Epílogo



NOTA: Se você está aqui lendo mais um dos meus projetos potterianos, seja bem vindo e muito obrigada por fazê-lo! A fanfic é Hermione Tom e, acredite, é fácil se apaixonar pelo shipper quando ele é bem colocado. Originalmente seria a avó de Hermione nossa personagem principal, mas decidi que isso implicaria numa porção de contradições ao longo da história, então apresento-lhes uma personagem de minha criação: Morgana Gaunt.



* * * * *


 


O extenso quarto em tons pastel contrastava com o céu escuro do lado de fora, mesmo que ainda fosse dia. A chuva parecia chegar aos poucos, lentamente arrastada, como que trazendo em cada relâmpago o prenúncio do que viria a seguir.


Gaunt estava sentada numa velha cadeira de balanço que insistia em rangir de tempos em tempos. Ela sorria a cada vez que isso acontecia, por mais estranho que parecesse. Agora, com seus quase cem anos, o barulho já não era mais incômodo. Pelo contrário, trazia boas lembranças. Lembrava-se do amado homem insistindo fielmente que seria capaz de concertar aquilo manualmente, o que resultara no tal rangido. Lembrava também de como ele gostava de se balançar ali, a tendo sentada confortavelmente no seu colo com a cabeça apoiada no seu peito. Ela quase podia ouvir a respiração compassada no peito dele, invadindo o quarto como as rajadas de vento vindas da janela.


Tornou a fechar os olhos, sorridente. Levou alguns segundos demorados para abri-los outra vez, mas isso já havia se tornado algo natural, como se o peso das pálpebras fosse demasiado imenso para suportar. Sentia-se um pouco inútil diante dessas coisas, confessava. Os cabelos brancos, que um dia haviam sido belos em ondas louras muito longas, agora estavam ralos na sua cabeça e caíam às vezes pelo rosto, lhe tampando um pouco as muitas rugas que escondiam os olhos azuis. "Olhos de calmaria", dizia ele.


Então a cadeira rangiu mais uma vez e ela riu baixinho para si mesma. "Oh Riddle, como sinto sua falta". Desviou a órbita dos olhos para uma pequena mesa ao longe e com muito esforço, apesar dos óculos de lentes grossas, avistou a foto que se movia ali.Tom Marvolo Riddle. Era, senão, um jovem em seus vinte anos que acenava risonho para a câmera. Já não conseguia se lembrar de quando ou por quê tirara tal fotografia. Uma foto preta e branca, como o céu lá fora que só piorava. Gaunt concentrou-se na foto outra vez e sentiu uma lágrima percorrer a jornada fria pelo seu rosto, caindo por fim ao colo. Já não tinha mais a jovialidade de antes, mas sentia que o coração não mudara nada com o tempo.


Então a cadeira falhou um rangido e o peito amargurado pareceu falhar uma batida também. Uma vida de memórias e um presente de solidões. Só ela sabia a saudade que estava sentindo daquele garoto que ele havia sido no passado. A imagem jamais seria tão doce quanto antes, depois de ter visto os grandes olhos ofídicos em meio aos risos de maldade. Era horrível demais para suportar. Seu Tom, um monstro.


 


— Sinto sua falta, sweetie.


 


As palavras roucas ecoaram pelo vazio do quarto, enquanto as lágrimas caíam e os relâmpagos invadiam a janela larga. O cenário poderia ser outro, ela pensou. Poderia ser um dia de sol, uma jovenzinha sorridente, um amor que surgiria pela porta trazendo o café. Porém, era tudo tristeza. Tudo saudade. Tudo Tom Riddle.


 


— Eu sinto muito.


 


E lá estavam os dias de verão em Hogwarts, os mergulhos no Lago Negro, fugas perigosas durante a noite, quando Filch era o maior terror que deveriam temer. Inocência juvenil e calor humano que surgia de corpos que sequer compreendiam justamente suas próprias causas. Diversas cenas que eram passavam nítidas através das pálpebras cerradas, como se elas de repente se tornassem telas para o retroprojetor da mente.


As iniciais cravejadas na madeira espessa do salgueiro lutador. MG, TR. Morgana Gaunt e Tom Riddle. Doce demais para ser verdade, mas que sempre permaneceria eternizada ali, enquanto Hogwarts existisse como um lar para as mentes desejosas.


Então abriu os olhos e fitou o livro semi-aberto em seu colo. As páginas já estavam gastas e amareladas, devido aos anos de uso, mas ainda assim, lhe pareciam encantadoras. Não havia nenhuma palavra escrita, mas muitas histórias eram contadas ali. Um feitiço único.


Eis que Morgana Gaunt estava, há anos, guardando suas memórias e sentimentos em relação a Tom Riddle naquele adorável livro, aprisionando cenas e sensações nas páginas em branco através de magia. E as revia todos os dias, sentindo-se feliz por conseguir rever tudo aquilo com tamanha nitidez quando o feitiço utilizado no objeto era capaz de transportá-la ao passado. Não precisava vivê-lo outra vez, bastava vê-lo.



* * * * *


 


Houve uma linda jovem sonserina. Ela se sentia tão solitária, por ser considerada descendente de uma família destruída inutilmente, que passava todo o tempo na vasta biblioteca de Hogwarts. E foi lá que ela conheceu um garoto muito bonito e inteligente. Ele tinha os olhos negros como a noite mais assombrosa e mantinha o coração trancafiado à sete chaves. Era um sonserino arrogante e talvez o destino quisesse lhe pregar uma adorável peça, o unindo a alguém tão oposto.


Eram a noite e o dia, o orgulho e o rancor. Opostos, mas necessários um ao outro. E foram felizes por alguns anos, mesmo que no começo houvesse sido muito difícil. Bem, no fim havia sido muito pior, certamente. Então ele partiu, talvez porque ela não conseguira tocar o seu coração tão a fundo. Numa madrugada fria abriu a porta e deixou na pequena varanda a moça esperançosa, que por mais que lhe doesse, já sabia que nunca mais o veria de novo; Porque ele era um Riddle e jamais haveria de se contentar com qualquer coisa que fosse menos que todo o poder.


E no fim, restou apenas uma foto na estante. Um coração partido que nunca deixou de amar. Uma mulher eternamente a esperar. Um jovem que sucumbiu no desespero da sua ganância. Um livro que mudaria para sempre a vida de uma jovem grifinória, décadas depois.



* * * * *


 


Então os anos passaram. Morgana faleceu, após passar outros tantos dias em sua cadeira de balanço. Hermione Granger nasceu e cresceu, tornando-se a bruxa mais brilhante da sua década. Voldemort, outrora um doce garoto, começou a domar o mundo com terror. E assim os dias iam e viam, até que a pequena Granger chegasse a Hogwarts. Um feito memorável, mas acima de tudo, que faria com que toda aquela história ganhasse um novo rumo. Um novo desfecho.



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