Por Ele




Tua Pequena


“Só queria ainda ser tua pequena,


E como nas tardes outrora eternas,


Sentar-me, em devaneios, junto a ti,


Às margens de um lago doce,


Para ver a chuva cair.


 


Queria eu deveras, ser tua...


Ser tua sem reservas,


Mas, sonhar-te perto de mim, agora é pecado,


Pois em noites tão vazias,


Não é teu o nome de quem me abraça.


 


E ainda que fosse o teu braço que me acolhesse,


Seria singelo, pois, meu, nunca foste o teu pensar,


Não foste e nunca será,


Por isso pranteio.


 


Que inda ontem sentei-me em nosso lugar,


A pensar, a remoer, a lembrar,


De teus lábios colados aos meus,


Em juras e rumores de eternidade.


 


Chorei, pois não há o que questionar,


Sou a única culpada, por aqui não estardes,


E ainda que meu pranto seja sincero,


Que nunca se cale,


Que nunca se recolha,


Eu nunca tornarei a ser tua Pequena.”


 


 


 


 


Eu me levantei tentando não acordar Neville, meu marido dormia de uma forma pesada, havia se tornado um inominável e a cada dia chegava mais cansado. Mesmo após a morte de Harry a guerra não havia acabado o que gerava muito trabalho.Eu estava chorando ainda, Nev não merecia me ver assim, ele estava sempre cuidando de mim, e de certa forma me sinto suja por estar casada com um homem que não amo, ainda mais ele me amando tanto. O único motivo de não sentir-me assim o tempo todo é que mesmo antes de nos casarmos eu sempre fui sincera, antes de aceitar me tornar a Sra. Longbotton contei à meu marido que ainda amava Harry.


            Levanto e busco um vestido qualquer, fazendo o mínimo som possível, acabo escolhendo um vestido cinza pálido e um sapato preto de salto, era o que o departamento de aurores esperava que a estrategista-chefe usasse, me aproximo novamente da cama e arrumo a franja escura e ondulada de meu marido. As lágrimas pararam brevemente, aproveito que ele não acorda, dou-lhe um beijo na testa e deixo um bilhete sobre o criado-mudo.


Saio de nosso quarto, fechando a porta atrás de mim, e desço as escadas da mansão Longbotton, tínhamos uma bela casa, fruto do trabalho do casal mais influente do mundo bruxo, a casa era imponente porque era o que os outros esperavam de nós, mas dentro procurávamos deixa-la o mais simples possível. As fotografias na parede eram uma prova disso, momentos felizes, com amigos, mas eu encontro o rosto dele em uma delas, Harry Potter, e as chances de o dia transcorrer como no cotidiano comum se esvaem, termino de descer o lance de escada e vou diretamente para a porta, não existe motivo para tentar tomar café, nada irá passar por minha garganta, não com o nó que se forma e com as lágrimas que me escorrem pela face.


            Poucas pessoas apreciam o clima londrino, quase sempre chuvoso, mas ele me parece muito adequado para hoje. Eu caminho até o final da rua e paro na esquina sem me importar com a chuva que molha meu corpo. Mesmo sabendo que não deveria fazê-lo eu aparato, e imediatamente o cheiro de orvalho tão característico de Godric’s Hollow invade tudo a minha volta. Eu não devia vir aqui hoje, fazendo exatamente quatro anos desde a morte de Harry  e é provável que Camille venha visita-lo, com uma penca de repórteres do Profeta Diário, e eu com certeza não darei a manchete que eles gostariam, Neville não merecesse isso e é por ele que eu prometo ir embora caso alguém chegue.


            Meus pés me guiam calmamente em direção ao portão do cemitério, tudo continua exatamente como nas minhas memórias, as arvores continuam fazendo sombras para os túmulos do jeito que era quando vi o cemitério pela primeira vez... eu já perdi a conta do número de vezes em que prometi para mim mesma que não voltaria aqui. Chego ao túmulo de granito esverdeado e me sento à seu lado, enfim pelo menos isso Camille não conseguiu mudar, Harry teve sua morada final no local que queria, próximo à seus pais. Pensando nisso olho para os túmulos de Tiago e Lílian... Deus, só espero que eles possam estar tomando conta dele, como eu não pude tomar. Sinto meu corpo sendo balançado pelos soluços, as lágrimas já não me incomodam mais, de alguma forma o aperto no peito, o choro, os soluços, fazem a presença dele mais real, como se ele estivesse aqui me segurando pelos ombros e me consolando, como costumava fazer. São tantas lembranças disputando minha atenção, os momentos que passamos juntos, um cuidando do outro em meio à guerra, as vezes em que ele se afastou por medo de atrair a atenção de Voldemort para mim, o dia em que eu finalmente abri mão dele e de nosso amor pelo bem do mundo bruxo... e o dia em que ele morreu.


            É simplesmente insuportável a dor, mas ela o torna presente e por isso eu aceito-a de bom grado. Forço meu corpo a se mover, e me apoio no túmulo para me controlar, as lágrimas caem com menos frequência agora, o que me permite concentração para conjurar algumas flores com a varinha, são Crisântemos... Crisântemos foram as primeiras flores que ele me deu, e a memória me faz sorrir em meio ao choro.


            Mais calma me levanto, e sigo para o portão novamente, mas é uma caminhada tortuosa, e me desequilibro várias vezes, em um tropeço particularmente doloroso sinto uma mão me segurando e puxando de volta para cimas, encontro os olhas de minha amiga, e forço as palavras a saírem:


-Obrigado Tonks.


-Não foi nada minha amiga, mas você não deveria estar aqui. – Perdi a conta das vezes em que ela me deu esse conselho – Venha, você não está bem, vamos comer algo.


Tonks é a única pessoa além de Neville que sempre soube do meu sofrimento, e foi ela que, junto à meu marido, manteu-me sã após a morte de Harry.


Mas não é por isso que eu acompanho a transmorfomaga, eu a acompanho porque por mais que meu peito se aperte, e eu não queira continuar, eu jurei que continuaria, e essa é uma promessa que eu não vou quebrar. Ele morreu por mim, morreu pelo que acreditava, morreu pelo mundo bruxo. E eu não permitirei que seja em vão. Essa é minha missão, garantir que todos que foram culpados paguem, que todos que o feriram sejam punidos.  É isso que farei, porque esse aperto só vai sumir no dia em que eles pagarem por terem me tirado Ele. E nesse dia estarei pronta para acompanhar aquela que o levou de mim, estarei pronta para pagar o que devo, e mesmo que nunca mais o tenha de volta, essa dor irá diminuir. Sumir nunca, pois eu jamais aceitarei esquecê-lo e isso impedirá que a dor suma, mas vai diminuir, porque terei feito o que ele merecia, o que ele teria feito em meu lugar.



Pelo nosso amor, pela nossa dor, pela verdade do que sentíamos... por ele, é por ele que eu acompanho minha amiga, por que é o que ele gostaria que eu fizesse.
*** 



N/A: Bom espero que tenham gostado, me esforcei bastante nessa short, serviu pra aliviar um pouco por que não consegui escrever muita coisa produtiva na minha outra fic... A principio é uma oneshot, mas quem sabe um dia pode ter continuação, se alguém gostar me avise, bem espero os comentários, e uma última coisa, quem é a garota que ama tanto assim o Harry?


Beijos,


J.G.Potter

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Comentários (1)

  • alylyzinha

    Nossa.. achei linda!!!e acho que a garota é a Mione.. acho que ela semrpe foi a unica que comprendia o Harry semrpe...  

    2012-10-16
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