MALDITA NOVA IORQUE.
Hotéis, hotéis, hotéis... cada um mais vagabundo e sujo que o outro... tudo bem que aurores devem estar preparados para tudo... mas assim já era demais. Harry olhou-se no espelho e jogou água no rosto recém barbeado. Uma barata o contemplava balançando as antenas alegremente pousada num dos azulejos da parede.
‒ Se você soubesse do que é capaz um avada kedavra não estaria aí toda serelepe na minha frente. ‒ ele disse olhando para ela ‒ Céus, estou falando com uma barata... deve ser a convivência com Mr Sandman e O Demolidor.
Mr Sandman e O Demolidor eram dois de seus superiores, agentes disfarçados capazes de transfiguração total, ou seja capazes de mudar a forma do rosto e do corpo sem auxílio de poção alguma. Era uma magia poderosa e difícil de se executar, portanto eles deviam ser respeitados, apesar das suas inúmeras esquisitices...
Mr Sandman gostava de ser contatado através de música. Já fizera entre outras coisas, Harry cantar "Singin' in the rain" em pleno deserto de Mojave, "Y-M-C-A" no porto de Dublin e "I will survive" em uma boate em Londres... nesta mesma missão ele transfigurara Harry como uma drag queen e o largara com essa trasfiguração dificílima de se desfazer no meio de uma rua... pelo menos depois disso Harry melhorara em transfiguração pessoal, que nunca fora seu forte.
Como se fosse possível, O Demolidor conseguia ser ainda mais doido. Ele era um admirador de esportes radicais, daqueles que adoram estar sempre prestes a quebrar o pescoço... ele gostava de marcar encontros em lugares inusitados e nada divertidos, como dentro de uma fábrica de caldeiras, no alto de um tanque de óleo, num reservatório, pendurado num prédio de cinquenta andares... e sempre aparecia de cabeça para baixo, e exigia que Harry fizesse o mesmo... mas, como ele mesmo dizia, seus contatos eram "coisa de macho e nunca essas bichices do Sandman".
Mr. Sandman e o Demolidor não se davam, e sempre faziam de tudo para esculhambar um com o outro... chegava a ser divertido. Na última festa anual dos Aurours, eles haviam feito uma disputa de azarações que mandara ambos para o St Mungos, com furúnculos, cogumelos brotando dos ouvidos e chifres nascendo em lugares nada agradáveis para se ter um chifre espetado... depois de uma bronca incalculável do presidente da Associação, eles estavam mais serenos um com o outro.
Sandman o chamava de Vassoura, O Demolidor o apelidara de Pulguento... e ele mal ou bem se dava bem com ambos; numa missão comandada por Mr Sandman, ele derrotara o Camaleão, um bruxo que começara a instaurar um certo pânico na comunidade mágica, e que posteriormente descobriu-se ser nada mais nada menos que Lúcio Malfoy, pai de Draco e antigo comensal da morte, que não hesitara em quase matar o filho para conseguir mais poder.
Isso fora há mais de um ano... Harry agora era pai de um bebezinho de seis meses, Abel Fischer Potter, que era um retrato fiel de Harry a não ser pelos olhos, cor de mel como os de Willy, sua mulher, que por acaso era neta do falecido Lord Voldemort, e última descendente de Salazar Slytherin, como ele era o último descendente de Godric Griffindor. Seu filho era primeiro descendente a juntar o sangue de dois dos fundadores de Hogwarts, o que na prática, para ele, não tinha grande diferença.
O importante para ele, era que ele e Willy se amavam e tinham o filho mais lindo do mundo, e ele estava morrendo de saudades de ambos. Pensando nisso, foi até sua mala e retirou algo que ele comprara no ano anterior, quando Willy estava grávida e ele sentia saudades dela. Um espelho comunicante.
O espelho parecia um espelho comum, mas ele refletia exatamente o que outro espelho, do outro lado do oceano via... um espelho que estava na cabeceira da cama de Willy. Harry ficou olhando para ela dormindo, risonho. Sentiu uma vontade louca de acordá-la, mas olhando o relógio, viu que era o meio da madrugada em Hogsmeade... não era justo acordá-la, com certeza. Mas ficou olhando para ela dormindo com um sorriso nos lábios por um tempo. Então guardou o espelho e resolveu sair para seu trabalho daquela noite.
Trinta minutos depois, olhava o relógio. Estava no alto de um prédio de 50 andares, com vista para a grande obra que faziam adiante para reconstruir o WTC, destruído há alguns anos, aparatara no terraço. Era a hora marcada, o lugar marcado... agora faltava a parte mais difícil... o contato. Conjurou uma corda e amarrou num dos pés, depois amarrou num cano, bem ao seu alcance. Olhou para os lados... face norte... olhou para o céu e viu a lua, cheia, imensa sobre Manhattan iluminada, eram 23 horas de uma noite seca de outono. Foi andando em direção à face norte e apontando a varinha para si disse:
‒ Lusco sombrius! ‒ Harry tornou-se uma espécie de sombra escura, fundamental para passar desapercebido na etapa seguinte do processo. Observou que as cordas estavam bem presas (mas não faria diferença se caísse, estava com a sua velha roupa protetora, presente de sua madrinha). Ignorando o vento gelado, debruçou no parapeito do terraço e pulou.
Harry demorou um minuto procurando acostumar-se com a horrenda sensação de estar preso de cabeça para baixo a muitos metros do chão, meio invisível e pendurado em uma corda... foi quando ouviu uma voz.
‒ Você está exatamente trinta e cinco segundos atrasado. ‒ olhou para o lado e viu uma outra sombra como ele, parecida com um fantasma negro, não dava para saber que transfiguração exatamente ele estava usando, mas era de um corpo bem grande... era o Demolidor.
‒ Eu ainda não entendi o sentido prático dessa sua forma de fazer contato.
‒ Não é prático, mas é muito divertido.
‒ Fale por você mesmo... qual a missão afinal?
‒ Algo, digamos assim, inusitado.
‒ E você pretende me ajudar ou como sempre vai sumir?
‒ Você sabe que eu não posso participar de missões longas, vim aqui só para passar seu serviço. Devia me agradecer, afinal, você é muito mais elogiado quando trabalha comigo que com o panaca élfico que chamam de "Sandman"... isso é codnome de bichona.
‒ Porque você usa esses termos trouxas? Nenhum bruxo chama o outro de bichona...
‒ Isso não importa... eu aprendi essa com meu sogro. Mas vamos falar da missão, certo?
‒ Certo ‒ suspirou Harry ‒ rápido porque meus pés estão ficando dormentes...
‒ Que bichinha...
‒ Cala a boca, Demolidor.
‒ Ok. Estamos numa missão de colaboração...
‒ Com quem?
‒ Com a família.
‒ A família?
‒ Sim... os vampiros... bons ‒ Harry sentiu que ele falava isso com extremo desagrado.
‒ Os que não matam?
‒ Eles mesmo, embora eu não os ache confiáveis, até a irmandade os respeita...
‒ Eles nunca deram problema antes, não é mesmo?
‒ Exatamente... mas eles pediram ajuda a nós e a irmandade. Parece que tem alguém... matando-os.
‒ Porque alguém mataria vampiros inofensivos?
‒ Essa é sua missão. Descobrir porquê.
‒ Tem algo mais consistente?
‒ Bem, a primeira vítima se chamava Lenny Armand, era uma vampira que cuidava de moda, assistente de Liza LionHeart... vc a conhece?
‒ Liza é amiga de minha madrinha.
‒ Perfeito. Além dela, mataram Bruce Weaberson, Marshall Brooks e Layla Lestat... todos eram vampiros com mais de 150 anos, que não faziam vítimas fatais, um perfil típico dos da família... você sabe como eles agem...
‒ Vagamente, sei que sugam apenas um pouco de sangue sem matar.
‒ Perfeitamente... eles são diferentes dos vampiros da Aliança...
‒ Que matam e vivem passando uns aos outros para trás, mas nunca se metem com a família porque já têm problemas demais com a irmandade.
‒ Exato.
‒ E o que eu preciso fazer?
‒ Bem, existe um suspeito que jura inocência... mas ele é malvisto pelas duas correntes. Eles se auto denomina "O único"
‒ Seria Caius Black?
‒ O próprio.
‒ Eu o conheço... ele é irmão de meu padrinho.
‒ Eu sei disso ‒ disse o outro, demonstrando mau humorado.
‒ E o que você quer que eu faça?
‒ Ele pediu para conversar com um de nós, prometeu dar informações... ele deve saber quem está matando os vampiros. Conhece uma casa noturna chamada "The Bay Way"
‒ Eu passei por ela ontem, é aqui mesmo em Manhattan, certo?
‒ Isso. Você tem um encontro hoje à meia noite nela, com Caius Black, ele prometeu contar a você tudo que sabe sobre os assassinatos.
‒ Numa casa noturna? Como você espera que eu escute o que ele diz?
‒ Escute, ele é um informante... não vamos contrariá-lo, por enquanto. Pelo menos ele não marcou encontro num lugar típico de vampiros, ok?
‒ Ok, ok... mais alguma coisa?
‒ Sim, mantenha a prata em dia....
‒ Tenho tudo contra vampiros sob esta capa, você não conhece a paranóia do meu padrinho em relação a essa cidade... a maldita Nova Iorque dos vampiros.
‒ Acredite, eu sei o que ele quer dizer com isso. Bem, pulguento... pronto para o grande momento?
‒ Pronto... essa é a parte que eu mais odeio. No três?
‒ Certo. Um,
‒ Dois..
‒ TRÊS! ‒ disseram juntos e romperam as cordas que os prendiam ao terraço do prédio. Gritaram enquanto caíam 50 andares até o chão, onde, ambos vestidos com roupas protetoras, balançaram um pouco e caíram depois de amortizada a queda...o Demolidor aterrissou bem em cima de um mendigo que fuçava uma lixeira.
‒ EI! ‒ disse o mendigo olhando as duas sombras ‒ Meu Deus, almas penadas! Socorro! ‒ ele saiu correndo e o Demolidor pôs-lhe um feitiço simples de memória para ele não lembrar porque gritava. Olhando para os dois lados da rua deserta, eles voltaram a ser visíveis.
‒ Maldita Nova Iorque ‒ disse o Demolidor, olhando para os lados ‒ você não imagina como eu acho essa cidade maluca...bem, adeus e boa sorte. Foi divertido cair do prédio contigo...
‒ Não consigo compartilhar desta opinião, mas tudo certo ‒ disse Harry imaginando onde será que o outro conseguira uma roupa protetora idêntica a que ele usava, invisível e perfeita para quem costuma cair de prédios.
‒ Informe o agente local assim que tiver informações concretas...
‒ Ok!
‒ Adeus ‒ disse o Demolidor, desaparatando.
Harry virou-se enfiando as mãos nos bolsos, e foi andando pela rua deserta, na direção da casa noturna onde encontraria Caius Black.
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