OS EMPAREDADOS
Sirius olhou o rosto de Caius. Era o mesmo rosto que se lembrava de mais de vinte anos atrás. Ele sorria, mas o sorriso não parecia o mesmo. Com um movimento, Caius soltou as amarras que prendiam Willy, que correu na direção de Harry.
‒ Pode ficar tranqüilo, Potter. Eu não fiz nada à sua namorada, pode olhá-la ‒ Harry olhou para Willy, que estava nervosa e respirando como um bichinho, mas confirmou com a cabeça o que o vampiro dissera. Harry olhou-a nos olhos e disse:
‒ Corra, volte para o castelo.
‒ Harry, não!
‒ VÁ! ‒ Harry empurrou-a na direção do castelo. Caius sorriu.
‒ Eu também fiz loucuras por causa de uma mulher, Harry Potter... creio que você vai se arrepender deste amor todo... Muito bem... eu preciso levá-los, sinto muito... Harry, você tem uma coisa que me pertenceu... pode devolver meu anel?
‒ Não está mais comigo. ‒ Harry encarou o vampiro serenamente. Sirius olhou o irmão triunfante e mostrou o anel que dera a Harry em seu dedo:
‒ É isso que você procura, irmão? ‒ O vampiro ficou furioso.
‒ DEVOLVA, SIRIUS.
‒ Não, você sabe que agora só tem um jeito de tirá-lo de mim... e enquanto eu usá-lo você não pode me vampirizar, não é mesmo Caius? Você pensou que eu não soubesse da proteção. Afinal nosso pai guardou este anel para você... a contramaldição. Quando você me deu, achava que você não precisaria dele, era o mais velho, o mais forte, o mais esperto, não? Não me contou nada achando que eu não fosse gostar de saber que nosso pai dera o anel para você, porque preferia que de nós dois, eu fosse o vampiro.
‒ Cale a boca, Sirius... com ou sem anel, eu vou te levar... você não quer ver seu afilhado morrer? Eu queria levá-lo comigo, mas ele faz parte de um acordo. ‒ Sirius olhou Caius, e serenamente, deixou-se amarrar. Caius tomava cuidado para não tocar na mão onde estava o anel, e Harry anotou isso mentalmente. Da névoa, ao lado de Harry, uma mulher de aparência oriental, muito bonita, surgiu, e segurou-o pelo braço, do outro lado ele pôde ver a vampira que quase sugara Rony, seu rosto estava totalmente coberto de queimaduras, um dos olhos estava fechado. Eles foram andando pela floresta, Harry via entre as sombras a silhueta de outros vampiros. Naquele momento, dentro do castelo, John e Atlantis se atiravam na passagem, que Dumbledore fechava com um feitiço. Agora, Hogwarts estava definitivamente lacrada.
Harry e Sirius foram andando escoltados pelos vampiros até que no coração da floresta surgiu uma enorme entrada, com uma escadaria que parecia descer metros e metros na escuridão. Conforme iam descendo, Harry notou horrorizado, que das paredes saíam gritos medonhos, animalescos, hediondos. Entendeu porque nem a Murta entrava ali, era realmente assustador. Desceram muito, a escada subitamente se converteu em um corredor estreito, que descia suavemente, iluminado por tochas de luz azulada. Harry ainda ouvia os gritos, era impossível não ouvi-los, estremeceu ligeiramente.
‒ Você está ouvindo os gritos, Harry? ‒ Caius disse sem se virar para ele ‒ eles te gelam a alma, não é mesmo? Quando fechei meu acordo com Lord Voldemort, eles fizeram parte... os emparedados, os esquecidos...
‒ Quem são eles?
‒ Curioso? ‒ Caius se voltou sorrindo e Harry assustou-se, pela primeira vez vira as presas de vampiro que ele tinha. Parecia muito menos humano agora. ‒ Lord Voldemort me falou de você... não quer escapar dele, Harry? Que tal se tornar um vampiro?
‒ Lembre-se do que eu te disse sobre isso, Harry ‒ Sirius disse e Caius o contemplou, risonho.
‒ Sirius... você sabe qual foi a última vez que eu te vi? Pode adivinhar?
‒ Meses antes de você morrer, quando me deu este anel.
‒ Não, Sirius, não foi... eu te vi ainda três vezes depois desta... e eu não morri.
‒ Para mim, morreu ‒ Caius tornou a rir, e empurrou uma porta enorme de pedra, que se abriu em par, entraram numa grande câmara circular, com um túmulo negro bem no meio dela, ao entrarem, a porta se fechou com um estrondo. Harry olhou em volta e viu que pelas paredes se moviam sombras negras, incessantemente. Pôde notar que essas sombras é que davam os gritos que ele ouvia, abaixo dos gritos, um som ribombante bem baixo ecoava, como se um metal estivesse sendo batido. Na parede oposta havia uma outra porta, fechada.
‒ Bem vindos à câmara dos emparedados ‒ disse Caius, sorrindo ‒ atrás dessas paredes, vinte mil vampiros com um fome de dois mil anos esperam quem os liberte.... Eles estão aqui há muito tempo, antes de Hogwarts, antes da magia chegar a esse lugar... poucos sabem quem os prendeu... mas alguém sabe como libertá-los.
‒ Voldemort ‒ Sirius olhava Caius sério.
‒ Exatamente, meu irmão... imagine o poder que um vampiro com vinte mil escravos pode amealhar... Eles estão aguardando um mestre, um messias vampiro que os liberte... Voldemort me disse...
‒ E você acredita ser esse messias, Caius?
‒ Eu não sou, Sirius... você é. ‒ Caius deu um talho em sua própria pele com uma das unhas sobre o túmulo negro. De suas veias verteu um sangue preto e viscoso, que ao tocar a superfície do túmulo ferveu , fazendo aparecer inscrições em relevo na pedra:
"Negra é a noite, negro é o sangue
Da treva para a treva,
do sangue para o sangue
Quando o último dos amaldiçoados
Cair na treva sobre esta pedra
libertará cada um dos emparedados
sangue do sacrifício na noite eterna"
Sirius olhou as inscrições, depois olhou de novo os olhos frios do irmão.
‒ É isso? Você me quer para isso? Quem te garante que esta maldição é a da nossa família, Caius? Nossa maldição é recente e essa pedra está aqui há muito mais de mil anos.
‒ O Lord das trevas achou essa câmara quando ainda era estudante em Hogwarts,. Quando eu ainda era um bruxo, também estive aqui, Sirius... eu usava o anel que está em seu dedo... Surpreso? eu nunca me esqueci dos gritos, Sirius, nunca. Então, quando eu descobri para que servia este anel, eu resolvi dá-lo a você... eu achava que você cairia com muito mais facilidade que eu.
‒ Sim, mas eu não caí, Caius, vinte anos e eu não caí. Dementadores não me derrubaram...
‒ Dementadores são criaturas menores...
‒ Você é uma criatura menor... que poder você pensa que tem? você está MORTO, Caius Black, morreu há mais de vinte anos... você não é eterno, é apenas perdido.
‒ Sirius, olhe para você e olhe para mim... há vinte e três anos eu te deixei em Hogwarts e você era um menino... hoje você está ficando velho, e eu continuo jovem, daqui há vinte, trinta anos, você estará morto, e eu continuarei jovem...
‒ Você não é jovem, é apenas um cadáver que anda... não há nada do meu irmão em você, nada.
‒ Você nunca quis saber como eu me tornei um vampiro, Sirius? Imagine se a mulher dos seus sonhos te pedisse a sua alma... você daria?
‒ Não acredito que você foi seduzido por uma vampira.
‒ Ela não era uma vampira... mas quando se tornou uma, eu a segui de bom grado. John não sabia dela, ninguém sabia, eu a escondi de nosso pai, afinal, ela era uma trouxa. Mas quando viramos vampiros, passamos a ser iguais, para nós não há trouxas nem bruxos... há apenas sangue. Nossa casa é Nova Iorque.
‒ Aquela maldita cidade...
‒ Sabe porque nossa família nunca abandonou os negócios em Nova Iorque, Sirius? Destino. Nossos tios foram para lá para seguir o seu destino.... não há mais nenhum sobre a terra...
‒ Você traiu a todos, não é mesmo? E é isso que você pretende fazer comigo, vai me vampirizar, libertar os emparedados e depois me matar... então, vai sair daqui com um exército de vampiros... seria engenhoso, se não estivesse errado, Caius... eu não sou mais o último ‒ Caius ficou lívido.
‒ Você é o último.
‒ Se eu não soubesse que você não pode, pela lei dos vampiros, vampirizar uma mulher grávida, eu não te diria isso: Sheeba espera um filho meu, Caius... sua profecia está perdida, pelo menos nessa geração, e tem mais, não acredito que essa pedra tenha uma mensagem real... você foi enganado pelo mestre das trevas...
Harry, que presenciara todo este diálogo, olhava apreensivo para as paredes, não havia forma de escapar dali... quem sabe a porta fechada do lado oposto? ele sabia que Sirius tentava ganhar tempo, mas não tinha idéia do que faria... então, atrás dele, um fantasma saiu de dentro da parede. Era a Murta. Estava ainda mais lívida que um fantasma podia estar. Seus olhos estavam vidrados e ela olhou aterrada para o vampiro.
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Enquanto isso, John avançava pela floresta, cavalgando um imenso cavalo, que era Atlantis em sua forma animal. Ia calculando mentalmente quantos vampiros teria que matar até chegar a Caius, ele se preocupava com Atlantis, ele tinha sangue imune, o bruxo não. Esperava que ele se conservasse na forma animal, ou estaria perdido... se chegasse a Caius antes de Voldemort, teriam alguma chance. Dentro de seu sobretudo, duas espadas longas , punhais e estacas de prata faziam peso, preso às suas costas, o pesado machado implorava para ser usado. "Quando chegar a hora, ele pensou, quando chegar a hora"
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