Libertação



As malas estão feitas, com pesar as tomo em minhas mãos e caminho para fora do quarto, com um suspiro me despeço das lembranças mais insanas que já possui.


Lembra-te do tempo em que me mostrava tua boneca de pano e eu com toda a minha ingenuidade pulava em seus braços e lhe implorava para deixar-me brincar com ela¿ Tu fazias isso apenas para me ver implorando por algo teu.


Deixa-me tomar a boneca para ser o motivo de suas maldades, quando eu menos esperava, tu puxava-me pelos cabelos e os cheirava, dizendo que estavam fedidos e ordenava que eu devolvo-se a tua boneca, só para me ver chorar, porém, quando a noite caía, tu deitavas em minha cama, não pedia espaço, me empurras com brutalidade para o outro lado e juntava teu corpo ao meu, abraçava-me,  alinhava seus dedos em meus cabelos e dormia inalando o aroma que deles exalava.


Tu não pedias espaço, chegava o dominava tudo em sua volta. Não me permitia sorrir a mais ninguém que não fosse tu e gostava dos meus soluços quando machucava meus braços com tuas mordidas animalescas. Bella, tu eras tão pequena e tão severa.


O tempo passara e tu me fizeras escrava dos seus maus tratos, batia em minha tez pálida, feria-me, sei que tu gostavas do rosado com o branco, das minhas lágrimas quentes, o gosto de ferrugem do meu sangue, porque tu me lambias todas as noites quando me feria, tornando-me prisioneira da sua doença, punia-me, usava meu corpo para suprir suas loucuras, mas depois a recompensava chegava, tuas caricias em minha pele enquanto eu fingia que dormia.


Mas depois viera ela, Narcissa, tua bonequinha de pano, tu cansaras de me maltratar, tinhas um novo brinquedo, cansavas de me recompensar, os cabelos loiros quase brancos tão frágeis quebravam em suas mãos todas as vezes que tu os puxavas, ela sempre berrava, isso alimentava teu vício, eu nunca berrei, eu nunca gritava, eu apenas soluçava baixo e chorava, eu nunca instiguei sua crueldade.


Ela era frágil e tu gostavas disso, todas as vezes que me aproximava tu se afastava, todas as vezes que tentei feri lá tu me punias, mas não me recompensava, então desisti de ti.


Caminho em passos lentos e recebo os braços quentes de Sirius em meu corpo, ele lamenta, chora e pede desculpas pela falha ao tentar manter-me aqui, eu sorrio e me afasto, procuro por teus olhos negros e não o encontro, fadada a abominação da realeza saio da mansão, por um breve momento eu escuto passos e meu coração dispara, encontro seus olhos, eles me punem, percebo o nojo que sentes por mim.


 


- Tu só me deras desgostos, Andrômeda – Seus lábios quase não se movem, o sussurro ecoa em minha mente, meus olhos se fecham e me delicio com tua punição.


- É porque sou mais forte do tu, Bella– Abro e tu me recompensas com um sorriso de canto emoldurando teus lábios, suspiro fundo, meu coração palpita, liberto-me desse vício, me liberto da escravidão, tu nunca mais me terás como parte do teu jogo, sou a única com forças para resistir a ti.


 


Foi a primeira e a ultima vez em que Bellatrix sorriu pra mim.

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