O ROTEIRO DE SIRIUS
Para tristeza de todos, deixaram o Brasil no fim de semana, mas Souza os fez prometer voltarem no ano seguinte, quando ele os levaria à Amazônia, para conhecer a tribo mágica dos índios caiporas, os bruxos mais antigos do Brasil, que estavam por lá há pelo menos mil anos, e ainda enganavam os trouxas.
Viajaram um dia quase inteiro, o que dentro do trailer não era ruim, mas em certos momentos cansava. Ainda mais sabendo que por problemas de fuso horário, mesmo tendo saído do Brasil à noite chegariam à ilha no anoitecer do dia seguinte. Estavam viajando há quase oito horas, Rony e Hermione dormiam (Harry ainda não chegara a uma conclusão se haviam ou não voltado o namoro) e ele e Willy já estavam cansados de jogar o joguinho dela, que jogou a tela de vidro e a varinha para o lado, dizendo:
‒ Nossa! Essa ilha do Sirius deve ser no fim do mundo!
‒ É em algum lugar do pacífico, pelo que eu entendo de geografia, é bem longe do Brasil.
‒ Harry, quem você levaria para uma ilha deserta?
‒ O quê?
‒ Essa é uma pergunta idiota que eu ouvi uma vez...
‒ Ah! Acho que eu levaria vocês... todos vocês.
‒ E se só pudesse levar uma pessoa? ‒ Harry repentinamente olhou para Willy e viu nos olhos da menina algo que ele não entendia... ou melhor, não queria entender.
‒ Eu acho que levaria Voldemort.
‒ Voldemort? ‒ Willy pareceu decepcionada.
‒ É, assim acho que eu e ele resolveríamos esse problema, sabe? Eu sou o problema dele, o grande problema de Voldemort. Se pudéssemos resolver este problema, mas resolver de vez mesmo, acredito que eu poderia... quer dizer, se eu sobrevivesse, eu poderia me preocupar em ser apenas Harry Potter.
‒ Você queria que ele morresse?
‒ Difícil não querer... mas acho que eu queria que ele nunca tivesse existido, o que é diferente.
‒ Se ele não tivesse existido, talvez não estivéssemos aqui.
‒ Talvez estivéssemos com nossos pais, que estariam vivos.
‒ Mas ele existe, Harry. E nós temos que viver com isso...
‒ Você está com fome? Tem uns sanduíches aqui... ‒ Harry abriu um compartimento onde Sheeba havia posto uma dúzia de coisas para um lanche, prevenindo-os que não iriam parar até a ilha. Ele e Willy ficaram comendo sem se olhar. Repentinamente ela estendeu a mão em direção ao rosto dele, que pulou.
‒ Que foi, Harry? Só queria tirar uma migalha aqui do lado da sua boca ‒ Willy parara com a mão a um centímetro do rosto dele.
‒ Eu me assustei... pode tirar ‒ ela riu e tirou a migalha do rosto dele. Nesse momento eles se encararam. Harry não podia tirar seus olhos do rosto de Willy, uma força, algo os atraía para ela (mágica?). Um silêncio bastante incômodo e significativo pairava entre eles. Willy ainda estava com a mão no seu rosto.
‒ Estão brincando de estátua? ‒ a voz de Rony fez com que os dois pulassem.
‒ Rony, você quer nos matar do coração? ‒ perguntou Harry, pensando “Por que, por que não é fácil como foi com Bianca?”
Quando finalmente chegaram à ilha, já estava anoitecendo. Haviam voado por doze longas horas. Sheeba armou rapidamente a casa, conjurou uma porta na frente, porque ali não havia problemas de segurança, e foi cuidar do jantar, agora ela teria que cozinhar, mas isso não era difícil, porque a casa fazia a parte mais chata do serviço. Smiley saiu da casa, dizendo-se cansado... vendo Sheeba entrar, foi atrás. Sirius conjurou rapidamente mesas, cadeiras e espreguiçadeiras para verem o por do sol. Então sumiu na casa e trouxe Sheeba, que veio sob protesto.
‒ O jantar pode esperar. O pôr do sol não espera. ‒ ele puxou-a para um espreguiçadeira larga, e os dois deitaram-se abraçados. Sheeba apoiou a cabeça no ombro dele e ficaram olhando o pôr do sol. Harry olhou-os sentindo-se feliz pelos padrinhos. Pensou que quando gostasse de alguém, teria de ser daquele jeito, então, sentiu um olhar sobre ele e viu Willy, um pouco além, sentada num lugar onde já estava escuro, Hermione estava ao seu lado. Ele queria ir até ela, mas seus pés não o obedeceram, e ele ficou onde estava, ao lado de Rony, que perguntou baixinho:
‒ Porque você não tenta alguma coisa com Willy, Harry? Está na cara que ela gosta de você.
‒ Rony, eu não consigo! Não entendo porque, mas não consigo! E você, está ou não com Hermione?
Ainda não decidimos! Do jeito que está, nós não brigamos... mas ela também não me beija, o que é um saco! Sabe o que eu acho que a gente deve fazer?
‒ O quê?
‒ Perguntar a Sirius. De nós três, ele parece ser o mais bem sucedido.
‒ Não é para menos Rony, ele tem trinta e seis anos!
‒ Por isso mesmo, pode nos dar umas dicas...
No dia seguinte, nem bem amanheceu e Harry foi acordado por uma luz intensa invadindo o quarto, Sirius puxava a cortina para acordar ele e Rony, usava um macacão de surf, com um creme branco espalhado no nariz e em parte do rosto, disse a ambos:
‒ Acordem, vamos aprender a surfar. Vocês vão adorar!
Rony adorou, Harry, decididamente, não. Mesmo com uma prancha encantada por Sirius, Harry era o pior surfista da face da terra, perdeu a conta das vezes que desabou da prancha e engoliu mais água salgada que imaginaria poder, ralando-se na areia do fundo. Rony ao contrário, desde que subira na prancha, aprendera facilmente a fazer os mesmos movimentos de Sirius, inclusive levantar vôo da água e dar a volta suavemente pelo ar... Harry acabara de tomar seu vigésimo quinto caixote, rolando na areia, dando graças a Deus que não perdera ainda os óculos de grau escuros que Sirius lhe dera, quando caiu bem aos pés de Willy, que entrava na água.
‒ Kakaka! Eu nunca imaginei que você fosse tão ruim!
‒ Na verdade ‒ disse Harry erguendo-se e tentando manter alguma dignidade ‒ Eu não sou realmente ruim... sou horrível! ‒ Pôs os óculos, que tentara limpar inutilmente e encarou Willy, que ainda ria. Ela estava de biquini, parada à frente dele, que não pôde deixar de pensar “Uau!”.
‒ Kakaka! Já que você é horrível... me empresta a prancha para eu tentar?
‒ Tudo bem, é sua ‒ Harry ficou imaginando se Willy iria beber tanta água quanto ele. Mas depois que Willy remou na prancha até Sirius e começou a surfar com uma facilidade desconsertante, Harry foi refugiar-se debaixo da barraca de Sheeba, que não estava lá. Encontrou Hermione, lendo um livro grosso.
‒ Hermione, você não descansa?
‒ Harry, eu preciso estudar, este ano vou ter menos tempo... Você sabe, agora eu sou monitora...
‒ Você é monitora?
‒ Rony não te disse? Eu passei na prova no fim do semestre.
‒ Ele não me disse... E vocês dois?
‒ Harry, eu não quero falar sobre isso... acho que eu não tenho tempo para namorar. Tenho que me dedicar aos estudos e...
‒ Hermione, do que você está fugindo?
Hermione não pôde dar a resposta, neste exato instante os dois deram um pulo quando um enorme tigre branco saiu de dentro da mata atrás dele com alguns coelhos seguros na boca. Ambos gritaram, no exato instante que o tigre transformou-se em Sheeba, que ria muito.
‒ Será que vocês não perceberam que era eu?
‒ Sheeba! Quer nos matar? ‒ disse Hermione ofegante ainda do susto. ‒ O que você estava fazendo no mato transformada em tigre?
‒ Caçando coelhos para o jantar... Eu queria fazer algo diferente, já que ele ‒ apontou com o queixo na direção do mar ‒ só pensa em surfar, alguém tem que sair para caçar... e como tigre sou bem melhor nisso.
Não continuaram a conversa sobre Hermione e Rony, pois ela não deu oportunidade, preferiu falar do que sabia sobre o próximo semestre, já que monitores tinham acesso a algumas informações que os outros alunos não sabiam.
‒ Sirius vai lecionar defesa contra artes das trevas.
‒ Mais um motivo para deixar Snape insatisfeito...
‒ Harry, eles fizeram as pazes.
‒ Você acredita nisso mesmo? Na primeira oportunidade, eles vão se desentender de novo.
‒ Sheeba vai dar aulas de adivinhação. Seus dois padrinhos vão ser seus professores, Harry!
‒ Ótimo!
‒ Teremos também uma atividade extracurricular opcional.
‒ Quê?
‒ Teatro. Vai ser um antigo professor nosso que vai coordenar.
‒ Que professor? Lupin? ‒ Harry tentou imaginar Lupin com uma caveira na mão interpretando Hamlet, e não conseguiu.
‒ Não, o professor Lockhart.
‒ O quê? Como Dumbledore tem coragem de chamar aquele enganador para dar aulas em Hogwarts?
‒ Na verdade, acho que foi por pena... Ele ficou dois anos no hospital St Mungos recuperando-se daquele feitiço de memória... depois quando saiu, foi processado pela Floreios e Borrões, que teve mais de vinte mil livros dele devolvidos, eles pagaram uma advogada bruxa que é simplesmente implacável... Marsha Cage Fish... bem, ela o deixou na miséria e ele estava vivendo na casa do bruxo carente até que Dumbledore teve pena dele, e decidiu chamá-lo para voltar a Hogwarts. Como Dumbledore sempre quis criar um grupo de teatro amador na escola, você sabe que ele ama arte...
‒ E jamais confiaria naquela besta do Lockhart para lecionar nada sério.
‒ Ou isso, enfim, ele salvou o professor da falência total. Além dessa há outra novidade...
‒ Mais uma?
‒ Há alguns anos, Hogwarts também costumava receber pesquisadores, principalmente quando o você-sabe-quem...
‒ Hermione, você já esteve frente a ele algumas vezes... ainda o chama assim?
‒ Ah, Harry, não enche, na época em que ele estava com sua força plena, os maiores cientistas bruxos costumavam refugiar-se em Hogwarts para poderem fazer suas pesquisas em segurança... um deles desapareceu há alguns anos, mais precisamente pouco antes de.. de..
‒ De Voldemort cair?
‒ Isso, ele pesquisava uma máquina do tempo.
‒ Isso não foi inventado?
‒ Não dessa forma, não é como um vira-tempo, que volta algumas horas, ele pesquisava uma máquina complexa, de viagem no espaço e no tempo, que estava quase finalizada. Bem, ele chegou a Hogwarts no ano em que... Voldemort caiu, tinha medo que sua invenção fosse roubada por ele.
‒ E aí?
‒ Desapareceu um mês antes da queda dele, ninguém soube onde ele estava até o mês passado.
‒ Onde ele estava?
‒ Duzentos anos no passado. Viajou para lá, mas não teve sorte, queria se transportar para um lugar onde Voldemort não o alcançasse e acabou sendo morto por lobos... Seu corpo foi descoberto por um pesquisador numa cabana longe da civilização, ao lado da máquina e do diário de bordo dele no mês passado, e uma equipe levou-a a Hogwarts, onde estão tentando fazê-la funcionar de novo.
‒ Coitado do cientista! Fugir de Voldemort e morrer atacado por lobos! Qual o nome dele?
‒ Amos Taylor. Os cientistas que estão estudando a máquina são dois: um russo, Olek Chenimsky e um romeno, Wassily Amanoff, que é o chefe da equipe e foi assistente de Taylor há quinze anos atrás, quando ele desapareceu.
‒ Parece que teremos um semestre agitado... você vai se inscrever nas aulas de teatro?
‒ Harry, eu não tenho tempo para isso, ok?
Depois do jantar, quando comeram na mesa que Sirius armara do lado de fora os coelhos que Sheeba assara, ela chamou as meninas para mostrar-lhes os figurinos novos que Liza LionHeart mandara sobre a última moda em vestes de inverno para bruxas elegantes, e Harry ficou conversando com Sirius e Rony, olhando o mar escuro, sentados em espreguiçadeiras.
‒ Harry ‒ disse Sirius espreguiçando-se, com um riso ‒ creio que você hoje me fez passar a maior decepção de minha vida... nunca pensei que alguém tão bom na vassoura pudesse ser tão ruim no surf!
‒ Bem, eu acho que você vai ter que se conformar em surfar com Willy e Rony enquanto eu tomo banho de baldinho na beira d’água... talvez eu aprenda a fazer bonitos castelos de areia, quem sabe?
‒ Achei algo que eu faço melhor que Harry! ‒ disse Rony, satisfeito.
‒ Não esqueça que você também me ganha no xadrez, e normalmente, de muito!
‒ Mas em outro campo os dois estão empatados ‒ Sirius tinha um sorriso muito cínico no rosto ‒ e em zero a zero! O que vocês estão esperando para namorar duas das meninas mais bonitas e inteligentes de Hogwarts?
‒ Ora, Sirius, não é fácil como parece...
‒ Conversa fiada, Harry! Quando eu quis namorar Sheeba, eu fui lá e disse a ela: “Largue seu namorado idiota...”
‒ Sheeba tinha um namorado quando vocês começaram?
‒ Na verdade, não tinha mais, eles já tinham terminado, mas ele ainda gostava dela, bem eu disse...
‒ Quem era o namorado dela, Sirius?
‒ Isso importa? Eu também tinha uma namorada, bem, então eu disse...
‒ Quem você namorava, Sirius?
‒ Vocês querem deixar eu contar a história? ‒ Sirius olhou para os dois lados antes de dizer bem baixo: ‒ eu namorava a tia de Willy.
‒ Sarina?
‒ Não! Artêmis! Mas eu disse a Sheeba...
‒ Quem era o namorado dela afinal?
‒ Ah, droga, era Lúcio Malfoy.
‒ Sheeba namorou Lúcio Malfoy? ‒ Harry simplesmente não podia acreditar. Achava que Sheeba sempre odiara o pai de Draco.
‒ Na verdade acho que ela fez isso para me irritar... mas eu disse a ela: “Largue aquele babaca do Malfoy, eu sei do que você precisa, precisa de um homem de verdade, e eu sou esse homem!”
‒ E aquela história do campo de quadribol, Sirius? Aquela que ela nos contou?
‒ Ah, aquilo foi depois...
‒ Então ela não largou Malfoy para ficar contigo quando você disse aquilo para ela?
‒ Bem, na verdade ela largou o Malfoy, mas demorou um pouco para admitir que estava apaixonada por mim... Mas quando ela admitiu, no dia daquele jogo de quadribol, bem eu fiz algo fantástico com ela...
‒ O QUÊ? ‒ Harry e Rony perguntaram ao mesmo tempo.
‒ Bem, quando eu a beijei, eu fiz cair um raio, o céu estava azul, eu juro, mas caiu um raio na torre norte. E nós levitamos...
‒ Como na boate em Nova Iorque?
‒ Um pouco mais alto, talvez uns três metros... e todas as corujas de Hogwarts, e algumas andorinhas num raio de alguns quilômetros, levantaram vôo ao mesmo tempo.
‒ Uau! Como você fez isso? ‒ Rony estava maravilhado
‒ Na verdade, isso é uma emissão mágica involuntária... qualquer bruxo pode fazer... alguma vez quando você esteve em perigo, não aconteceu algo mágico, quando vocês eram crianças, por exemplo?
‒ Bem, ‒ Harry disse lembrando-se de alguns episódios da sua infância ‒ uma vez eu fui parar no teto do colégio.. e teve a vez no zoológico, quando eu fiz o vidro da jaula de uma cobra desaparecer... e meu cabelo já cresceu em uma noite...
‒ E eu ‒ disse Rony ‒ uma vez fiz um sapo de chocolate explodir na boca de Fred porque ele me pregara uma peça.
‒ Viram? Essas são emissões mágicas involuntárias, nós usamos varinhas para canalizar a energia mágica que possuímos, mas às vezes nossas emoções e sentimentos podem aflorar de uma vez sob forma de mágica. Isso vai ficando cada vez mais raro na idade adulta porque aprendemos a controlar nossos poderes, mas ainda assim, pode acontecer. Muitos bruxos desarmados ganharam duelos graças a uma emissão mágica causada pelo medo.
‒ Sirius, ‒ Harry procurou ser o mais cuidadoso o possível para fazer a pergunta que o estava intrigando ‒ você não tem família? ‒ o sorriso de Sirius desapareceu
‒ Não, não tenho mais. Eu sou o último dos Black. Na verdade, eu tinha um irmão, dois tios e pais... mas eles morreram, todos morreram.
‒ Desculpa, eu não queria te chatear.
‒ Não, é melhor saber por mim... bem, meu pai era muito rico, Harry. Ele era um bruxo comerciante, e tinha até negócios com trouxas, em Nova Iorque, eu tinhas tios que cuidavam deste negócio, mas eles morreram, e meu pai mandou Caius, meu irmão, para lá também. E ele morreu lá. Tinha vinte anos, eu tinha treze e estava em Hogwarts quando aconteceu.
‒ E o que aconteceu?
‒ Ele foi enterrado em Devonshire... meu pai não fazia fé em mim... e demonstrava isso, eu não era considerado bom o suficiente, não era mau aluno em Hogwarts, mas era extremamente indisciplinado... e quando meu pai foi chamado porque eu quase provocara a morte de Snape, ele disse que eu era a vergonha da família. Ele e minha mãe morreram quando eu estava em Azkaban... acreditando que eu era culpado. Eles me deixaram uma fortuna, apenas porque não havia mais ninguém para deixar. Eu nunca liguei para o maldito dinheiro da família Black. Vendi todas as propriedades da família, e vendi barato, menos duas. Esta ilha e aquele maldito galpão em Nova Iorque.
‒ Por quê?
‒ Porque meu irmão morreu defendendo aquele lugar.
Nem Harry nem Rony tiveram coragem de perguntar mais nada.
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