CENTRAL PARK



 Ele aparatou no hotel e olhou o relógio: três da manhã. Willy dormia. Ele tirou a capa de invisibilidade, a roupa protetora e atirou-se vestido à cama, abraçando-a. Ela acordou assustada.
‒ Harry? Que horas são?
‒ Tarde.
‒ Descobriu alguma coisa?
‒ Que cada vez entendo menos essa missão. Sandman tem razão quando diz que a paz é relativa... Vou tomar um banho... não posso dormir vestido e de sapatos.
 Willy ficou na cama pensando preocupada que afinal a vida deles não seria nunca um mar de rosas.
 Na manhã seguinte ele acordou às dez e ela já estava trabalhando num outro projeto. Ela sorriu para ele e disse:
‒ Bom dia! ‒ Ele acenou calado. ‒ Tenho férias acumuladas na organização. Depois que você terminar essa missão vai pedir uma licença e eu vou querer uma lua de mel de verdade.
‒ Eu também. ‒ Ele riu. ‒ Acho que ontem esbarrei em algo grande.
‒ O quê?
‒ Nada.‒ ele sentiu uma dor no queixo e percebeu que onde a vampira arrancara o curativo agora havia uma pequena ferida infeccionada. Foi para a frente do espelho e viu que estava realmente feio. ‒ Essa não... Eu devia ter deixado você sumir com essa droga de machucado.. ‒ Willy levantou os olhos e o viu fazendo outro curativo no lugar.
‒ Ainda está em tempo...
‒ Não, agora não dá... tenho um encontro marcado, depois preciso sair para uma visita.
‒ Ai ai...
‒ Não reclame ‒ ele sorriu ‒ em breve vamos ter a nossa casa. Em duas semanas estaremos em Hogwarts, nos casando. Sirius me mandou uma coruja... Sheeba sabe de tudo, aliás, agora todo mundo sabe ‒ ela sorriu.
‒ Eu estou louca para ver todo mundo.
‒ Em breve... me dê um beijo... não saia daqui, está bem?
‒ Fazer o quê? Estou presa neste quarto mesmo...
‒ Eu volto antes da hora do almoço ‒ ele disse e desaparatou.
‒ Acho meio difícil, suspirou Willy, fazendo girar o novo tipo de bisbilhoscópio em que estava trabalhando.

Desaparatar em pleno dia costuma ser pouco recomendável, e Harry aprendera a fazer isso sempre em banheiros públicos. Desta vez desaparatou no banheiro de um McDonald's. Mas calculou mal: era um banheiro de mulher.
‒ Tarado!!! ‒ disse uma velha que estava saindo do reservado.
‒ Queira me desculpar... eu me enganei‒ ele forçou o seu mais carregado sotaque britânico e saiu correndo do banheiro "Se Sandman descobre isso vai me encarnar por uma semana". Ele passou por um vendedor no parque e comprou um saco de milho, seguindo as recomendações do contato. Sentou-se num banco  e atirou um punhado de milho ao chão. Uma nuvem de pombos voou e fervilhou na sua frente. Ele começou a cantar a senha, pensando: "Com tantos contatos, justamente eu tive que ficar com esse maníaco!":
‒ Fly awaay...
‒ Skyline pigeon fly!!! ‒ Ele ouviu uma voz responder atrás dele ‒ você consegue ser mais desafinado que seu padrinho, que é o cantor mais desafinado que eu conheço...
‒ Quer dar milho aos pombos? ‒ era a senha de confirmação
‒ Como um canário no cio... ‒ ele já estava acostumado com as senhas sem sentido algum de Mr. Sandman. Desta vez ele apareceu transfigurado como um sem teto velho, magro e barbado, de olhos azuis. ‒ Bom dia, Vassoura! Como você se feriu?
‒ Na verdade fazendo a barba... mas uma vampira mexeu no machucado.
‒ Uhu!!! A noite foi boa...
‒ Não comece... Era atrás dela que ele estava... ou melhor, ele foi se encontrar com ela. ‒ Relatou brevemente o acontecido na noite anterior, inclusive como foi ajudado por Caius Black. Enfim falou da figura que fugira pelo telhado e concluiu: ‒ Posso estar enganado... mas eu podia jurar que parecia Draco Malfoy...
‒ Você já deve ter notado que nesse caso as aparências não são nada... Temos um novo relato de signo sinistro... dessa vez não foi um auror que recebeu.
‒ Quem foi então?
‒ Seu padrinho.
‒ Quem mexeria com Sirius?
‒ Não sei... gostaria de saber. Quem mexeria com um bundão como ele?
‒ Meu padrinho não é um bundão!
‒ Eu sei... foi só para te provocar. Acho que sei quem é o casal que eles querem matar.
‒ Eu achei que fosse óbvio que seríamos eu e Willy...
‒ Não, Vassoura... você não é tão esperto como parece... também, você não sabe que eles estão aqui... seus amigos, os Weasleys.
‒ Rony?
‒ Não, meu jovem. O ministro e a esposa.
‒ O que eles estão fazendo aqui?
‒ Missão diplomática.
‒ Por isso a  bruxa estava transfigurada em Rony!
‒ Exatamente. Mas eles devem ter abortado o plano. Ou então têm alguma carta na manga.
‒ Temos que providenciar proteção para os Weasleys. É o ministro da Magia, afinal de contas...
‒ Não se preocupe. Moody está com eles. Eu tinha avisado para ele não deixar nem os filhos se aproximarem do ministro.
‒ Ótimo. Como você soube qual o quarto... não entendo. Como você soube de tudo?
‒ Simples... Você sabe que tenho meus contatos no mundo dos trouxas... alguém alugou um quarto em nome de Rony Weasley naquele hotel. Só que Rony Weasley está no Marrocos filmando. Monitoramos o lugar e vimos que um bruxo de energia não identificada estava ocupando-o...  Ele fez uma coisa típica de bruxo que quer nos evitar. Marcou um encontro pelo telefone, mas o auror que o estava investigando interceptou a ligação. Temos descobrir sua identidade. Achávamos que era um homem, chamávamos de "O Camaleão". Eu sempre achei que fosse um homem. Estamos atrás dela há cinco anos...
‒ Então... ela trabalha sozinha?
‒ Não sabemos. Mas ela é uma assassina de aluguel... trabalha para trouxas, provoca mortes "acidentais". Crimes perfeitos.
‒ Uma bruxa que mata para trouxas?
‒ O mercado de assassinato entre os bruxos caiu um pouco depois que o velho Voldie foi posto fora de combate...
‒ Voldie?
‒ Voldemort... você é fraco de percepção ou o quê?
‒ Eu nunca tinha visto alguém que tratasse Voldemort com deboche...
‒ Hahaha. Você precisa ver do que o Moody chama ele quando bebe... tome, instruções para nosso próximo encontro. Verifique Malfoy... See you later, alligator. ‒ o velho levantou-se e só então ele lembrou de perguntar o que podia usar contra a infecção da ferida... virou-se, mas o velho já tinha desaparecido, deixando sobre o banquinho um frasco de poção e um bilhete: "Mais cuidado da próxima vez!".

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 Não era fácil falar com Draco Malfoy no ministério da magia americano. Ele era o representante da Inglaterra no departamento de colaboração internacional e naquele dia estava particularmente ocupado com a visita do Ministro da Magia Inglês que vinha tratar de uma nova lei internacional de repressão às artes das trevas. Havia uma certa resistência por parte do ministério americano, porque para eles era muito complicado mexer na lei interna de liberdade de expressão, mais conhecida como "O Código".
 Draco tornara-se um burocrata. Ele lidava diariamente com centenas de papéis e casos bastante irritantes, porque qualquer problema com bruxos ingleses vinha parar na sua mão. Às vezes pensava que afinal não ganhava para isso e pensava que era melhor viver mesmo da fortuna que seu falecido pai havia deixado... mas lembrava-se que ele conseguira a proeza de ser mal visto tanto pelos bruxos como pela Irmandade da Raposa ao casar-se com Sue Van Helsing, uma trouxa caçadora de vampiros que por infelicidade era a primeira Van Helsing a casar com um bruxo em 600 anos de existência da irmandade. Harry estava esperando há mais de meia hora quando uma secretária extremamente feia e antipática (Será que Sue escolhe as secretárias de Draco?) o mandou entrar.
 Draco estava atolado atrás de uma montanha de papel, com um exemplar do código aberto na sua frente e folhas flutuando por todo lado. Tinha uma conferência via lareira com Arthur Weasley, que fora quem pedira para deixar Harry entrar.
‒ Olá Harry ‒ ele disse e Harry não pôde deixar de notar as olheiras negras que adornavam a sua face. Ele parecia ter dormido mal.
‒ Olá. Bom dia, Ministro!
‒ Ora Harry! ‒ Disse a cabeça de Arthur Weasley, de dentro da lareira ‒ eu te conheço há mais de dez anos... por favor, me chame de Arthur.
‒ O Senhor foi avisado?
‒ Ah, claro, claro... além do mais, vamos embora amanhã cedo... não se preocupe, Moody está conosco o tempo todo.
‒ Ótimo.
‒ Bem, Harry e Sr Malfoy ‒ Harry não deixou de notar que Arthur era apenas educado com Draco ‒ eu já havia acabado a conferência. Queria apenas dizer um alô para você, até mais! ‒ Com um "pop!" Arthur Weasley desapareceu.
Draco afundou na cadeira e apoiou o rosto nas mãos.
‒ Tenho trabalhado demais para ver essa maldita visita fracassar...
‒ O que houve?
‒ Não houve... as negociações não avançam... os Americanos vão continuar frouxos em relação às artes negras... eu ainda vou me mudar para o Brasil... dizem que o ministério de lá é uma zona mas pelo menos eles colaboram com tudo que a gente propõe... aqui eu ainda tenho que me preocupar com os malditos terroristas trouxas... ainda bem que eles não conseguiriam jamais sequestar o um trem do metrô bruxo ou coisa parecida... uf!
‒ Você sabe que minha visita não é social.
‒ Eu sei... recebi uma coruja. Queriam matar o ministro.
‒ Exatamente. Contrataram uma pessoa, o Camaleão.
‒ Putz... será que vai começar de novo??
‒ Não sei... mas isso não é coisa de Voldemort...
‒ Será que tem algum outro maluco tentando se tornar poderoso?
‒ Meu contato acha que sim.
‒ Estava tudo bom demais para ser verdade. Eu ando exausto.
‒ Dá para notar... tem saído para caçar vampiros?
‒ Às vezes. Ontem eu saí... mas não peguei nenhum. Sue é melhor nisso que eu. Mas voltamos cedo, ela reclama, mas não dá para ficar até amanhecr na rua...
‒ Ninguém consegue pegar Caius Black... ontem estive com ele.
‒ Você não sabe sobre ele?
‒ Não, o que tem?
‒ Ele não é mais da Aliança... não disputa mais poder, nem tem mais escravos. Sua última vítima fatal foi aquela que ele fez em Hogsmeade. A tia de Willy.
‒ O que ele faz agora então?
‒ Uma tática dos vampiros do clã chamado "A família". Ele suga um pouco de sangue de mocinhas depois as faz esquecer tudo, elas pensam que tiveram um sonho... nós deixamos esses para lá, eles não matam nem contaminam ninguém. Já temos problemas suficientes com os outros...
‒ Eu não sabia disso... Draco,  você conhece alguém que use flechas para matar vampiros? ‒ Harry perguntou, sem querer falar da desconfiança que sentira de ter seguido Draco na noite anterior. ‒ Ontem eu vi uma vampira ser morta por esta ponteira de prata, você conhece?
‒ Só conheço um sujeito que usa flechas: Steve, tio de Sue. E ele mora em Londres. Ele não usa esse tipo de ponteira. Você viu se o cara usava arco ou besta?
‒ Não vi arma nenhuma com ele... acho que era um bruxo.
‒ Um bruxo? Que eu saiba sou o único bruxo que caça vampiros em Nova Iorque. Isso é muito estranho.
‒ Concordo...
‒ Vamos almoçar comigo e Sue?
‒ Deixei Willy no hotel ‒ Draco sorriu
‒ Então, vocês estão juntos?
‒ Nos casamos em Las Vegas ‒ Draco deu uma gargalhada.
‒ Essa é ótima... traga ela também, vamos a um restaurante aqui perto. Te encontro à uma, lá. ‒ Ele passou um cartão com o endereço do restaurante para Harry.
‒ Está bem.

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