Entre Livros e Mistérios.



O dia seguinte havia sido marcado pelas prodigiosas respostas de Hermione - agora Gaunt - às perguntas feitas por qualquer professor que fosse. Conquistara rapidamente vinte pontos para a Sonserina em cada uma das aulas a que fora, garantindo um arranque vitorioso no início da Copa das Casas, fato que fora muito bem aceito da parte de seus colegas. Haviam ali, em meio ao caos de novidades, duas coisas que faziam Hermione se sentir de volta ao lar: as aulas com o professor Horácio Slughorn e as com Dumbledore. Ainda que visivelmente mais novos, devido ao ajuste temporal, era reconfortante vê-los pelos corredores e diante da sala apinhada de alunos. Era quase como... nos velhos tempos. Hermione descobrira, afinal, que seu antigo diretor de Hogwarts era um exímio professor de Transfiguração e que seus anos em Hogwarts haviam sido excepcionais, tornando-o o grande bruxo que era.


Diante de tudo aquilo, Hermione se vira afeiçoada a Eileen Prince. A garota, que depois de uma breve conversa à mesa do salão lhe acompanhara pelos corredores desconhecidos, havia se tornado uma boa companheira, se revelando uma pessoa doce e muito dedicada ao aprendizado da magia. Era engraçado para Hermione ver-se ao lado de bruxos que ela sabia serem antecessores na família de muitos dos seus amigos na 'outra vida'. Por vezes ela desejava poder dizer a esses que eles seriam pais de pessoas maravilhosas, como por exemplo, Septimus Weasley - que ela sabia ser o pai do senhor Weasley e avô dos seus amigos ruivos.


De todo modo, as semanas se passavam sempre do mesmo modo: algumas aulas pela manhã em um dia, outras no período da tarde em outras datas, as refeições comunais no Salão Principal e as inconfundíveis idas de Hermione à biblioteca do castelo, agora bem menos restrita do que costumava ser quando ela a frequentava no outro tempo. E, a propósito, era lá que ela estava naquele momento.


 


Os olhos de Hermione corriam entre parágrafos de livros que ela nunca tivera a chance de ler antes. Ali, entre os volumes antes restritos para alunos como ela, encontrara com facilidade coisas que antes lhe haviam sido quase impossíveis de descobrir. Até mesmo as pesquisas que havia feito em seu passado sobre Nicolas Flamel, a poção polissuco e outras tantas coisas surgiam pelas páginas com uma facilidade tremenda.


Eis que a nova sonserina andava se dedicando a descobrir cada vez mais sobre a troca temporal, afim de entender como havia ido parar no passado. As pesquisas, que haviam se iniciado em livros de magia comuns, não haviam resultado em nada até que ela passasse a uma nova categoria de livros que ela jamais imaginaria abrir: os livros sobre arte das trevas. E ali, por mais que ela não percebesse, estava Tom Riddle a observá-la. Principalmente quando ele notara o interesse dela por tal tipo de livros, ainda que desconhecesse a real razão dela em lê-los.


Eles se encontravam ocasionalmente pelos corredores durante trocas de aulas ou pelos espaços comunais da luxuosa área sonserina e ele, o pequeno Riddle que sempre era desprezado pelos demais, sempre escutava uma saudação amistosa daquela garota. Quem era ela? Por que não o tratava como as outras pessoas faziam? Aquelas perguntas, entre outras tantas, o faziam estar ali naquele momento, a observá-la.


Por mais que eles não houvessem trocado novas palavras - além das saudações que ela sempre dizia, mas que nunca eram respondidas -, Tom já descobrira que ela era uma aluna notável, comumente comparada à ele pelos professores. Na verdade, haviam muitas semelhanças entre os dois que ambos ainda não haviam percebido e elas começavam nos laços sanguíneos que compartilhavam. Hermione nunca descobrira com clareza de detalhes a perda de Mérope Gaunt na família, mas as suas dúvidas já não estavam tão perdidas no espaço. Na cabeça de Tom, infelizmente, só restavam dúvidas sobre tudo ao seu redor.


Não conhecia o pai e nada sabia a respeito dele, exceto o fato de que deveriam ser muito parecidos, visto que as superiores do orfanato lhe diziam com frequência que deveria agradecer aos céus por não ser parecido com a mãe. Além disso, ele nada sabia sobre a família mágica a qual pertencia e até mesmo acreditava que seus dons mágicos seriam descendência do pai, visto que a mãe não havia de ser bruxa, já que morrera. Tom ainda era uma criança, em seus onze anos, e a incerteza sobre o mundo corroía suas veias. Isso já seria devastador o suficiente, mas havia também a repugnância com que era tratado, criando ao seu redor um ambiente de mágoa e rancor.


 


E no meio de todo aquele caos de perguntas sem respostas e desprezo humano, surgira Hermione Gaunt. Um ano mais nova, sonserina, sangue puro e totalmente um mistério aos olhos dele. Ele possuía muitas dúvidas e incertezas sobre o mundo, mas a maior delas era aquela garota. Havia algo naqueles olhos castanhos, quando olhavam para ele, que o fazia se perder. Era compaixão e ele não estava acostumado com aquilo. Ainda assim, ela agia daquele modo, mesmo que ele nunca lhe correspondesse. Por que ela era tão caridosa com ele, afinal?


 


— Sr. Riddle? — Dissera a voz conhecida da bibliotecária, em tom que sugerira já estar lhe chamando há algum tempo.


— Desculpe-me, senhora. Estava um pouco alheio com minhas leituras. — Ele respondera, forçando um pouco a garganta seca. Teria ela observado que ele andava a estudar aquela garota?


— Ah, o amor adolescente. — Ela sorrira para ele, apanhando alguns livros que estavam espalhados pela longa mesa onde o jovem estava sentado há algumas horas. — Vai levar estes que estão diante de si? Já estamos fechando, eu sinto muito.


— Sim. — Ele respondera simplesmente, encabulado diante da primeira frase da mulher, que interpretara tudo aquilo erroneamente.


 


Ele apanhara os três livros nos braços, levantando-se devagar da cadeira e vagando para a saída da biblioteca. É claro que ele olhara na direção daquela sonserina, vendo-a repetir o mesmo ritual de organização que ele havia feito segundos atrás. A bibliotecária já estava rumando na direção dela, fazendo-a sorrir diante do que ele imaginava ser a mesma pergunta sobre os livros. E então ele fora obrigado pela dinâmica do lugar a virar o corpo, entrando no corredor paralelo à entrada da biblioteca de Hogwarts e que ligava as alas principais. Assim, a visão de Hermione ficara para trás, mas suas dúvidas não.


Ela por sua vez, tomara os exemplares nos braços cansados, tal como Riddle fizera sem que ela visse. Na verdade, ela não o vira desde a última refeição, quando ambos estavam na mesa sonserina. Jaziam longes, sempre, mas eram conscientes da presença um do outro, por mais que não tornassem tal fato nítido. E Hermione continuava a ser amável com ele, começando por um 'bom dia' pela manhã e um desejo de boa noite ao final do dia. Coisas que ele nunca respondia, mas que não a desanimavam.


Assim, já fora da biblioteca, avistara Eileen a esperá-la como se tornara costume. A amiga passava longas horas pelos jardins, horas que ela passava diante de páginas e mais páginas.


 


— Descobrindo mais coisas interessantes para ganhar pontos para a Sonserina? — Questionara Eileen, risonha, enquanto ambas rumavam para as masmorras.


— Você não imaginaria o quanto. — Respondera a outra, acompanhando o riso da amiga. — Ah, estou tão cansada.


— Também, pudera! Tem passado horas seguidas diante desses livros. — Repreendera Prince, dando uma boa olhada nas capas que Hermione trazia nos braços. — Artes das Trevas?


— Sim, são interessantes. — Falara Hermione, um pouco nervosa, temendo o que a outra viesse a achar daquilo.


— Prefiro poções. De todo o modo, você anda cada vez mais parecida com seu amigo Riddle.


— Não somos amigos, você bem sabe. — Ela dissera, revirando os olhos. — Eu o trato com simpatia, mas ele parece não querer aproximação com ninguém. Não compreendo por que é tão solitário.


— Pense bem, Hermione. Você é inteligente. — Eileen disse, enquanto a entrada da Casa surgia diante delas e era atravessada sem pressa. — Ele tem sido desprezado pela maioria e os demais - como eu - simplesmente se mantém afastados dele, principalmente por medo do que os outros possam dizer de uma aproximação. E então surge você, uma garota inteligente e descendente de Slytherin, como ele, ainda que ele não pareça saber muito sobre a família. É até compreensível que ele não lhe responda.


— Você está certa, Eileen.


— Gostaria de não estar. — Ela dissera, pensativa. — Tenho pena dele.


 


E então ambas cruzaram a sala comunal sonserina em alguns passos, prolongando o silêncio que se estendera após a última frase. Hermione também sentia pena dele. E medo do que ele poderia se tornar no futuro. Foi então que ela o avistou diante do bifurcamento das escadas aos dormitórios, vago como ele sempre era.


 


— Boa noite, Riddle. — Ela dissera, olhando-o nos olhos por breves instantes e sumindo pelas escadarias em seguida.


 


Ele nada disse, mas em sua mente ecoou um "Boa noite, Gaunt".


 


* * *


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Comentários (2)

  • Timore Riddle

    ^_^ a fic está otima!!! espero por outros caps...uma otima tomione sem duvida....  #_# 

    2012-10-29
  • Violettaa

    Que lindo ele já começou a demonstrar um certo interesse por ela... Adorei o capitulo prefiro *-*  

    2012-10-22
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