Único



Hermione Granger escutou o barulho da água, pensando no quão bom era ficar ali, debaixo do chuveiro, deixando a água quente escorrer pela sua cabeça e o seu corpo, levando, por um momento, seus problemas e preocupações embora. Ela tentou não pensar em nada. Nem em Voldemort (por onde andaria ele agora?), nem na guerra pela qual o mundo bruxo estava passando (quantas mortes mais teriam acontecido nos últimos dias?), nem em Harry e sua cicatriz (será que ele iria continuar por muito tempo introvertido daquele jeito?), nem nos N.I.E.M's que estavam por vir (ela precisava estudar...), nem em Ron...

Ron. Ah, Ron. Por que diabos ela tinha que ficar pensando em Ron? DAQUELE jeito? Por que ela simplesmente não conseguia o tirar da cabeça? Hermione tentou se lembrar da primeira vez em que pensou em Ron como mais do que um amigo. Não conseguiu. Analisou melhor, como já havia feito tantas e tantas outras vezes. Ron e ela sempre se bicaram, desde o primeiro bendito segundo em que se viram.

Hermione no começo perguntava-se por que aceitava as provocações do ruivo. Ela, a garota mais inteligente de Hogwarts, não conseguia ser superior quando tratava-se de Ron. Não conseguia simplesmente ignorá-lo. Não, ela tinha que ir lá responder e provocá-lo também. O que sempre resultava, cedo ou tarde, numa briga. Eles passavam dias sem se falar, então Ron se oferecia para ajudá-la com alguma coisa, ou ela falava com ele sem querer, esquecendo-se de que brigavam. Mas tudo voltava às boas. Pelo menos por um ou dois dias, quando começavam novamente.

Ultimamente não andavam brigando tanto. Haviam diversos motivos. O principal era que Harry ultimamente não andava suportando mais nada, ainda menos briguinhas entre seus melhores amigos. Hermione até que compreendia. Agüentar seis anos duas pessoas se bicando bem do seu lado não deve ser nada fácil. Somado ao que Harry ainda tinha que enfrentar... O segundo motivo, era que as brigas SEMPRE eram por coisas banais. E ficavam cansativas. E desde o quinto ano, Ron e Hermione tiveram obrigatoriamente que passar mais tempo juntos, por causa dos serviços de monitoria. Então meio que não tiveram outra escolha senão maneirar nas discussões.

Hermione fechou o chuveiro, suspirando. Ela secou-se, pegou seu roupão e saiu para seu dormitório, para vestir-se para o jantar.

Totalmente pronta, desceu as escadas, onde um Ron impaciente estava sentado no sofá. Ele levantou-se.

"Até que enfim!" falou ele, irritadiço. "Que diabos você estava fazendo lá encima?"

"Tomando banho, ora." respondeu Hermione, simplesmente, aproximando-se dele. Aparentemente ela demorara demais. Ela, Ron e Harry iriam descer juntos para jantar. Mas Harry não estava lá. "Aonde foi o Harry?" perguntou Hermione.

"Encheu o saco de esperar e desceu. Você sabe como ele anda sem paciência pra tudo." falou Ron, encolhendo os ombros. "Vamos, que o meu estômago está protestando."

Hermione sacudiu a cabeça, sorrindo. Ron podia ter crescido, ter se desenvolvido corporalmente, como Hermione não cansava de observar, mas por dentro ele continuaria sempre o mesmo.

"Que foi?" perguntou Ron, um tantinho sem jeito. Hermione percebeu que o estivera observando.

"Nada." disse ela, rapidamente. "Agora vamos que eu também estou com fome."

"É? Achei que pra demorar tanto no chuveiro você não estivesse querendo comer."

Hermione lançou um olhar repreendedor do melhor tipo e ele se calou.

Os dois passaram pelo buraco do retrato e desceram as escadas, para jantar.



:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::



Harry, Ron e Hermione estavam sentados nas melhores poltronas, em frente à lareira, no dia seguinte. Os três estavam em silêncio, assim como a vazia sala comunal ao redor dele. Eram férias de Natal, então metade da escola estava fora, deixando Hogwarts numa anormal quietude.

Mais para quebrar o silêncio, Hermione sugeriu "Ei, Harry? Por que você e Ron não jogam xadrez? Eu posso assistir e jogar com quem ganhar."

Harry sorriu um pouco. "Tenho uma idéia melhor. Por que você não joga direto com Ron, já que é ele que vai ganhar de qualquer maneira?"

Ron sorriu, com as pontas das orelhas vermelhas. "Ora, Harry, temos de jogar para saber quem vai ganhar..."

"Ah, Ron, a quem você quer enganar? Você sabe que vai ganhar de qualquer jeito. E eu não estou muito a fim de jogar não. Joguem você e a Hermione, e eu assisto."

"Ok, pode ser, Ron?" falou Hermione, olhando para Ron.

"Ok." falou ele, pegando o tabuleiro e as peças de xadrez. "Harry, prepare-se: você está prestes a assistir o maior massacre de todos os tempos."

"Cala a boca, Ron." falou Hermione. "Vamos ter que JOGAR pra saber quem vai ganhar, como você mesmo disse."

"Eu sei! Quem disse que eu estava falando que eu ia ganhar? Eu podia estar falando de você! O que significa que você, inconscientemente, SABE que eu vou ganhar de qualquer jeito."

Ponto para Ron. Hermione sacudiu a cabeça, sentou-se em frente a ele e lançou a Ron um olhar desafiador.

"Você começa."

***

Sobre a partida, tudo o que Ron teve de dizer foi "Eu te disse". Ela sabia que ele ia ganhar. Ele sempre ganhava, mas ela não podia deixar de se sentir chateada.

"Ora, vamos, Hermione, tenho certeza de que um dia você ganha." animou-a Ron.

"Ah, certo." disse ela, descrente.

Harry levantou-se e foi em direção ao buraco do retrato.

"Aonde você vai?" perguntou Ron.

"Vou dar umas voltas." respondeu o amigo, virando-se e abrangendo Ron e Hermione com o olhar. Ele saiu pelo quadro da Mulher Gorda.

Ron e Hermione nem se surpreenderam, Harry vinha fazendo muito isso, ultimamente. Eles sabiam que era pra pensar em Sirius e em tudo o mais que vinha acontecendo com ele.

Ron e Hermione apenas continuaram a conversar. Falaram tanto, como há tempos não faziam. Ambos andavam ocupados, as tarefas de monitores-chefes não deixavam tempo livre para conversas, e Hermione andava estudando mais do que o normal dela (o que já era muito), e Ron ainda tinha os treinos de Quadribol além dos deveres redobrados...

No momento, Ron ria de uma piada revoltante que acabara de contar, enquanto Hermione sacudia a cabeça. Claro, ela odiaria admitir que fora engraçada, por isso, falou "Francamente, Ron, seu repertório de piadas não muda."

"Ah, admita, Hermione, você achou engraçado."

Hermione mordeu o lábio.

"Ah, ok" disse, por fim, rindo com Ron. "Por mais bagaceira que tenha sido, foi, foi engraçada."

Os dois ficaram rindo juntos, por um momento.

Sem que percebesse o que estava fazendo, Ron colocou sua mão sobre a de Hermione, na mesa de xadrez, dizendo "Ah, Mione, eu esqueci de como era bom conversar com você."

Ela sentiu os nervos da mão darem um salto como se tivessem levado uma carga elétrica excepcionalmente forte. Hermione mirou a mão de Ron sobre a sua, em seguida o encarou nos olhos. Foi tudo o que conseguiu fazer.

Ron tirou a mão rapidamente.

"Ah, eu... me desculpe." disse ele, corando de leve. "Foi sem querer, eu não..."

"Tudo bem."

Silêncio.

Hermione perguntou-se por que esses silêncios constrangedores tinham que acontecer tão freqüentemente. Ela se perguntou por que diabos os dois não conseguiam ser... "normais" um com o outro. Por que é que tinha que haver aquelas pausas longas quando algo desse tipo acontecia. Quero dizer, era normal um amigo colocar a mão sobre a mão do outro amigo. Mas definitivamente não era normal os dois corarem e ficarem minutos em silêncio eventualmente se encarando e logo desviando o olhar.

Mas ela sabia por que é que isso acontecia. Os dois sabiam por que é que eles não conseguiam deixar tudo como estava.

Porque serem apenas amigos já não era mais o bastante.



:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::



Ron estava na sala comunal, horas depois, pensando na vida. Pensando em tudo. Pensando em Hermione. Ele suspirou, pensando nas mesmas coisas que ela estivera pensando antes. Sentiu a familiar dor que vinha o incomodando fazia anos, dentro de seu peito. Ron não sabia exatamente o que era essa dor. Mas ele sabia que não era uma dor de machucado. Era aquela dor que a gente sente quando ama alguém, não se pode dizer isso a esta pessoa porque não se sabe se é correspondido. Ou pior. Não se pode dizer porque essa pessoa é sua melhor amiga. Ele vinha pensando nisso muito ultimamente. Se algo mudasse entre ele e Hermione, poderia ser o fim de uma linda e duradoura amizade. Mas sempre há o outro lado. Ele não conseguia mais agüentar. Ron sentia como se seu amor por Hermione fosse explodir de dentro de seu peito. Ele não suportava aqueles silêncios constrangedores. Sim. Constrangedores. A amizade deles ficara extremamente constrangedora, como se não fosse mais o suficiente, como se os dois PRECISASSEM de algo mais. Ele levantou-se e se parou em frente à janela. Estava escurecendo. Ron olhou para cima, enxergando nuvens pretas. Hmm. Isso significava chuva. Ron resmungou. Não gostava de tempo chuvoso. O dia ficava tão feio, era tão desanimador...

Ron ficou remoendo o pensamento que agora se infiltrava na sua cabeça. Contar a Hermione ou não? Ele queria. E muito. Não agüentava mais guardar isso só para si.

Ron estava tão absorto em seus pensamentos que pulou quase um metro do chão quando ouviu uma voz dizer "Ron?"

Ele virou-se para encarar sua irmã Gina.

"Gina!" exclamou ele, ofegante de susto. "Cruzes, você me assustou!"

"Desculpe" falou ela, sorrindo. "O que está fazendo aqui embaixo agora? Tá todo mundo nos dormitórios. Cadê o Harry?"

"Uma pergunta de cada vez. Primeiro: o Harry tinha saído pra dar uma caminhada, mas já voltou e está no quarto. Segundo: eu não sou babá dele, então da próxima vez que quiser saber onde ele está, vá procurá-lo. Terceiro, estou aqui embaixo pensando."

"Em quê?"

"Deixe de ser curiosa." reclamou Ron. Uma coisa lhe passou pela cabeça. "Gina?"

"Que é?"

"Pode me fazer um grande favor?" perguntou Ron, subitamente nervoso com a idéia que acabara de ter. Ele queria contar a Hermione, não queria? Queria. Ele podia? Não sabia. Mas tinha que contar ou ele explodiria.

"Depende do que for." falou ela, desconfiada. Ron não era de pedir favores, muito menos para ela.

"Você podia chamar a Hermione pra mim?" Gina ergueu uma sobrancelha. "Diga para ela vir se encontrar comigo lá na Sala Precisa." Gina apenas encarava o irmão. "Por favor?" pediu ele, suplicante. Ele tinha que fazer isso logo antes que perdesse a coragem.

"Ok." concordou Gina, tentando manter a cara séria. Ron querendo falar com Hermione a sós na Sala Precisa? Definitivamente suspeito.

Gina estava prestes a começar a subir as escadas que davam para os Dormitórios Femininos quando Ron a chamou.

"Gina..." Ela se virou. "Obrigado." agradeceu Ron, de coração.

Gina apenas sorriu. Ron teve a impressão fugaz de que Gina sabia exatamente o que ele queria fazer, mas não disse nada, e tratou de se encaminhar para a Sala Precisa.

***

Hermione estava em seu dormitório, guardando o(s) livro(s) que estivera lendo em seu malão, suspirando, recordando sua conversa com Ron, quando ele pegara em sua mão e aquele silêncio constrangedor, que os dois conheciam tão bem.

Ela ouviu a porta abrir atrás de si, pensando quem seria, já que tanto Parvati quanto Lilá, suas companheiras de quarto, tinham ido passar o Natal em casa.

Hermione virou-se. Era Gina.

"Posso entrar?" perguntou a ruiva, sorrindo misteriosamente.

"Claro que pode, entre!"

Gina fechou a porta. Ela estava um tantinho empolgada, Hermione percebeu, mas ela soube esconder bem. Gina falou, num tom calmo "Hermione? Ron pediu pra mim vir chamar você. Ele quer falar com você, lá na Sala Precisa."

Hermione franziu a testa.

"Ron quer falar comigo? Sobre o quê?"

"Sei lá." falou Gina, encolhendo os ombros. "Vá lá na Sala Precisa descobrir." Hermione, curiosa, encaminhou-se para a porta. "E depois venha me contar." Gina piscou. Hermione ergueu as sobrancelhas, estranhando, e indo em direção à Sala Precisa.

***

Hermione caminhou pelos corredores nervosamente, até chegar à estátua que levava à Sala Precisa. Havia uma porta lá, já. Ela respirou fundo, colocou a mão na maçaneta e girou-a.

A Sala Precisa estava fracamente iluminada. Ela olhou pela sala, pensando como era bom estar de volta àquele lugar aonde, dois anos atrás, ocorreram as reuniões da AD, e ela relembrou-se de como fora produtivo e bom, antes da sapa velha da Umbridge descobrir.

A sala estava vazia, exceto por uma figura ruiva encostada à janela defronte a Hermione, parecendo absorta em seus pensamentos.

"Ron?" chamou ela. Ele virou-se, pulando um pouco. "Gina me disse que você queria falar comigo."

Ron pareceu tomar um sorvo de ar.

"É..."

"Sobre o quê?" perguntou Hermione. Ron pareceu nervoso.

"Bem, eu... a coisa é que... putz, eu nem sei por onde começar, Hermione..."

"Que tal pelo começo, Ron?" Não. Ron não podia começar a enrolar. Não agora. Não naquele momento.

"Certo. O começo... Ok." Ron suspirou, como se estivesse tentando tomar coragem.

"Ron, você está bem?" perguntou Hermione, ao ver que o amigo ficara um pouco pálido e parecer estar prestes a vomitar.

"Estou, acho..." disse ele. Ron chutou-se mentalmente. Ele viera ali para dizer o que sentia por Hermione e estava fazendo papel de ridículo.

"Ótimo. Então me fale o que você quer falar." disse ela, cruzando os braços.

"Ok." Ron respirou fundo novamente. "Hermione, eu... escuta, nós... nós sempre fomos amigos, certo?"

Hermione não estava entendendo.

"Claro que sim, Ron, do que diabos você está falando?"

Ron pulou. Um pouco pelo nervosismo, e o outro tanto pelo fato de Hermione ter usado a palavra 'diabos'.

"Bem, você... você vai descobrir."

"Só se você me contar." disse Hermione. "Vamos, Ron, o que está acontecendo?"

Ela estava começando a se sentir curiosa e brava. O que diabos Ron queria dizer para ela? E por que ele simplesmente parecia não conseguir?

"Ora, VAMOS, Ron! Estou perdendo minha paciência! O que você quer?"

"Hermione, acalme-se, ok, não é fácil. Pelo contrário, é muito, muito difícil." Hermione deu um bufo de impaciência. Ela agora sabia o que Ron queria dizer. Ela sabia o que ELA queria dizer. Mas ele não dizia.

"Olha aqui, Ron, se você me chamou aqui pra dizer que o contrário de fácil é difícil então eu simplesmente vou---"

"Hermione, pare com isso!" falou Ron, começando a se sentir frustrado. Frustrado consigo mesmo, frustrado com a falta de paciência dela, frustrado com o trovão que tinham acabado de ouvir, indicando que vinha chuva por aí. "Tenha paciência, pelo amor de Merlin! O que eu quero... o que eu quero lhe falar não é nada banal, ok, nem é uma coisa que se diz de uma hora para a outra... ainda mais nas circunstâncias---"

"QUE circunstâncias, Ron?! Me diga de uma vez, mas que droga! Eu estou cansada, eu queria descansar, eu queria dormir, mas não, eu vim aqui pra ficar ouvindo você me enrolar, como sempre!"

"Eu não te enrolo, Hermione! Me desculpe, mas a verdade é que eu acho que você não está pronta pra ouvir o que eu quero dizer!"

Hermione soltou um bufo de indignação.

"Eu não estou pronta pra ouvir? EU não estou pronta pra ouvir? Eu acho que VOCÊ é que não está pronto pra me dizer! Se isso que você quer me falar importasse tanto assim pra você, não estaria enrolando como você está fazendo!"

"Hermione, pare com isso! Eu não estou te enrolando! Se você não quer ouvir, então não é minha culpa! Se você não está com paciência pra ouvir, então você devia simplesmente ir embora!!"

"POIS É O QUE EU VOU FAZER!" gritou ela, virando as costas e saindo pela porta.

Ela andou pelos corredores, sentindo as lágrimas caírem pelo rosto, e tentando pensar em um lugar onde pudesse ficar sozinha. Não queria voltar para a sala comunal. A biblioteca já estava fechada a esta hora. A Sala Precisa estava fora de cogitação por motivos óbvios. Quando deu-se conta, estava parada na frente das grandes portas do hall de entrada de Hogwarts. Lá fora, ninguém a incomodaria.

Ela abriu as portas, saindo para fora, correndo sem saber o motivo.

Um raio, seguido de um trovão, anunciou a chuva, que começou a cair, primeiro fracamente, sobre os jardins de Hogwarts. Sobre Hermione.

"QUE DROGA!" gritou ela, descarregando sua frustração. Ron não dissera a ela o que ela queria ouvir. Ele simplesmente não conseguira. Por que diabos ele tinha que ser tão idiota, tão teimoso e tão medroso quando se tratava de sentimentos?

"HERMIONE!"

Ah não. Ele só podia estar BRINCANDO. Hermione ouviu o som de alguém correndo atrás de si. Ela nem virou-se.

"Vai-embora-Ron!"

"Não!" teimou ele. "Hermione, olha aqui pra mim." Ela não se virou. Ron a agarrou pelo braço e a virou para encará-la.

"Ron, vai embora, se é pra você ficar me enrolando, volta lá pra dentro e pára de me encher o saco!" falou ela, soltando o braço da mão dele.

Os dois estavam tendo que falar alto para sobreporem-se à chuva.

"Eu já te disse, Hermione! Eu NÃO ESTOU te enrolando, eu simplesmente...! As palavras não me vem, eu... eu quero fazer isso do jeito certo, e---"

"Sabe qual é o jeito certo?! ME DIZER!"

Cinco anos de frustração por Ron não lhe dizer de uma vez o que sentia caíam sobre ela naquele momento.

"Hermione, eu te falei!" disse Ron. "Não é fácil, tá legal!? Você não sabe como é!"

"Eu não sei como é? EU NÃO SEI COMO É? Você acha que eu não sei como é, Ronald Weasley? Você acha que eu não quero dizer o que você quer dizer pra mim? Você acha que eu não sei o que você quer dizer? VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI COMO VOCÊ SE SENTE?"

Ron boquiabriu-se.

"QUÊ?" fez ele. "Ent-então você... você também... o quê?"

Hermione olhou para o céu e fechou os olhos, sentindo a chuva molhar mais ainda seu corpo e seu rosto.

"Ok, Ron. Agora chega. Eu sei o que você quer dizer. Eu sei o que EU quero dizer. Mas eu quero ouvir da tua boca. E você obviamente não consegue dizer. Então eu vou simplesmente voltar pra Torre da Grifinória e me secar, antes que eu pegue a porcaria de uma gripe."

Hermione passou por Ron, que, mesmo tendo chegado depois dela, já se encontrava no mesmo estado encharcado, lançando-lhe um olhar de tristeza. Ela começou a correr para o castelo, pisando no chão molhado, chorando, enquanto Ron debatia-se internamente.

Ela não acreditava no que tinha acabado de fazer. Ela tinha praticamente acabado de dizer a Ron que o amava e que sabia que ele a amava também. Não. Ela não sabia. Quero dizer, ela não tinha certeza. Por isso que ela precisava ouvir da boca dele! E ELE NÃO DIZIA! Hermione não acreditava que tinha se apaixonado por ele. Ela não acreditava no quão teimoso, cuidadoso, medroso, idiota, lindo, imbecil e maravilhoso que ele podia ser---

"EU TE AMO!!!"

Hermione parou quando as palavras que Ron tinha gritado atingiram-na como eletricidade. Ela não acreditou. Ele tinha dito. Ele finalmente tinha dito.

As lágrimas agora positivamente não paravam de cair sobre o rosto dela. Hermione virou-se e caminhou até ele, no que pareceram séculos, com dificuldade, já que não sentia suas pernas direito. Hermione encarou o semblante encharcado de Ronald Weasley. Ele olhava para o chão. Ela queria perguntar 'O quê?'. Ela queria confirmar se o que ele tinha dito realmente era verdade verdadeira, um sinal para mostrá-la de que o que tinha acontecido era realidade, não só mais um sonho. Saber se valia a pena arriscar a amizade que tinham por uma força maior. Ela queria dizer um milhão de coisas. Ela queria dizer 'Obrigada', ela queria dizer 'Eu te amo', mas as palavras simplesmente não saíam de sua boca, entendendo como Ron realmente se sentiu momentos atrás. E ela o perdoou imediatamente por não ter conseguido falar para ela de uma vez na Sala Precisa.

Hermione, com o sentimento de que estava prestes a cair no chão, aproximou-se dele mais. Ela sentiu um nó na garganta. Ela queria chorar, queria beijá-lo, mas ela não sabia o que fazer primeiro.

"Ron?" chamou ela, com a voz mais rouca que já usara em sua vida. Ele não ergueu a cabeça. "Ron, olha pra mim..."

Ron a encarou, com aqueles olhos azulados que encantaram Hermione desde a primeira vez que ela os viu.

"Ron, eu preciso saber... Isso é verdade?" perguntou Hermione.

"Claro que é" falou Ron, igualmente rouco, encarando-a. "Você acha que eu brincaria com algo assim?" Hermione apenas o encarou profundamente. "Ah, Hermione, eu esperei anos pra dizer aquilo. Sinto muito que tenha saído daquele jeito."

"Não, Ron... você não precisa se desculpar..." falou Hermione, aproximando-se mais dele e abraçando-o pela cintura e olhando para cima para encará-lo. Estavam a menos de dez centímetros um do outro. "Foi mais perfeito do que eu jamais teria imaginado que seria."

Ron sorriu. Uma lágrima correu pela face dela. Ron secou-a, sem saber se era realmente uma lágrima ou se era uma das milhares e milhares gotas de chuva que caíam sobre eles.

"Eu amo você também, Ron." falou Hermione. Pronto. Ela tinha falado. Ron tinha falado. O céu podia até cair, que eles não sairiam dali tão cedo. Ele acariciou o rosto dela. Ron enlaçou-a pela cintura e a puxou mais para perto. Hermione tremeu, de frio e de nervoso. Seus narizes estavam se encostando. Hermione fechou os olhos, ao mesmo tempo em que sentiu, finalmente, os lábios de Ron tocarem os seus, num beijo doce, carinhoso, gentil e, obviamente, molhado.

O gosto do beijo de Ron era exatamente como ela imaginava. Ela sentiu a chuva entre seus lábios grudados, sentiu o contato dos seus corpos molhados, sentiu o beijo que ele lhe dava, e de repente não sentiu mais frio.



Like the rain I have fallen for you and I know just why you

Liked the rain always calling for you, I'm falling for you now

Just like the rain I have fallen for you

I'm falling for you now just like the rain




Era aquilo. Era apenas aquilo que faltava à eles. Era a falta daquilo que fazia a amizade ficar tão constrangedora. Era daquilo que eles precisavam. Não adiantava negar, não adiantava tentar esquecer, que eles nunca conseguiriam. Era o destino. Eles eram feitos para ficarem juntos.

Ron beijou mais uma vez a boca de Hermione, depois a bochecha, e então a abraçou forte.



I never liked the rain until I walked through it with you

Every thunder cloud that came was one more I might not getthrough

On the darkest day there's always light and now I see it too

But I never liked the rain until I walked through it with you




Ron sussurrou mais uma vez no ouvido de Hermione "Eu te amo...", recebendo um "Eu também..." em resposta. Ficaram ali, abraçados, molhados, por vários minutos sem falar. Então Hermione se afastou um pouco para olhar nos olhos de Ron e então beijá-lo novamente.

Ron sentiu a chuva entre seus lábios, acariciando o rosto molhado de Hermione enquanto a beijava.

Como ele pudera não gostar da chuva? Era ela quem levava seus problemas embora, assim como Hermione. Era ela quem o fizera esquecer do mundo, naquele dia. Como Hermione. Fora ali, na chuva que ele dera o seu primeiro beijo em Hermione. A partir dali, quando chovesse, ele sempre se lembraria deste dia. A partir dali, sempre que ele olhasse para Hermione ele se lembraria daquele dia.



And when the night falls on our better days

And we're looking to the sky

For the winds to take us high above the plains

I know that we'll find better ways to look into the eye

of the storms that will be calling

Forever we'll be falling



Like the rain I have fallen for you, and I know just why you

Like the rain always calling for you, I'm falling for you now just

Like the rain always calling for you, I'm falling for you now just

Like the rain




Como a chuva.



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