Na Albânia – o fantasma e o di



             SETE. O número mágico mais poderoso. É com sete anos que, se a magia existisse, se revelaria. São sete os anos de estudos. São sete os andares de Hogwarts. Sete pedaços de alma significavam seis Horcruxes. Faltavam quatro, mas já tinha em mente quais seriam: os objetos dos fundadores da escola. A mais importante, e que queria obter antes, era sem sombra de dúvida o medalhão de Salazar Slytherin, seu nobre antepassado, e que pertenceu à sua mãe.


– Sra. Cole – gritou, sentado no quarto. Ficou esperando poucos segundos com uma leve impaciência.


Lá veio correndo a velha senhora que tanto odiava, mas que era necessária para suas perguntas:


– Sim, querido?


– Conte quando minha mãe apareceu – ordenou, tentando por tudo esperar a resposta que queria ouvir.


– Bem, errr... – ela parecia constrangida, mas Riddle não entendia o porquê. – Era véspera de ano novo quando ela apareceu, entende. Estava uma noite fria e nevava – ela parecia querer dar razões para o que acontecera. Talvez achava que o garoto a culparia. – Convenientemente eu a encontrei no portão quando esperava um carregamento para o banquete de ano novo. Eu a atendi e a levei para dentro.


– Como era ela? – perguntou.


– Errr... bem... ahh... ela estava bem suja. Mas isso porque ela devia estar andando há horas, pobrezinha – isso Riddle já imaginava. Lembrou-se de como era a casa de Gaunt em Little Hangleton.


– Ela falou alguma coisa?


– Falou. Ele deu o seu nome, como você sabe. Tom Riddle em homenagem a seu pai e Servolo ao seu avô – isso ele já sabia bem até demais. Não queria mais ouvir falar disso. – E desejou que você fosse como o seu pai – isso, para grande vergonha de Riddle, aconteceu. Mas foi um orgulho depois matar o homem que não o quis, que recusou sua mãe.


– Ela, hã – não queria parecer ansioso, teria que parecer displicente – tinha alguma coisa com ela?


A Sra. Cole pensou um pouco antes de responder:


– Pra falar a verdade, tinha. Umas coisas bem estranhas...


– Como o quê?


– Bem, ela tinha numa sacola uma moeda dourada estranha. Bem pesada, sabe? Tinha um nome escrito na sacola, eu consegui ler Mérope, mas podia ser outra coisa, pois estava cheia de sangue. Era uma moeda de ouro muito bem cunhada, lembro eu – era um galeão de ouro, a moeda dos bruxos. E se confirmara que sua mãe realmente se chamava Mérope. – E também um pedaço de graveto que, apesar de sujo, era muito bem talhado. Não parecia ser um galho qualquer – uma varinha, pensou. – E só.


– E as roupas?


– Bem surradas. Sujas também, deve ter passado por maus bocados. Mas era um vestido simples.


– Nada mais além da roupa?


– Não, nada mais – respondeu, pensativa e se recostando na parede. – Por que quer saber, Tom?


– Por nada – respondeu, e com um aceno da mão, a Sra. Cole saiu de seu quarto abafado que estava.


Maldição. Esperava que o medalhão estivesse com sua mãe quando chegou ao orfanato. Morfino tinha dito que ela levou o medalhão quando fugiu de casa. E, pensando bem, os Gaunt eram bem pobres, então aqueles galeões não eram da família. E tampouco de Tom Riddle, trouxas não usavam galeões. A única alternativa era que ela tinha vendido o medalhão no caminho e assim pôde pagar os custos de viagem até ali. Mas quem aceitaria galeões em vez do dinheiro normal que os trouxas usavam? Qualquer um. Principalmente para se aproveitar, afinal, galeões são feitos de ouro. E o que será que fizeram com sua varinha? Provavelmente consideraram-na louca carregando gravetos e moedas douradas estando grávida. Teria que resolver esse caso o mais rápido possível. Quanto mais tempo longe do medalhão, mais distante ficava da herança que geneticamente o pertencia.


Quanto às outras, já tinha algumas ideias. Brilhante aluno que era e tendo recebido o Prêmio por Serviços Especiais prestados a Escola, não recusariam trabalho a Riddle caso se candidatasse a uma vaga como professor. Assim teria tempo para procurar os outros objetos.


A espada de Gryffindor era quase certa de que estivesse na escola, restava procurá-la.


 A taça seria difícil, pois procurar uma família parente de Hufflepuff, mesmo usando um livro, seria difícil.


O diadema seria o problema. Há séculos desaparecido e quase impossível estar na escola. Outros o teriam achado. A não ser que Ravenclaw, assim como Slytherin, tivesse construído um lugar dentro do castelo e escondido o diadema, assim, somente algum parente distante encontraria, ou até mesmo seu herdeiro. Isso se estivesse mesmo no castelo, podendo até estar na sala comunal da Corvinal na torre oeste. Mas não estava em nenhum lugar possível e de conhecimento de qualquer aluno, pois já havia descoberto todos os segredos de Hogwarts. Se não estiver no castelo, será dificílimo achá-lo.


 Onde poderia estar?


 


            A manhã estava abafada e quente agora no início de setembro. Tom Riddle se vestiu rapidamente, arrumou o malão e seus pertences, colocou o diário e a varinha de teixo no bolso e saiu, sem olhar para trás, para seu último ano de estudos em Hogwarts. Não queria ficar nem mais um segundo naquele lugar odiosos, portanto nem tomou café. Tampouco se despediu. Saiu e foi andando direto até o metrô, onde pegou o trem subterrâneo até King’s Cross. Se já tivesse 17 anos, pensou, poderia aparatar. Apesar de não saber, com certeza conseguiria se quisesse. Chegou à grande estação e logo atravessou a parede entre as plataformas 9 e 10. Seus comparsas o esperavam. Até mesmo Rubídio, que havia completado os estudos em Hogwarts, estava lá. Estava contando suas provas do N.I.E.M., o último e mais importante diploma que Hogwarts oferecia.


O expresso apitou e eles entraram. Riddle, agora monitor chefe, teve que ir ao carro dos monitores. Após algumas horas, reuniu-se aos seus amigos, que começaram a discutir magia negra.


– Agora, ninguém se compara a Grindelwald – exclamou Aurum, esparramado no banco, empurrando os pés para Laurêncio, que começou a se irritar. Seus cabelos louros dourados refletiam a luz diretamente na cara do amigo, que começou a empurrá-lo e a tapar os olhos.


– É, até nós ocuparmos o lugar dele, não é? Lord Voldemort? – acrescentou Laurêncio, olhando bobamente para Riddle após conseguir empurrar os pés de Aurum. Tom nunca havia reparado a cor palha de seus cabelos e como ficava mais estranho quando franzia a testa e seu rosto, triangular, franzia junto.


Tecnécio deu uma risada alta do nada. Era talvez o mais bobo dali, um covarde atrás de proteção que só bajulava os outros. Somente Natrium parecia não querer falar nada. Estava quieto demais. Riddle resolveu quebrar seu silêncio.


– Que está havendo, Natrium? – perguntou, imaginando por que o garoto estava demasiado quieto enquanto todos conversavam.


Todos se viraram para ele.


– Voldemort, lembra quando me disse que Dumbledore parecia vigiá-lo durante os ataques? – perguntou o garoto, apreensivo demais com sua ousadia. Voldemort, secamente, indagou:


– Lembro, e daí?


– Você tem ideia do quão poderoso Dumbledore deve ser?


– Que está querendo dizer, Nott? – perguntou Riddle, perdendo a paciência. Quando usava os sobrenomes dos colegas, não era um bom sinal. E parece que Natrium entendeu essa deixa.


– Bem, como sabe, odeio Dumbledore, esse amante de trouxas – rosnou ele, cuspindo com raiva no chão. – Mas o caso é que é muito respeitado pela comunidade bruxa e... não por nós, é claro, que sabemos honrar nosso sangue – acrescentou rapidamente ao olhar dos colegas. – Mas o caso é que dizem que Dumbledore virá a ser o novo diretor da escola quando Dippet se aposentar. E, se for mesmo diretor, acha que lhe dará emprego?


A preocupação de Natrium era séria, pois Riddle também já havia pensando seriamente nisso. E também já havia contado aos amigos sobre o desejo de formar novas mentes bruxas com artes das trevas e formar um exército para combater pró-trouxas e os próprios.


– Depois veremos isso – respondeu apenas. Logo, veio o homem que vendia doces e também jornais. Aurum, como sempre, pagou pelos doces e comprou um exemplar do Profeta Diário. Ele passou o jornal a Riddle. Sabia que gostaria de ler sobre aquilo. Em voz alta, leu:


 


 


Grindelwald continua seu reinado de terror


 


            O bruxo das trevas, Gerardo Grindelwald, continua seu absoluto reinado de terror junto com seu numeroso exército. Tendo estudado no Instituto Durmstrang e mais tarde sido expulso pela escola, Grindelwald sempre foi das trevas. Sabe-se que foi expulso por um ataque gratuito a um aluno da escola, quase acarretando em sua morte. Mais tarde, foi visitar a famosa e renomada autora de História da Magia, Batilda Bagshot, em Godric’s Hollow. Após dois meses no famoso vilarejo do fundador da casa Grifinória em Hogwarts, Grindelwald retornou ao seu país de origem: Alemanha.


            O bruxo odiava os nascidos trouxas e queria purificar a raça bruxa. Por incrível que pareça, e possa ser uma lástima aos seus seguidores, Grindelwald esteve envolvido no massacre de trouxas no final da década de 30 nos arredores da Alemanha. Bem não foi essa a notícia desagradável aos seus seguidores, mas aí vai uma: Grindelwald esteve envolvido com um popular trouxa que também desejava purificar sua raça e que ambos tramaram planos juntos, tendo Grindelwald comandando o lado bruxo que arrasou a população na Grande Guerra que acometia o mundo não mágico.


            Antes disso, Grindelwald já havia começado seu reinado reunindo o exército de bruxos no norte europeu. E foi nessa época que se tornou mais poderoso do que nunca, pois não havia quem o detivesse. O fabricante de varinhas norte europeu, Gregorovitch, tentou inutilmente avisar à imprensa que Grindelwald o havia roubado, mas não dissera o quê. O que quer que seja, não foi importante seu depoimento.


            Agora, caros leitores, o Profeta Diário tem a obrigação de informar que Grindelwald está se aproximando da Grã-Bretanha. Apesar de já ter cometido vários assassinatos na ilha e voltado para o continente, já tomou posse de sua antiga escola e boatos dizem que logo estará perto da Academia de Magia Beauxbattons, situada na França, e, portanto, perto de Hogwarts.


            Mas ainda há algo a nosso favor: apesar de tanto tempo Grindelwald ter se revelado em sua guerra contra nascidos trouxas, também parece não querer se aproximar muito da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Há 10 anos já poderia ter vindo à escola, mas algo o deteve. Informações vindas de alguns espiões do quartel general de aurores dizem que Grindelwald não planejava muito cedo vir tomar posse da escola de Hogwarts como fez com o Instituto Durmstrang ao norte europeu, situado na fronteira entre Suécia e Noruega.


            Em seus últimos massacres, Grindelwald levou gigantes onde estava ocorrendo a Guerra dos trouxas e os dizimou com as criaturas aliadas. Estipula-se que já tenha formado um exército com 50 seguidores. Apesar disso, toda a população bruxa está atrás do bruxo das trevas e pouco progresso temos conseguido, tendo capturado poucos de seus homens. O quartel general de aurores informa que mais da metade dos homens que o combateram, cerca de 30, morreram ou estão presos em Nurmengard, a prisão que Grindelwald construiu para aprisionar seus atacantes, enquanto que o restante está gravemente ferido.


            Aconselhamos cuidado aos que forem viajar para o norte, pois talvez Grindelwald esteja planejando seu próximo passo para ultrapassar a barreira que o Ministério da Magia da Grã-Bretanha, da França, Itália, Suíça e Espanha construiu ao redor das principais escolas do centro-sul da Europa, destacando-se Beauxbattons, e ao redor das escolas ao leste e até às ilhas, destacando-se Hogwarts.


            Esse talvez seja a pior guerra na atualidade, pois está envolvendo tanto os bruxos quanto os trouxas. Esperamos que logo isso acabe, pois está chegando cada vez mais perto a possibilidade dos trouxas descobrirem a magia.


 


 


– Bom, hein? – perguntou Riddle aos amigos após ter terminado a leitura, fechando os olhos com força – Grindelwald está se saindo muitíssimo bem acabando com os trouxas nojentos.


– Só não entendo porque ainda não veio a Hogwarts – disse Tecnécio, pensativo e olhando para fora.


– Não é óbvio? – perguntou Laurêncio, olhando para todos com ar de riso, mas parecendo sério na indagação.


– O quê? – indagou Natrium.


– Ele está com medo do herdeiro de Slytherin sentado aqui na nossa frente! – exclamou Laurêncio, olhando com orgulho para Tom Riddle. – Vejam, não é qualquer um que controla basiliscos e os manda matar sangues-ruins. Não é qualquer um que é ofidioglota e também não é qualquer um que consiga fazer uma Horcrux – terminou Tecnécio, olhando com tal admiração para Riddle que os amigos logo o imitaram. Riddle nada disse, apenas apreciou o momento.


            Chegaram a Hogwarts e começou a chover. A seleção foi rápida e o banquete terminou. Iriam começar as aulas e Riddle se prepararia para elas. Era importante obter nota máxima nos exames.


            As aulas estavam puxadas ao extremo. Estudavam como se tivessem prova todo dia e quase nunca descansavam. Até mesmo nos finais de semana faziam extensos trabalhos e resumos das aulas.


Feitiços seria seu primeiro exame no final de junho. O Professor Ózon, chefe da Corvinal, estava ensinando feitiços muito complexos e que sempre caíam, chamado Feitiço Fidelius. Consistia em esconder o segredo de um objeto ou até mesmo de um vasto lugar. Somente quem o conjurasse saberia onde estava o objeto ou lugar e outros só saberiam se o Fiel do Segredo, que era quem sabia o segredo, contasse sua localização. Era o feitiço mais eficaz para proteção usado. Muitos outros feitiços de extrema complexidade eram ensinados pelo professor e que sempre apareciam nos exames, incluindo alguns de Transformação elementar que o professor Dumbledore adiantaria.


            Trato das Criaturas Mágicas, se não fosse o professor Kettleburn, seria uma de suas matérias preferidas. Vários animais eram perguntados e a maioria Riddle sabia bem, como dragões, unicórnios e fênices. As propriedades mágicas de qualquer um desses três principais animais eram fascinantes. A lágrima de fênix ele se lembrava muito bem, era o melhor antídoto para venenos. E o sangue de dragão e de unicórnio tinham vários usos, como lembrou o professor Kettleburn que os doze usos para o sangue de dragão sempre eram cobrados em Hogwarts, visto que o professor Dumbledore os descobrira. Outros animais também eram cobrados, entre eles o famoso nundu que Olivaras uma vez lhe contou.


Herbologia também era interessante, visto que umas plantas mágicas também tinham propriedades extremamente importantes, como lembrou Riddle com amargura, a poção de mandrágora para trazer ao normal os petrificados. Finalmente, estudaram as bubotúberas e nisso o professor Merchand era muitíssimo cauteloso, pois já tinha sido queimado no rosto pela pus de uma dessas plantas. Nesse dia, Tecnécio ficou feliz ao conseguir obter um pouco de seu pus para suas espinhas.


Poções estava sendo a matéria mais fácil para Tom Riddle. Não que ela em si fosse fácil, mas com sua fantástica habilidade e um professor que sempre o bajulava, tornava-se mais prazeroso. O professor explicou que teriam de fazer algumas poções aos examinadores, incluindo Veritasarum, a mais potente poção da verdade, e Amortentia, a mais potente poção do amor.


Aritmancia, com o professor Longen, é que era complicada. Eram testes matemáticos cada vez mais difíceis e complexos, sendo que muitas vezes os trabalhos propostos pelo professor demoravam semanas para ser feito.


Runas antigas, mesmo que com o professor carrancudo Dagworth, era muito interessante. Decifrar antigas línguas era um de seus fortes e seria muito importante para sua vida.


Sem dúvida nenhuma, a matéria mais maçante era História da Magia, mas o professor Binns alertava quanto aos exames sobre a Revolução dos Duendes, a Guerra dos Gigantes e a criação da Federação Internacional de Bruxos.


O exame prático de Astronomia, como informou o professor Plut, seria durante a noite. As luas de Júpiter sempre eram mencionadas e foi isso que mais tiveram que pesquisar.


As aulas de Defesa contra as Artes das Trevas, pensava Riddle, era apenas uma encenação para ele. Eram bem fáceis também, pois conhecia todas as artes das trevas bem de mais.


As aulas de Transformações de Dumbledore eram cada vez mais fascinantes, pois este ano aprenderiam transformação em humanos. O professor Dumbledore, como já havia feito no primeiro ano, se transformou novamente em pássaro no primeiro dia e agora, nos últimos meses, estava se transformando, com o auxílio da varinha, até mesmo em lobos e, uma vez, em um cavalo. Claro que aquilo não seria pedido no N.I.E.M., mas teriam que saber o feitiço que era usado para se transformar em pequenos répteis e aves.


            O ano se passou tão veloz que nada de interessante aconteceu no ano, além de estudos e estudos. Riddle, por Rosier no 6º ano, descobriu que a professora Merrythought estava se aposentando e o cargo de defesa contra as Artes das Trevas estaria em aberto. Não por muito tempo. A carta que havia escrito falava o seguinte:


 


“Caro professor Dippet,


 


            Gostaria muito se o senhor diretor pudesse marcar comigo uma conversa que gostaria de ter com o senhor a respeito do término de meu ano letivo aqui em Hogwarts. Como bem sabe, farei os N.I.E.M’s dentro de poucas semanas e tenho grandes esperanças de conseguir passar nesses tão importantes exames. O que irei conversar é sobre meu futuro.


 


Agradeço,


Tom S. Riddle, monitor chefe.”


 


E com um gesto da varinha, a carta se lacrou e ela, por intermédio do professor Slughorn, iria parar nas mãos do diretor. Foi com ansiedade que esperou o momento em que o diretor o chamaria para uma conversa particular em sua sala. E o momento chegou. Um garoto do primeiro ano da Sonserina disse que o diretor queria vê-lo e Riddle saiu do salão comunal sonserino. Já era noite e as masmorras estavam mais escuras do que nunca, mas não havia o que temer. O Barão Sangrento passou veloz à sua frente e, no momento em que passou por uma tocha, revelou uma mancha prateada em seu peito. Riddle sabia que era sangue, mas ainda não havia descoberto de quem e por que. Desde seu primeiro ano tinha curiosidade sobre a vida do fantasma de sua casa, mas nunca conversou diretamente com ele. E essa não seria a hora ideal. Tinha uma conversa com o diretor da escola. Subiu as escadas até chegar ao conhecido corredor onde havia uma gárgula que guardava a entrada.


Murtisco.


A senha tinha sido dada pelo aluno do primeiro ano e a gárgula girou. As escadas em espiral começaram a girar para cima e Riddle subiu em um degrau. Logo, chegou ao patamar superior e arrumou as vestes antes de bater na porta. Ouviu um “Pode entrar” e girou a maçaneta de bronze. A sala do diretor estava como sempre impecavelmente limpa. Os vários objetos retiniam e os quadros na sala despertarem de seus sonos para observarem a conversa.


– Riddle – exclamou o diretor com um enorme sorriso –, sente-se, sente-se – convidou Dippet, com os dedos indicando as poltronas.


– Obrigado, diretor – respondeu o garoto.


Tom Riddle se sentou e apoiou a mão com o anel na mesa do diretor.


– Então, Tom. Veio discutir seu futuro. Pois não, diga o que queria conversar comigo – o diretor foi muito rápido. Nem deu tempo de uma bajulação. Mas era melhor falar logo. Iria parecer envergonhado.


– Bem, é que... ahh...


– Vamos, pode falar – incentivou o diretor.


– Professor Dippet – começou, mas sem saber como falaria o que pretendia –, terminarei Hogwarts esse ano.


– Sim. Continue – encorajou-o.


– E, bem. O senhor lembra daquele ano que eu pedi para continuar as férias em Hogwarts, não lembra?


– Lembro – respondeu, franzindo a testa. – Você gostaria de ficar esse verão aqui em Hogwarts, Tom? – indagou o diretor, olhando para Riddle.


– Bem, mais ou menos – Riddle lembrou-se de algo e resolveu ficar olhando para os objetos na sala em vez de olhar nos olhos do diretor. – Professor, não é verdade que a professora Merrythought vai se aposentar?


– Tom! – exclamou assustado, como se aquilo fosse um presságio de morte. – Como você sabe disso, garoto?


– Ouvi uma conversa esses dias. Então, é verdade?


– Bem,  sim. É verdade. Mas o que isso tem a ver com você passar as férias aqui? – analisou o diretor, tentando imaginar aonde Riddle queria chegar.


– Bem, professor. Desde que eu cheguei aqui, percebi que este era o meu lar – ele não fingia quanto a isso. – O orfanato onde morei parte da minha vida não tem nada a ver comigo, mas Hogwarts tem. Diretor Dippet, gostaria de permanecer na escola como professor.


Armando Dippet, apesar de não estar  bebendo nem comendo nada, se engasgou. Começou a tossir e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Quando se recompôs, perguntou:


– Nossa, Tom. Que notícia.


Teria que esperar a decisão do diretor, mas tinha certeza de que aceitaria. Como brilhante aluno e ganhador de vários prêmios, não seria recusado.


– Por curiosidade, que matéria gostaria de lecionar?


Não gostou nem um pouco das palavras do diretor. Se fosse dar o emprego, perguntaria depois a matéria, não diria “por curiosidade”. E tampouco falaria “gostaria” a não ser que fosse recusado. Mas poderia ter se enganado.


– Defesa contra as Artes das Trevas. O senhor...?


– Vamos nos acalmar, certo, Tom? – interrompeu o diretor. Riddle não gostou mais ainda de ser interrompido. – Por que gostaria de ensinar essa matéria?


Por que estava fazendo aquelas perguntas? O diretor Dippet não era de fazer perguntas.


– Bem, gosto do assunto, diretor. Gostaria de fazer a minha parte por novos bruxos e bruxas – respondeu, recomeçando a olhar a sala.


– Bem, Tom. Fico feliz que queira ser diretor aqui em Hogwarts, mas – a palavra de oposição não era um bom sinal –, não posso aceitá-lo, Tom.


– Por que não, diretor? – Riddle se levantou da cadeira, contrafeito, mas logo recobrou sua normalidade sentando-se calmamente. Dippet não sabia o que se passava na cabeça do garoto neste momento.


– Bem, Tom – respondeu ele, calmamente. – Você é ainda muito jovem para ensinar, para ser professor.


– Mas eu sei a matéria, não me preocupo com a minha idade em ensinar – resistiu Riddle.


– Bem, tenho certeza de que, assim como eu – acrescentou – os outros professores não concordariam pelo mesmo motivo.


Riddle estava possesso. Não iria ser recusado assim. Ninguém dizia “não” a Lord Voldemort.


– Sugiro – recomeçou o diretor – que volte daqui a alguns anos. Quando estiver maior, tiver obtido mais experiência.


Já tenho a experiência necessária, pensou Riddle, só quero continuar aqui para encontrar os objetos dos outros fundadores. E, mais uma vez, Riddle deu uma olhada na sala antes de sair da sala do diretor, sem se dirigir a este.


 


Os N.I.E.M.’s chegaram e Riddle, apesar de estar furioso, estava bem preparado. Os exames teóricos foram durante a manhã e abordavam assuntos vistos desde seu primeiro ano, mas em compensação não estavam tão fáceis como poderia imaginar. Os exames práticos, que realizariam no Salão Principal diante de vários examinadores, ocorreram de tarde, exceto o de Astronomia, que ocorreu à noite. Saiu muitíssimo bem em todos os exames que prestou. Slughorn, seu professor preferido, vinha quase todo dia com novos contatos do Ministério que pudessem dar emprego a Riddle. Recusou todos. Não queria trabalhar sentado atrás de uma mesa. Queria ação e, sobretudo, encontrar os objetos dos fundadores para transformar em Horcrux. O que mais lhe chamava atenção era o medalhão que genealogicamente pertencia a ele. Era de sua mãe e pertenceu a Salazar Slytherin, seu antepassado o qual Riddle era herdeiro. Sem falar que ainda não completara o objetivo da Câmara Secreta, teria que resolver isso ainda. Riddle, já terminado os estudos e sendo maior de idade, poderia aparatar e viajar para onde quisesse. Aprenderia e descobriria novos tipos e formas de se utilizar a magia. Controlaria o mundo bruxo.


            Já faltavam três dias para o ano realmente acabar e Riddle, como monitor chefe, estava perambulando pela escola à noite até ouvir uma conversa. As pessoas que conversavam estavam no próximo corredor e Riddle resolveu ouvir. Para isso, mesmo sem ninguém no corredor, puxou a varinha e bateu em seu cocuruto:


Invictor Totallum.


O feitiço da desilusão era sempre muito útil. Foi lentamente até o corredor e se encostou na parede. Logo que viu quem conversava, chocou-se. Nunca tinha ouvido nenhum deles falar.


– Perdoe-me, meu amor – era o Barão Sangrento conversando com uma fantasma morena. Era alta e linda.


– Por isso? – ela afastou as vestes e mostrou um furo no peito – Nunca vou perdoá-lo, Barão.


– Mas, afinal, o que você fazia lá, Helena? – perguntou desesperado o Barão, com suas longas correntes retinindo no chão.


– Isso não te interessa.


– Rowena, a sua mãe – acusou – desesperadamente me chamou antes de morrer pedindo que a encontrasse. Por que tinha fugido?


– Não interessa! – gritou a fantasma – Saia de minha frente!


Ela saiu graciosamente pelo corredor e atravessou uma parede. Riddle se chocou com o que viu: o Barão Sangrento saiu se lamentando, quase chorando, e também atravessou uma outra parede. Mas não era isso que prendia Riddle à parede como se fossem um só. Era os nomes que tinha escutado. Rowena era o mesmo nome da famosa fundadora da casa Corvinal, Rowena Ravenclaw. E Helena, não tinha certeza, mas teria de procurar. E foi isso que fez. Desceu as escadas se dirigindo ao salão comunal. Lá, pegou seu livro Hogwarts: uma história, e procurou novamente sobre a história dos fundadores. Lá, releu o que procurava:


 


O diadema de Rowena Ravenclaw, criadora da casa Corvinal. Espécie de tiara que dá sabedoria e inteligência. Estão gravados os dizeres: O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. Sumiu misteriosamente antes da morte de Ravenclaw.


 


Era mais do que felicidade o que sentia. Era o gosto da vitória. A fantasma que vira conversando com o Barão Sangrento era a filha de uma das fundadoras da escola. Só não entendia onde o Barão entrava nessa história, mas isso não era importante. O que era importante era que, como filha de Rowena, com certeza sabia da existência do diadema e provavelmente sua localização. Teria que perguntar è ela quando tivesse a chance. Olhou o relógio da sala comunal. Já tinha acabado o seu turno, então não precisaria voltar. Teria que planejar como conversar com a fantasma. Quase não dormiu pensando no dia seguinte. Era crucial que obtivesse a localização do diadema antes do ano acabar.


 


Esse seria o dia.  Dali a dois dias iria se despedir da escola, então Riddle perguntou ao professor Ózon sobre a história do diadema. Nada que disse ele não sabia. Somente o apelido da fantasma: Dama Cinzenta.


Riddle encontrou-a vagando pela torre oeste e resolveu que esta seria a hora. Aproximou-se dela cautelosamente e perguntou:


– Você é a Dama Cinzenta?


Ela parecia arrogante, mas respondeu com simplicidade:


– Sou.


– Fantasma da Corvinal?


– Exato.


– A senhora foi filha de Rowena Ravenclaw, fundadora da casa Corvinal?


Ela demorou em responder. Riddle percebeu que estava sendo muito evasivo. Iria maneirar nas próximas perguntas.


– Sou, sim. Meu nome é Helena Ravenclaw. Por que quer saber? – ele olhou dos pés a cabeça de Tom Riddle e constatou que era um sonserino. Na mesma hora, visto que Riddle ainda não havia respondido à pergunta, virou-se.


– Espere! – gritou.


Ela virou-se e, com os olhos cheios de lágrimas, perguntou olhando para a serpente em suas vestes:


– O que você quer?


– Gostaria de saber sobre o diadema de sua mãe – pediu Riddle.


– Como se atreve? – ela gritou. – Você é apenas mais um estudante que me importuna para saber desse diadema! O famoso diadema que dava inteligência!


– Não preciso de inteligência. Não quero inteligência. Você também, não parece precisar de inteligência. Vejo o quão sábia você é – estava começando a instigá-la, bajulá-la. Dama Cinzenta encarou-o, desconfiada.


– Como você sabe?


– Você é muito bonita – elogiou. E começou a dar voltas em volta dela. – Graciosa, forte pela perda de sua mãe – ela começou a chorar nesse momento. Lamentou-se dizendo:


– Como pude fazer isso com ela?


– Eu te entendo – sussurrou Riddle. Ele sabia que a fantasma sabia onde estava o diadema. – Sei como você se sente. Também me senti assim uma vez. Queria a glória, como ainda quero.


– Sim – ela murmurou. – Eu me invejava por sua inteligência. Queria ser mais do que ela.


– Você é – concordou Tom. – Mais bela, mais forte, mais inteligente. Ela não seria nada sem você. Pense o que ela seria sem você.


– Nada. Ela me adorava, dizia que não viveria sem mim.


– Mas viveu, não foi? Ela mentiu para você – instigou-a Riddle, fazendo sentir raiva de sua mãe.


– Mentiu. Mas roubei seu bem mais precioso – agora da fantasma parecia exaurir de triunfo. Um brilho, que não era dela, instalou-se em seu redor. – Roubei seu diadema e ela nunca mais o viu. Nem a mim.


Agora seria a hora. Riddle sentou-se num banco no corredor e indicou com a cabeça o assento do lado. Dama Cinzenta assentiu e, apesar de ficar flutuando, parecia mesmo sentada.


– Conte-me tudo – e agora Riddle tentou tocar suas mãos, mas ele as atravessou. Helena Ravenclaw percebeu o que ele tentou fazer e se solidarizou ainda mais.


– Eu... roubei o diadema de minha mãe. Queria ser mais importante do que ela e fugi levando-o comigo. Fui para longe e fiquei sabendo que ela nunca contou aos outros fundadores sobre o que eu tinha feito. Então ela adoeceu e não conseguia me encontrar. Foi aí que ela pediu a um homem que era apaixonado por mim para que me encontrasse. Eu estava na Albânia e infelizmente deixei rastros para trás, rastros mágicos. O Barão sempre foi um grande bruxo e chegou à floresta onde eu me escondia. Antes de me encontrar, escondi o diadema dentro de uma árvore.


– Árvore? – perguntou Riddle, interessantíssimo.


– Uma árvore oca. Acho que era um carvalho. Enfim – disse, pronta a recomeçar a história –, escondi o diadema nessa árvore. Distanciei-me ainda mais do Barão, mas ele me achou. Disse que me levaria comigo, que me queria de todo o custo e que me levaria à minha mãe. Eu recusei seu pedido e ele se tornou violento. Começou a me puxar à força até eu estapeá-lo. Nisso, ele tirou um punhal do cinturão e me perfurou. Bem aqui – e novamente ela afastou as vestes e mostrou um buraco bem no centro de seu peito.


– E o que aconteceu com o Barão? – questionou, cada vez mais fundo na história, apesar de já ter completado seu objetivo.


– Se matou. Por remorso, diante de meu corpo. E acabou que o vejo quase todo dia flutuando pela escola. Ainda ontem mesmo, de noite, tivemos uma conversa. Ele queria saber porque eu tinha ido até àquela floresta. Obviamente que eu não falei nada sobre o diadema, mas o caso é que aquelas florestas são as mais desertas do globo. Ele só me achou por sorte mesmo. E bruxaria – terminou Dama Cinzenta.


– Eu sei como você se sente. Compreendo seus sentimentos – reforçou Riddle, olhando diretamente em seus olhos. – E você alguma vez disse isso a alguém? Algum aluno ou professor? Até mesmo ao diretor?


– Nunca. Nada a ninguém.


Ótimo, pensou. Fingiu olhar para o relógio e disse:


– Tenho que ir. Já está na hora do jantar.


E levantando-se rapidamente, deu meia volta. Ouviu um “Adeus”, mas não respondeu. Seria melhor que a fantasma não visse como estava. Ânimo não o descreveria corretamente. Era mais do que isso. Mais do que tudo que já sentira na vida.


 


            O ano acabou. O discurso de fim de ano tinha sido triste para ele, mas saberia que um dia voltaria. Dippet deu adeus a todos, enquanto Dumbledore veio dizer sobre o amor, o feitiço mais poderoso existente. Riddle sacudiu a cabeça desdenhosamente. Dumbledore disse isso por que não sabia nada dobre Horcruxes.


Riddle saberia o que fazer nas próximas semanas. Iria fazer uma longa viagem. Seus amigos, Aurum, Laurêncio, Tecnécio e Natrium queriam ir junto, mas Riddle não permitiu. Seria uma viagem que empreenderia sozinho. Seria cansativa, mas valeria à pena. O Expresso de Hogwarts partiu de Hogsmeade em direção à King’s Cross. Fazia sol e não havia nuvens. Houve um pequeno solavanco quando o expresso parou e todos desceram. Ainda na plataforma 9 ½, Tom Riddle esperou um pouco pelos outros.


– Lord Voldemort – exclamou Tecnécio, fazendo uma reverência. – Espero encontrá-lo novamente.


– Milorde – exclamou agora Aurum, imitando o colega –, espero se reunir com o senhor mais uma vez.


– Meu senhor – disse Natrium, se curvando ainda mais do que os outros –, fui um ótimo seguidor, não?


– Meu Lorde – foi a vez de Laurêncio, que quase se desequilibrou em uma exagerada curvatura. – Quando nos reuniremos mais uma vez?


Tom Riddle olhou significativamente para todos. A jornada que se passou, desde que entrou na escola, nunca seria esquecida. Os feitos com seus colegas seriam para sempre memorizáveis.


– Ainda não é hora de despedidas, Comensais da Morte.


Os quatro olharam fascinados para Tom Riddle.


– Comensais da Morte? – gaguejou Tecnécio Travers.


– Meus seguidores, não? Creio que, com meus ensinamentos, saibam bastante da morte, não saibam?


Ele sabia que os amigos queriam mais. Iriam com ele onde quer que fossem mandados. Nessa hora, Riddle encarou um por um. Eles não mentiam.


– Com certeza – exclamou Natrium. – Milorde, quando se reuniremos novamente? Quando voltaremos à ativa contra os sangues-ruins?


– Quando dominaremos os trouxas?


– Quando mandaremos no mundo bruxo?


– Estaremos esperando-o, Lord Voldemort, à procura da imortalidade.


– Isso – sussurrou Riddle para eles –, eu já consegui. E com uma piscadela, terminou:


– Irei procurá-los. Aguardem, em breve.


E com esse aviso, Riddle atravessou a barreira enquanto via os colegas indo de encontro aos pais. Pais, nunca quis um. Apesar de ter ido procurar sua família e vingado a mãe, não foi por amor. Matou por raiva o trouxa que tinha seu nome. Procurou os Gaunt para se certificar de sua descendência. Era o herdeiro de Salazar Slytherin e nada mais importava. Iria terminar o que Slytherin tanto prezou: os bruxos comandando o mundo.


 


Eram somente 2 de julho quando percebeu que não aguentaria mais um dia sequer no orfanato. O mesmo cheiro e as mesmas pessoas, trouxas, o enojavam. Teria que arrumar um emprego logo. Lembrou-se do Beco Diagonal, onde poderia marcar uma entrevista em alguma loja que valesse à pena e talvez até mesmo dormir por lá. Só conhecia o Caldeirão Furado de hospedaria, mas com certeza havia outros lugares onde poderia se instalar. Mas não era isso que o fez acordar. Acordou pensando em um lugar: Albânia. O mapa em seu quarto continuava aberto desde a noite anterior. Fizera vários círculos indicando possíveis rotas. Apesar de que grande parte da viagem seria através de aparatação, teria que saber para onde ir. Primeiro, estando numa ilha, teria que atravessar o Estreito de Dover, ou mais conhecido como Canal da Mancha. O problema consistia em como fazer isso. A aparatação tinha um limite de distância e não iria testá-lo correndo o risco de se perder naquele Estreito. Barcos e navios de jeito nenhum. Evitaria ao máximo usar meios de transporte trouxas. Só havia uma possibilidade: voar.


O seu feitiço funcionou quando o usou para atravessar um vale, mas surtiria efeito sobre várias horas? Só saberia isso na prática. A menos distância entre Grã-Bretanha onde se encontrava e a terra firme seria um ponto bem ao sul da gigantesca ilha até a França. Embora fosse o menor caminho, gostaria de passar pelo extremo norte europeu. Durmstrang o fascinava. A escola enfatizava Artes das Trevas e só aceitava sangues-puros. Já até sonhou que pudesse ter sido fundada por Salazar Slytherin quando saiu descontente de Hogwarts, mas a data da fundação não batia com  seu antepassado.


 A menos que Salazar tenha vivido mais uns 300 anos desde que partira de Hogwarts e isso o levava a Horcruxes, mas nada disso importava agora. Apesar de também querer passar pela Alemanha, o país onde nascera Grindelwald, teria que passar também pela tal Grande Guerra dos trouxas. A França decididamente seria seu próximo passo. Talvez pudesse dar de cara com o exército de Grindelwald, mas iria em frente. Logo depois, viria a Suíça, Itália e agora um dilema: atravessaria a Itália para depois atravessar o Mar Adriático e chegar à Albânia ou passaria por mais quatro países desde o ponto em que estivesse na Itália? Isso só saberia quando atravessasse o Canal da Mancha. Caso fosse muito cansativo ficar voando durante horas pelo mar, atravessaria os quatro países depois da Itália até a Albânia. E assim ele faria.


Despediu-se, e desta vez para sempre, da Sra. Cole e de todos os outros funcionários do orfanato Wool. Alguns colegas, dentre eles Erico Whalley, Amada Benson, Dênis Bishop e Carlinhos Stubbs. Todos desejaram coisas que odiava ouvir, como: “Apareça”, “Boa sorte”, “Seja feliz”. Tudo aquilo não lhe importava. Não queria amizade nem agora nem nunca. Sabia muito bem se virar sozinho. Não precisava de amigos. O que ele tinha eram servos que o respeitavam. Roubando uma boa quantidade de dinheiro trouxa do orfanato, partiu. Foi ao metrô e logo chegou a King’s Cross. Ele olhou de relance as plataformas 9 e 10 e sentiu saudades de quando as atravessou pela primeira vez. Sua mala tinha poucas coisas, entre a quais ele mais prezava era seu diário. O resto eram roupas, um pequeno mapa e dinheiro trouxa. Sua varinha estava em seu casaco e o anel em seu dedo. Ele teve de pegar um trem até Dover e o tempo de viagem foi o mesmo caso estivesse indo à escola. Chegou em Dover quase às três horas da tarde. A cidade era calma, tinha poucos edifícios e lhe lembrava a vez em que esteve num campo conversando com uma cobra. Quase não havia barulho. Viu o enorme Canal da Mancha. As ondas do Atlântico batiam nas enormes falésias do penhasco. Constatou que podia enxergar o “outro lado” do continente. Desdobrou novamente o mapa e teria que voar à sudeste. Chegaria à França então em poucas horas. Não havia ninguém a essa hora ali no porto de Dover. Retirando a varinha de teixo do casaco e olhando ao redor, ordenou, lembrando da primeira vez em que utilizara esses feitiços juntos.


 


Invictor Totallum.


 


Ele se confundiu com o mar à sua frente e com o porto logo atrás. Com um largo gesto com a varinha, continuou:


 


Hórus flier.


 


Ele começou a flutuar. Segurou mais firmemente a mochila. Já estava a quatro metros acima do mar quando apontou a varinha para o horizonte. Estava se dirigindo a França neste momento. O mar estava calmo nessa tarde e o sol não o castigava. Uma brisa suave balançava seu corpo. Já fazia três horas que tinha partido e infelizmente o “outro lado” parecia tão distante quanto à primeira vez que olhara. Não desistiria. Passaram mais 4 horas e estava começando a esfriar. Após mais duas horas, chegou ao continente. Seu relógio marcava meia noite e quatro minutos e estava desesperadamente cansado. Teria que dormir em algum lugar. Após andar um pouco, chegou a uma hospedaria trouxa. Instalou-se lá e dormiu.


 


Acordou às nove horas e partiu. Decidira passar por toda a Itália mesmo que tivesse de atravessar o Adriático voando. Era um caminho um pouco mais curto. Atravessou a Itália aparatando cada vez cerca de6 quilômetros. Logo, chegou ao que os trouxas diziam ser o “salto da bota”. Teria que se deslocar para o leste para chegar à Albânia. Atravessou a Itália num bom tempo, mesmo quando ficou horas andando em círculos até chegar a algumas montanhas. Eram ainda quatro horas da tarde quando voou novamente. Desta vez, as ondas do Mediterrâneo estavam furiosas. Riddle teve que ganhar mais altitude para não se molhar. Após um tempo, Riddle cansou-se da velocidade com que voava. Teria que ser mais rápido. Tinha que ser mais rápido. Apontou a varinha para o leste e exclamou:


 


Maxima!


 


E disparou. Ele quase não via mais nada tamanha sua velocidade. Talvez porque não havia muito o que olhar tendo somente água no horizonte e uma costa ao longe, mas aquilo definitivamente o faria chegar pelo menos ao anoitecer. E foi o que aconteceu. Passaram 4 horas desde que aumentara a velocidade e chegou à costa, ou melhor, a uma longínqua floresta. Não faria muito progresso procurando uma árvore oca agora de noite. Teria que procurar amanhã cedo. Ele girou e aparatou vários quilômetros adentrando a floresta. Mais algumas vezes de aparatação e chegou a uma pequena estalagem, intitulada: Vogël Pikë. Não sabia o que significava, mas entrou. Era pequena e vários trouxas pararam de conversar quando Riddle se destacou. Ele teve de fazer sinais ao dono para este entender o que dizia. Após um bom tempo de barganha, Riddle conseguiu um quarto onde pôde descansar.


 


Dormiu muito mal. O colchão onde estava era cheio de calombos. A janela de algum lugar batia num ritmo de irritar. Estava muito frio e o cobertor que tinha era péssimo, cheio de remendos. O vento fustigava a floresta pelos barulhos lá de fora. Os animais estavam irrequietos naquela noite. Adormeceu pensando se estaria perto do grande Carvalho.


 


Acordou com um barulho irritante zunindo pela pequena estalagem. Tinha uns homens com um estranho aparelho cortando uma árvore na floresta. Desceu rapidamente, mas não era um carvalho.


 


O dia estava claro, mas não quente. Se não fosse julho, estaria nevando. A floresta era imensa. Aparatou várias vezes até chegar a uma montanha. Já foi cansativo procurar pelo seu fim e constatar que era enorme. Mais cansativa seria procurar e o extremo de seu cansaço seria se não fosse essa a floresta. Mas teria que tentar. Tentou pelo modo mais estúpido que se pode imaginar: ficou olhando as árvores para ver qual era oca. Toda vez que encontrava uma árvore assim, corria até ela e quase entrava no buraco. A maioria era toca de pequenos esquilos. Havia vários ratos naquela região. Ratos até demais. Até a hora em que uma velha cobra tentava capturar um, Riddle deu uma ajudinha:


 


Espere – disse para a cobra em ofidioglossia. Ela encarou-o com os olhos vermelhos.


 


A cobra sibilou:


 


O que vai fazer?


 


Veja! – disse ele, olhando para o pequeno rato que fugia descontrolado.


 


Riddle apontou e exclamou:


 


Imperio!


 


O rato deu uma pequena sacudida ante a maldição e Riddle ordenou:


 


– Vá até a cobra.


 


O rato se dirigiu silenciosamente a cobra, seus pensamentos vagando pelo infinito sem saber o que estava fazendo. Então, foi engolido rapidamente. Ela agradeceu dizendo:


 


Obrigado. Que posso fazer pelo jovem mestre? – perguntou, terminando de engolir o rato, cujo rabo era a única coisa visível na boca da cobra, que ainda conseguia falar.


 


Nada – respondeu, calmamente.


 


Sempre teve simpatias com cobras. Mais do que com vários colegas que já teve em Hogwarts. Mas então, ele se lembrou.


 


Espere!


 


A cobra poderia sim ajudá-lo.


 


Você vive por aqui? – perguntou, ansioso, olhando ao redor da floresta.


 


Ssssim... – respondeu a cobra, com a língua bifurcada para fora. Estava digerindo.


 


Conhece bem a floresta? – indagou o garoto, desejando a resposta que queria ouvir com excitação. Riddle percebeu que sequer ventava na floresta.


 


Conheçççççço... – a cobra fez uma leve afirmativa com a cabeça. Estava disposta a ajudá-lo. O caso é que não era mais do que sua obrigação.


 


Onde costuma dormir? – perguntou, sabendo qual seria a resposta para uma floresta deserta. E ele vibrou cada fibra do seu corpo para ouvir o que desejava.


 


Em buracos – a cobra olhou ao redor, tentando encontrar um, então continuou. – Ou em ocos de árvores.


 


Nas árvores que você já dormiu – começou ele, cada vez mais ansioso –, você já viu um objeto estranho dentro? – perguntou, a excitação crescendo.


 


Váriassss vezes... – respondeu a cobra. Parecia entediada imaginando quantas coisas já havia visto.


 


Riddle começou a tremer violentamente de ansiedade.


 


Como o quê? – questionou, tentando parecer displicente.


 


Animais mortos, fezes, folhas, neve... até utensílios que as pessoas colocam na cabeça – chapéus de trouxas definitivamente não o alegravam. Descartou essa possibilidade.


 


Só isso? – insistiu na pergunta.


 


Só... – respondeu a cobra, após um breve momento de reflexão pensando sobre o assunto.


 


Não podia ser. Como não vira o diadema? A não ser que não fosse essa a floresta e foi para lá em vão. Mas aí se lembrou de algo: o diadema tinha a forma de uma tiara. E servia na cabeça.


 


Que coisa você achou que era um utensílio? – perguntou, jogando para fora toda a discrição e não escondendo sua vontade. Riddle não escondia a ânsia.


 


Chapéus, tiaras...


 


Que tipo de tiaras? – ele estava se descontrolando. Sua voz mudou de frequência mais rápido do que seu feitiço estuporante em Morfino


 


Uma bem bonita ainda semana passada. Estava bem velha, mas intacta. Cheia de poeira. Era azul e quando os raios solares nela batiam, brilhava.


 


Leve-me até ela – ordenou.


 


Claro...


 


Eles percorreram um longo caminho pela floresta. Riddle toda hora olhava à frente tentando encontrar um carvalho furado. E logo achou. Era muito velho e quase despedaçado.


 


Essa árvore é velha... meus ancestrais dizem que tem quase mil anos – disse a cobra encarando o tronco.


 


Não duvido – exclamou Riddle, pensando que há quase um milênio Helena Ravenclaw estava escondida nesta floresta.


 


Ele colocou o braço no buraco da árvore e sentiu a excitação em seu peito. O triunfo total em suas mãos. Retirou algo metálico de dentro da árvore.


 


Tergeo! – disse, apontando a varinha para o diadema.


 


A poeira foi sugada pela varinha e estava brilhando. O azul era belíssimo. O diadema era uma tiara perfeita, pensou. Havia umas pedras preciosas no objeto e logo deduziu que eram safiras. Havia uma inscrição talhada por dentro do diadema: O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. Definitivamente, encontrara a relíquia de Rowena Ravenclaw que foi roubada por sua filha, Helena Ravenclaw, e escondida nessa floresta albanesa.


 


Muito obrigado – agradeceu Tom. Ele apontou a varinha para mais uns três ratos e exclamou:


 


Petrificus Totalus!


 


Os ratos se imobilizaram, mas continuavam vivos.


 


De nada. Obrigado pelo banquete.


 


A cobra rastejou até o primeiro rato e o engoliu. Riddle saiu dali procurando alguém. Viu ao longe uma casa. Aparatou para os arredores. Vivia um camponês ali, pelo modo que se vestia. Típicas vestes de um trouxa, pensou. Mais uma boa morte, mais uma morte de um trouxa. Entrou na casa e estava numa sala pequena. Havia uma mesa com apenas uma cadeira, indicando que o homem vivia sozinho. Melhor, impossível. Longe de qualquer lugar, ninguém chegaria para se intrometer. Um homem, com a barba por fazer, vestindo um macacão, saiu do banheiro. Riddle sabia que era banheiro pois ouviu uma descarga. O homem bateu a porta e deu de cara com Riddle, olhando gananciosamente para o homem. Um sorriso se espalhou em seu rosto quando o homem falou:


 


– Kush jeni ju? – não sabia o que significava. Mas isto não importava agora. Nada mais importava neste momento.


 


Riddle tirou a varinha de teixo e olhou para ela. Branca como sua pele. Apontou-a para o homem.


 


– Ç’Farë doni? – o homem achou que poderia fugir, mas era tarde demais para uma fuga.


 


Avada Kedavra!


 


A maldição produziu um estampido quando saiu de sua varinha. Momentaneamente, o pequeno aposento brilhou luz verde para todos os lados até atingir sua vítima. O homem foi empurrado para trás quando a maldição o atingiu. Ele caiu e não mais se mexeu. Depositou o diadema sobre seu cadáver e exclamou:


 


Claudere anima!


 


Novamente, uma massa escura irrompeu de seu peito gritando. A varinha quase não mais tremia. Estava cada vez mais fácil tirar sua alma já dividida várias vezes dentro de seu corpo. O diadema obteve uma aura dourada, assim como o diário e o anel, e começou a levitar. Logo, pousou silenciosamente no chão, sem mais aura negra. A varinha parou de tremer. Riddle acabara de criar sua terceira Horcrux: o diadema de Rowena Ravenclaw. Ele pegou o objeto e saiu da casa do camponês morto. Voltou à estalagem e pegou o restante de suas coisas. Guardou o diadema muito bem seguro na mochila. Iria embora aparatando. Cansou-se de andar.


 


Após algumas horas, as quais passou atravessando o Adriático, chegou à Itália. Aparatou diversas vezes e logo chegou à França. Já era noite quando finalmente atravessou o Canal da Mancha e já estava na Grã-Bretanha. Pegou o primeiro trem do metrô que ia até King’s Cross. Chegando a estação, saiu do local e pegou outro trem subterrâneo que o levaria até Charing Cross. Logo, estava em uma conhecida rua. Já estava no Caldeirão Furado e não esperou irritações com o dono do bar. Logo, chegou ao conhecido muro e tocou-o em certos  pontos com a varinha. Os tijolos se moveram e estava no Beco Diagonal. Nenhuma vitrine o interessava, então seguiu caminho.


 


Chegou a um beco que nunca tinha entrado, intitulado como Travessa do Tranco. Por ela entrou. Era o melhor lugar do beco, pensou. As lojas só se tratavam de Artes das Trevas, coisas que conhecia muito bem. Chegou a uma loja cheia de objetos bonitos e resolveu que ficaria por ali mesmo. Entrou na loja de nome Borgin & Burkes.


 


– Boa noite, meu senhor.


 


Um homem se apresentou  logo que ele entrou. Sua cabeleira cobria todo seu rosto.


 


– Boa noite – respondeu Riddle.


 


– Em que posso ajudá-lo?


 


– Procuro emprego, senhor. E também moradia. Sei que vai me chamar se jovem, mas lido muito bem com Artes das Trevas.


 


– Precisamos mesmo de balconistas – disse o homem. – BORGIN! – gritou.


 


Logo veio outro homem. Não tinha uma vasta cabeleira, mas era tão carrancudo quanto o professor Dagworth.


 


– Quê? – respondeu, apenas.


 


– Esse rapaz quer emprego. E moradia.


 


O tal Borgin olhou Riddle de cima a baixo e disse:


 


– Você se acha bem qualificado? – seu olhar era como o de um curandeiro diante de um paciente.


 


– Sim, senhor. Terminei a escola recentemente e obtive o suficiente para... – não queria ter de dizer aos bruxos que era inteligente demais para ele, então – para poder trabalhar aqui. Esse lugar e as coisas nele me fascinam.


 


O homem encarou-o atentamente.


 


– Coloque-o no balcão.


 


– Obrigado – disse Riddle, contente. Ali ele saberia que poderia encontrar objetos valiosos. Riddle perguntou:


 


– O que vocês fazem nessa loja?


 


Burke olhou-o inteira antes de responder:


 


– De tudo! Vendemos e compramos artefatos das trevas. E também coisas valiosas – apontou para vários objetos nas prateleiras.


 


– Que tipo de coisas?


 


– Objetos antigos. A maioria feita por duendes. E coisas raras – disse ele, todo empolgado.


 


Era o lugar perfeito.


 


– Onde dormirei?


 


– Tem uma cama logo ali.


 


Burke apontou para uma porta no fundo das lojas. Riddle foi até lá e deixou seus pertences embaixo da cama. Apontou a varinha para a mochila e ordenou:


 


Barricade maximilium!


 


A mochila sumiu. Riddle tentou tocá-la, mas uma barreira invisível não permitia. Não deixaria em risco duas de suas três Horcruxes. O anel continuava intacto em seu dedo. Este seria a época perfeita para encontrar outros objetos dos fundadores. Riddle sabia: era apenas uma questão de tempo.

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