It's All About Fred



George
It's All About Fred


George estava sentado no parapeito da janela há horas observando seus dois irmãos mais novos e os namorados passarem a tarde. Ele não percebeu quando o sol começou a descer e tampouco quando a escuridão total abateu o local e as luzes de fora da ’Toca foram acesas.

Ele não sabia exatamente porque olhava tanto para os quatro jovens, mas algo ali... algo parecia errado. Durante toda a tarde eles ficaram sentados sob sombras de árvore; Ron com Hermione em seus braços e Harry com Ginny nos seus. Eles não pararam de conversar por sequer um minuto. Por vezes pareciam sérios, outras eles riam, e beijos ocorriam de ambos os casais, volta e meia.

Houve um momento, no entanto, assim que anoiteceu, que eles tocaram em algum assunto que não foi bom. George não conseguia ouvi-los, mas o silencio que caiu sobre eles por pelo menos dez minutos indicava que não era boa coisa. Logo Ron se levantou, sorriu levemente para Harry e Ginny e entrou, Hermione junto a ele. George continuou a observar os dois restantes.

Eles pareciam não ter nada a dizer, e Harry tinha sua habitual cara de culpa. Se George ainda não se sentisse tão mal ele desceria e tiraria aquela culpa com socos.

Pouco tempo depois, ambos entraram. George finalmente conseguiu sair da janela e sentou-se em sua cama, escutando o corredor. Harry vinha em direção ao banheiro e logo mais fechou a porta. Assim que isso ocorreu, George abriu a porta do quarto e olhou, ninguém no corredor. Ainda com a porta aberta voltou a se deitar e observar o corredor. Pouco tempo depois Gina subia as escadas com Hermione, ambas rindo de alguma coisa, e foi então que George percebeu o que estava errado.

— Qual o problema de vocês? — Ele gritou, assustando as duas garotas que olharam pra ele em surpresa. — Como vocês conseguem rir como se nada no mundo estivesse errado?

Ginny e Hermione se olharam e a ruiva indicou que a outra fosse embora e a deixasse sozinha com o irmão. Entrou então no quarto e fechou a porta.

— Quem você pensa que é pra falar assim com a Mione? Ela é uma visita, George, e ela está enfrentando uma situação bem complicada que inclui se recuperar de uma guerra e não conseguir fazer os próprios pais se lembrarem dela.

Durante quase toda a fala de Ginny, George manteve a boca aberta como quem planeja dizer algo, mas fechou na última parte.

— Oh. Eles não... ela não...

— Não é definitivo, parece que podem resolver, mas está sendo mais complicado do que deveria e já a aconselharam a se preparar pro caso deles não poderem reverter o feitiço de memória.

— Eu... eu não sabia. — George se sentou em sua cama, parecendo perdido.

— Como você saberia se não mais deste quarto? Mal vai comer, desce depois de todo mundo e sobe antes.

— Você não entende, Ginny. — Ele escondeu a cabeça nas mãos.

— Não entendo o quê? Que você perdeu um irmão? Oh, tem razão, não consigo sequer imaginar o que você está sentindo. — Ginny disse irônica.

— Não é a mesma coisa! — Ele se levantou de repente, dando alguns passos para perto dela. — Fred... Fred era como minha metade. Eu não... eu não sei fazer nada sem ele, e justamente por isso não há nada que não me lembre dele.

Ginny suspirou e andou até ele, abraçando-o.

— Eu sei que a dor parece insuportável, George. Eu sei que não havia nada que pudesse acontecer a você que fosse pior que isso. Mas está na hora de você encarar a realidade.

— Eu encaro a realidade todo maldito segundo! O quarto grita que ele morreu, a mesa de jantar grita que ele morreu, a droga do meu espelho grita que ele morreu!

Ginny o olhou e fez o possível para tirar a pena do olhar, mas ainda assim ele viu e suspirou, dando uns passos pra trás.

— George... — Ela tentou, mas ele a interrompeu ainda de costas pra ela.

— E ainda tem isso. Esse maldito olhar de pena! — Ele disse cada palavra lentamente, uma raiva crescente em seu tom de voz. — Eu já estou miserável sozinho, não preciso que todo mundo me olhe como se eu fosse um coitado, como se o mundo tivesse conspirado contra mim, como se... — Ele deu um suspiro cansado e passou a mão pelo rosto, se virando pra ela. — Eu sinto isso, Ginny, não preciso dos outros tentando me mostrar também.

— Olha. — Ela disse séria, sentando-se na cama dele. — Você acha que eu não entendo, você acha que nenhum de nós entende. E no fundo, é claro, o que todos nós sentimos é diferente, diferente entre todos nós, não entre nós e você. Mas isso não quer dizer que seja fácil pra nós também. Ninguém quer que você se levante, ria e aja como se nada tivesse acontecido, George, porque aconteceu, nós sabemos disso. Mas você precisa crescer e parar de agir como se fosse a única vítima dessa maldita guerra.

Ele a olhou com um misto de raiva e teimosia, mas ela não deixou que ele falasse nada.

— Você não tem noção o inferno pelo qual todos nós passamos. Hogwarts era uma completamente tortura, uma prisão. Éramos torturados sempre que possível e por muito, muito pouco eu não fui... — Ela fechou os olhos e suspirou. — E eu também perdi um irmão, George. É claro que a sua ligação com Fred era mais forte, mas eu duvido que no fundo você realmente possa dizer que o amava mais do que ama aos outros. E eu o amava muito George, da maneira que eu amo todos vocês. Meu melhor amigo morreu, e eu nem estava lá pra ver quando isso aconteceu. Você acha que tem sido fácil pra algum de nós?

— Ginny, eu não estou agindo como se fosse a única vítima.

— Talvez não, mas está agindo como se você fosse a maiorvítima. Você pode imaginar como a mamãe está? Ela se levanta todo dia, dá um pequeno sorriso pra cada um de nós que entra na cozinha e faz comida e arruma a casa como sempre, tentando seguir em frente. Mas você acha que ela está bem? Ela perdeu um filho, George! Mas ela não se fechou para o mundo porque ela sabe que apesar da coisa horrível que aconteceu a essa família ela tem que ser forte. Ela ainda tem seis, bem, oito filhos que a amam e a cercam e tentam fazer a vida dela um pouco menos difícil. Você, George, você tem cinco irmãos que querem fazer isso, se você deixar.

Pela primeira vez ele pareceu culpado. Sentou-se na cama e abaixou a cabeça incapaz de olhar pra ela.

— É tão difícil, Ginny. Tão, tão, tão difícil. E tão injusto.

— Eu sei que é. — Ela disse, aproximando-se dele e fazendo ele se deitar no colo dela para poder lhe fazer um cafuné. — Ontem depois do jantar no qual você ficou por uns cinco minutos, Harry disse que estava com sono e que ia se deitar. Quando fui ver o que realmente aconteceu ele estava na cama dele com uma fotografia dos pais contando o que ele fez pra essa família, dizendo que gostaria de poder ter morrido no lugar no Fred.

A cabeça de George virou-se imediatamente pra olhar pra Ginny, os olhos arregalados.

— Mas ele...

— Harry te entende mais do que qualquer um de nós, George. Ele perdeu muitas pessoas importantes ao longo da vida dele e nós somos a única família que ele tem. Ele sente falta do Fred tanto quanto nós sentimos. E ele não aceita que você e nós tenhamos que passar por essa dor.

— Ele... eu estava olhando daqui da janela hoje, ele parece tão bem.

— Ele escolheu não fugir da vida, como você fez. Mas ele está do mesmo jeito que você, George, basta olhar direito pra ele pra perceber. E eu realmente acho que vocês dois podiam se ajudar muito, desde que você se esforçasse um pouco.

Ele sorriu de leve pra irmã e se deixou chorar pela primeira vez depois do funeral do irmão. Ela ficou com ele lá por horas até que ele adormeceu. Levantou-se e antes de sair deu um beijo na testa dele e murmurou eu te amo.

Assim que Ginny fechou a porta, George abriu os olhos. Sua irmã havia crescido. E ela estava certa, ele precisava tentar, ao menos tentar, superar aquilo. E ele começaria a tentar assim que acordasse de manhã.

Fred não ia querer que ele ficasse daquele jeito.

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