Artista

Artista

Havia aquela disparidade quase irônica entre eles. Eram tão perfeitamente opostos que, se houvessem vivido em outra época, em outro mundo e sob outras circunstâncias, seria até um tanto cômico para aqueles com visão artística.

Se fosse um artista e pudesse escolher pintar sobre o que quisesse, Draco sabia exatamente o que pintaria. Pintaria histórias, amores, desafetos, dor. Pintaria lembranças, lágrimas, mudanças e covardia. Pintaria seres humanos marcados por uma guerra.

Pintaria ele e Hermione do exato modo como os via. Pintaria cicatrizes.

Não havia melhor maneira de contar a história compartilhada do que pintar cigarros e lembranças que eles traziam na pele. Não haveria necessidade de explicar em palavras o que suas cicatrizes diziam tão nítida e sucintamente. Elas representavam tudo o que eles eram a princípio. Mas aquelasmarcas contavam também tudo pelo que eles haviam passado.

Se fosse um artista, Draco pintaria seu braço sobre o colo de Hermione, enquanto a mão dela acariciava seu rosto – como tantas vezes fizeram –, deixando à mostra uma caveira negra em seu antebraço esquerdo e a marca de uma palavra no braço dela.

Se fosse um artista, ele pintaria aos dois naquele mesmo mundo em que se encontravam, porque um artista conseguiria perceber que a beleza residia exatamente no fato de que eles se encontraram em tempos tão desfavoráveis. Um artista saberia discernir que, se fosse de qualquer outra maneira – em outra época, em outro mundo e sob outras circunstâncias – nada haveria acontecido, e não haveria amor nenhum a ser pintado nos estudos em tons de cinza.

Se fosse um artista, ele pintaria tudo aquilo que não tinha coragem de dizer, que não sabia como dizer.

Mas Draco não era um artista. Nunca o fora e nunca o seria.

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