Draco inclinou um pouco para olhar se já tinha alguém campo. “Normal... pinica um pouco mesmo.” observou um pouco mais. “Pelo visto não chegou ninguém ainda.”

“Até agora?” ela voltou a coçar as costas.

“Nem sei quanto tempo falta.” Draco se sentou no chão e olhou para cima, seus olhos apertados por causa do sol. “Senta.”

Em resposta Brena apenas sentou. “Então...?” olhou para ele sorrindo.

“Treinou muito?” ele perguntou sem saber o que dizer. Melhor se tivesse-se ficado calado, coisa mais estúpida de ser perguntar.

“Não.” Brena respondeu com um descaso sereno. “Porque eu preciso treinar para jogar com você?”

Maldita mulher, sempre com uma resposta irônica pronta. “Você pode se surpreender...” ele deu um sorriso torto.

Ele ficou esperando uma resposta que demorou um pouco a vir. “Espero que sim.” Brena respondeu finalmente desviando o seu olhar.

Sem saber o que dizer novamente Draco resolveu sentar-se. As vezes não falar nada criava um clima tão tenso. “Senta.” Ele estendeu a mão para ela.

Draco imaginava ele puxando ela para ele. Pegando-a pela cintura, juntando os dois corpos. Passando a mão pelos cabelos dela, pela nuca, pelos lábios, pernas, rosto... para nunca mais soltar. Apenas alguns devaneios. Ela pegou na mão dele e sentou-se, por enquanto o toque da mão dela bastava.

A falta de assunto persistiu. Então, como sempre, ele disse a primeira coisa estúpida que lhe veio a mente “É verdade que você só come peras?”

“Como?” ela riu inclinando para ver o seu rosto.

Draco sorriu em resposta. “É verdade que você só como peras?”

“Não... eu como outras coisas também...” Brena passou a mão pelos cabelos. Ela sempre fazia isso quando não sabia o que responder.

“Não... tipo, pera é a única fruta que você come?”

“É a minha favorita...”

“Mas não é a única que você come?”

“Não.”

“Humm...” isso realmente algo estúpido para se perguntar. Finalmente lhe veio a mente algo que ele realmente queria saber “O que aconteceu naquele dia de Hogsmeade?”

“O que exatamente?”

“Você ter sumido. E no final apareceu toda molhada e suja.”

“Você também sumiu.”

“Não...” Draco parou e pensou criticamente. Ele realmente demorou para aparecer na estação. “Talvez eu tenha me atrasado um pouco. Mas você não respondeu a pergunta.”

Ela o encarou por um breve momento. Brena parecia esperar que ele soubesse a resposta. Mas ele não tinha a mínima idéia. “Vamos? Já deve estar na hora do jogo agora”. Brena levantou e esperou ele se levantar.

“O que eu fiz?” ele levantou e buscou o olhar dela que insistia em não encara-lo. “Por favor?” fez um último apelo e então ela o olhou.

Os olhos azuis dela, um pouco incertos, definitivamente temerosos. Assim como a sua voz que mal parecia um som audível. “Eu estava te procurando.” ela o olhou no fundo dos olhos de Draco, ansiando terrivelmente por alguma resposta, uma resposta que não fosse composta de palavras.

Draco ficou paralizado. Não sabia o que dizer, se é que devia dizer alguma coisa. Totalmente perdido e sem reação, ficou ali parado.

Brena riu calmamente, como se soubesse exatamente como ele iria reagir. Passou a mão pelo rosto dele. “Provavelmente nós estamos atrasados.”

“E quem se importa?” Draco não pode deixar a frase escapar. Sair de perto da presença dela para ir jogar um jogo estúpido não fazia o menor sentido.

“O público provavelmente.” Ela disse rindo. “Vamos!” e pegou em suas mãos. As maõs dela sempre tão quentes e as dele eternamente frias. Ele não se sentiu estimulado a ir embora, mas não parecia muito opcional.

“Tem certeza que você quer ir lá?” Draco teve que insistir mais um pouco. “Nós podemos simplesmente não ir.” sua voz soava cada vez mais suave.

Ela riu novamente. “O mundo não vai acabar Draco.”

Ela o puxou delicadamente mas ele não se deixou levar. Em resposta tomou a outra mão dela e a trouxe para perto. Subindo seus dedos pelos braços dela quis agora que não apenas os seus corpos estivessem próximos. Desejava mais do que proximidade, naquele momento ele queria tudo. Então, ele se permitiu este tudo.

Passou a mão pelo rosto dela, enquanto a outra a mantinha firme perto de si. “Para mim vai.” deixou seus dedos escorrerem entre os cabelos dela.

Olhou dentro dos olhos dela, aqueles lindos olhos que seguravam a sua alma. Ela sorriu e os fechou. Draco deixou os seus lábios percorrem os dela apenas por um sútil toque. Ele fechou os olhos e deixou que todos os seus sentimentos aflorassem.

O beijo, a princípio delicado foi se tornando a cada segundo mais intenso. Ele não queria que acabasse nunca. Aquele sensação que lhe preenchia. A certeza de plenitude, de estar completo e feliz. Ele não podia soltar. A segurava cada vez mais forte, como um apelo, um medo. Um sentimento desenfreado misturado com medo de perda o possuia.

Brena respondia em igual intensidade como se aquele momento fosse igualmente pleno. Reciprocamente indispesável. Necessariamente infinito. O som deixou de existir, tudo era apenas toque. Que escorria, passava, virava, fincava, deslizava... seguindo a explosão que os dominava.

Isto iria acabar? Precisava acabar? Brena separou seus lábios com um sorriso. “Não é o fim.” passou a mão pelos cabelos dele e lhe concedeu um beijo breve, porém carregado de promessas.

Draco a olhou nos olhos. A segurou nos braços dela levemente, sabia que ela não ia à lugar nenhum. Estaria sempre ao seu lado.

“Vamos nos divertir um pouco naquele jogo e depois voltamos aqui.” ela suspirou no seu ouvido. “Pode ser?”

“Pode.” Ele diria sim para qualquer coisa que ela lhe pedisse.




Uma multidão sempre é intimidante. O ritmo dos gritos percorrendo o chão como tambores desenfreados. Os pilares tremendo. Os batimentos cardíacos acelerando a cada estocada. Resta apenas fechar os olhos e abraçar a sensação, deixa-la dominar todos os sentidos. Jogar aquele jogo estúpido tinha os seus momentos de glória, ele tinha que admitir.

Draco sentiu que os outros jogadores estavam apreensivos, respirando ansiosos, esperando apenas o primeiro passo dele. Bom, o jeito era ir, agora ou nunca.

Escutar o seu nome ecoando pelos ares, o nome de sua casa ovacionado, tudo aquilo... no momento que ele dava o primeiro passo não soava como um estimulante e sim com uma pressão, um peso enorme em cima do seu nome. Algo nada mais do que cansativo.

Draco andou para o meio da quadra, acenando como sempre, escutando sem emoção a sua torcida enfurecida. Era o de sempre. Draco resolveu olhar então para o único detalhe que diferenciava este jogo de todos os outros: Ela. No momento ligeiramente desconcentrada, amarrando o cabelo. Brena soltou os ombros, alongando um pouco o corpo. Passou a mão pelas costas e em seguida nos braços um pouco incomodada. Este uniforme pinica um pouco mesmo, ele pensou.

Aquela mulher velha de sempre, que ele nunca se preocupou em saber o nome, jogou aquela bola maior para cima. Ele sempre confundia os nomes de cada bola, na sua opinião aquele jogo tinha bolas demais, a pessoa que inventou esta porcaria de jogo devia ter uma fixação por bolas... enfim, vamos procurar a bolinha amarela.

Bolinha amarela... bolinha amarela... esperar a bolinha amarela aparecer. O que as pessoas conseguiam ver de emocionante naquilo? Era bem entediante. Para distrair, resolveu dar umas voltinhas no campo procurando o pomo, enfim lembrou o nome de pelo menos uma bola.

Olhou para Brena e ela mexia-se freneticamente, coçando todo o seu corpo. Draco concentrado nela mal escutou alguém dizer 'cuidado!'. Baixou o olhar
devagar e não viu nada, voltou sua atenção para Brena. Um balaço vinha direto na direção dela e era tarde demais. Concentada em se coçar Brena não fez nenhum movimento para fugir.

Perdido na cena, Draco permaneceu paralisado em choque por tempo demais. Antes que pudesse pensar em tomar alguma atitude Brena já havia caido. Tomou um impulso vertical para alcança-la mas foi desnecessário, Dumbledore utilizou um dos seus feitiços retumbantes e Brena pairou segura no ar.

Draco mal via o chão, deu uma guinada para cima na esperança de frear aquela vassoura um pouco antes do chão. Não obteve muito sucesso, a vassoura saiu literalmente varrendo todo o gramado, mais precisamente cravando uma fenda nele. Pouco se importava, saiu capotando da vassoura em direção a multidão de pessoas que começava a aglomerar-se em torno de Brena.

Ele podia sentir cada batida de seu coração, pulsando todo o seu corpo, sua mente. Não mais conseguia focar, ver, ouvir. Nada tinha em mente, não tinha
condição de formular pensamento algum. Apenas sentia uma força que lhe impulsionava freneticamente em direção a ela. Um desespero que não parecia ter fim.

Como um embasado ele viu ela se levantar, empurrando todos ao seu redor. Ela tirava o seu uniforme rasgando-o do seu corpo. Mãos alheias tentavam auxilia-la, mas isto só a distanciou mais. Brena disparou a correr para longe de todos aqueles olhares. Draco apressou ainda mais o passo, se isso era
possível.

Era muito difícil não perde-la de vista, parecia que ela fazia questão de pegar o caminho mais tortuoso possível para qualquer lugar que seja. O coração de Draco batia tão rápido que o mundo parecia andar cada vez mais devagar, o mantendo eternamente distante.

Já tinha a perdido do seu campo de visão. Andando desnorteado pelo corredor aos poucos deixou a esperança de encontra-la esvair em lágrimas, lágrimas tão raras, que percorriam o seu rosto. Por algum motivo ele sentia que ela precisava dele, mesmo que Brena lhe negasse apoio, mesmo que ela lhe expulsasse, batesse. Pouco lhe importava.

Sentou em um canto do corredor, sem saber o que fazer. Passou a mão pelos cabelos, limpou as lágrimas que insistiam em atormenta-lo. Tormento maior era aquela sensação completa de incapacidade.

O silêncio preenchia a sua mente, com os olhos vagos ele olhava para o nada. Vazio de qualquer vontade. Respirou fundo e conformou-se em levantar. O seu corpo pareceu tão pesado. Arrastando os pés, caminhando para lugar nenhum. Ela estava brava com ele, pelo olhar que ela lhe lançou, melhor... pela falta dele. Draco nem se dava ao trabalho de se perguntar porque, não saberia responder.

Um momento. Por um instante Draco teve a sensação de ter escutado alguma coisa, algum tipo de gemido. Olhou calmamente para a porta de onde o barulho supostamente veio. Parou por um momento em frente a porta, esperando um outro sinal. Nada. Provavelmente foi apenas uma ilusão... mas, porque não olhar olhar lá dentro...?

Já se julgando demasiadamente estúpido colocou a mão na porta, só então notou que aquele era o banheiro feminino. Sentiu um frio percorrer o seu corpo.

“Ela não para de chorar!” ouviu uma voz estridente de mulher.

Draco olhou para trás e viu Murta-Que-Geme saindo pelo corredor a fora. Pode então escutar claramente gemidos de detrás da porta. Sentou-se na frente da porta, encostando o seu ouvido.

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