Prólogo
De: Hermione Granger
Para: Ginevra Weasley
Data: 12 de agosto, 14:10
Assunto: A reclamona
Oi, Ruivinha Gina!
Este é meu primeiro e-mail para você, enviado diretamente do norte longínquo. Acho que tinha que existir uma lei que dissesse aos jovens podem morar onde quiserem. Daí a gente não precisaria simplismente se mudar com a mãe e o padrasto para um lugar onde não conhecemos ninguém e não vemos vontade alguma de ficar, longe dos amigos e do pai. Se eu quiser ver o meu pai, tenho que viajar pelo menos três horas de trem!
Como é que alguém pode ter a idéia de vir morar em Groningen? Isto aqui é praticamente o fim do mundo!
É tudo culpa do Alexandre. Ele quis mudar para cá porque arranjou um emprego melhor. E, como minha mãe está grávida, obviamente tivemos que vir junto.
Cada vez que vejo aquela barriga enorme, sinto vontade de gritar. Minha mãe está supergorda. Ela diz que o bebê é um fruto do amor. Nossa, acho que ela já passou da idade! Quando vamos fazer compras, eu ando um quilômetro atrás dela, para ninguém pensar que estamos juntas. Eu morro de vergonha. Ela já tem uma filha de 15 anos e vai ter um bebê! Está mais para fruto da terceira idade!
O Alexandre ainda parece estar bem apaixonado por ela, mas é muito exigente comigo desde que veio morar conosco. Ele implica com os meus modos á mesa, diz que eu escuto música muito alto e incomoda principalmente porque acha que eu deveria ajudar mais a minha mãe. Eu até quero ajuda, ainda mais agora, que ela está com aquele barrigão enorme, mas não quando me MANDAM. E principalmente quando é ele quem manda. Ele não é meu pai, não tem nada que mandar em mim.
Minha mãe quase não tem mais tempo pra mim. Antigamente, a gente vivia muito bem, só nós duas.
E você acredita que agora também não posso mais usar o telefone? O Alexandre disse que iria á falência com as contas de telefone. Bem-feito, quem mandou querer se mudar para cá? Ainda bem que eu ainda tenho o computador e posso mandar e-mails para você e para o Draco. É uma pena que a Luna não tenha computador...
Nesta semana você começou as aulas, não é? Como está o quinto ano? Neste ano você vai ter o prof.Snape de novo em biologia? e com quem a Luna está ficando? Ela já chegou ao número setenta e sete? Eu não consigo mais acompanhar. Já não sei mais nem os nomes deles. Na semana passada, quando falei com ela por telefone (recorde, duas horas e meia no celular dela), ela me contou que tinha ficado com três meninos em uma semana. Como é que ela consegue? E eu nem beijei ainda. Você também não, né? Ou você já beijou e nem me contou? Você precisa me contar tudo na hora, viu? Também vou contar tudo pra você. Quando se é amiga de verdade, uma conta tudo para a outra, não é verdade?
Eu perguntei para a Luna como é que se beijava. Ela riu e comentou algo sobre beijo selvagem e beijo carinhoso, mas não quis explicar como eles eram exatamente. Ela disse que era melhor eu mesma experimentar. De que aidianta ter uma amiga asism? Nossa, isso tudo me dá calafrios. Quando eu penso em beijo ardente, me vem uma imagem de dois animais que grunhem e babam, com olhos vermelhos, rasgando a roupa um do outro. No beijo carinhoso, me vem uma sensação úmida e pegajosa, eca! Ou seja, nenhum dos dois me atrai.
15 anos e ainda não beijei. Ainda sou uma BV, uma boca virgem. Será que isso é normal? Mas, sei lá, eu nunca beijaria alguém se não estivesse apaixonada de verdade. Como vou saber se estou apaixonada? O que será que a gente sente?
Acho que a Luna não está apaixonada de verdade por aquele monte de meninos. Eu acho que ela faz isso por farra. Aposto que ela tem uma língua bem musculosa! Luna Lovegood, campeã mundial de beijo de língua! (Não fale para ela que eu disse isso, hein?)
Mudando de assunto. As minhas aulas vão começar daqui a quatro dias. Não estou nem um pouco animada. De novo, uma escola nova; de novo, professores e colegas novos; de novo um prédio onde, com toda certeza, vou me perder. Já faz uma semana que não consigo dormir e tenho dores de barriga. E, além disso, como se não bastasse, peguei uma infecção no olho! Dói demais e estou com uma cara horrível. Meu olho direito está totalmente inchado, vermelho e remelento. O que deveria ser branco está supervermelho. Acho que vou ficar cega e vou precisar pôr um olho de vidro. Não tenho mais nem coragem de olhar no espelho, estou parecendo um monstro extraterrestre.
Hoje á tarde, vou ao médico. Espero que ele encontre uma solução rápida, porque desse jeito não vou ao colégio. Nem pensar!
Ficou comprido esse e-mail, não é? É que não tenho nada pra fazer mesmo. Não conheço ninguém por aqui, nem quero conhecer.
A gente mora num bairro novo, numa casa de esquina, de frente para uma pracinha. As casas são bonitas, recém-construídas. A rua tem umas cinco casas. Meu quarto é no sótão, tem o teto inclinado. Até que é espaçoso, mas ainda está cheio de caixas da mudança. Por enquanto, só desempacotei meu computador, meu urso e algumas roupas. Não tenho vontade de fazer nada e passo o dia com joguinhos bobos no computador.
Minha mãe está ocupada preparando o quarto do bebê. Ela pintou as paredes de verde porque tem certeza de que vai ser um menino. Vai ser muito engraçado se não for. O tempo todo ela tenta me arrastar para a cidade para comprar roupinhas (verdes), ataduras para umbigo, sutiãs para grávidas e outras coisas idiotas assim. Eu, hein? Ela que me deixe fora disso.
Sempre tem um monte de gente na prainha aqui na frente, mas são todos pirralhos com menos de 10 anos. Ainda não vi ninguém da minha idade. Confisquei o binóculo do Alexandre e fico espiando. Assim, posso ficar olhando os outros sem que me vejam.
Querida Gina, responda ao meu e-mail com a máxima urgência porque você é minha única salvação. Se não fosse você, eu ficaria louca.
Bye-bye!
Hermione
P.S.: Aqui eles falam de um jeito esquisito. Eu estava no supermercado e não entendi nada.
P.P.S.: Espero que você não tenha ficado brava porque eu reclamei tanto. Da próxima vez, serei mais animada, prometo!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!