Os 12 Trabalhos de Héricles



O dia seguinte foi um esplendoroso domingo de sol, muito quente para um dia de início de primavera, e ela e Sirius sentaram-se lado a lado, de mãos dadas na grama em frente ao grande lago... estavam concebendo um plano para juntar Lilian e Tiago.
-    Podemos mandá-los para a floresta proibida... ela vai ficar com medo e ele pode agarrá-la...
-    Sirius, você tira essas suas idéias românticas de onde? Só o Hagrid acharia interessante começar a namorar dentro da floresta proibida...
Nessa hora, Remo andava pelo jardim sozinho, ele se tornara um pouco mais circunspecto depois do último verão, Sheeba chamou-o e ele veio, sorrindo.
-    O que o maior casal de idiotas da escola pode querer de mim? Não vou servir de juiz das brigas de vocês...
-    Queremos sua ajuda para juntar Lilian e Tiago...
-    Ah, vocês também já notaram isso? Bem, por mim eu prendia os dois num armário de vassouras...
-    Remo – disse Sheeba – isso não seria decente... – Sirius e Remo riram com vontade. Remo disse:
-    Dê um jeito de levar Lilian até a sala de transformação... deixe Tiago comigo e Sirius. Invente que nós vamos desentocar um bicho papão de dentro de um armário...
Minutos depois, Sheeba levava Lilian até a sala de transformação, mesmo com ela não muito disposta a enfrentar um bicho papão. Sirius e Remo estavam parados diante de uma das portas do armário que tomava uma das paredes da sala, algo batia na porta e dizia coisas difíceis de serem ouvidas do lado de fora... algo como “me tirem daqui, seus panacas” Remo olhou as duas muito sério e disse:
-    Tem um bicho papão muito interessante aí dentro... Lilian, você sabe pegar bichos papões?
-    Claro que sei, Remo, vocês me chamaram aqui para isso? – Remo e Sirius se entreolharam e Sirius disse:
-    Bem, na verdade, não... – ele rapidamente pegou Lilian e Remo, olhando para o lado oposto, girou a maçaneta e abriu a porta. Tiago estava dentro do armário, preso. Sirius empurrou Lilian lá dentro e ele e Remo fecharam a porta às gargalhadas. Sheeba estava horrorizada.
-    Tirem eles daí! Vocês ficaram malucos?
-    Na verdade eles não estão mais aí. – Sirius disse, obedecendo o mesmo procedimento para abrir o armário que Remo usara. O interior estava vazio.
-    Para onde eles foram? – perguntou Sheeba.

Quando Sirius empurrara Lilian para dentro do armário, a parede do fundo deslocara-se e ela e Tiago passaram a deslizar por um túnel que saía de dentro do armário, indo parar meio longe do castelo, entre o lago e a floresta proibida. Era uma das passagens do mapa do maroto. Deslizavam juntos, embolados numa confusão de braços e pernas, Lilian gritando, e Tiago imaginando as formas mais horríveis de matar os  amigos. Finalmente, caíram ao chão e Tiago disse:
-    Você está bem? – Lilian sentia-se moída, eles estavam caídos no chão,  bem próximos, ainda embolados um no outro. Ele estava com os óculos tortos no rosto, os cabelos dela haviam se despenteado e cobriam-lhe os olhos. Lilian começou a rir.  – O que foi? – Tiago perguntou timidamente.
-    Seus óculos... nós devemos estar muito engraçados aqui no chão... – ele riu também, até que parou e olhou para ela, e sem pensar no que fazia, a beijou apaixonadamente. Lilian entregou-se ao beijo, suspirando profundamente...  o chão em volta agora parecia macio,  ela abraçou Tiago, sentindo um perfume bom envolvê-los, o beijo durou tempo suficiente para que ela perdesse a noção de tudo que estava a sua volta. Até que ambos abriram os olhos, abismados com o que acontecera enquanto se beijavam.
Sob os dois, surgira um tapete de flores, que se transformara em um colchão e crescera enquanto o beijo durara, agora, havia milhares de borboletas  voando em torno deles, algumas pousavam nos cabelos de Lilian, outras nas flores.
-    Nós fizemos isso? – ela perguntou.
-    Acho que sim... emissão mágica involuntária... estou começando a achar que isso deve ser comum... Sirius e Sheeba fizeram cair um raio... ele me contou.
-    Isso é bem a cara deles...
-    Lilian, eu te amo, e há muito tempo.
-    Eu também te amo, Tiago... acho que temos que agradecer a eles... digamos que tivemos “um empurrãozinho” no início do nosso namoro.
-    Sim, mas eu não vou contar sobre isso – ele apontou as borboletas e flores – para ninguém... vai ser um segredo nosso –  disse, beijando-a novamente.

Por mais que Sirius, Remo e Pedro perguntassem, Tiago nunca contou aos três o que acontecera quando beijara Lilian, nem Lilian contou a Sheeba. Ficou sendo um segredo que preservaram com eles. O que importava, é que agora eram namorados. Para completar o ciclo de boas notícias, Sheeba finalmente foi autorizada a usar luvas menos refletoras, luvas de bons pressentimentos, que podia tirar quando quisesse, contanto que nunca para tocar ninguém sem autorização.
Naquela mesma semana, muitas novidades agitavam Hogwarts. Chegou um grupo para o intercâmbio, bruxos brasileiros, vindos da Escola das Artes da Magia Mãe D’água, que ficava num vale mágico no centro do Brasil. A diretora desta escola, muito amiga de Dumbledore mandara seus quatro melhores alunos para um intercâmbio de um ano em Hogwarts, eles estavam chegando quase no fim do semestre pois no Brasil o ano letivo era diferente. O grupo era composto por dois rapazes e duas moças (e posteriormente falaremos mais neles...)
Mas logo veio o fim do período e com os exames,  os brasileiros foram um pouco esquecidos, depois das férias eles teriam mais oportunidade de integrar-se em Hogwarts. Sheeba arrumava suas coisas na véspera da partida quando a cabeça já imaginando como seriam os dias que Sirius ia passar em sua casa. Ela avisara aos pais que estava namorando, e eles haviam manifestado desejo de conhecê-lo. Sheeba lembrara-se dos irmãos e da história das provas que eles prometiam submeter quem se atrevesse a namorá-la. Ela nem chegara a falar de Lúcio... pois sabia que a mãe iria odiá-lo, mas temia sinceramente que eles não gostassem de Sirius.
No trem, enquanto iam lado a lado numa cabine onde também estavam Tiago, Lilian, Remo e Pedro(este visivelmente contrariado), ela ia pensando nisso. Até que chegaram à plataforma e ele se despediu dela, que ia pegar outro trem até Sussex, prometendo que estaria com ela dentro de quinze dias.
    Sirius ignorou completamente as milhares de instruções que ela deu, e no dia combinado, chegou vestido como bruxo, uma vassoura no ombro, os cabelos displicentemente despenteados e uma maleta pequena na outra mão. Ele tinha vindo voando, escondido por um feitiço lusco sombrius (naquele ano foi avistado um ovni em Sussex!), ao invés de usar um trem ou ônibus como um rapaz normal. Tinha acabado de fazer 17 anos, a maioridade bruxa, e agora podia fazer feitiços fora de Hogwarts sem precisar usar artefatos camufladores para não ser pego. Tentou impressionar a futura sogra com isso.
    Assim que Sheeba apresentou-os, ele fez brotar algumas flores da ponta da varinha e deu para a senhora, que quase sorriu, mas não deixou de olhar com desconfiança aquele cabeludo de capa, ainda mais depois que ele perguntara a Sheeba porque ela estava com aquela roupa esquisita, que era nada mais nada menos que a melhor roupa de trouxa que a garota tinha.
    Quando chegou à sala da casa, Sirius sentiu que sua tarefa não era das mais fáceis... havia cinco homens sentados ao redor de uma mesa: o pai dela e seus quatro irmãos ainda solteiros, Ivan de 23 anos, Nikos de 21, Kaleb de 19 e Jamal que acabara de fazer 18 anos. Silas e Júlio eram casados e não moravam mais com a família, havia fotografias dos dois filhos de Silas sobre um móvel, e Sirius levou um cutucão de Sheeba quando perguntou porque as crianças estavam paradas nas fotografias.
    O velho Héricles olhou com bastante desconfiança o rapaz que pretendia levar a sua garotinha, e crivou-o de perguntas sobre sua família e o que ele pretendia da vida depois que se formasse que deixaram Sirius bastante embaraçado... ele não sabia até que ponto os trouxas entendiam sobre a carreira que ele pretendia seguir, de bruxo especializado em feitiços avançados, ou mesmo de criador de animais mágicos... aliás Sirius ainda não arrumara um nome mais simpático para se referir aos não-bruxos que “trouxa”, e toda hora se embolava quando a palavra quase vinha à sua boca.
    Kaleb e Jamal, por sua vez, ficavam fazendo sinais para Sheeba de que Sirius “estava ferrado”, e ela dizia apenas com os lábios para que eles parassem com aquilo. Sheeba observava o semblante sério do pai, perguntando-se até que ponto aquilo estava dando certo... até que Sirius começou a falar de futebol (coisa que ele não entendia nadinha, mas tomara umas aulas com um dos brasileiros que estava em Hogwarts, que além de futebol de bruxo sabia muito sobre futebol de trouxas) e o clima se desanuviou na sala... Sheeba suspirou aliviada.
    Quando o almoço chegou, com a fartura que era comum em tempos bons na casa dos Amapoulos, então realmente Sirius conquistou a família elogiando sinceramente a comida de Dona Abigail, que fizera os mais exóticos pratos egípcios, numa prova bastante semelhante à que submetera as duas noras... para ela, quem não suportasse o tempero do oriente não tinha força nenhuma. Então, depois que Sirius elogiou pela vigésima vez a sobremesa, um doce repleto de sementes de papoulas, e a velha finalmente sorriu satisfeita. E Sheeba ganhou permissão para passear com o namorado pelas ruas de Sussex.
    Sirius havia trocado uma quantidade de dinheiro bruxo por libras para poder ir à casa dela, e eles foram ao cinema, onde estava passando “A Profecia”, um filme de Terror muito comentado pelos trouxas aquele ano. Sheeba tinha que ficar pedindo para Sirius não dizer em voz alta que na verdade aquela maldição não se conjurava exatamente daquela forma... ao final ele protestou porque afinal filmes trouxas só contavam uma história. Eles deram a volta na praça quando estava anoitecendo, ele trocara as roupas por algo menos bruxo, mas igualmente estranho... uma calça jeans, camiseta preta e jaqueta de couro, com um cachorro gigantesco desenhado atrás.
    As fofoqueiras ex-colegas de Sheeba do curso primário passavam pela praça aos cochichos, querendo saber quem era aquele motoqueiro estranho que estava com a garota esquisita. Mas a maioria o achara bem bonito realmente, com seu cabelo grande e seu figurino extravagante. Os dois sentaram-se no centro da praça, havia mais de dois meses que estavam namorando e Sheeba ainda não o tocara sem luvas. Ela tinha medo do que pudesse ver.
    - Sheeba... eu queria te pedir que visse o meu futuro... eu nunca te pedi isso, mas é importante... eu preciso saber... – muda, Sheeba tirou suas luvas e tocou o rosto do namorado com as mãos nuas. Uma onda fria percorreu seu corpo e ela ouviu gritos, sentiu um medo indescritível... não podia, não conseguia decifrar a visão, até que viu um cão negro encolhido ganindo... e o mesmo cão ganindo no mar revolto... o futuro dele era tão importante e ligado ao dela, que ela não podia decifrá-lo. Apavorada, o abraçou.
-    Sirius... por favor, não me peça mais isso, por favor... – as mãos dela ainda tocavam o pescoço dele, e ela sem querer forçou-se a uma visão do passado, e ela viu algo aterrador, viu o que realmente acontecera ao irmão dele... – olhou-o nos olhos e disse: - Sirius... seu irmão...
-    Não me fale dos mortos... – ele tornou-se frio ao ouvi-la mencionar o irmão, e ela soube que ele desconfiava da verdade, que Caius Black se tornara um vampiro. – O que você viu no meu futuro que é tão aterrorizante?
    Ela contou-lhe a visão indecifrável e ele franziu o rosto numa expressão de muda incompreensão. Então ela fez o que nunca pensara em fazer... contou a ele seu encontro com Zara, quase quatro anos antes, e de como a bruxa lhe dissera que ela o esperaria anos...
-    Sheeba... acho que podemos mudar o futuro, ele está lá, mas não é imutável. Vamos prestar atenção nesta história do Lord das Trevas... eu particularmente acho uma bobagem essa histeria em torno dele, meu pai é um dos piores, pois teme ele, que foi seu colega de turma... dizem que tem gente aderindo, que ele está se tornando inumano, adquirindo poder – o rosto de Sirius tornou-se sombrio – mas não vamos deixar que isso nos separe... vamos viver nossos momentos – ele olhou-a com ternura e ela sorriu – quando estivermos juntos, vamos esquecer que existe essa ameaça... você concorda? – Sheeba balançou a cabeça como faria uma menininha. – eu te prometo que tomarei cuidado...
-    Sirius... quem será a criança da qual fala a profecia?
-    Não sei... talvez ainda nem tenha nascido. Vamos deixar para pensar nisso mais tarde, está bem? – o rosto dele se iluminou com seu sorriso contagioso e ela não pôde deixa de sorrir.
    Ele ficou na casa dela, incomodamente hospedado no quarto de Kaleb e Jamal, que o observavam o tempo todo, por mais um tempo, até que quase no fim do Verão, ele voltou para casa para preparar-se para seu último ano em Hogwarts. Havia conquistado a família dela, cumprira “os doze trabalhos de Héricles”... não sabia que demoraria muitos anos para voltar a ver os parentes dela novamente.

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