Hogwarts



NAQUELA ÉPOCA, ERA PROIBIDO! Bruxos e bruxas fugiam e eram perseguidos pelas pessoas normais, mais conhecidas como “trouxas”. Até um momento em que os detentores da magia deram um basta: resolveram ter seu próprio mundo. Para isso, uma escola deveria ser construída para a moldação de jovens mentes. Então, em 952 d.C, surgem: Godric Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin.


 Após alguns anos de sua formação, viram grandes amigos. A escola bruxa onde se formaram era muito fraca e pequena, sem falar que só havia uma aula: feitiços. Aquilo tinha que mudar. Então, com 40 anos cada um, eis que surge a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, um gigantesco castelo construído longe dos olhares curiosos e grande o suficiente para abrigar centenas de alunos. Bruxos e bruxas de vários países resolverem ajudar aos fundadores. Eles eram muitíssimos amigos e viviam a planejar sempre algo a mais no castelo. Era uma sala aqui, uma cozinha ali, mais uma torre daquele lado. Harmonia plena. Até o dia da separação.


O rapaz exausto e de cabelos compridos deitou-se na grama do lago, aos pés de uma linda mulher morena de cabelos compridos. Ela segurava uma espécie de tiara bronze azulada e ele segurava uma espécie de arma medieval no colo, uma espada com o punho cheiro de rubis. Ao longe, vinham duas pessoas: uma era magra, de cabelos compridos e de barba, também, a outra era um tanto rechonchuda de cabelos volumosos. Os dois se arrumaram e se sentaram. O magro segurava um amuleto verde com um grande “S” em forma de cobra e, pelo que parecia, pesado. A outra mulher tinha nas mãos uma taça amarela, parecia que era de ouro.


– Godric, vai mesmo dar nome aquele povoado com o seu? – perguntou a mulher de olhos azuis, também ruiva, que havia se sentado.


– Sim, será Godric's Hollow – respondeu o rapaz. Começando a ver o que ela segurava, perguntou, curioso:


– É isso então, que você vai herdar como herança aos seus descendentes, Helga? – perguntou Godric, que, além de musculoso e avantajado, tinha uma barba ruiva e olhos verdes.


– Sim, Godric – respondeu a mulher, cujos dedos e unhas pareciam extremamente sujos. – Pelo menos é algo mais decente do que uma arma – desdenhou, meio que rindo da situação.


– Ora, essa. A lâmina absorve o que a deixa mais forte e também repele a sujeira – recitou ele o que os duendes haviam lhe dito. – Quer ver eu colocá-la perto de você – ameaçou ele com a espada, aproximando-a sorrateiramente das mãos da bruxa –, e ela gritar: “Socorro, socorro, lama”? – brincou ele, aproximando e afastando a brilhante espada de rubis da amiga.


Nessa hora, o magro e a morena deram uivos de gargalhada. Até a mulher chamada Helga teve que rir, chegou a reformular o rosto até criar uma boca de tamanduá e mostrar e enorme língua.


Após se arrumar, disse:


– Estive na estufa – ponderou ela, limpando o suor do rosto com as mãos, deixando seu rosto ainda mais sujo. – As plantas carnívoras tentaram arrancar meus braços – E começou a acariciar a pequena taça.


– Mas afinal, Helga, para que serve ela? – perguntou a mulher morena, apontando com os dedos brancos a pequena taça. – Você disse que a enfeitiçou de algum modo, mas qual? – perguntou, curiosa.


Helga olhou para um lado, olhou para o outro e olhou de novo, transformando o rosto em uma coruja a fim de girar o pescoço por completo. Por fim, sabendo que não havia ninguém suspeito, disse:


– Só se você me contar o segredo dessa sua tiara. Eu e Salazar estamos loucos para saber – mentiu ela, mas o homem ao seu lado não deu um único sinal de confirmação. – Não é mesmo, Salazar? – acrescentou, dando uma cotovelada no homem magro chamado Salazar.


– É verdade, Rowena – respondeu Salazar, massageando as costelas e começando a se curvar para ver o que Rowena segurava. De fato, agora havia ficado curioso com aquele objeto da amiga. – Você há dias vem falando do que essa tiara faz, mas ainda não contou.
– Só contarei – ela estava tramando algum tipo de chantagem e os colegas rapidamente perceberam – se você me disser o segredo deste amuleto – recrutou Rowena, olhando e apontando maliciosamente, quase como se estivesse em transe, para o medalhão em seu peito.


– Nossa, – exclamou Godric, olhando para os amigos com ar de espantado e talvez também de magoado –, vocês aí impondo condições e eu falei de graça sobre a minha espada!


– Quem mandou ser exibido? – alfinetou Rowena maldosamente, e Helga e Salazar se acabaram de rir no chão.


– Não sou exibido – e ao olhar dos amigos, acrescentou. – Tá bom, eu me acho um pouco. Mas não é qualquer um que derrota Lívicas. Ainda mais no duelo de ontem. Aquele trapaceiro, tentando tomar a poção Wiggenweld – dizia ele, olhando para as nuvens repensando no duelo. – Ainda bem que os juízes viram. Os críticos estão deitando e rolando, dizendo que ganhei de um trapaceiro que não sabe duelar direito. Além disso, ...


– Tá bom, tá bom – interrompeu Helga. – Você já disse desse duelo seis vezes só hoje. Agora – sussurrou, olhando para os lados e para cima, como se alguém estivesse na árvore a seus pés e pudesse escutá-los –, contem-me o segredo de suas relíquias e conto a minha.


– Certo, eu falo primeiro – disse Rowena, aparentemente ansiosa para falar. – Meu diadema...


– O quê? – Exclamaram os três, assustados, cada um olhando para a cara do outro com um ar confuso.


– Diadema é o nome certo. Não é tiara – replicou quase que imediatamente quando viu Godric pronto para falar alguma coisa. Este logo parou de falar “Que diabos?” – Bem, meu diadema, como característica mais importante, tem o poder de aumentar a sabedoria da mente de uma pessoa, tornando-a impreterivelmente mais complexa em seus raciocínios e deduções.


– Você está falando na linguagem dos trouxas? – perguntou Godric confuso, coçando levemente a cabeça tentando imaginar o que Rowena havia dito. Helga imitou-o. – Não entendi nada.


Ao ver que Helga e Salazar concordavam e olhavam abismados para ela, Rowena resumiu:


– Ele te deixa mais inteligente! – Ela queria deixar tudo muito bem claro. Não queria parecer idiota se os amigos não entendessem o que dissera, o que era um tanto comum de acontecer.


– Por que você iria querer algo assim? – indagou Salazar, abrindo e fechando o medalhão em seu colo sem se notar. – Você já não é inteligente o suficiente? – Salazar estava perplexo, olhando para os amigos com ar de assustado, ao que os outros dois concordaram.


– Isso não tem nada a ver comigo, é para minhas futuras gerações – explicou Rowena antes que recomeçassem a conversa. – Ou vocês acham que eu não legaria nada para minha querida filha, Helena? – questionou ela, imaginando se era isso que os amigos tinham imaginado. – Mas não estou dizendo que ela é burra – acrescentou a bruxa, rápida.


– Sabemos que ela não é – disse Helga ainda mais rápida. Parecia algo pavoroso pensar isso. – Só não entendo como ela ainda não se casou, é tão linda – suspirou, como se achasse feia.


– Propostas é que não faltam – recitou ela, contando nos dedos a imensa quantidade de pedidos que já recebera. – O Barão não para de pedir sua mão e ela não aceita – respondeu, realmente intrigada sobre o assunto.


– Nossa, ele é tão bom partido – ponderou Helga, olhado para as nuvens e imaginando-se com ele, mas logo voltou ao estado normal, olhando para os amigos e, teatralmente, voltando ao que estavam conversando. – Voltando ao assunto. Salazar, para que serve esse seu amuleto aí?


– Isso, meus caros, é o meu medalhão. Coloquei nele algo que eu prezo, astúcia! Poderá se utilizado para os planos mais perfeitos e engrenados, mas – E estufou o peito, com orgulho –, seu principal marco, de muitos outros, é que ele pode ser usado como usamos uma varinha. Vêem essa abertura aqui? – e apontou para o centro do objeto, onde havia no fundo dois pequenos espelhos. – Eles refletem os mais complexos feitiços e os absorvem. E basta a gente querer que o feitiço volta com maior intensidade. Ainda tenho guardado aqui uma azaração – disse ele, sem pensar, mas logo voltou ao estado natural. – Para maldições, ainda não sei se funciona – lamentou-se. – Nenhuma cobaia se apresentou ainda...


– Por que será, né? – perguntou Rowena, colocando as mãos na cintura. E recomeçou, virando a cara para a amiga:


– Helga, e a sua taça? Pra que serve?


Helga levantou a taça até os olhos, olhou através de suas alças onde estava Salazar e exclamou:


– Ora, pare com isso Salazar. Ainda está com essa ideia na cabeça? – enraiveceu-se Helga,


– Que foi? – perguntou Salazar. – Não disse nada. Só estava pensando quando cons... Ei! – disse ele, começando a ficar vermelho. – Você não pode fazer isso, entrar na mente dos outros e ver o que está pensando!


– Posso sim, e não gostei nada do que você pensava – concluir Helga, começando a ficar frustrada. – Ou melhor, do que você continua pensando.


Godric e Rowena avaliavam a tensão do ambiente, ambos preocupados. A qualquer momento, um dos dois explodiria de vez. Rowena, por fim, tentando acalmar Helga, disse, sem perceber que isso irritaria ainda mais Salazar:


– Salazar, ainda está com isso na cabeça? Você sabe que até os que têm pais trouxas devem entrar aqui. Se eles tive...


– Não quero saber! – interrompeu-a Salazar, os olhos cinzas cheios de ódio e desgosto. – Não gosto dessa ideia. Construí essa escola para sangues-ruins pisarem nela? – perguntou.


– Sangues-ruins? De onde tirou isso? – perguntou Godric, curioso. Às vezes, não compreendia o vocabulário de Salazar. E essa era uma palavra nova para o grupo todo, exceto Salazar.


– Sangue-ruim é quem tem o sangue sujo de sangue trouxa – disse, com raiva e desprezo na voz.


– Pare com isso, Salazar. Você não foi o único a construir esse castelo – disse Rowena, começando a se irritar pelo mesmo assunto que discutiam há semanas. – Nós ajudamos, não é?


– E daí que ajudaram? – perguntou ele. E sabendo que não conseguiria mudar o pensamento daqueles “tolos”, concluiu:


– Querem saber? Vou dormir! – E saiu, levando consigo seu precioso medalhão com sua marca “S” em forma de cobra engastado com esmeraldas.


– Helga – disse Rowena, baixinho e olhando para Salazar saindo –, o que você viu na mente dele? – sussurrou a amiga, baixando a cabeça.


– Nada bom – suspirou com tristeza Helga, também olhando para Salazar. – Ele planejava construir algo grande naquele espaço que sobrou no 2º andar. Não vi o que era, mas ele ficou feliz ao pensar nisso.


– Ah, deve ser onde ele vai colocar o salão comunal da casa dele. De certo, ele gostou de pensar no interior. – respondeu pensativa Rowena, imaginando como estava a sua casa antes de tudo. O Lago Negro refletiria os raios de sol incidindo diretamente na torre Oeste.


– Mas, Helga – interrompeu Godric, desta vez olhando para Salazar já quase dentro do castelo –, por que você disse: “nada bom”? – Godric estava com uma expressão mortalmente preocupada.


– Não sei, a mente dele estava a mil – respondeu a bruxa, ficando aflita e desesperada por ter relanceado os pensamentos de Salazar. – Tive certeza que ele pensou sobre esse caso de sangue mágico antes de pensar em algo feliz. Mas outro poder dessa taça é a emocional – disse ela de prontidão e com excitação na voz, louca para mudar de assunto.


– Como assim? – perguntou Godric, curioso e se empertigando na grama para ver melhor.


– Bem, ela servirá para aproximar mais as pessoas em momentos de perigo e tristeza. Sabem, lealdade para mim é tudo – disse ela, com os olhos arregalados, esperando os outros concordarem.


– Sabemos sim – respondeu Godric, pois sabia que era isso que Helga mais falava em toda a sua vida. O que era bastante coisa, pois não parava de falar. – Afinal, temos que ver logo como irá funcionar a cozinha – começou ele, feliz por conseguir mudar para um assunto mais prazeroso.


– Bem, estive pensando. Que tal elfos domésticos? – perguntou Helga, animada com o assunto sobre comida.


– Tadinho deles! – exclamou Rowena, parecendo perplexa e colocando a mão na boca rapidamente. Não gostava de como os bruxos tratavam os elfos. A maioria, pelo menos, os maltratavam, tanto física como emocionalmente. Talvez mais fisicamente do que o normal.


– Ora, amiga. Você está mesmo achando que nós vamos maltratá-los? – perguntou Helga, ficando ressentida pela acusação formal da amiga e começando, distraidamente, a rasgar folhinhas do chão. – Eles serão bem cuidados aqui, pelo menos terão um lar e trabalho. Você sabe como gosto de elfos. Será bom tivermos alguns aqui – explicou Hufflepuff.


– Certo – concluiu Rowena, pensando melhor no assunto dos elfos na cozinha. Seria realmente bom. – Estou exausta. Se for isso mesmo que Salazar quer, caberá a ele o que fazer com aquele espaço – lembrou ela do assunto que discutiam. – Vou dormir, amanhã vai ser o dia – e se levantou, jogando os longos cabelos ao vento ao mesmo tempo em que realizava uma espevitada espreguiçada. – Vocês não vem, Godric? Helga? – perguntou, com os olhos negros pregados de sono e a pele clara, quase branca, se destacando ao cair da noite.


– Também vou – disse Godric. E logo depois, Helga se juntou a eles e foram ao castelo andando.


           O dia amanheceu nublado e os portões com javalis alados já estavam abertos. Os alunos vinham correndo, alegres. Alguns seguravam varinhas pelo contrário, chapéus na cintura, tropeçavam nos próprios pés, tamanho o entusiasmo. Os quatro amigos foram se arrumar, vestiram os melhores vestes e chapéus. Se reuniram na câmara ao lado do saguão de entrada. Como sempre, nos momentos mais importantes, Gryffindor estava de vermelho e dourado, Slytherin de verde e prata, Ravenclaw de azul e bronze e Hufflepuff de amarelo e negro. Cada veste tinha um animal diferente, Gryffindor prezava a coragem, por isso um leão. Slytherin prezava a astúcia, por isso a cobra (sem falar, é claro, de seu dom da ofidioglossia). Já Rowena era uma águia, considerada na época a ave mais inteligente. E Hufflepuff um texugo, caracterizado pela lealdade dentro da família.


– Amigos, para selecionarmos os alunos achei melhor uma espécie de teste. E o prepararemos aqui e agora – disse Godric, retirando o chapéu de bruxo da própria cabeça.
– Vai ser o quê? Os alunos terão que tirar um coelho do chapéu? – riu Helga, mas fora a única que havia rido. Os amigos continuaram encarando-a. Sabiam que Godric não fazia brincadeiras quando tratavam de assuntos da escola.


– Claro que não – resmungou ele, se preparando. – Vejam – Godric tirou a varinha de pinheiro e bafo de nundu de um bolso, apontou para si mesmo, perto da têmpora, e ordenou:


Transferre Lineamentum! – algo transparente, mas opaco o suficiente para ser visto, saiu de Godric. Havia estranhas figuras no quase invisível fio. Eram imagens chocantes de bravura, com homens transpondo nundus e mantícoras. Ele puxou o fio transparente, apontou para o chapéu e contra ordenou:


Posuit Lineamentum! 


Na mesma hora, o chapéu criou vida. Godric tinha transplantado uma forma de boca primitiva no chapéu, que na mesma hora começou a cantarolar:


– Seja bravo e corajoso. Não fuja de um duelo. Tenha gosto no esporte. Não seja como Nero...


– Godric, o que é isso? O que você fez? – perguntou Rowena, que olhava o chapéu, que agora recitava algo sobre bravura e ousadia: “Se ousado for, tudo conseguirá. Mas se covarde for, tudo lhe faltará...”


– Muito simples, implantei minhas características neste chapéu. Os alunos serão selecionados assim. Usarão o chapéu e, de acordo com suas qualidades, irão às respectivas casas de acordo com o que o fundador mais preza – explicou ele, guardando a varinha no bolso vermelho. Parecia um discurso o que ele falava, mas todos prestarem atenção.


– Nossa, genial – exclamou Helga, feliz com o modo de selecionarem os alunos. – Minha vez – disse ela, imitando o que Godric havia feito. Os amigos agora viam vários bruxos saindo da segurança de suas casas para salvar uma outra pessoa de um dragão solto e furioso. Eram amigos leais, perceberam os amigos.


– Temos que criar um hino e um lema para a escola, não acham? – perguntou Rowena, observando atentamente Helga fazer o feitiço. Seu medo de errar o feitiço era muito grande.


– É verdade – disse Salazar pensativo. Então, apontou os longos dedos para o chapéu e completou o que pensava. – O chapéu pode criar o hino, não? O lema a gente discute depois.


– Certo – respondeu Godric, que ficou olhando a vez de Rowena (uma bruxa que recebia vários prêmios por sua inteligência) e depois de Salazar (um bruxo que acariciava sua genealogia pura gravada em um antigo livro de bruxos famosos) fazer o feitiço. E assim, os dois terminaram e saíram da câmara junto com Helga para receber os alunos. Mas Godric ficou olhando para o chapéu pensativo, achando que estava faltando algo importante, quando ele recomeçou a cantar, com brandura e perceptividade:


– Ajude sempre que possível, não importa o perigo.


Então, Godric teve uma repentina e ótima ideia. Tirando a varinha de dentro das vestes mais uma vez, abriu a porta por onde tinha entrado, apontou a varinha para o ar e exclamou:


Accio espada!


 A espada veio voando e Godric a pegou. Disse:


 – Você será chamado de Chapéu Seletor. Sempre que um verdadeiro membro da minha casa necessitar de ajuda, entregue-lhe minha espada – explicou ele ao Chapéu e mostrando a espada.


O chapéu concordou e disse:


– Ajudarei.


Nisso, Godric apontou a varinha para a espada “Transferre Gladio”, envolveu-a com um fio transparente e a implantou por dentro do chapéu, que exclamou:


– Pesadinha, não?


– Sim, ela contém rubis – explicou ele. – Ah, tem mais uma coisa – lembrou-se de repente Godric. – Você deverá sempre dar conselhos à escola e aos alunos. Sempre tente reunir alunos que venham a se opor a outra casa, principalmente nas horas de maior perigo. As pessoas ficam mais fortes quando unidas por um propósito. E também deverá criar canções para o início de cada ano, para dar um ânimo aos alunos. Diga-lhes de nós, de mim, Helga, Rowena e Salazar e sobre essa escola – ao notar a expressão desanimado do chapéu, imaginando se teria tempo para hoje, acrescentou. – Não se preocupe, não precisa cantar hoje, tenha a disposição na minha sala para compor uma canção para o próximo ano. O chapéu suspirou e disse alegremente:


– Esse sempre foi meu sonho: ser cantor.


            Imaginando se isso era qualidade de cantoria da voz taquara rachada de Hufflepuff ou aguda de Ravenclaw, Godric riu baixinho e levou o chapéu até o salão, onde começou a seleção.



            Dos 287 alunos presentes, 68 foram para a casa de Gryffindor, 74 para Ravenclaw, 80 para Hufflepuff e 65 para Slytherin.


Os quatro amigos e mais cinco bruxos do povoado foram professores. As quatro principais matérias, dadas pelos amigos, foram: Línguas Mágicas, Transformação Humanoide, Compêndio dos Feitiços e Poções Mágicas.


Godric, como já era esperado, foi nomeado diretor da escola. Eles “com a ajuda do Chapéu Seletor, é claro” criaram o seguinte hino:


 


“Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De ideias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro desmanchar”


 


E também, com a ajuda do chapéu de Godric, nomeado Chapéu Seletor, o lema da escola: Draco dormiens nunquam titillandus, que significa: Nunca cutuque um dragão adormecido.


Anos se passaram normalmente. Salazar continuava com sua implicância com os nascidos trouxas, quase não os aguentava mais, mas os outros amigos nem davam mais bola. De vez em quando, Salazar era visto perambulando pelo castelo à noite, sem falar nos dias em que saía do castelo e desaparecia por semanas, parecia que procurava algo com extrema urgência. Godric e ele viviam brigando, pois, como diretor Godric tinha que sair correndo procurando professores para os alunos não perderem aula. Já estavam no fim do ano e os amigos notaram novamente a ausência de Salazar.       


– Não sei, já faz quase três semanas – dizia Helga com um leve tremor na voz, pensando no que poderia ter acontecido. Mas isso foi momentaneamente, pois logo recomeçou a comer.


Os três estavam jantando no Grande Salão. Salazar havia saído e há três semanas não dava as caras.


– Terei que ir a Hogsmeade buscar outro professor – concluiu Godric aborrecido, espetando num garfo uma torta de framboesa que os elfos haviam preparado.


 


            A pouco mais de 3000 km de distância, a oeste, um homem caminhava ao crepúsculo. Estava com um ar de triunfo. Finalmente, havia descoberto alguém que tinha um, clandestinamente. Ele entrou numa rústica mansão que se guarnia sob enormes toras. Atravessou o jardim, todo com estátuas de mármore, e bateu na porta. Ele mostrou a varinha a uma pequena passagem e ela se abriu. Era uma sala que tinha uma longa mesa com vários bruxos sentados ao redor. Estava uma penumbra aquele lugar, mas pôde ver várias estantes com os mais variados objetos das Trevas. Conseguiu enxergar uns vultos graças a luzes de pequenas velas espalhadas estrategicamente pelo lugar. Ouviu alguns bruxos dizerem: “é o língua de cobra”.


– Chegou em cima da hora, já vai começar – disse uma rouca voz no fundo do aposento escuro.


Salazar se sentou numa cadeira vazia, ajustou seu casaco e esperou o homem recomeçar a falar:


– Muito bem, senhores. Vocês me procuraram, ou algum dos meus – e apontou para certos homens ao seu redor –, para uma possível compra do único ovo de basilisco aqui na Europa e por toda a região Paleoártica – disse ele, estendendo os braços. – Esse ovo aqui – ele apontou para um embrulho no chão – vai lhes custar muito caro. Sei que todos podem pagar a quantia necessária, eu chequei seu saldo antes, mas quero saber o porquê que o querem.


O homem foi até um embrulho no chão e tirou de dentro um ovo de aparentemente uns 2 kg e colocou-o na mesa. Era muito estranho um ovo daquele tamanho. Salazar já tinha ouvido falar de ovos de certas aves que eram tão grandes quanto, mas este era diferente. Sequer parecia um ovo, parecia que uma criança havia recolhido-o e estava brincando de massa de modelar.


– Você – o homem apontou para um bruxo mal encarado de olhos azuis sentado longe dos demais –, o que vai fazer com ele? – perguntou, apontando para o ovo com um leve tom de desconfiança na voz.


– Ora, essa – riu ele, olhando para todos como se estivessem numa seção de piadas. – Vocês sabem que sou o maior contrabandista da história. Quero criar esse animal e reproduzi-lo! – disse ele, quase se levantando tamanha a excitação. – Faturarei durante décadas.


Aquilo era demais para Salazar. Domesticar um basilisco?


Você não o merece – exclamou Slytherin do escuro num silvado medonho e rascante. Não aguentava mais ouvir tanta ladainha de uma só pessoa.


Todos olharam para Salazar e o olharam com um ar de total desentendimento. O ovo emitiu um estranho ruído como se entendesse a conversa dos homens. Ou pelo menos, de um só homem.


– Perdão? – perguntou o homem, na defensiva, aproximando o rosto de algumas velas acesas e olhando para os outros. Todas fizeram com a cabeça o sinal negativo, mostrando sua total inépcia.


– Acha que consegue domesticar um basilisco, seu tolo? – xingou-o Salazar. – Essa criatura pode matá-lo assim que colocar os olhos para fora da casca. Acha que vai conseguir criá-lo e fazer se reproduzir? E como vai fazer isso? Vai sair procurando um outro ovo, agora com o sexo oposto? Parece que só eu realmente o merece – essa última frase saiu novamente com um estranho silvado.


Agora, todos olhavam assustados. Não entenderam nada da última frase de Salazar e ainda por cima o ovo se debatia contra a mesa. Pelo que sabia, mesmo que um ovo de basilisco estivesse a semanas de eclodir, o embrião era instável demais para ficar parado e não parava de se mexer.


– Você é... um ofidioglota? – perguntou um homem curioso, que agora estava prestando atenção na conversa após o discurso de Salazar e também se adiantou na cadeira velha e suja.


– Sim, um legítimo ofidioglota – disse, com orgulho na voz. – Talvez o único depois de Herpo, O Sujo – acrescentou, com raiva.


– Quem? – perguntaram vários homens, se aproximando e se apoiando na mesa empoeirada. Alguns riam de Salazar achando que estava inventando nomes e línguas inexistentes.


– Vê? Vê? – Salazar se dirigia ao possuidor do ovo, agora se levantando do lugar. Nisso, Salazar também se levantou – ninguém sequer conhece Herpo, o bruxo que criou um basilisco. Todos sabiam que Herpo odiava trouxas e fez um massacre com o seu basilisco – alguns homens começaram a fazer afirmações com a cabeça nessa hora. Parece que souberam desse massacre, mas desconheciam o autor e a criatura que o fez – até conseguirem dominar Herpo e o basilisco fugir para áreas desconhecidas da Grécia, onde ainda vive.


– E para que você quer o basilisco, senhor Slytherin? – perguntou o negociador cruzando os braços e olhando com atenção, sentindo interesse na proposta. A resposta logo veio.


– Para expurgar a minha escola de sangues-ruins! – rosnou ele ferozmente, mostrando os dentes.


– De quê? – perguntaram vários homens curiosos novamente, olhando uns aos outros chocados com o termo.


– Sangues-ruins são esses imundos que vagam por aí usando de nossas varinhas e costumes sem sequer ter sangue mágico. Sangues-ruins fazem parte da sociedade que aboliu nosso povo durante séculos até Herpo conquistar o poder. Sangues-ruins são uma desgraça à sociedade e lá onde vivo eles serão punidos.


Ninguém respirou, ninguém falou. Todos olhavam Salazar e começaram a admirá-lo. Alguns ali queriam o animal por simples prazer ou só para desrespeitar o código bruxo. Todos ali também odiavam trouxas e anexos, mas não tanto quanto Salazar. Decidiram que ele levaria o prêmio.


Salazar pagou quase 300000 galeões e saiu com o ovo embrulhado no casaco. Tinha recebido um livro, escrito por Herpo, indicando como proceder com a eclosão do ovo, como alimentá-lo e controlá-lo, caso seu “dono’ fosse ofidioglota.


         


Duas semanas se passaram e Salazar voltava de madrugada ao castelo. Circundou todos os seus caminhos externos que pudessem entrar na escola e encontrou um mínimo buraco, que conseguiu escavar um pouco, com o auxílio da magia, para ver aonde iria e poder aparatar. Encontrou-se numa caverna e resolveu modificá-la um pouco. Mudou sua estrutura, cavou túneis indicando para onde levaria dentro da escola, construiu passadiços e conjurou um pequeno lago. Reformulou a tubulação que passaria por todo o castelo e ainda construiu uma enorme estátua de seu rosto. Teve que criar diversos mapas. Após tudo aquilo, leu um pouco do livro e constatou certos detalhes. O primeiro basilisco foi criado por Herpo, mas isso já sabia, que, através de muitas experiências, descobriu que um ovo de galinha chocado por uma rã produzia uma cobra gigantesca dotada de poderes extraordinariamente perigosos. É claro que aquele animal, embora em constante movimento do ovo, demoraria alguns anos para eclodir, mas isso não seria problema. Todos os animais fogem dele e só teme ao canto do galo, já que foi chocado por uma galinha. Leu rapidamente como acelerar o processo para nascer e o que comia e depositou-o em sua boca de mármore. Então, como tudo planejado, voltou pelo buraco por onde entrara e retornou ao castelo. Os amigos gritaram de tudo, mas parecia que não queriam saber onde estivera. Eles se acalmaram e assim passou mais algumas semanas. Salazar visitava o ovo quase toda noite e já estava chegando sua hora de eclodir. Discutia cada vez mais com Godric sobre os nascidos trouxas, dizendo para tirá-los de lá antes que algo acontecesse. Revidavam quase a enfeitiçarem os outros, mas as mulheres sempre intervinham. 


O estopim da maior discussão foi numa tarde normal de aula, alguns dias depois.  


Uma gritaria era ouvida por todo o castelo. E a voz era a de Salazar.


– COMO SE ATREVE A ENTRAR NA MINHA SALA, MOLEQUE NOJENTO, RALÉ, IMUNDO!


– Salazar, o que é isso, o que está fazendo? – veio gritando Godric, arfando rapidamente nas escadas.


– MOLEQUE ATREVIDO, COMO OUSA, MALDITO, MESTIÇO, SAIA JÁ DE MINHA ESCOLA!


– SALAZAR! – agora, Rowena e Helga gritaram seu nome. Elas também arfavam quando pararam de correr.


– Pare já com isso! – ordenou Godric.


– VOCÊ NÃO MANDA EM MIM, GRYFFINDOR, AMANTE DESSES PORCOS NOJENTOS DE VEIAS SUJAS! – Salazar esta possesso, quase babando tamanha a vontade de ofendê-lo.


– Salazar, pare com isso. O que esse garotinho fez a você? – Rowena olhou e havia um menino chorando na escada, com sangue escorrendo na parede e também no corpo do garoto. – Meu Deus, por que ele está assim?


– AH, SIM – rosnou ele, olhando a criança choramingar e se recostar na parede e nos degraus –, EU AMALDIÇOEI ESSA CRIATURA IMUNDA! – vociferou Slytherin, olhando com nojo para a criança que babava em seu castelo.


– Salazar, como se atreve? – gritou Helga, e foi correndo ir ver o garoto, choramingando no canto da parede. – Minha nossa, ele está perdendo muito sangue – alertou ela, com o corpo todo tremendo e tirando a varinha para fechar os múltiplos ferimentos. – Salazar, que diabos você fez? – berrou. Nunca na vida estava mais furiosa. Sua cabeça estava virando um dragão.


– EU PEGUEI ESSE MOLEQUE NA MINHA SALA – berrou Salazar, ensandecido. O garoto se encolheu ainda mais na parede e Salazar viu novamente o brasão em sua roupa, deixando-o mais furioso – E ELE É DA SUA CASA, GRYFFINDOR! VOCÊ É UM TRAIDOR, MANDOU-O INVESTIGAR A MINHA CASA!


– COMO OUSA DIZER ISSO, HOMEM? – urrou Godric. – QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA...


IGNIS FLAGELLARE!


Godric sequer teve tempo de entender o que Salazar disse. Na mesma hora estava voando pelas escadas, acertado por um feitiço criado por Salazar, um chicote em brasa atingiu seu peito com tal força que suas vestes, geralmente com pele de dragão, estavam furadas e queimadas.


Godric se levantou e foi sua vez: seu feitiço branco amarelado atingiu Salazar no rosto, que foi lançado 5 metros antes de se estatelar na parede e cair. Mas não antes de virar a varinha e lançar outro feitiço, que Godric aparou.


Leo Impetum! – atacou Godric. O feitiço conjurado por Godric era enorme, parecia um leão em fogo.


Protego vipera! – o feitiço escudo de Salazar não funcionou. A cobra se postou em sua frente, mas o leão contornou suas defesas e atingiu-o por trás, fazendo suas costas queimarem e serem arranhadas. Salazar se recuperou logo e se levantou, bufando de raiva. Não perdoou e ordenou:


Crucio!


Agora não tinha feitiço de proteção que funcionasse. A maldição atingiu Godric no rosto, que caiu e começou a gritar.


Estupefaça! – gritaram Rowena e Helga ao mesmo tempo, atingindo Salazar, que logo se virou para amaldiçoar as duas também bruxas, mas antes elas gritaram mais alto ainda:


– SALAZAR, NÃO! PARE COM ISSO.


– EU VOU EMBORA DAQUI – berrou Salazar, cuspindo no chão com raiva. – ESSES ALUNOS SÃO NOJENTOS, ESSA ESCOLA É NOJENTA, VOCÊS SÃO NOJENTOS!


– Vá embora, então – gritou Gryffindor, igualmente furioso com o então amigo. – Pegue suas coisas e suma daqui – disse, no pé da escada, se equilibrando para poder levantar após ter sido torturado pelo, até então, melhor amigo.


Helga e Rowena ajudaram Godric a se levantar, mas o bruxo quis que as amigas fossem primeiro ajudar o garoto e assim elas fizeram, levando-o a uma sala para tratá-lo dos ferimentos.


Slytherin foi até o lugar vazio do 2º andar e criou um túnel. Ao seu redor, criou várias torneiras e espelhos. Disfarçou o local, conjurando boxes. Das torneiras criadas desenhou uma minúscula cobra em uma delas. Slytherin abriu a boca e dela saiu um silvado, algo como quando o vento sopra, que dizia: “Essa câmara e a criatura dela se abrirá e obedecerá se, e somente se, meu herdeiro a convocar. Terá o intuito de expurgar essa escola dos hoje chamados sangues-ruins. Será conhecida como a Câmara Secreta” e conjurou o Feitiço Fidelius, tendo como seu único sabido seu herdeiro. Nisso, as torneiras foram se colocando de lado, outras subindo, até parecer um túnel, de diâmetro pouco maior de 1 metro. Ele pulou no túnel e foi levitando até o seu final. Foi até uma estátua e tirou um ovo da boca da gigante estátua. Ele sabia que só estava tomando um pretexto para sair da escola, pois a qualquer momento o ovo eclodiria caso ele fizesse algo. O ovo era completamente irregular. Parecia nascido por um animal muito pequeno e chocado por um menor ainda. O ovo também se mexia, sua casca era elástica. Ao chegar ao final da chamada câmara, contemplou seu enorme rosto gravadoem pedra. Depositouo ovo no chão e disse, naquela mesma esquisita maneira de falar: “Você matará todos a quem lhe for mandado. Obedecerá ao meu herdeiro”. Com um estampido, um feitiço foi lançado e rachou o ovo. Nisso, o ovo se abriu e revelou uma estranha cobra. Ao virar a cabeça para encarar seu dono, este foi mais rápido e disse em linguagem que só cobras entenderiam:


Não, você pode me matar se me olhar – alertou ele, ao que o basilisco prontamente baixou a cabeça e esperou. – Você matará todo sangue-ruim que meu herdeiro mandar, entendeu?


Estranhamente, o pequeno basilisco sibilou e baixou a cabeça dizendo, baixinho: “Sim, mestre”.


Ótimo. Colocarei certos animais aqui para você se alimentar e crescer o suficiente – explicou ele, imaginando quantos anos exatamente o basilisco cresceria de vez. – Após ter o estado padrão, pode ir hibernar. Se possível, na boca daquela estátua – apontou para a sua grande estátua.


O animal virou a cabeça com os olhos amarelos para o rosto de seu mestre esculpido em pedra e então desceu e subiu a cabeça afirmativamente. Continuava com o rosto para baixo.


Então, é isso – concluiu Salazar Slytherin, limpando as mãos e dando meia volta. – Mate os sangues-ruins por mim. Adeus – despediu-se.


Começou a transfigurar algumas espécies de animais para servir de alimento para uma cobra que viria a ser gigantesca. Sabia que levaria pouco tempo para o basilisco engolir os animais. Salazar saiu da câmara, escreveu, em um pergaminho verde, tudo o que fizera e presenciara (é claro, omitindo vários pontos) e deixou em sua sala. Nisso, saiu do castelo e se dirigiu ao norte. Nunca mais viu ou ouviu sobre a escola e seus fundadores.


 


No mesmo dia, a criança havia sido removida para o hospital bruxo mais próximo, o Hospital Bruxo de Doenças e Ferimentos. Após darem conta de que o garoto ficaria bem, os amigos voltaram ao castelo e encontraram, na sala, de Salazar, sua mensagem.


 


Vocês devem ter perguntado onde estive nas várias vezes que me ausentei do castelo. Estive a procura de algo tão raro que tal raridade só exemplifica uma coisa: é raro e valioso. E achei.


Há muito quis fazer isso e finalmente fiz. Há uma Câmara Secreta em Hogwarts e dentro dela há o animal que todos temerão quando ele começar a matar os sangues-ruins e mestiços que pisarem no castelo. Tenho direito a querer proteção desse lugar, afinal, ajudei a construir a escola. A casa Sonserina será sempre intocada, pois todos têm sangue-puro. O monstro nela guardada aguardará a chegada de meu herdeiro para soltá-lo e desencadeará o horror para os sangues-ruins e mestiços. Não adiantará nada procurá-la, pois está muito bem guardada e protegida. Somente o meu herdeiro poderá na Câmara entrar e controlar o poderoso animal. Hogwarts não é segura enquanto houver nela indignos de estudar magia. Isto é um aviso.


 Não permitirei que sangues-ruins mestiços entrem nela e obtenham nossos ensinamentos e crenças de graça. Eles não têm sangue mágico e não merecem descobrir nossos segredos mágicos. São uma afronta aos bruxos desde a época em que nos perseguiam, nos prendiam e nos matavam queimados em fogueiras. Eles não merecem compaixão e piedade. Merecem sofrer tanto quanto, se não mais, o que nossos antepassados sofreram em suas mãos.


E vocês realmente esperavam que eu, cuja família foi repreendida pela “Inquisição”, esperaria de braços abertos esses cuja mentalidade foi capaz de torturar o nosso mundo por tantos séculos? De jeito nenhum.


 Mas pelo menos, sou misericordioso. Estou dando tempo para vocês se encarregarem de não deixar sangues-ruins e também esses mestiços nojentos de entrar aqui. Vocês foram avisados. A Câmara Secreta será, podem ter certeza, aberta. E haverão mortes catastróficas. E eu garanto: ninguém poderá deter o monstro tampouco o meu herdeiro.


 


Salazar Slytherin


 


Godric reuniu os 100 bruxos mais respeitados da época, incluindo ele, Ravenclaw e Hufflepuff e vasculhou o castelo de canto a canto. Após nada acharem, concluíram que devia ser algo para assustar a escola. Nos meses seguintes, nada mais de estranho aconteceu, até uma velha amiga cair doente. Rowena estava mal, não comia, não bebia, não dormia, parecia deprimida. Sua filha, Helena Ravenclaw, querendo ser mais inteligente, fugira e desaparecera, levando consigo o precioso diadema de sua mãe. Rowena nunca contou a ninguém sobre isso, nem mesmo aos seus melhores amigos. Godric e Helga a confortaram até seu último pedido: queria conversar a sós com o Barão. Apesar de acharem estranho esse pedido, os amigos foram chamar o Barão, que vivia no povoado ao lado, Hogsmeade. Após seu último desejo, o qual Godric e Helga nunca descobriram qual era, Rowena Ravenclaw, uma das maiores bruxas da época, sucumbiu. Nunca mais ouviram falar de sua filha, Helena Ravenclaw e tampouco do Barão, esperando que este a tivesse encontrado escondida por alguma razão em algum lugar.


Após alguns anos desse trágico acontecimento, tanto Hufflepuff como Gryffindor, professora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e seu primeiro diretor, respectivamente, morreram.


Até os dias, meses, anos, décadas, séculos passarem, Slytherin ainda não havia instaurado o terror que acometeria todo o mundo. Até seu herdeiro nascer.

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