Único



Harry e Gina estavam sentados no sofá da vazia sala comunal. Harry estava lendo um livro de Artes das Trevas, que Hermione dera de presente de Natal a ele. Harry disse que um dia, que ele esperava não ser tão cedo assim, o livro acabaria sendo útil. Gina estava tirando um cochilo com a cabeça apoiada no encosto da poltrona.

Era um sábado de férias de Natal, logo depois do almoço, e o calorzinho gostoso da lareira na frente da sua poltrona deixava Harry sonolento. Ele pensou consigo mesmo que seria interessante seguir o exemplo de Gina, deixar o presente de Hermione de lado e usar o que Ron lhe dera. Uma máscara de dormir, que, assim que você a vestisse e adormecesse, ela daria a aparência de que você está brilhantemente acordado.

Harry ouviu passos descendo as escadas rapidamente. Gina deu um pulo da poltrona.

"Harry? O que foi isso?"

Harry riu.

"Acalme-se. É alguém descendo as escadas."

Era Ron. Ele se aproximou da lareira e sentou-se na poltrona ao lado de Harry.

"Erm.. Harry? Posso falar com você por um instante?" A voz dele estava um tanto hesitante.

"Claro, vá em frente." disse Harry.

"É meio pessoal..." acrescentou Ron, a contragosto, lançando um olhar de esguelha para uma Gina sonolenta.

"Ok, ok, entendi o recado. Vou tirar o resto do cochilo que você interrompeu lá na minha cama." disse ela, esfregando os olhos. Gina levantou-se e saiu lentamente. Ron observou-a até ela desaparecer no portal que dava acesso aos dormitórios femininos, para certificar-se de que não seria ouvido.

"Então?" fez Harry, observando o amigo, curioso. "O que você queria me contar?"

"Olha... na verdade eu não queria contar isso pra ninguém, mas... eu simplesmente não agüento mais guardar isso só pra mim! Eu sinto como se eu fosse explodir!"

"Estou ficando preocupado, Ron, o que é? Me conte!" Harry estava estranhando. Ron nunca fora de falar de coisas pessoais. Ron tomou fôlego e abriu a boca para começar, mas...

"Olá! O que vocês estão fazendo?"

Ron deu um salto digno de um canguru e corou.

Era Hermione.

"Credo, Ron! Que é isso?!" fez ela, espantada com o susto de Ron.

"Ora, você.. você me assustou, chegando do nada assim!"

Hermione sacudiu a cabeça para Harry, revirando os olhos. Harry olhou para Ron, com um olhar de compreensão.

"Aonde você estava?" perguntou Ron. "O almoço foi há uma hora atrás."

"Biblioteca" respondeu ela automaticamente. Agora foi a vez de Ron revirar os olhos.

"Eu devia saber. Escuta, por que você não se junta à Gina e vai tirar um cochilo lá no seu dormitório?" sugeriu Ron, displicentemente.

"Sabe que é uma boa idéia? Boa-tarde, garotos." Hermione virou-se e subiu as escadas do dormitório feminino. Ron a observou sair, certificando-se de que ela não ficaria por ali.

Ele tornou a olhar para Harry, surpreendendo-se ao ver um raro sorriso sair da boca dele.

Silêncio.

"É a Hermione, não é?"

Um choque de entorpecimento perpassou o corpo de Ron.

"Q-Quê? Por-por que você diz isso?"

"Ah, então você vai me dizer que o fato de você ter pulado dois metros da poltrona, corado feito um tomate e gaguejar quando a Mione chegou não tem nada a ver com o que você ia me dizer antes?"

Ron sentiu as orelhas vermelhas.

"Bom..."

"Eu sabia!" disse Harry, exultante.

"Ei, pára!"

"Ok, desculpe. Mas é que isso é ótimo!" desculpou-se Harry, sorrindo. "Então? O que vai fazer a respeito?"

"Eu não sei! Eu não sei! Não sei se eu conto pra ela, se eu deixo ela perceber, se eu deixo isso passar, se eu tento esquecer---"

"Não, Ron. Isso é uma coisa maravilhosa demais pra você esquecer."

"Mas Harry, eu... eu não sei, eu... eu tenho medo."

"O quê? Ronald Weasley com medo de uma garota?" disse Harry, com um sorriso mais amplo ainda. Ron atirou uma almofada no amigo.

"Ah, fica quieto, Harry. Eu não tenho medo DELA. Eu tenho medo de perder nossa amizade... de perder ela!"

"Mas você quer ou não quer ficar com ela?!"

A voz de Ron tremeu.

"Eu quero. Eu quero tanto que estou pirando! Eu não consigo mais viver sem ela, Harry! Putz! O que eu faço? Me ajuda!"

"Olha, Ron, não sou nenhum conselheiro amoroso, muito pelo contrário..." Harry fez uma careta. "Mas como eu conheço vocês dois muito bem, eu digo: conte a ela."

"Mas e se ela recusar? E se ela não quiser e não gostar de mim do jeito que eu gosto dela? E se nós brigarmos e eu nunca mais vê-la de novo?" indagou Ron, desesperado.

"Isso não vai acontecer." afirmou Harry.

"E como você sabe??"

"Por que ela também não consegue mais viver sem você."

Harry levantou-se, saindo do salão comunal, sorrindo consigo mesmo. Quem diria que aqueles dois cabeças-duras iam gostar tanto um do outro desse jeito.

Ron surpreendeu-se ao ver que nos últimos momentos Harry tinha sorrido mais do que nos últimos dois anos,desde a morte de Sirius.

Ele ficou lá, olhando fixamente para suas mãos, tentando absorver as palavras de Harry. Ok. Recapitulando: Harry tinha dito a ele para contar a ela, porque ela também não conseguia mais viver sem ele. O que queria dizer que... segundo Harry, Hermione também gostava dele? Não, mas não podia ser. Para Ron, no dia em que Hermione gostasse dele, ia chover canivete.

O engraçado é que, se Ron prestasse mais atenção, ele iria perceber que andava chovendo canivete há muito tempo.

~-~-~-~-~-~-~

Ron não dormiu aquela noite. Ele estava com o corpo cansado por ficar acordado até tão tarde e com a cabeça fervendo pela famosa dúvida: contar ou não contar?

Dizendo a si mesmo que iria resolver aquela situação no dia seguinte, ele encostou a cabeça no travesseiro, cobriu-se até o pescoço e fechou os olhos, mergulhando num sono povoado por imagens de Hermione.

~-~-~-~-~-~-~

Hermione estava sentada numa das mesas do salão comunal, tarde da noite, terminando trabalhos para dali a dois meses. Ela estava espantada com a quantidade abissal de deveres e trabalhos que eles andavam recebendo, por causa dos N.I.E.M's no final desse ano, o que estava causando nela o chamado colapso nervoso e a famosa mudança constante de humor.

No dia anterior ela estava de ótimo humor, mas hoje ela andava mal-humorada. Especialmente porque Ron andava evitando-a desde cedo, e ela não sabia o motivo. Normalmente, quando ele fazia isso, era quando Vítor Krum escrevia para ela, mas ela não recebia notícias dele fazia meses. Tentou se lembrar de algo que pudesse ter feito para deixar Ron irritado ou algo do tipo, mas nada lhe veio à cabeça. Ela bateu com o punho na mesa, com raiva. Por que ele tinha que ser sempre tão idiota?

Hermione sentiu uma mão cutucá-la no ombro. Ela sobressaltou-se.

"Ron!" disse ela. "Você me assustou, seu...!"

"Olha a boca!" disse ele, sorrindo. "Bem, parece que eu me vinguei pelo susto que VOCÊ me deu ontem."

"Há há, muito engraçado. Agora se me dá licença, Ron..." disse ela, irritada, voltando ao seu trabalho de Aritmancia.

"Posso.. posso falar com você?" perguntou Ron, sentindo o coração se acelerar de nervoso.

"Ah, agora, Ron? Não dá pra esperar?" falou ela.

"Não. Não dá mais."

"Ora, vamos, eu estou bem no meio de um enorme trabalho de Aritmancia---"

"Hermione, por favor---"

"--E depois ainda tenho mais dois de Runas Antigas e mais outro de Transfiguração e de Poções e de Feitiços---"

"DÁ PRA VOCÊ FICAR QUIETA E ME ESCUTAR???" explodiu Ron.

Hermione olhou chocada para ele.

"Não grite comigo!"

"Eu grito com quem eu quiser! Além do mais, eu vim aqui pra falar uma coisa muito importante e você simplesmente se recusa a ouvir---"

"Eu não estou me RECUSANDO a ouvir, Ron, eu tenho DEZENAS de trabalhos pra fazer---"

"O que significa que, como sempre, você coloca os seus estudos e os seus trabalhos em primeiro lugar, nem se importando com os amigos!"

Hermione esfregou a têmpora e se levantou.

"Olha aqui, Ron. Se você veio até aqui pra me dizer ISSO, então eu simplesmente vou embora!"

Hermione virou-se de costas e foi em direção à escada do dormitório feminino, sacudindo a cabeça, irritada e magoada. Por que ele tinha sempre que fazer isso com ela? Por que eles tinham sempre as mesmas brigas pelas mesmas coisas? Estudos, Vítor Krum, Vítor Krum, estudos... Ela estava cansada daquilo tudo, ela tinha dezenas de trabalhos pra fazer, tinha que estudar para os N.I.E.M's, tinha que lidar com todos aqueles sentimentos que insistiam em permanecer, então porque os dois não podiam simplesmente---

"Estou apaixonado por você."

As palavras demoraram alguns instantes para penetrarem na cabeça de Hermione e fazerem sentido. O que ele tinha dito? Não. Ela não tinha entendido bem. Ela apenas estava com sono, e precisava de uma boa noite de sono, só isso, por isso não estava escutando bem. Hermione sentiu seu coração bater mais forte. Ela virou-se trêmula para encarar Ron, parado a alguns metros de distância dela.

"Quê?"

Ron aproximou-se.

"Eu tenho sentido isso por tempo demais pra desistir agora. Por favor, Hermione... por favor, fica comigo. Eu não consigo mais viver sem você. Eu preciso de você, Hermione. Eu te amo."

Ela o olhou nos olhos, mal se atrevendo a acreditar, sentindo um torpor de choque ao ouvir as palavras dele. Por anos ela vinha sonhando com isso, e não conseguia acreditar que estava acontecendo. Era bom demais pra ser verdade. Não. Provavelmente ela iria acordar dali a instantes na sua cama, e perceber que tudo não passou de um sonho, e que ela ia descer pra tomar café e recomeçar a brigar com Ron. Hermione apenas encarou os olhos de Ron, em busca de uma confirmação do que o que ele dissera era verdadeiro. Ron a encarou profundamente com seus olhos azulados. Hermione sentiu seus olhos umedecerem.

"Hermione, pelo amor de Deus, diga alguma coisa!" pediu Ron, preocupado.

Ela não conseguiu pensar em mais nada, e fez o que sempre fazia quando se sentia mal, feliz ou aliviada. No momento, ela sentia as três coisas juntas. Ela disse "Ah, Ron!" e jogou seus braços em volta dele, abraçando-o forte. Ron retribuiu o abraço apertando-a contra si, como se nunca mais quisesse deixá-la ir. Apertou os olhos.

"Você... está falando sério?"

"Claro que estou!" disse ele desesperado, afastando-a e a segurando pelos ombros, forçando-a a olhar para ele. "Acha que eu brincaria com uma coisa dessas?"

Hermione caiu no choro. Ela mal podia acreditar. Ron a amava.

"Shh.... Está tudo bem." disse ele, abraçando-a novamente.

"Estou assustada, Ron..."

"Por quê?" perguntou ele, com voz fraca.

"Por que eu te amo. Eu te amo tanto que isso me assusta. É uma coisa tão forte, e eu não quero perder você."

"Você não vai me perder." disse Ron, com a voz firme, agora. "Nunca."

Ron acariciou o rosto de Hermione, enquanto ela sorria. Ele segurou o rosto dela nas mãos e a puxou para perto. Ele a sentia tremer, e sabia que também estava tremendo.

Ron sentiu seus lábios finalmente tocarem os dela num beijo doce, gentil e cheio de sentimentos.

Ela o abraçou novamente.

"O que faremos, Ron?"

"Como assim?"

"Quero dizer, com essa maldita guerra, Harry, a escola..."

"O que nos faremos? Nós ficamos juntos, Hermione."

"Mas e se depois tivermos que nos separar? Eu não vou agüentar, Ron, não vou conseguir!"

Ela caiu no choro novamente.

"Não vamos nos separar, Hermione. Mesmo que tenhamos que estar em lugares diferentes por causa dessa guerra, eu sempre vou estar com você. E pode ter certeza que você sempre vai estar comigo. Aqui, ó." Ron pegou a mão de Hermione e colocou-a encima do seu coração.

Hermione sorriu.

"Eu amo você tanto.."

"Eu também."

Ron beijou-a novamente.

O mundo podia estar em guerra, Harry podia estar mal, ataques podiam estar sendo realizados, os N.I.E.M's podiam estar próximos, o fim da escola os esperava... mas isso não ia mudar uma coisa. Eles se amavam e agora estavam juntos, e não existia nada mais perfeito do que isso no mundo.

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