Capítulo 02
Os dias passavam e os clientes só aumentavam. Eu realmente não sabia de onde estavam surgindo tantos adolescentes riquinhos e adoradores de sanduba de atum (que era realmente uma delícia), mas era fato que eu, Lily e Alice ficávamos ocupadas boa parte do tempo. Contudo, eu estava muito curiosa sobre aquele número de celular que encontrei no bolso. Eu quis ligar, juro que quis! Mas e se fosse realmente do garoto da escada? O que eu diria? Oi, aqui é a maluca que te atropelou na escada e que você beijou por acidente e que, misteriosamente, conseguiu seu telefone?! Isso soava bizarro de qualquer maneira. Lily disse pra eu parar de graça e ligar logo, Alice ficou pensativa e disse que eu devia experimentar, senão nunca saberia quem era.
Meu celular estava em uma das minhas mãos, e o número na outra. Eu realmente não sabia o que fazer. Até que Lily bufou na minha orelha e disse:
– Pelo amor do Deus dos mares! Amy, ou você liga agora ou eu vou te fazer engolir esse celular pra que preste atenção no trabalho! – e voltou pro balcão batendo o pé.
Alice riu e eu guardei o celular, voltando a ajudá-la na cozinha.
– Não ligue pra ela! Está estressada porque James anda insistindo para que ela vá ao luau com ele. – disse Alice enquanto cortava as batatas.
Luaus eram bem comuns na ilha, ainda mais nas férias. Eram um ótimo motivo para atrair turistas, juntar a galera e beber. Eu não curtia muito, mas Alice e Lily insistiram que eu fosse, até tia Evy disse que eu deveria ir e aproveitar. Não podia recusar algo assim, afinal, não voltaria ali tão cedo, não faria mal aproveitar, mesmo sem um acompanhante.
– James? – eu perguntei, ainda não sabia direito o nome do pessoal.
– O Potter!
– Ah sim! – Lily o chamava tanto de “O arrogante Potter” que eu sempre me esquecia do nome dele. – Conheço bem o mau humor dela, nem me preocupo mais! Mas e você Alice? Não vai convidar Frank pro luau?
Alice ficou muito corada assim que mencionei o nome de Frank, o qual só descobrimos porque Lily foi na maior cara de pau na loja de surf com uma desculpa esfarrapada de que precisava saber o preço da parafina pra um amigo, tudo só pra descobrir o nome do garoto que Alice tanto olhava.
– E-eu não a-acho que ela vá aceitar! – ela gaguejou e quase derrubou as batatas no chão ao tentar colocá-las em uma tigela.
– Você nunca vai saber se não experimentar! – eu lhe disse, repetindo suas próprias palavras. Ela sorriu timidamente, mas continuou a cozinhar nervosa.
Eu me virei para empacotar os pedidos e fiquei perdida em pensamentos. Realmente, eu nunca saberia se não tentasse, e o máximo que poderia acontecer é ele desligar na minha cara! Mas o que eu diria? Além de tudo, eu detestava falar ao telefone! Foi então que eu tive a ideia de mandar uma mensagem de texto, assim não correria o risco de engasgar e ele desligar na minha cara. Se bem que ele podia não me responder... Mas que raios! Eu nem sabia se era mesmo o garoto da escada! Podia muito bem ser um número esquecido dos tempos do colégio de alguma amiga minha! Tomada de uma coragem que eu nem sabia ter eu peguei o celular e escrevi “Oi, tudo bem? Quem é você?” Okay, não parecia ser a melhor maneira de começar, mas eu realmente não tinha ideia de como iniciar uma conversa! Antes que pudesse mudar de ideia, já tinha enviado a mensagem. Depois disso, fiquei agoniada esperando a resposta. Ela não tardou a chegar, mas parece que demorou mais do que deveria. Ela dizia “Olá! Estou bem e você? Eu? Depende de quem quer saber! RS Você por acaso não é um certo furacão que quase me derrubou na escada rolante, é?”
Uau! Como ele era direto! Bem, uma coisa eu já sabia, ERA o garoto da escada. Mas e agora? O que eu diria? A frequência dessa pergunta está me incomodando! Mas espera aí, ele me chamou de furacão?! “Furacão?! Eu não tive culpa de você estar bem atrás de mim!”, enviei-lhe. Bem, a partir daí a conversa até que fluiu bem! Ele não quis me dizer seu nome, e seguindo seu exemplo eu também não disse o meu, mas ele logo começou a me chamar de Ka, uma derivação de Katrina, por causa do furacão Katrina, será que ele nunca ia esquecer isso?
“E como eu vou chamá-lo? Não vale só eu ter um ‘doce’ apelido!” eu lhe enviei, e ele logo disse que eu podia lhe chamar de capitão, já que ele possuía um lindo barco que chamava Afrodite. Eu disse que o chamaria de Capitão, mas porque ele me lembrava o Capitão America com todos aqueles músculos duros! Eu não devia ter lhe dito isso, porque ele me irritou ao dizer que eu havia reparado bem em seus músculos e que era realmente lindo e charmoso como o personagem. Tivemos algumas dezenas de mensagens discutindo sobre isso!
– Mas será que agora não vai trabalhar mais?! Eu queria que você falasse logo com esse menino, mas não precisava me abandonar aqui! – disse Lily nervosa entrando na cozinha para ver porque o pedido demorava tanto.
– Oras Lily, não seja ranzinza! – eu lhe disse rindo enquanto mandava mais uma mensagem. – Porque não aceita logo o convite do James e pare de encher! – ela ficou tão vermelha quanto seus cabelos, e temendo uma explosão eu apelei a Alice. – Alice concorda comigo, não é? – mas quando me virei pra garota, ela não estava ali. – Cadê ela?
Eu e Lily fomos até o balcão procurá-la, e pra nossa surpresa, Alice estava do outro lado do corredor entrando na loja de surf.
– Eu não acredito! – exclamou Lily com a boca aberta. – Ela vai chamá-lo pro luau!
Nos ficamos observando Alice disfarçar, olhar as coisas da loja enquanto Frank atendia outro cliente. Ela estava visivelmente nervosa, e depois de um tempo que ele realmente demorou a atendê-la, ela pareceu desistir da ideia e já ia saindo da loja quando ele a chamou. Ela ficou muito vermelha e eles conversaram um pouco, riram, e ele segurou a mão dela e a beijou. Eu e Lily suspiramos ao mesmo tempo ao ver isso. Logo Alice estava de volta a lanchonete, e sem olhar ninguém diretamente ou falar algo, ela foi direto pra cozinha. Nós a seguimos, curiosas.
– Eu não acredito que você foi até lá! – eu disse a ela, sorrindo. Alice é muito tímida, e dar um passo daqueles era realmente algo impressionante.
– Eu na-não seu co-como eu consegui! – ela gaguejou, mas parecia contente com o que fizera. Para se distrair ela pegou algumas folhas de alface e começou a lavá-las. Ela tinha o hábito de começar a cozinha e preparar coisas quando estava nervosa. – Eu fiquei pensando no que você me disse, e quando vi, já estava lá!
– E então? – Lily perguntou ansiosa.
– Nós va-vamos ao luau ju-juntos! – a garota disse, ainda muito corada e picotando o alface como se não houvesse amanhã.
– Mas isso é maravilhoso! – eu exclamei feliz e Lily deu pulinhos de alegria. – E como foi? Você o chamou e o que ele disse?
– Na verdade, eu não o convidei. – eu e Lily fizemos uma digna pokerface pra’quela informação. – Na verdade, eu fui lá perguntar sobre o preço de um biquíni.
– Mas que desculpinha mais xumbrega! – exclamou Lily, e revirei os olhos.
– Como se a sua ideia da parafina fosse melhor! – eu disse debochada e ela me mostrou a língua. – Mas então, ele te chamou pra ir ou o quê?
– É, ele perguntou se eu tinha companhia pro luau, e eu disse que não, então ele me chamou pra ir. Disse que tem me observado desde que cheguei aqui! – ela ficou mais vermelha ainda quando disse isso e eu e Lily a abraçamos. Começamos a pular juntas, iguais loucas, até que um cliente começou a chamar.
– Eu tenho que ir! Mas saiba que vamos comemorar isso depois! – Lily disse já saindo da cozinha.
Depois daquilo eu fiquei pensando em convidar o Capitão pra ir ao luau comigo, já que, pelo que ele dizia, estava passando um tempo na ilha também. Mas talvez fosse uma ideia tola, ele não tinha porque aceitar ir comigo, além de que eu não poderia deixar Lily sozinha. Pelo menos foi o que eu pensei, até a hora de ir embora. Nós três estávamos indo pra casa tomando um belo milkshake para comemorar a coragem de Alice, quando de repente nos deparamos com uma, e porque não dizer, bela cena! Lá estava James Potter inclinado sobre o motor de um carro o arrumando. Ele estava sem camisa, um pouco sujo de graxa e muito sexy com aqueles cabelos negros despenteados e visíveis músculos bem trabalhados. Lily simplesmente parou e ficou de boca aberta observando o garoto. Eu e Alice começamos a rir baixinho, e a puxamos para continuar a caminhar. Só que minha prima não tem nenhuma coordenação com os pés, principalmente quando está distraída, e não demorou muito pra que ela tropeçasse e quase fosse de cara no chão. Ela xingou tanto que acabou chamando a atenção de James, que sorriu e veio direto até ela (ainda sem camisa, vale ressaltar).
– Minha ruiva!
– Não sou sua ruiva, Potter! Pare de me tratar como se fossemos íntimos! – ela disse zangada, embora falhasse na tentativa de desviar os olhos do corpo do garoto. Ele pareceu notar isso, porque chegou mais perto dela, o que a fez prender a respiração.
– Ah minha flor, porque não admite que me ama e aceita logo ir ao luau comigo?
– E-eu nunca i-iria contigo! – ela gaguejou tentando a todo custo se concentrar nos olhos dele. O que não era uma boa saída, porque ele tinha lindos olhos esverdeados que seduziam qualquer garota. Não me admirava que ele fosse galinha e metido!
– Você sabe como sou insistente, meu moranguinho! Porque não aceita logo, sim? Sim? Sim? – a cada ‘Sim’ que dizia, era um passo que dava pra mais perto da ruiva que estava prestes a ter um colapso. E acho que teve mesmo, porque logo a ouvi dizer.
– TUDO BEM! Eu vou com você! Mas não pense que isso é um encontro, porque NÃO É! – ela terminou raivosa e saiu pisando duro. Eu e Alice tivemos que correr para alcançá-la, e ela estava realmente brava por ter cedido ao Potter.
Ela reclamou o resto do caminho e eu e Alice só ríamos dela. Mas aquilo me deixou preocupada, se ela ia com James e Alice ia com Frank, eu iria ter que ir sozinha então.
– Que cara é essa Amy? – perguntou Alice docemente.
– Ah nada, é que acho que vou segurar vela no luau! Mas não me importo, eu... – fui poupada de dar qualquer desculpa, já que meu celular tocou bem na hora. Eu atendi sem nem olhar que era. – Alô?
“- Olá Ka!” – disse uma voz rouca. Eu arregalei os olhos, Lily e Alice ficaram me perguntando quem era. “O Capitão!”, eu dissera baixinho pra elas que ficaram rindo bobamente.
– Capitão? Que surpresa! – eu respondi tentando não gaguejar. – Porque está me ligando?
“- É que eu acho que devíamos nos ver num lugar com mais luz e com mais tempo pra conversar.” – ele respondera. Meu coração deu um salto, será que ele dizia o que eu achava que dizia?
– E o quê sugere?
“- Será que o furacão aceitaria ir ao luau comigo?”
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