Único
Caixinha de Surpresas
Os garotos estavam lendo o Profeta Diário, na ala hospitalar, logo depois dos terríveis e lamentáveis acontecimentos no Departamento de Mistérios. Como puderam perceber, as notícias mudaram completamente, especialmente o que se referia a Harry.
- Mas ele voltou a ser o Menino-Que-Sobreviveu, não é? - disse Ron, sombriamente, aos amigos. - Não é mais um exibicionista delirante, hã?
- É, agora eles falam de você elogiosamente, Harry - disse Hermione, enquanto Ron se servia de um punhado de Sapos de Chocolate. - “Uma voz solitária da verdade... considerado desequilibrado, mas que jamais vacilou em sua história... forçado a suportar a ridicularia e a calúnia...” Pelo visto se esqueceram de mencionar que foi o próprio Profeta que ridicularizou e caluniou você...
Ela fez uma careta e levou as mãos às costelas. Ela melhorava visilmente, mas tanto ela quanto Ron tinham “estragos” suficientemente grandes para ocupar Madame Pomfrey.
- Bom,não há dúvida que encontraram muito assunto para comentar. E a entrevista com Harry não é exclusiva, já que foi publicada à meses no Pasquim.
- Papai a vendeu ao Profeta - comentou Luna vagamente. - E conseguiu um bom preço, então faremos uma expedição à Suécia durante o verão pra ver se achamos um Bufador de Chifre Enrugado.
- Hum... parece uma ótima idéia - disse Hermione, debatendo-se intimamente.
Gina se segurou pra não soltar um ronco de riso e seu olhar cruzou com o de Harry. Ela o desviou depressa antes que caísse na risada.
Aparentemente, como os garotos contaram, tudo voltara ao “normal” na escola. Gina comentou que Filch não parava de repetir que Umbridge era a melhor coisa que já acontecera a Hogwarts. Neville, Luna, Gina, Harry, Ron e Hermione lançaram um olhar à Umbridge, que estava à algumas camas de distância deles, olhando pro teto.
- A Madame Pomfrey diz que ela está sofrendo de choque... - falou Hermione.
- É, mas ela dá sinal de vida se você fizer assim - E Ron imitou o som de galope com a língua. Umbridge olhou alucinadamente para os lados, e os garotos tiveram que se esforçar muito para prender o riso.
E a discussão se voltou para quem daria a disciplina de Adivinhação. Aparentemente Trelawney e Firenze ensinariam juntos.
- Aposto como Dumbledore gostaria de ter se livrado de Trelawney. - comentou Ron, mastigando o décimo quarto Sapo de Chocolate, sob o olhar severo de Hermione. - Mas a disciplina não serve pra nada mesmo, se querem saber minha opinião. E Firenze não é muito melhor...
- Como pode dizer uma coisa dessas? - retrucou Hermione, agora que descobrimos que realmente EXISTEM profecias verdadeiras??
Ela percebeu Harry se mexer incomodamente, embora não soubesse porque. Em seguida ele se levantou dizendo que ia à cabana de Hagrid, rapidamente, e saiu da ala hospitalar.
- Dá um alô a ele por nós! - falou Hermione. Harry acenou para dizer que ouvira, e se mandou.
Um silêncio recaiu na enfermaria.
- Ele anda meio esquisito ultimamente - murmurou Gina, audivelmente, mirando a porta por onde Harry saía.
- Motivos não faltam - observou Ron, tristemente, mirando a janela.
- Verdade... - concordou Neville.
E todos se puseram a pensar ao mesmo tempo sobre o que havia acontecido. Gina quebrou o silêncio desconfortável dizendo:
- Bem, vou indo... Tenho que falar com o Dino.
- Dino? - perguntou Ron. - E o que você quer com ele?
Mas Gina já havia saído. Ron amarrou a cara e pegou o vigésimo Sapo.
- Você não acha que já comeu demais não? - observou Luna, sob o Pasquim.
Antes que Ron pudesse dar uma resposta malcriada, Hermione interrompeu secamente, cruzando os braços:
- Ele come a quantidade que achar que cabe no seu estômago.
Luna lançou a ela um olhar esquisito, se levantou e saiu sem uma palavra. Hermione virou-se para Ron e falou:
- Sério, agora pare de comer ou você vai ficar com uma dor de barriga terrível.
Ron a encarou, num sinal que dizia claramente agora-eu-não-entendo-mais-nada.
Neville riu e disse:
- Vou indo também. Boas melhoras pra vocês. - E ele saiu da enfermaria.
Momentos depois Madame Pomfrey entrou, trazendo as dez poções que Hermione tinha que tomar, e a poção de Ron. E ela transferiu Umbridge para o quarto ao lado, alegando que ela estava ficando agitada demais com tanta gente visitando pacientes.
Ron terminou sua poção com uma careta e desceu da cama, olhando pela janela. Depois de um momento ele disse:
- Ei... aquele lá não é o Harry?
Hermione desceu cuidadosamente da sua cama e olhou pela janela também.
- É sim! Mas ele não disse que ia visitar o Hagrid?
-Talvez... talvez ele só quisesse ficar sozinho... - disse Ron.
Eles observaram Harry se levantar da beira do lago e sair caminhando em direção ao castelo,enxugando o rosto nas mangas. Hermione fungou e Ron olhou para o outro lado.
- Detesto ver ele assim... - comentou Hermione.
- Tenho a impressão de que está só começando... - falou Ron, sombriamente.
~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~~-~-~-~-~-~
Uma semana mais tarde, ainda na enfermaria, Hermione acordou, se espreguiçando, e deu de cara com Ron parado na frente da sua cama.
- Bom-dia - murmurou ela, sonolenta. - Você está aí há muito tempo?
- Não. Faz uma meia-hora, acho. A Madame Pomfrey disse que só estava esperando você acordar pra nos liberar.
- Ah, sério? Sair daqui? - indagou ela, esperançosa. Ron sorriu afirmativamente. - Não acredito!
- Nem eu. - falou Ron.
- Cadê o Harry? - perguntou Hermione.
- Sumiu. - falou ele. - Gina falou que ele anda fazendo muito isso. Tenho certeza que é para pensar em Sirius...
Era a primeira vez que falavam em Sirius desde que... Hermione enxugou os olhos.
- Hã... pode me dar licença pra eu me...
- Ah, claro - falou Ron desajeitadamente. Hermione fechou as cortinas e se trocou. Ela as abriu, e Madame Pomfrey entrou na sala.
- Ah, srta.Granger acordou, ótimo. Muito bem. Estão liberados, os dois.
- Ah, muito obrigado, Madame Pomfrey! - falou Hermione, agradecida. Madame Pomfrey sorriu para eles e foi ao quarto de Umbridge.
Hermione desceu da cama e tentou ficar de pé, mas quase caiu. Ron teve que correr a segurá-la.
- Ainda dói? - perguntou ele, tentando demonstrar o mínimo de preocupação possível.
- Não - falou ela, segurando-se nele. - É só que... bem, faz tempo que eu não caminho. - Ela riu nervosamente.
- Vamos, eu te ajudo.
E eles saíram da ala hospitalar, Ron auxiliando Hermione, pelos corredores, em silêncio, até a sala comunal. Obviamente ela não tinha mais problema algum, ou teria ficado na ala hospitalar. Mas o gesto de Ron era... bem,digamos que não podia ser desperdiçado. Olharam pela janela e viram Harry novamente andando pelos jardins, sozinho, parecendo pensativo.
Hermione perguntou, deprimida:
- Por que tem que ser assim? - Ron a encarou. - Sirius não podia morrer. Ele não merecia morrer... Não... não é justo... ele era... o único alguém mais próximo de uma família que Harry tinha... e agora... agora ele não tem ninguém...
Ela deixou-se cair no sofá, apoiou a cabeça nas mãos e chorou. Ron ficou um momento parado, meio que sem saber o que fazer. Ele sentou-se ao lado dela e acariciou sua cabeça, abraçando-a em seguida.
- Olha - começou ele, ligeiramente atrapalhado. - Não sei porque tem que ser assim. Mas Harry tem a nós, e precisamos ser fortes. Harry precisa do nosso apoio e da nossa amizade, o máximo que pudermos dar. - Ron suspirou. - Tudo vai ser diferente agora, mais do que já está.E... E agora que o Ministro finalmente viu que Você-Sabe... que Voldemort voltou - Hermione ergueu a cabeça. Era a primeira vez que Ron dizia o nome de Voldemort. E ela sabia que era para lhe dar forças. - Agora imagino que ficará um tantinho menos difícil.
Hermione deu um sorriso fraco, ligeiramente surpresa. De aonde tinham surgido aquelas palavras de conforto? Ron era uma caixinha de surpresas.
- Suponho que sim. - disse ela. - Espero que sim.
Ron quebrou o silêncio que se seguiu dizendo:
- Vamos. Você precisa descansar. - Ron amparou-a até a base das escadas para o dormitório feminino. - Você sabe, se... se eu pudesse levar você até lá encima eu levava, mas essa maldita escada... - E ele fez sinais desesperados em direção à escada. Hermione se virou de frente para ele e sorriu.
- Obrigada - agradeceu. E ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo na bochecha de Ron. Ela sorriu de novo, com as suas bochechas um tantinho vermelhas e subiu as escadas do dormitório feminino. Hermione era uma caixinha de surpresas, definitivamente.
Ron, ainda aparvalhado, subiu as escadas do próprio dormitório, pensativo. “Duas vezes esse ano.Ela é doida.”, pensou ele, passando a mão na bochecha, com um sorriso.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!