Abertura da Câmara – assassina
A VIDA. O que era a vida?, pensava Riddle agora em 1º de setembro de 1942, pensando no novo ano letivo que começaria em poucas horas. As pessoas nasciam, viviam e morriam. Por quê? Se fosse possível escolher entre nascer ou não, era preferível nem nascer se ia morrer mais tarde. Tudo que havia vivido, falado, visto e feito seria jogado para fora. Tudo seriaem vão. Porque então não viver para sempre e ver de tudo? Aquele seria seu propósito daliem diante. Aimortalidade. O livro estava sob sua cama muito bem guardado e Riddle quando saía do quarto levava-o com ele. Já estava na hora de sair.
– Tchau, Sra. Cole.
A Sra. Cole estava nas cozinhas e Riddle sequer ouviu o que ela disse. Seu malão já estava pronto, mas lembrou-se de algo e saiu correndo escadas acima. Foi buscar o seu diário. Desceu correndo as escadas. Já era quase 09h. Pegou o metrô e chegou faltando 15 minutos para 11h. Atravessou King’s Cross e adentrou pela parede de pedra entre as plataformas 9 e 10.
-Tom! Tom, aqui!
Era Nott que estava chamando-o.
– Você? Você também? Eu... – e ele ficou apontando para Tom Riddle, que tinha um distintivo no peito.
– Sim, Natrium! Nós dois então monitores esse ano.
– Legal! – gritaram Aurum, Tecnécio e Laurêncio, que haviam acabado de chegar na plataforma.
– Vamos logo, temos que ir ao compartimento dos monitores.
Eles entraram no trem e foram procurar compartimentos. Tom e Natrium foram até o carro dos monitores e ficaram ouvindo instruções do monitor-chefe, um sonserino do 7º ano. Após quase 2 horas, puderam sair e ir ao vagão que quisessem. Tom e Natrium se juntaram aos três amigos.
– E aí – começou Laurêncio, o mais curioso –, o que vocês têm de fazer?
– Nada de mais – respondeu Natrium. – Temos de ensinar aos novatos onde fica nossa casa comunal e de vez em quando patrulhar os corredores do castelo. Será bom para vasculharmos mais o castelo, não acha Tom?
Tom nada disse. Ficou lembrando do que havia escrito no diário. Seria esse o ano que acharia a Câmara, soltaria o monstro e tiraria os sangues-ruins da escola de seu renomado ancestral, Salazar Slytherin. Ficaram batendo papo e falando de tudo até chegar ao castelo. Esse ano seria um ano importante, pois prestariam os Níveis Ordinários da Magia, muito importante para a formação dos bruxos. Chegaram ao castelo e Tom desceu orientando, junto com Natrium, os novatos. Levaram os alunos até Ogg e voltaram. Passaram pelo conhecido caminho, desde o 2º ano, e entraram nas carruagens que andavam sozinhas. Chegaram ao castelo e logo começou a seleção. O Chapéu cantou uma nova canção, desta ver alertando um perigo, e logo o banquete começou. Aquele seria o ano.
Logo que se acomodou no castelo, resolveu procurar na biblioteca vestígios novamente, ainda mais fundo nos livros da Seção Reservada, sobre sua família. Achou um velho livro, indicado pelo professor Slughorn, sobre bruxos famosos conhecidos dos séculos XIX e XX, intitulado Genealogia pura. Começou a ler diversos nomes, mas nenhum conhecido. Resolveu então a ler um livro antigo que listava as famílias de bruxos mais antigas e conhecidas e seus primeiros descendentes. Leu um nome bem gasto, mas também muito antigo. Leu algo parecido, pois a folha estava rala, rasgada e quase podre: Peverell. Mas ainda não batia com seu nome. Talvez sua família, seus pais, não fossem tão velhos assim, talvez não fossem uma família bruxa antiga, já que sua mãe devia ser trouxa pelo fato de ter morrido durante o parto. Entretanto, leu alguns nomes, até então encontrar: Servolo Gaunt, descendente direto de Cadmo Peverell. Então devia ser essa a família bruxa mais antiga. Servolo Gaunt devia ser seu parente, talvez avô. Havia um traço para baixo indicando mais dois nomes, Morfino Gaunt e Mérope Gaunt. Aquele nome o fez estacar na hora. Era ela. Ele lembrava desse nome. A Sra. Cole disse que pensara ter visto esse nome com o saco de galeões que ela carregava, mas estava tão suja de sangue que não conseguia distinguir nada. Se ao menos pudesse visitá-la no verão, saber mais sobre ele e seu pai, onde moravam, saber sobre sua família. E assim decidiu. Leu a inscrição do lado do nome: Little Hangleton e anotou em um pergaminho, junto com o nome, para não esquecer. Visitaria sua família no próximo verão.
Os meses passaram e dezembro havia começado e numa de suas vigílias, tudo mudou para Riddle.
Estava no 2º andar quando viu algo que era proibido àquela hora da noite. Havia uma garota ali perambulando e chorando. Riddle a seguiu e constatou que era uma sangue-ruim da corvinal, chamada Maria Kalium, que estava chorando. Ela entrou num banheiro feminino e Riddle parou. Por que não? Afinal, ele era monitor. Entrou e ficou esperando a garota sair de um dos boxes, enquanto ficou escondido por detrás das torneiras.
– Arf, arf, arf... – ela gemia. – Murta, era só o que me faltava. Além desses óculos idiotas e essas espinhas nojentas, ganho mais um apelido. Arf, arf, arf...
Ela saiu do boxe e foi se lavar, logo à frente de onde Riddle se escondia. Viu algo nojento, ela limpando nas vestes o nariz imundo. Aquilo deu nojo, como sangues-ruins eram nojentos.
– Droga, maldição... e essa coisa que não funciona.
Riddle esperou ela lavar as mãos e sair para contornar as torneiras. Como monitor, era seu dever informar quando algo não estava acontecendo e aquela torneira precisava de conserto. Tom foi até onde ela estava e começou a abrir, uma por uma, as torneiras. Mas uma não abria. Tentou de tudo, todos os feitiços aprendidos e nada fazia a torneira jorrar água. Tentou tirá-la do lugar, mas parecia que estava soldada. Tentou arrancá-la a mão, por mais inútil que fosse. Mas, havia algo nela. Um contorno estranho estava encravado nela, e era diferente das demais torneiras. Baixou os olhos negros e viu. Havia uma minúscula cobra ali. Algo verde refletiu em seus olhos e a minúscula cobra piscou. Será que era aquilo que Riddle pensava ser? Seria a Câmara ali, num reles banheiro feminino? Mas é claro, afinal ali era um lugar pouco frequentado, apesar de ser um banheiro.
– Alorromora! – exclamou, apesar de saber que com certeza não funcionaria. Riddle sabia que a Câmara havia selada pelo próprio Salazar e um feitiço assim qualquer um conseguiria produzir. Tentou todas as variações possíveis de feitiços de abertura e nada surtia efeito. Então, lembrou-se de um interessantíssimo fato: somente ele da casa Sonserina era ofidioglota. E Salazar era um conhecido bruxo ofidioglota. Valia a pena tentar:
– Abra – disse, naquele conhecido silvado que só cobras entenderiam.
Algo aconteceu. Um barulho de cobra saiu da torneira e as engrenagens de algum lugar começaram a se mexer. Um fedor inundou o banheiro, fedor de coisa morta. Todas as torneiras começaram a girar e foram saindo do centro. Parecia o Beco Diagonal. Um buraco apareceu por baixo das torneiras que começaram a sair do lugar cada vez mais, até completamente revelarem um buraco, que devia ter um raio maior do que60 cm, capaz de conseguir sair por ali. Pulou. Foi escorregando por um longínquo túnel. Devia estar a centenas de metros abaixo não só do castelo, mas do solo. Foi diminuindo a velocidade até chegar a uma caverna, enorme e negra. O fedor ali era insuportável, mas Riddle resistiu. Viu diversos esqueletos de aves e mamíferos e ficou imaginando se aquilo foi alimento para a criatura de Salazar. Havia mais um longo túnel que logo começou a caminhá-lo. Chegou ao final, mas antes disso, já estava contemplando o enorme rosto de seu mestre. Salazar estava vivo gravado na parede. E seu herdeiro havia chegado.
– Salazar, servirei-o.
A estátua começou a emitir um ruído e a abrir. Algo sibilante vinha pelo túnel de pedra. Riddle não imaginava o que era, mas na mesma hora fechou os olhos ao ouvir:
– É o herdeiro de meu mestre que chega?
Riddle sabia o que era, caso contrário não ouviria o animal falar. Era uma cobra, e não uma qualquer. Era a rainha delas, a serpente mais mortífera do mundo, era um basilisco. Ouviu falar dele pelo professor Binns e sabe-se que o primeiro bruxo a criar um através de experiência foi Herpo, o Sujo. Agora que se tocou: Herpo também havia sido o primeiro, depois de Horcrux (mesmo que acidentalmente) a criar com êxito uma Horcrux. Como é que não relacionou tudo antes?
– Sim, sou eu. O herdeiro de Salazar Slytherin.
– Pode abrir os olhos. Não o verei nos olhos.
Riddle confiou na enorme serpente. Era, realmente, gigantesca. Devia ter mais de15 metrose sua cabeça devia pesar uns70 kg. Era verde e suas escamas eram espessas. Na sua boca, cabia uma criança do 1º ano. Sabia de seu poderoso veneno, já que podia destruir Horcruxes.
– Vai me ferir?
– Não, sssss... Fui mandado por meu mestre a obedecê-lo para o que quer que me mande fazer. E o farei. Você é o autêntico herdeiro de meu mestre, já que somente o herdeiro abriria a Câmara, assim disse meu mestre.
Aquilo era o que sempre imaginara. Era o legítimo herdeiro do maior bruxo dos tempos: Salazar Slytherin.
– Mataria uns sangues-ruins?
– Claro, foi o propósito de minha criação. Diga-me qual.
– Bem, antes vou planejar tudo, temos que encurralar certas pessoas – era estranho falar com uma criatura que podia arrancar-lhe a cabeça quando quisesse. Mais estranho era que a criatura estava de olhos fechados e cabeça baixa, apenas escutando.
– Já deve ser tarde. Vou embora, mas logo voltarei. Me aguarde.
– Ssssimmm...
Tom Riddle voltou pelo caminho que viera em triunfo. Era o herdeiro de Slytherin e completaria seu propósito. Os sangues-ruins nada eram comparados ao rei das serpentes. Afinal, bastava um olhar e a morte viria. Restava saber como voltar pelo túnel.
– Quer uma ajuda?
A enorme cobra viera de olhos fechados e abaixou a cabeça. Riddle subiu em seu lombo e ela começou a deslizar pelo escorregadio túnel de volta para cima. A Câmara estava fechada.
– Abra.
Ouviu as torneiras se afastando até sua abertura. Contemplou o teto do banheiro quando a passagem se alargou e a cabeça da cobra sair por completo dali. Riddle saiu de cima de seu corpo, o basilisco voltou e fechou a Câmara.
Saiu do banheiro com a cabeça girando em direção ao salão comunal. Iria planejar tudo, a começar pelas vítimas. Odiava aqueles nojentos grifinórios, mas os piores eram da Lufa-Lufa e aquela guria ridícula da Corvinal que estava há pouco chorando no banheiro. Com certeza ela voltaria, só precisava de um pouco de persuasão. Chegou à parede de pedra e qual foi sua surpresa ao ver que já passava da meia-noite e a nova senha já mudara.
– Câmara Secreta.
A passagem se abriu e ele entrou. Não havia ninguém no salão comunal, então foi direto para o dormitório, esperando contar tudo aos amigos. Bem, talvez nem tudo. Eles não precisavam saber que o monstro era um basilisco e sua localização, mas Riddle provaria.
– Tom, onde você esteve? – era Natrium. – a patrulha terminou há 1h!
– Eu estive caminhando por aí, pensando. E cheguei a uma conclusão – disse Riddle, se coçando para não dizer tudo.
– O quê? – perguntou Tecnécio, curiosíssimo.
– Eu sou o herdeiro de Salazar Slytherin.
Os amigos nada disseram. Aurum e Laurêncio trocaram olhares nervosos. Aquilo era muito improvável, mas não tinham a coragem de dizer isso a Riddle. Tom pegou a pequena estátua que tinha na cabeceira de cada cama e leu em voz alta:
– “Que meu herdeiro abra a Câmara Secreta e expurgue a minha escola dos indignos de estudar magia”. Vocês verão o que vai acontecer nos próximos meses.
– Tom, mas como é que pode? Como descobriu? – questionou Laurêncio, tanto curioso como ansioso.
– Eu sou ofidioglota, não sou? E depois de Herpo, que o professor Binns falou, Salazar também foi ofidioglota. Tudo se encaixa, mas não preciso provar a vocês falando. Vocês saberão.
E com essa enigmática promessa, deitou-se na cama e dormiu.
Acordou com a cabeça a mil. Planos e mais planos iam e vinham. Tudo teria que ser perfeito, haveria pânico e caos entre os sangues-ruins e depois de alguma morte iriam embora. O primeiro, decidiu, seria aquele monitor grifinório que vivia estudando até tarde na biblioteca e, como havia uma tubulação até lá, seria fácil levar o basilisco pelos encanamentos. E assim decidiu. A primeira morte ocorreria essa noite e ele informaria aos seus amigos do primeiro ataque. E assim o fez.
Desceu até a Câmara pouco antes do jantar para chamar o basilisco. Logo ele veio, com a cabeça baixa.
– Pode ir até a biblioteca? Sabe onde é?
– Ssssimmm...
– Ótimo, esteja lá mais tarde. Chamarei-o quando for a hora.
E saiu, olhando por cima do ombro o basilisco voltando para a boca da estátua, provavelmente todo o encanamento era ligado àquele ponto. Já era noite e Riddle e o monitor da Grifinória estavam sozinhos na biblioteca. Até mesmo Madame Pince os amigos de Riddle conseguiram despistar, rasgando um pesado livro.
– Que cheiro ruim – falou Riddle, cobrindo o nariz e encarando um garoto –, ah, tem um sangue-ruim aqui.
O rapaz virou cheio de ódio para Tom e ameaçou:
– Continue falando e eu falo para Dippet!
– Falar o quê? Ele sabe que você é um sangue-ruim, nem sei porque ele deixou você entrar aqui. Você não pertence ao nosso mundo! – rosnou Riddle, e antes que o garoto pudesse revidar, Riddle enrolou a língua e disse, num jeito estranho de falar, já de costas saindo do lugar:
– Agora!
O monitor xingou baixinho e resolveu lustrar o distintivo vermelho em seu peito, mas só teve tempo de olhar de relance um ponto amarelo refletido nele e nada mais viu.
Riddle voltou cinco minutos depois para ver o corpo. E lá estava, caído no chão, segurando fortemente o distintivo. Tom olhou de relance para um dos enormes canos que ia do fundo da biblioteca até sabe-se onde e ouviu:
– Não funcionou. Ele sequer olhou para mim.
E o basilisco saiu rastejando.
Mas aquilo era impossível, pensou Riddle. É claro que havia funcionado, ali estava a prova, o corpo estava ali. Chegando mais perto, notou algo estranho. Os olhos do garoto estavam negros e abertos. Ele estava caído de um jeito estranho, como se estivesse sentado. Tocou-o. Estava duro. O que havia acontecido? Chutou o corpo, estava como pedra. Mortos ficavam moles, como se estivessem dormindo, mas sem ter batimentos cardíacos. Não saberia dizer se o coração do sangue-ruim estava batendo, talvez seu peito havia inchado e nada se escutava. Talvez pela manhã fosse considerado morto. Riddle saiu e foi até o corredor que ia até a biblioteca, perto do banheiro feminino, e retirou do casaco sangue de dragão que os amigos haviam roubado de Slughorn. Escreveu na parede a seguinte mensagem:
“Fujam, sangues-ruins. O monstro de Slytherin está sob meu comando e seu desejo final será feito. A Câmara Secreta está aberta”.
Voltou ao salão comunal, falou para os amigos o que havia acontecido e esperou ansiosamente pela manhã, esperando ouvir gritos das outras casas e triunfo da dele. Ouviu berros logo que acordou, Natrium e Tecnécio já estavam fora da cama. Vestiu-se rápido, colocou o distintivo e saiu. Foi até o segundo andar, mas a passagem era impossível. Centenas de alunos estavam ali falando alto e preocupados. O monitor-chefe então apareceu e recomendou a todos para irem ao Salão Principal, e assim eles fizeram. Logo que todos se acomodaram no grande salão, o professor Dippet, junto com os outros professores e mais uma dezena de bruxos desconhecidos vieram. Atravessaram o salão e ficaram de pé defronte à mesa dos professores. O professor Dippet começou a falar:
– Alunos, aconteceu algo ontem na escola e suponho que todos já saibam o que é. Túlio Frrasco, monitor da Grifinória, foi...
– Morto – completou Riddle, pensando.
– ... petrificado – o quê?, pensou. Não era possível, ele estava morto. – Como todos sabem, alguém petrificado não está morto, mas é Arte das Trevas realmente poderosa e perigosa. Não sabemos como ele ficou assim, mas...
– E aquela mensagem no corredor? – gritou uma aluna da Corvinal, e todos começaram a gritar com medo e frustração.
– Silêncio! – gritou Dippet, que parecia extremamente nervoso. – A Câmara Secreta é uma lenda que foi criada para apavorar os nascidos trouxas. Com certeza foi uma brincadeira de mau gosto.
– Mau gosto? – a outra monitora da Grifinória, Lágima Kalioka, parceira de Frrasco, estava ensandecida. – Ele foi petrificado, professor, isso é realmente sério. Não foi nenhuma brincadeira!
– O professor Dippet não disse que isso foi uma brincadeira, Srta. Kalioka – enfatizou Dumbledore, fazendo todos se calarem. – Esse ataque foi realmente sério e trazemos reforços para investigar mais sobre isso e descobrirmos o real culpado – ele acenou para os bruxos que estavam sérios de prontidão ao redor.
Os alunos se calaram e Dippet agradeceu Dumbledore.
– Muito bem, quero que todos vão ao seu respectivo salão comunal e lá fiquem até segundas ordens vindas do monitor da casa. Estaremos na escola e arredores investigando. Quem quiser falar alguma coisa relacionada sobre o possível atacante, que não seja nenhuma besteira de Câmara Secreta, pode falar – Dippet esperou, mas nenhum aluno quis falar sobre isso e todos foram ao salão comunal da casa correspondente.
Chegando ao salão comunal sonserino, Riddle e os quatro amigos foram depressa até o dormitório.
– Impertubctus maxima! – exclamou Riddle, apontando a varinha para a porta logo depois que entraram no dormitório.
– Pra que isso? – Tecnécio agora olhava para a porta, que começou a ranger e parecer que estava sendo empurrada por dezenas de pessoas.
– Feitiço da Imperturbabilidade – respondeu Laurêncio. – Ninguém poderá entrar nem nos ouvir.
– Então, eu não disse que algo iria acontecer ontem a noite na biblioteca, não foi? – afirmou Riddle.
Os quatro ficaram de queixo caído e olhando abismados entre si e para Riddle. Aurum chegou a babar. Seus cabelos dourados refletiam a pequena estátua de Salazar Slytherin numa das camas.
– Como é que... Mas então não é? Dippet falou que...
– Falou que era uma lenda porque nunca encontraram a Câmara. Revistaram o castelo centenas de vezes até então e nada foi constatado. Então, acharam que era mentira de Salazar e esqueceram do assunto, sendo considerado mito. Agora não é mais. E o melhor, os ataques continuarão e ninguém vai pensar que é o monstro de Salazar, então não há com o que se preocupar. Só não entendo uma coisa... – disse, pensando.
– O quê? – perguntou Tecnécio.
– Frrasco não morreu – informou Tom Riddle, pensativo. – O basilisco...
– O monstro é um basilisco? – gritou tão alto Laurêncio que Riddle deu graças por ter lançado um feitiço na porta antes.
– Isso, é um basilisco. E quando eu fui para a Câmara ele fechava os olhos – acrescentou, ante ao olhar assustado dos amigos.
– Uau.
– Mas o que o basilisco disse, Tom? – perguntou Aurum.
– Que não tinha dado certo, que Frrasco não olhou para ele. Isso eu sei, caso contrário estaria morto. Mas por que então ele foi petrificado? Ele segurava o distintivo dele, será que... – sua mente começava a pensar – ... será que ele apenas viu o reflexo dos olhos do basilisco?
– Não sei – disse Natrium, que era, depois de Riddle, o mais inteligente. – Deve haver algo mágico nos olhos do basilisco.
– Deve haver? – riu Aurum, parecendo descrente. – Para matar apenas com o olhar, é claro que há!
– Isso todos sabemos, mas será que, quando ele não mata, petrifica a pessoa? – indagou Natrium, andando de um lado para o outro no dormitório.
– Mas eu não quero que ele petrifique – interrompeu-o Riddle, irritado. – Quero que mate! – vociferou.
– Bem, teremos que planejar mais cuidadosamente os ataques, Tom – completou Laurêncio.
Teremos? Pensou Riddle. Quem iria planejar os ataques seria ele, os amigos apenas participariam para nada dar errado. Era ele e somente ele o herdeiro, não os outros. Ele descobriu a Câmara, ele mandava o basilisco, não eles.
– É, bastará que vocês despistem os outros durante os ataques. Eu ficarei com o basilisco para me certificar que haverão mortes da próxima vez!
Os amigos concordaram.
Nos meses seguintes, ocorreram mais quatro ataques a sangues-ruins, mas todos deram errados.
O primeiro foi no banheiro dos monitores com uma aluna da Corvinal. Riddle a viu se despir e sentiu nojo de seu corpo. O basilisco apareceu, mas a garota viu seu reflexo na água e petrificou. Esperou que afundasse na água e morresse, mas nem isso aconteceu. A petrificação fechava todos os orifícios, deixando alerta apenas o coração. Dippet, depois de mais esse ataque, começou a se desesperar. O Ministério da Magia estava pressionando-o demais, mas nada poderia fazer.
O segundo foi num dos corredores da masmorra, perto da sala de Poções. Era um garoto do primeiro ano que foi, novamente, petrificado. Parece que ele se surpreendeu quando o Barão Sangrento atravessou na frente dele, mas, obviamente, nada aconteceu com o Barão. Uma porque ele não devia ter visto o basilisco. Outra porque já estava morto, como iria morrer de novo ou ser petrificado?
O terceiro foi o mais desesperador, pois desta vez foi triplo. Mas triplamente frustrado, pois ninguém morreu. Eram dois garotos do sexto ano e uma garota do sétimo. Estavam escondidos, mas obviamente Riddle os perseguiu até onde se esconderam, que foi num corredor do sétimo andar, defronte à tapeçaria de Barnabás, o Amaculado. E dessa vez, Riddle descobriu algo.
Havia uma passagem naquele corredor que dava a uma enorme sala desconhecida. Havia vários objetos ali, pois Riddle pensou instantaneamente, quando estava prestes a mandar o basilisco atacá-los, em esconder seu diário, onde havia registrado os ataques. Descobriu que a parede se formou em uma porta e quando nela entrou lá dentro parecia o interior de uma enorme catedral cheia de prateleiras e objetos. O basilisco disse que era conhecida como Sala Precisa e que poucos alunos tinham conhecimento dela. Aqueles três, agora com Riddle, deviam ser os únicos daquele ano a saber dela. Parece que as pessoas deixavam coisas que não mais queriam lá e ninguém poderia achá-las, exceto o dono. Mas Riddle descobriu que não era verdade durante o terceiro ataque. Isso porque os três voltaram com uma enorme armadura de prata feita por duendes, que deviam ter roubado da sala e, infelizmente, os três estavam olhando para ele quando o basilisco veio pelo corredor logo atrás deles. Riddle teve que devolver a armadura para ninguém mais saber sobre aquela sala, aquilo era muito importante para qualquer um, afinal, o basilisco disse que os fundadores a criaram para apenas os aventureiros. E Riddle era um, vivia a vasculhar o castelo a procura dos segredos de Hogwarts.
Depois desse ataque, Riddle começou a ser surpreendido quase toda noite por Dumbledore, o professor de Transformação. Mesmo sendo monitor, o professor vivia fazendo perguntas por que estava tão de tarde andando pelos corredores e quase sempre no corredor do segundo andar, onde ocorreu o primeiro ataque e também a localização da Câmara Secreta. Dumbledore parecia não se intimidar ao conhecido olhar que Riddle lançava aos inimigos e de vez em quando aos amigos e mais raramente ainda a alguns professores. Pelo contrário, Dumbledore parecia pensar o que Riddle sabia, mas nada podia provar, pensava Riddle. De todos os professores, Riddle ganhava a confiança e era visto e respeitado com mais valor, menos Dumbledore, que o tratava como todos e talvez com um pouco de repressão. Mas Riddle nunca se intimidou também.
O quarto ataque ocorreu no final de maio de 1493, já há um mês das aulas acabarem. Mas desta vez, os professores se apavoraram. A professora de Estudo dos Trouxas, diretora da Lufa-Lufa, Caridade Burbage, fora atacada. Riddle, apesar de não assistir às suas aulas, a odiava. Sempre que ouvia ela falar, estava falando sobre os trouxas e o que fizeram de bem à humanidade. Vivia escrevendo artigos para o jornal bruxo, o Profeta Diário, informando aos bruxos sobre o que os trouxas têm de bom e como podem nos ajudar. Besteira! Eles nada sabiam. Irritantemente, o ataque não surtiu o efeito desejado, que era a morte. Desta vez, ela foi atacada dentro do salão comunal da Lufa-Lufa, nos porões. Riddle foi com o basilisco pela tubulação até perto das cozinhas e lá acharam a professora, num pequeno aposento de frente a um espelho, avaliando seus cabelos quase esbranquiçados. Riddle havia planejado que o basilisco a mordesse, assim não teria jeito. Mas a professora viu, novamente pelos malditos reflexos, o olhar amarelo e petrificou-se. Tom insistiu que injetasse seu poderoso veneno nela, mas nada aconteceria, exceto uma possível quebra dos dentes da serpente, pois a professora havia virado pura pedra.
Já estavam na primeira semana de junho, faltando três semanas para o término das aulas, e a vigilância havia atingido níveis alarmantes. Monitor ou não, Riddle tinha sido proibido de andar a noite pelos corredores. Estava quase impossível andar pelo corredor do segundo andar, tamanha a quantidade de bruxos do Ministério. Mas aquilo não ia terminar assim, haveria pelo menos uma morte.
Foi em 13 de junho que sua sorte mudou. Pela manhã, ele convenceu Olívia Hornby a importunar Maria, que Riddle constatou que vivia a chorar logo na entrada da Câmara. É claro que Riddle não havia dito o propósito daquilo...
– Murta, você por aqui? – perguntou Olívia, maliciosamente, já rindo do que diria a seguir.
– Não me chama de Murta, Olívia – pediu a garota, cujo apelido devia-se pelo fato de ter o rosto de um cadáver.
– Por que não, Murta, ou você prefere quatro olhos, com esses óculos ridículos na cara? – desdenhou a garota, apontando a rindo para a colega.
Maria começou a soluçar, mas não chorou.
– Eram da minha mãe!
– Sua mãe? – indagou, rindo mais ainda. – Aquela trouxa nojenta?
– Não fale assim da minha mãe! – ameaçou, querendo parecer fingir que faria alguma coisa se a colega continuasse.
– Por quê? É verdade, aquela trouxa imunda devia ser tão feia como você – riu-se ela, imaginando em como era a mão da garota. – Feia, espinhenta e ocluda!
Agora Maria chorou de verdade e saiu correndo até o banheiro do segundo andar. Logo começou a chorar. Riddle ouviu-a chorando dentro do boxe e saiu por detrás das torneiras. Disse, silenciosamente: Abra
As torneiras começaram a se locomover, mas Maria nada ouviu, só soluçava e dizia coisas inteligíveis:
– Murt-ta... espin-nheta... fei-ia e ag-g-gora oc-cluda...
A Câmara estava aberta e agora Riddle sabia que seria a hora. O basilisco colocou a cabeçorra para fora e abriu os olhos, mas ao mesmo tempo virando-os para onde Riddle apontava. Disse, com o maior ar de alegria que pôde imprimir:
– Mate-a!
– Quem é? – disse Maria, soluçando e logo ela abriu o boxe, nervosa e ainda chorando – Isso aqui é um banh...
Então ela fixou o olhar no basilisco. Na mesma hora ela caiu. Riddle, pela primeira vez na vida, sentiu algo se quebrando. Sabia que era sua alma. Ele foi até o cadáver e estava como uma morta deveria estar. No chão, mole e sem vida. Riddle registrou rapidamente no diário o acontecimento e fez o que planejava fazer desde o final do ano passado. Tirou a varinha de teixo do bolso, colocou o diário do lado do corpo inerte de Maria. Pensou na satisfação de matar uma sangue-ruim. Pensou como a vida foi facilmente tirada daquele corpo sujo. Pensou no sofrimento da garota que estava sendo importunada e na sua expressão quando encarou os gigantescos olhos amarelos. Aquele seria apenas o começo. Iria terminar o trabalho do maior ofidioglota já conhecido, Salazar Slytherin. Aquela seria apenas mais uma vida inútil descartada. Apontou a varinha para o diário e ordenou:
– Claudere anima!
Na mesma hora sentiu o triunfo. O prazer. A satisfação pela busca da imortalidade. Sentiu um grito interno rasgando suas vestes, algo gasoso e negro começou a se retirar contra sua vontade de seu peito. Pareceu que estava pregado ao chão, que a gravidade tinha aumentado. Ao mesmo tempo, sentiu-se nas nuvens, no vácuo. A varinha começou a mostrar resistência ante à maldição contra o ato da natureza. Tremia violentamente, seu corpo inteiro chacoalhava. Estava suando, as artérias se comprimiam, respirava pesado e bruscamente, a pupila dos olhos negros dilatou, alguns vasos sanguíneos estouraram, sentiu o cérebro mandando impulsos elétricos para todo o corpo, o coração acelerava. A massa escura agora gritava em protesto e se mexia violentamente. Lembrou que os autores do livro entendiam a alma como um ser vivo. Ela queria sair dali de volta ao corpo, queria voltar ao seu lar. Mas não iria deixar, quantos bruxos morreram por causa disso? O livro alertava o que aconteceria se a alma tentasse voltar: seria rejeitada e a dor seria eterna. A varinha diminui a tremedeira, mas não cessou. A massa escura agora já estava totalmente fora do corpo e parecia impossível transferi-la ao diário. Foi então que olhou para o cadáver diante de seus pés e sentiu a felicidade do assassinato. A alma foi lentamente ao diário, que logo recebeu uma aura negra ao redor. O diário agora abriu e começou a tremer. Percebeu de relance o movimento do basilisco ao lado, mas não se mexeu. A alma estava agora quase que totalmente dentro do diário, mas agora a pressão em seu peito limitava ao estado da dor. Parecia que iria explodir, mas não desistiu. Não agora. O diário tremeu mais violentamente do que nunca, quase saltitando. Toda a alma entrou, mas a pressão e a varinha não pararam. O diário deu uma leve tremida e viu algo bizarro. Viu seu “eu” interior acima do diário, como se fosse uma imagem projetada no ar. A imagem entrou completamente no diário, que se fechou e parou de tremer. A pressão acabou e a varinha agora estava quieta. Conseguiu: criou uma Horcrux.
– Mestre criou uma Horcrux, não?
O basilisco tinha a cara virada para ele (com os olhos fechados, é claro). Riddle, agora exausto e suado, surpreendeu-se.
– Como é que...?
– Ah, eu já ouvi ele falar disso toda a hora. Na escola, andando pelos canos, eu ouço de tudo, principalmente na sala dos professores e lá nas masmorras. Sei que há uma acromântula que um garoto enorme vive carregando numa caixa – falou o basilisco, parecendo entediado. – Se ele for pego...
– Acromântula? Garoto enorme? – interrompeu-o Riddle, repentinamente desconfiado de algo. Mas também muitíssimo interessado.
– Isso mesmo. Esse garoto, acho que se chama Réggin, está toda hora nas masmorras, perto da sala do Slughorn, alimentando essa aranha. Ela se debate furiosamente quando sente minha presença.
– Hagrid? Aquele que parece um gigante? Ora, ora...
– Esse mesmo – confirmou.
– Que mais você já ouviu de interessante?
– Ouvi, também nas masmorras, que o mestre do meu primeiro ancestral foi o primeiro a criar uma Horcrux – e o basilisco virou a cabeça para o diário.
– Herpo, O Sujo? Bem, ele foi o primeiro a ter êxito, mas quem criou, mesmo que acidentalmente, foi Hoácrio Horcrux.
– Ahhhh, sim... O assassino em massa da época de Cristo.
– Esse mesmo. Bem, conseguimos matar um. Ano que vem estaremos à ativa novamente, não?
– Ssssimmmm...
– Ah, tenho de perguntar-lhe uma coisa. Poderia me ceder um pouco de seu veneno?
– Vai envenenar quem, mestre?
– Não sei ainda, mas é algo em que estive pensando. Quero criar uma poção com seu veneno, mas não algo que possa matar na hora.
– Mas como? Meu veneno é letal...
– É letal se for injetado direto no sangue. Ingerido e misturado a outros ingredientes, pode não fazer mal. Bom, talvez faça, mas antes quero experimentar. Pode...?
– É claro – o basilisco abriu a enorme bocarra e Riddle tirou um frasco das vestes. Com cuidado, colocou-o na presa no animal, cujo veneno foi descendo lentamente até encher o frasco.
– Obrigado. Bem, tenho que sair logo. É capaz de alguém vir aqui logo, logo. Sem falar que eu não tenho de entrar num banheiro feminino, mesmo sendo um monitor – Riddle olhou para a porta do banheiro.
– Vá, então. Eu conheço todo o castelo, vou orientando-o se alguém tiver vindo pelos corredores.
– Não precisa. Vá.
O basilisco deixou o corpo escorregar e Riddle selou a Câmara. Olhou para os lados de fora do banheiro e nada viu. Voltou para pegar o diário – Horcrux e saiu. Foi descendo enquanto imaginava os efeitos de sua poção. Queria que se assemelhasse a um ataque de bicho papão misturado com dementador. Isso aterrorizaria qualquer uma. Já era noite, mas ainda ouvia pessoas conversando nos corredores. O Salão Principal, ao que parecia, estava cheio. Riddle desceu as escadas e olhou de relance o Salão. Os professores estavam discutindo algo sobre umas plantas que o professor Merchand cultivava. Por que iriam discutir aquilo? Resolveu escutar atrás da porta entreaberta:
– ... dem trazê-los de volta!
– Sim – disse o professor Merchand –, apesar de serem perigosas, seu suco tem alto poder regenerativo. Acho que devemos tentar.
– Mas esses casos de petrificação nunca foram confirmados! Nem sabemos o que causou aquilo! – exclamava o diretor.
– Armando – Dumbledore começou a falar –, acho que devemos pensar seriamente sobre a Câmara Secreta.
– Alvo, até você agora?
– Armando, não estou brincando. Nem você, nem eu, nem os curandeiros do St. Mungus não sabem a causa. Nós não sabemos o que há na Câmara, então devemos pensar em todas as possibilidades. Nenhum outro animal nem do castelo ou da Floresta poderia fazer isso.
– Acho... que a escola deveria ser interditada – disse um homem desconhecido por Riddle, alto e magro como o professor Dumbledore, mas talvez mais velho.
– Não, Escândio... Quer dizer, não há porque se preocupar. Não houve nada desastroso... – disse Armando Dippet.
– ... ainda – completou Dumbledore. – Mas isso não é motivo para não fazermos, nada, Armando!
– Bem – disse Dippet, avaliando a tensão do ambiente. Era claro que aquilo era demais para ele aguentar –, vamos dormir, discutimos mais amanhã.
Riddle saiu quase correndo atrás da gigantesca porta de carvalho. Desceu as masmorras, entrou no salão comunal e entrou no dormitório. Aurum, Laurêncio, Natrium e Tecnécio estavam sentados, acordados. Riddle apenas sorriu e disse:
– Saberão amanhã.
Sabiam que tinha funcionado. Realmente agora acontecera uma morte.
A manhã seguinte começou com Slughorn esmurrando a porta do dormitório dos garotos.
– Vistam – se e levantem-se, rápido! E coloquem seus chapéus!
Riddle nem se preocupou. Já sabia o que era. Os cinco se vestiram e saíram. A maioria dos sonserinos estavam indiferentes. Alguns do primeiro ano estavam preocupados. O monitor chefe apareceu e disse:
– Sigam-me.
Eles saíram do salão comunal com Slughorn desesperado atrás. Foram até o Salão Principal, onde todas as outras casas já estavam acomodadas. A mesa da Corvinal estava estarrecida. Olívia Hornby apareceu chorando:
– E eu xinguei ela e depois ela... ela... ela apareceu e me assustou!
Ela parecia louca. Estava soluçando, os cabelos desgrenhados.
Ouviram-na falar:
– Ela nunca mais vai me deixar em paz!
– Silêncio!
Armando Dippet, junto com os outros professores, estavam com um ar realmente sério.
– Como alguns de vocês já sabem, Maria Kalium, aluna da Corvinal, está morta.
Os alunos se chocaram e alguns berraram seu nome, como se fosse voltar. Ela foi encontrada pela Srta. Hornby, que a estava procurando após ela ter sumido – ela apontou para Olívia, que chorou mais alto ainda – temos aurores na nossa escola averiguando nesse momento a causa da morte. As aulas de hoje serão encerradas e os alunos deverão ficar no salão comunal de sua casa. Meus pêsames a família Kalium, que logo virá ao castelo.
Alguns alunos choravam, outros simplesmente não davam bola. Eles voltaram ao salão e Slughorn veio com eles. Parecia extremamente nervoso.
– Bem, meus alunos. Tom, Laurêncio – eram seus preferidos, já que vivia a convidá-los para jantares –, acho que teremos que fechar a escola.
Aquilo despencou o ânimo de Riddle. Fechar o único lar de sua vida? Para onde iria? Para o orfanato? Viver infeliz como sempre viveu lá? De jeito nenhum! Preferia viver na escola.
– Fechar a escola? Mas, professor, isso não tem o menor cabimento! – exclamou Riddle. Alguns sonserinos não entendiam a preocupação de Tom.
– Ora, Tom. Já estávamos sendo pressionados com todos os ataques aos alunos, que foram petrificados, mas felizmente eles voltarão em algum tempo – falou ele, mas logo acrescentou, triste. – Mas essa garota morreu mesmo.
– Voltarão ao normal? Como assim? – o desespero lhe tomava conta.
– Bem, felizmente temos essa notícia, que o diretor esqueceu de mencionar. O professor Merchand e o professor Dumbledore pesquisaram sobre casos de e deduziram que as pessoas petrificadas voltaram ao estado normal depois de embebidas em suco de mandrágora. Então, em poucos dias, os que foram atacados voltarão ao normal e poderão falar o que aconteceu, isso se lembrarem, é claro.
Riddle não sabia o que dizer. Se os que voltassem dissessem que o monstro era uma cobra enorme, então logo saberiam que se tratava de um basilisco. É claro, para Riddle não havia nada a temer, pois nenhum dos atacados o viu. Mas o caso é que não podiam fechar a escola. Resolveu falar com o diretor.
– Tom, você não pode sair agora! – exclamou Slughorn bravo, ao ver que Riddle estava saindo.
– Preciso falar com o diretor – informou-o Riddle, mas sabia que o professor não o deixaria.
– Depois, agora não – disse o professor, fazendo sinal com os braços para ele voltar de onde viera.
– Mas é importante!
– Bem, escreva uma carta então. Sair agora você não pode.
Riddle saiu correndo para o dormitório para pegar pena, pergaminho e um tinteiro. Escreveu:
“ Caro professor Dippet,
Gostaria muito se o senhor diretor permitisse que eu ficasse na escola durante este verão. O lugar onde fico durante os anos letivos é insuportável. Os trouxas vivem me perguntando o que fiz na escola e tenho de inventar algo. A escola foi e sempre será meu primeiro lar, então, gostaria de permanecer nela durante os próximos verões.
Agradeço,
Tom S. Riddle, monitor da Sonserina.”
Riddle leu novamente a carta, queria se certificar de que não estava muito melosa.
Saiu do salão e o professor Slughorn continuava com os alunos, tão nervoso quanto antes. O professor Merchand então entrou. Era muito estranho um outro professor que não Slughorn entrar na sala comunal sonserina.
– Horácio! – nesse momento, Riddle teve uma pequena descontração. – Vamos remover o corpo agora. Temos de ir.
– Professor – gritou Riddle –, entregue ao professor Dippet.
– Certo – Slughorn pegou a carta e saiu. Colocou a cabeça de volta e disse:
– Fiquem aqui.
Ele saiu e os alunos logo começaram a conversar. Tom se afastou do grupo e foi sozinho até o dormitório. Se o castelo fosse mesmo fechar, então tudo aquilo fora em vão. Teria que continuar os anos seguintes, mas como? Queria pelo menos permanecer na escola durante o verão. Ficou trancado o dia restante inteiro no quarto pensando o que havia errado para isso acontecer. Por que estavam se importando com uma sangue-ruim morta. O negócio era mais sério do que pensava, pois Slughorn estava preocupado demais. Por que esse desespero? Será que existem bruxos que gostem de sangues-ruins? Aquilo tinha de mudar.
– Tom – gritava Aurum do lado de fora do dormitório –, Slughorn está aí, Dippet quer vê-lo.
Tom saiu correndo e foi ao encontro de Slughorn. Juntos, saíram das masmorras e foram ver o diretor. Após algumas escadas, se viam diante de uma estátua.
– Bisbilhoscópio – ordenou Slughorn.
Na mesma hora, a estátua começou a se mover e havia uma escada circular atrás dela.
– Dippet estará esperando-o – informou o professor, levemente curioso para saber o que Riddle queria com o diretor. – Quando sair, volte direto ao salão comunal, certo?
– Sim, senhor.
Tom começou a subir a escada, que agora começou a se mexer.
Chegou até a uma porta e bateu.
– Entre – ele ouviu a voz cansada e mirrada do diretor.
Riddle entrou, tirando o chapéu que Slughorn havia mandado todos usarem. Viu diversos quadros na parede, assim como todos os outros do castelo. A sala do diretor era circular e bem bonita, cheia de objetos.
– Ah, Riddle – exclamou o diretor Dippet.
– O senhor queria me ver, Profº. Dippet. – disse Tom Riddle, sabendo exatamente o que viria a conversar ali.
– Sente-se – convidou Dippet, mostrando a cadeira. – Acabei de ler a carta que você me mandou.
– Ah – respondeu, olhando a carta que havia mandado há poucas horas.
– Meu caro rapaz – o tom dele não era nada convidativo. Não iria dar certo. – Não posso deixá-lo permanecer na escola durante o verão. Com certeza você quer ir para a casa passar as férias?
– Não – respondeu na mesma hora, quase bravo, mas resolveu voltar aos modos. – Preferia continuar em Hogwarts a voltar para aquele... aquele... – ficou pensando no que dizer. Lugar de trouxas não seria uma boa para falar.
– Você mora num orfanato de trouxas nas férias, não é? – perguntou Dippet, curioso, relendo a carta.
– Moro, sim, senhor – respondeu, corando ligeiramente. Aquilo o envergonhava.
– Você nasceu trouxa? – perguntou o diretor, enrugando as sobrancelhas.
– Mestiço – informou, com pesar. Mas sequer tinha certeza disso. – Pai trouxa – ele decidiu dizer aquilo na hora. Não queria parecer mentiroso se, por alguma razão, o diretor fosse tentar encontrar seu pai e descobrisse que fosse trouxa – e mãe bruxa – terminou, com firmeza.
– E seus pais... – continuou o diretor.
– Minha mãe morreu logo depois que eu nasci – disse Riddle, lembrando do que a Sra. Cole havia dito. – Me disseram no orfanato que ela só viveu o tempo suficiente para me dar um nome... Tom, em homenagem ao meu pai – lembrou ele, quando ouviu essas palavras da Sra. Cole –, Servolo, ao meu avô.
Dippet deu um muxoxo de simpatia. Pareceu que gostou de ter ouvido aquilo
– O problema é, Tom – suspirou ele -, que talvez pudéssemos tomar providências para acomodá-lo, mas nas atuais circunstâncias...
– O senhor se refere aos ataques? – perguntou Riddle repentinamente. E se eles parassem: Poderia ficar?
– Precisamente – disse o diretor. – Meu rapaz, você deve entender que seria muito insensato de minha parte permitir que você permaneça no castelo quando terminar o ano letivo. Principalmente à luz da recente tragédia... A morte daquela pobre menininha... Você estará muito mais seguro no seu orfanato. Aliás, o Ministério da Magia está neste momento falando em fechar a escola, Não estamos nem perto de identificar a... hum... fonte de todos esses contratempos...
Os olhos de Riddle se arregalaram. Teria que mudar isso. Não poderia deixar aquilo acontecer. Tinha de fazer alguma coisa.
– Diretor, se a pessoa fosse apanhada, se tudo isso acabasse... – começou Tom Riddle, lentamente e esperando o diretor cortar sua frase.
– Que quer dizer? – perguntou Dippet esganiçando a voz e aprumando-se na cadeira como se fosse uma criança que se jogava sobre uma vitrine de loja de doces. – Riddle, você está me dizendo que sabe alguma coisa sobre esses ataques?
– Não, senhor – respondeu Riddle depressa, mas também estranha e confiantemente calmo.
O diretor perdeu todo o êxtase da conversa e se encostou novamente. Suspirou e disse:
– Pode ir, Tom...
Riddle se levantou escorregando para fora da cadeira e saiu acabrunhado da sala, pensando na sua próxima jogada.
Desceu pela escada em caracol e saiu ao lado da gárgula no corredor que escurecia. Parou e pensou. Por que não? Aquilo era proibido e com certeza seria punido, sem falar que poderia permanecer no castelo. Lembrou-se de Slughorn falando para permanecer no castelo. Mordia os lábios e franzia a testa, mas decidiu que a escola não fecharia.
Então saiu dali e caminhou rapidamente pelos corredores. O castelo estava estranhamente vazio àquela hora, dados os acontecimentos.
– Riddle – era Dumbledore, com sua conhecida barba e longos cabelos acaju que descia pelos ombros. Não sabia o que estava fazendo ali. Foi até ele.
– Que é que você está fazendo, andando por ai tão tarde, Tom? – perguntou o professor de Transformações. Dumbledore parecia transtornado.
– Tive que ir ver o diretor – respondeu, maquinalmente.
– Então vá logo para a cama – disse Dumbledore, fixando em Riddle aquele olhar penetrante como se o avaliasse es falava a verdade. – É melhor não perambular pelos corredores hoje em dia. Não desde que... – soltou um pesado suspiro e terminou:
– Boa noite, Tom.
– Boa noite, senhor.
Ficou olhando o professor desaparecer pelo corredor e desceu às masmorras. Não iria entregar o jogo assim, iria incriminá-lo de qualquer jeito. Passou pela sala de Poções e ficou lembrando o que o basilisco havia dito, sobre aquele meio gigante Hagrid esconder algo perigoso. As tochas estavam apagadas e a escuridão penetrava a medida que descia as masmorras. Empurrou uma porta e ficou espiando o corredor. Era ali o único lugar isolado das masmorras e toda noite ele vinha alimentar seu animal. Ficou quase uma hora ali até ouvir algo do lado de fora da porta ele parara imóvel à porta, vigiando o corredor. Até ouvir alguém tentando caminhar discretamente pelo corredor, mas sem sucesso. Riddle permaneceu escondido no escuro, esperando ver Hagrid, o garoto enorme e aberração do castelo aparecer. E acertou, logo Hagrid passou e Riddle o seguiu. Por uns cinco minutos, seguiu uma sombra vários metros a frente, tentando não se entregar. Então, ouviu novos ruídos de uma porta que começou a ranger. Ouviu-o falando, baixo:
– Vamos... preciso sair daqui... vamos logo... para a caixa...
De um salto Riddle contornou um canto. Via a silhueta escura de Hagrid, enorme para sua idade. Terceiro ano e já era maior do que os de sétimo. Estava agachado diante de uma grande caixa.
– Noite, Rúbeo – disse Riddle rispidamente, entrando pela sala tão rápida e silenciosamente que pareceu uma sombra.
Hagrid bateu a porta e se levantou, assustado.
– Que é que você está fazendo aqui em baixo, Tom? – perguntou, olhando para ele aterrorizado.
Riddle se aproximou.
– Acabou – disse, simplesmente. – Vou ter que entregá-lo, Rúbeo. Estão falando em fechar Hogwarts se os ataques não pararem – e isso ele não permitiria.
– Que é que... – Rúbeo Hagrid começou, mas Riddle o interrompeu.
– Acho que você não teve intenção de matar ninguém – Riddle olhou para a caixa. – Mas monstros não são bichinhos de estimação. Imagino que você o tenha soltado para fazer exercício e... – ia falando ele, imaginando o que, afinal, Hagrid queria com aquele bicho.
– Ele nunca mataria ninguém! – disse, recuando assustado.
A caixa começou a emitir estranhos cliques.
– Vamos, Rúbeo – falou Riddle, aproximando-se ainda mais. – Os pais da garota morta estarão aqui amanhã. O mínimo que Hogwarts pode fazer é garantir que a coisa que matou a filha deles seja abatida... – ele o acusava daquele jeito mais para o caso do imbecil realmente acreditar que tinha culpa.
– Não foi ele! – berrou Hagrid. – Ele não faria isso! Nunca! – sua voz tremia e Hagrid não parecia tão seguro ao dizer a última palavra. É claro que estava certo.
– Afaste-se – disse Riddle, puxando a varinha de teixo e apontando-a para a caixa. Iria testar um feitiço de abertura explosivo. – Cistem Aperio!
O feitiço iluminou repentinamente o corredor com uma luz flamejante. A porta atrás de Hagrid se escancarou com tal força que o empurrou contra a parede oposta. A caixa abriu e uma enorme aranha saiu. Era possível ver claramente um corpanzil baixo e peludo e um emaranhado de pernas pretas, um brilho de muitos olhos e um par de pinças afiadíssimas. Riddle tornou a enfeitiçar agora a acromântula, mas ela foi mais rápida. Derrubou-o e fugiu, desembestou pelo corredor e desapareceu de vista. Tom levantou-se correndo, procurando a aranha. Ergueu a varinha, mas Hagrid pulou em cima dele, tirou-lhe a varinha e o derrubou de novo no chão gritando:
– NAAAAÃÃÃO!
– Solte-me, seu parvo idiota!
Riddle conseguiu pegar a varinha e enfeitiçou Hagrid certeiramente na cara, mas ele não desmaiou. Hagrid não se preocupava em ferir Riddle, mas ir atrás da aranha. Logo, um tropel de bruxos vieram. Tiraram a varinha de Tom Riddle e chamaram o diretor, que logo veio acompanhado com os professores.
– Tom, que é que você está fazendo aí com o Sr. Hagrid? – perguntou Slughorn, e logo foi a vez da professora Merrythought:
– Rúbeo Hagrid, não mandei-o permanecer na torre da Grifinória? – apesar de velha, a professora tinha uma potente voz no momento.
– Eu estive...
– Mas é que...
– Chega – disse Dippet. – Tom, não mandei-o de volta ao salão comunal?
Na verdade, não, pensou Riddle. Mas não se atreveu a responder, até mesmo ao olhar astuto de Dumbledore.
– Tom, há algo que queira nos dizer sobre isso? – interrogou Dumbledore. Aquela era a hora da mentira.
– Senhor diretor, professor Dumbledore – começou ele, a voz pronta em triunfo –, Hagrid é o culpado por esses ataques.
Nada mais de ouviu dali em diante. Hagrid berrava e esperneava. Os professores arregalaram os olhos e começaram a discutir, até Dippet dar um basta e pedir a Riddle continuar:
– Professor, como monitor, tenho visto e andado por tudo. Recentemente, percebi que Hagrid aqui tem visitado muito frequentemente as masmorras, o que é estranho já que ele é um grifinório.
– Ora essa – disse a professora Merrythought. – Isso não leva a nada! Sabemos que...
– Leva sim – cortou-a Riddle, alteando a voz para calá-la. Desprezava a professora por não ter morrido –, pois hoje eu o segui, percebi que estava escondendo algo e resolvi investigar. Hagrid estava nesta sala – Riddle apontou por entre os ombros para trás – com uma caixa grande o suficiente para couber um animal perigoso.
– Ele não é perigos...
Agora Hagrid percebeu a burrice que havia dito, mas era tarde demais. Os professores e o diretor agora sabiam que um animal ele tinha.
– Então – continuou Riddle, notando a cara de espanto de Hagrid com satisfação –, eu entrei na sala e falei a ele para que entregasse o animal, afinal, ele havia matado Maria. Então, eu abri a caixa e uma gigantesca acromântula dela saiu – alguns professores fizeram “ohh” e cobriram a boca. – Tentei impedi-la de fugir – disse. E maliciosamente, embora fosse verdade, afirmou –, mas Hagrid me atacou.
– Não, professores, ele não é do mal... ele é... – começou a falar Hagrid, quase descontrolado e nervoso.
– Proibido e perigoso, mas acho que você não teve culpa, Rúbeo – completou Riddle. – Você apenas queria o melhor para seu animalzinho, não é?
– Teremos que discutir isso seriamente isso, Sr. Hagrid. Você está em apuros – disse Dippet –, senhores – ele se dirigiu aos outros bruxos –, averigúem a caixa para descobrirem algo, acromântulas liberam muito pelo.
Dippet, os professores, os bruxos e Hagrid saíram, restando Tom e Slughorn, que falou:
– Vamos para sua sala comunal, Tom.
– Senhor – perguntou, tentando parecer discreto –, a escola não vai mais fechar agora, vai?
Slughorn fez um muxoxo, não saberia dizer se significava um sim ou um não. Tom foi levado até a sala comunal e logo foi se deitar. Os amigos já estavam dormindo.
A manhã seguinte começou com a notícia da expulsão de Rúbeo Hagrid, mas que a criatura não havia sido encontrada. Todos os casos dos ataques, inclusive a morte, tiveram apenas como suspeita (embora uma forte suspeita) o veneno da acromântula fugitiva. Os petrificados voltaram ao normal, mas de quase nada se lembravam. Riddle recebeu o Prêmio por Serviços Especiais Prestados à Escola e também um belo troféu, o qual foi parar na sala dos troféus logo atrás da mesa dos professores no grande salão, afinal, ele havia “descoberto” o mistério de todos os ataques.
Ninguém mais desconfiava de Câmara Secreta e a escola não iria ser fechada. Mas algo ainda o incomodava: Hoácrio Horcrux. E ele não podia esquecer do que aconteceria em poucos dias: visitaria, pela primeira vez em sua vida, sua família.
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