Acho que você precisa saber

- Pela milésima vez Thiago... Se você quer a garota, vá lá pegá-la! - Sirius disse enquanto dava mais um gole em sua cerveja amanteigada.

Estavam no salão comunal da Grifinória. Os quatro marotos sentados na mesinha redonda, apenas visualizando toda a festa barulhenta que estava ocorrendo ali. Haviam acabado de massacrar a Sonserina no quadribol: Tiago capturou o pomo com apenas dois minutos de jogo, quando o placar estava 40 a zero para Grifinória. É claro que este tipo de acontecimento merece uma comemoração digna, com muita cerveja amanteigada, muita música e, quem sabe, alguns beijos.

- Mas ela não me suporta - disse Tiago, enquanto passava as mãos pelos cabelos, deixando-os ainda mais despenteados - Quero dizer, como posso simplesmente ir lá e "pegar" uma garota que me olha como um verme?

- Ela não te olha como um verme, Tiago, não seja ridículo - Lupin disse em tom impaciente - Sejamos francos, ela é muita poção pro seu caldeirão. E também deve ter muitos caras bem mais atraentes que você desesperados pra sair com ela. E talvez ela te odeie um pouco - Lupin pôs a mão no queixo, com cara pensativa - Mas sim, acho que você deve tentar.

- Muito obrigado, Remo, estou me sentindo muito mais confiante agora - respondeu Tiago, murchando na cadeira como uma bexiga furada.

- Eu acho que você deve tentar! - disse Pedro empolgado, seus pezinhos balançando freneticamente na cadeira - Afinal, que momento seria melhor que esse? Essa festa não estaria acontecendo se não fosse por sua causa! É como se hoje você fosse tipo... tipo...  um herói!

- Concordo totalmente, e acho que isto merece um brinde! - Sirius disse erguendo a caneca - À Potter, que hoje, é nosso herói! - Os outros fizeram o mesmo, exceto Tiago, que  continuou os olhando com cara de poucos amigos - O que é isso Tiago, não vai nos dar a honra?

E de má vontade, ele levantou sua caneca e brindou com seus amigos que gritaram "À Potter!", bebendo logo depois. Ficaram quietos, deixando serem absortos pela música, e pela visão de uma bonita garota ruiva de olhos espantosamente verdes que dançava no meio da pequena multidão junto com uma amiga loira de seios bem fartos. Sirius, enquanto a examinava, perguntou baixinho:

- Aquela é Marlene Mckinnon?

- É, ela mudou bastante durante o verão – respondeu Pedro, a olhando também.

- Mudou mesmo, principalmente aqui – ele fez um gesto com as mãos na altura do peito, como se segurasse duas melancias invisíveis. Pedro deu uma risadinha forçada – Ei, tive uma ideia – voltou-se para Tiago – O que acha de convidarmos as duas para dançar?

Tiago fez que não com a cabeça, mas antes que pudesse evitar, estava sendo puxado da cadeira pelos três. Tentou se desvencilhar de todas aquelas mãos em vão.

- Ora essa, você está indo convidar uma garota para dançar, não está indo pra guilhotina! – Lupin falou com seu mesmo tom impaciente – Levante essa bunda quadrada daí e vá pegar a Lílian, antes que eu o faça!

- Ok, ok – Tiago levantou-se e bebeu com um gole o resto da cerveja de seu copo – Eu vou.

Os três bateram palmas.

Lílian e Marlene pareciam estar se divertindo a beça. A primeira jogando seus cabelos ruivos que contrastavam muito bem com a luz ambiente, e a segunda com seus cabelos muito loiros e ondulados, com um visual totalmente diferente do ano anterior.

Sirius sempre se dera bem com Marlene, mas nunca a vira com outros olhos. Desde que se lembrava, Marlene nunca fora muito bonita. Era muito magra, com muitas espinhas e cabelos desgrenhados. Agora, a olhando enquanto dançava, Sirius via uma garota totalmente diferente. Não tinha espinhas, seus cabelos estavam bem cuidados e brilhosos e, positivamente, ganhara alguns quilos que pareceram se acumular na região dos seios.

- Está deslumbrante – Sirius sussurrou em seu ouvido, chegando por trás da garota e lhe dando um baita susto.

- Ai! – ela deu um pulinho enquanto virava-se – Caramba Sirius, pretendia ser charmoso ou me matar?

Ele a puxou pela mão e colou seu corpo no dela, começando a dançar devagar.

- Pretendia te chamar para dançar.

Ela o olhou erguendo as sobrancelhas, mas rindo.

- Acho que não precisa mais, não é mesmo?

Sirius riu e olhou de Lílian para Tiago, ambos distantes um do outro. Seu amigo ainda não conseguira chama-la para dançar.

- Lílian, Tiago está tomando coragem pra te chamar pra dançar. Quer tornar as coisas mais fáceis pra ele?

Marlene e Sirius riram. Lílian e Tiago coraram e ficaram bem próximos da cor da bandeira da Grifinória pendurada na parede do salão. Antes de checar o final que os dois teriam, Sirius se afastou, dançando com Marlene no meio dos grifinórios.

- Parece que suas férias de verão foram muito boas. Ou pelo menos fizeram muito bem a você.

- Ora, não está dando em cima de mim, está Sirius? – Marlene encarou-o desconfiada – Pedro ficaria um pouco chateado.

- Como assim?

- Ele gosta um pouquinho de mim – ela riu, tentando ser modesta – Desde a segunda série, creio eu.

- Nossa – exclamou Sirius, com a testa enrugada – Ele nunca me disse nada.

- Ele não tem que te contar tudo, afinal certas coisas são...

- Mas você nunca ficaria com ele, certo? – interrompeu-a, sem paciência – Digo, não estou traindo meu amigo porque vocês nunca namorariam... não é?

Marlene olhou-o, um sorriso malicioso no rosto.

- Não, Pedro é um garoto ótimo, mas não me vejo com ele. Pode ficar com a consciência tranquila.

Sirius deu um assopro, aliviado.

Com o passar do tempo, o salão foi se esvaziando.  Tiago subira pro dormitório bem cedo: Lílian preferiu dançar com Patrick Hanson. Pedro desaparecera do nada e Lupin resolveu subir algum tempo depois. Às duas horas da manhã, haviam apenas três casais no salão comunal. Dois deles estavam aos beijos. Sirius e Marlene conversavam alegremente.

- Se eu participasse do time, seria uma batedora – Marlene disse com os olhos sonhadores – Nada me deixaria mais feliz do que acertar um balaço em cheio no nariz de Snape.

- Mas ele não faz parte do time...

- Eu sei. Provavelmente é por isso que nunca fui selecionada.

- Bom, talvez um balaço até concertasse o nariz do Snape, quero dizer, não tem como ficar pior.

- Mas isso não pode acontecer! Como iria viver sem fazer piadas daquele nariz?

- Você ainda poderia fazer piadas do cabelo – Sirius fingiu pensar – Ou de todo o resto na verdade.

Marlene riu, mas calou-se quando viu o olhar de Sirius. Sentiu os pelos de todo o corpo se arrepiarem quando notou o quanto ele estava próximo.

E o quanto parecia se aproximar cada vez mais.

Sirius beijou-a de uma forma tão intensa, tão desesperada, que os outros dois casais se viraram para olhar. Marlene desmanchou quase que instantaneamente em seus braços. O chão parecia ter sumido e podia jurar que se abrisse os olhos veria que estava no céu, entre as nuvens. Ficaram ali durante bastante tempo, explorando cada pedacinho da boca de cada um. As mãos de Sirius, tão relutantes em permanecer quietas ao invés de passearem pelo corpo da garota, ficaram bem comportadas. Quando abriram os olhos, viram que estavam sozinhos.

- Acho que os outros não aguentaram tanta humilhação – Marlene disse com os lábios ainda colados nos de Sirius.

- Ou talvez tenham sido solidários e nos deixado mais a vontade – disse olhando-a com malícia.

- Ou talvez devêssemos seguir o exemplo deles e ir dormir – ela afastou os lábios dos dele e o abraçou – Amanhã temos um longo dia pela frente.

- Tem razão. Nos vemos amanhã?

Marlene se afastou enquanto dizia:

- Pode apostar.

*

No dia seguinte Sirius acordou com Pedro lhe sacudindo.

- Mas o quê?

- Como foi ontem?

- Hã?

- Como foi ontem? – Pedro perguntou agitado.

Sirius sentou na cama, piscando os olhos para a claridade. Todos os outros ainda estavam dormindo.

- Foi ótimo – ele o olhou desconfiado – Porque quer saber?

- Nada – ele corou instantaneamente – Eu só queria saber sabe... fiquei curioso em saber se... rolou alguma coisa a mais...

- Sexo?

- Hm – ele ficou olhando pro chão – Tipo, tipo isso...

- Não  - Sirius levantou-se e começou a separar suas roupas.

- Mas, hm... mas você pretende?

- O quê?

- Você sabe...

- Dormir com ela?

Ele fez um pequeno gesto positivo com a cabeça.

- É claro – ele riu – Que homem não quer dormir com uma garota que tenha aqueles peitos?

- Mas você gosta dela?

Sirius aproximou-se de Pedro e o olhou com cara de pena.

- Claro que gosto – ele bagunçou o cabelo do amigo – Principalmente dos peitos.

*

Marlene estava saindo da aula de Transfiguração. Tinha trocado olhares com Sirius durante toda a aula, mas, estranhamente, o rapaz fugiu de falar com ela todas as vezes que ela tentou.

- Marlene! – ouviu a voz de Pedro  e virou-se – Posso falar com você? – ele olhou para Lílian que a acompanhava – Em particular, por favor?

- Olha Pedro, eu tenho que ir pra aula agora...

- É sobre Sirius.

Ela o olhou espantada.

- Sirius? O quê que tem Sirius?

- É sobre uma conversa que tivemos hoje de manhã – Ele abaixou ligeiramente a voz – Acho que você precisa saber.

 

 

 

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