Entre Grifos e Dragões.
Á medida que a sombra do castelo se fazia mais presente, ainda subentendida na penumbra mística da manhã, e semibanhado pelo sol, garras lentamente perfuravam o coraçãozinho juvenil.
Tão longe de casa. E ainda assim aquele lugar, era tudo que lhe restara dele.
Cada parte do gramado continha a história de Sirius.
Do melhor ao pior momento, havia ele ali.
Draco percebeu que o rosto alvo era lavado pelas lágrimas e tocou as mãos pequenas sob as luvas.
Não sabia ao certo o que deveria, ou se deveria, dizer algo.
De forma que apenas mantivera-se observando-a, calado, enquanto a carruagem parava e chegavam ao pátio.
_Obrigada. - dissera ela, e secara os olhos com um acetinado lenço branco, dobrando-o e guardando na bolsa. - Creio que seria prudente prosseguirmos a caminhada.
_Sem dúvida alguma, prima. Seria mais do que prudente, seria ótimo, para os ânimos. - respondera o polido jovem Malfoy.
Era fim de semana, e pouco movimento se via.
Exceto por uma segunda carruagem, com a insignia dos Lestrange que se aproximava, e de onde descia um homem de alto porte, e feições duras. Era aquele Rodolphus Lestrange.
Draco permanecera, quase estático, após descer sua convidada, observando a diligência.
Os olhos dóceis de Anna seguiram a direção dos azuis acinzentados, e depararam-se com esmeraldas inquisitoras e cabelos encaracolados que caiam ás costas.
_Alexandra, vamos, desça e cumprimente seu primo. - a voz de do sir Lestrange era forte, e embora contida, deixava certo temor nos que perifericamente caminhavam.
Era meio óbvia sua indiferença quanto a filha do Black.
Descera um homem alto de cabelos também negros, olhos ameaçadores, que fitaram diretamente os castanhos da senhorita que há pouco encontrava-se nostálgica.
Seus lábios crisparam-se, e murmuraram algo.
Passos sutis para trás clamavam por segurança e proteção, quando os olhos de Rabastan pairaram sobre ela.
Estava mais do que evidente que sir Malfoy son não tinha mais nenhum foco desde que a jovem Lestrange chegara.
Olhava-a com adoração, seu sorriso tolo nos lábios finos concedia-lhe um aspecto doce pouco comum.
_Como é Draco, não cumprimenta mais os familiares? - Rodolphus já não acuava a donzela quase desconhecida, apenas a ignorava.
Rabastan parecia comprazer-se em despertar o medo, então, prosseguia.
_De forma alguma tio. Sinto-me felicitado por revê-lo, ao senhor, ao senhor Rabastan e á prima Alexandra. - e curvara-se levemente para beijar a mão da jovem.
Alexandra sorrira, um sorriso típico Lestrange, e ao mesmo tempo doce. O olhar tolidor de Rabastan voltara-se a ela por breves instantes, e o sorriso desaparecera.
As feições da moçoila de cabelos encaracolados se fizeram frias e indiferentes, tornando um sorriso morto e fraco nos lábios de Draco.
_ Olá primo. - respondera apenas, e lançara um olhar enigmatico á moça de olhar arredio ao canto.
Anna a fitara, e conteve um sorriso.
Rabastan lançara um olhar zombeteiro á Black.
Era mais do que evidente que se deleitava com aquela situação, espizinhar a filha do Black.
_Oras, oras... mas és muito parecida com seu pai, srta Black. - dissera, fitando-a fixamente, e a mesma retrocedera dois passos. - És muda?
Rabastan rodeava-a, embora comedido, enquanto Rodolphus apenas a ignorava.
_ Fui educada para não responder áqueles que não merecem meu respeito. - fora a resposta da jovem dama. Um sorriso quase homicida arregalara-se nos labios semicrispados.
Todos ao redor detinham os olhares assustados a ele, e isso, era algo que o agradava.
_Tens a língua afiada de Sophia... Infelizmente, parecer com ambos não garante um final muito feliz, não é? - tornara Rabastan, piscando um olho sarcásticamente,e voltara á diligência.
Anna estava calada, recolhida ao canto, e desviara o olhar á prima, desfazendo-se da repgnância e enchendo-o de afeto e ternura.
Rodolphus depositara um beijo casto na fronte da filha e suas malas no pátio.
_Tenha boas aulas, filha. - sussurrara, voltando-se á carruagem.
Alexandra aguardou até que ele estivesse longe o suficiente e voltara os olhos á prima.
_Ann.. - dissera, baixo, com um breve sorriso saudoso.
_Alex!!! - gritara Anna, sem esperar resposta, e apertara-na num abraço fraternal e terno, que começava a sufocá-la. - Oh!! Que saudade prima!!! - dissera, em tom doce e amável, apertando-a mais. Alexandra passara a saltitar com ela, deixando a inibição de lado, e revelando-se sorridente e carinhosa, sem nenhum resquício das ações calculadas e devidamente aprovadas pelos Lestrange de momentos atrás.
Ambas puxaram o Malfoy, que sorria observando-as, para o mesmo abraço sufocado e repleto de carinho.
_Também senti muito a sua falta prima!!! - respondera Alex, apertando-a e ao primo. Sorrira espontâneamente para ela, sua quase irmã, e em seguida para ele, sem saber ao certo por que, embora não pudesse conter-se a si mesma.
Abraçavam-se, e pareciam um trio inseparável, a quem visse-os.
A grama fresca era amassada e ruídos de passos apressados, talvez ansiosos, se fizeram audíveis, á medida que seu detentor se aproximava mais.
_Anna!!! - aquela voz conhecida fizera parelha aos braços e colaram-na ao plexo, num abraço aconhegante e macio, quase erguendo-a do chão - Como somes e não me mandas notícia?
_ Harry!!! - gritara ela, com felicidade quase infantil, apertando-o mais, e sorrira, finalmente fitando-o através dos aros redondos, nos olhos verdes. - Oh, que saudade!
_Eu digo o mesmo! Definitivamente Hogwarts não é o mesmo sem você. - ele respondera, com um sorriso suave.
Draco e Alex miraram-no ao mesmo tempo, olhares fixos e fuzilantes, interrogativos, mesmo irritados pela ousadia em arrancá-la dos braços confortáveis de ambos.
Apenas um pensamento mútuo era compreensível, sem que fosse ao menos necessária a legilimência: "Solte-a agora, sangue ruim."
Harry olhara Draco nos olhos, e o Malfoy não desviara-os.
Mantivera os olhos cinzentos nos esverdeados, inquisitores e desafiadores.
_Vem conosco ou ficará com ele Anna Sophia? - perguntara o louro, num tom seco que deixava explícito seu descontentamento.
_Qual é o seu problema Malfoy? Ela está na minha casa,tem de levar as malas, e que eu saiba, é filha do meu padrinho, e não do seu. - dissera o Potter, encarando-o com a mesma expressão de James, o mesmo tom macio e destemido.
_O meu problema Potter, é que uma sangue puro ande com um miserável decepcionante como você. - respondera Draco, ferino.
Alexandra deslizara sua mão para a dele, segurando-a de forma a pedir que se acalma-se. A reação era imediata, embora quase não fosse perceptível a quem não os conhecesse há muito.
O Malfoy crispara os lábios, enquanto trocava olhares fuzilantes, com Harry.
_Primo, prima... ele tem razão, eu preciso ir ao salão comum da minha casa... nos vemos no almoço?- Anna fitara Alex, um olhar consternado e desesperado por compreensão.
A Lestrange revirara os olhos e bufara, decidindo-se por levar Draco ao canto oposto, não sem antes fitar sua amada prima com aquele significativo menear. Sem uma palavra necessitar ser dita, a frase se formara na mente da Black: " Ele é um Potter, creio que não preciso dizer mais nada".
Enquanto ainda se distanciavam, o louro e o moreno trocavam olhares ferozes, capazes de perfurar, balas de chumbo destinadas a alvos únicos.
Anna voltara-se ao grifinório, com um sorriso contido e um suspiro de alívio.
Harry sorrira devolta, pegando suas malas e indicando o castelo.
_ As noites na Grifinória não são as mesmas sem você. Sentimos muito a sua falta. - dissera ele, caminhando vagarosamente, enquanto conversavam, e esperavam a mudança da escadaria de mármore.
_Sentem? - ela pareceu surpresa, os olhos um pouco mais abertos, tom hesitante. - Apenas você e Hermione falam comigo, todos os outros só veem a "filha do Black, o assassino". - sussurrara a ele, cabisbaixa.
_Por que são tolos... Você é incrível, tem a melhor parte de Sirius, e agora que voltou, não vou deixar que vá embora. - o rapaz alto e um tanto magro apoiora as malas na ultima escada, segurando a mão da moça de tés aveludada, prevenindo-se que não cairia.
_ Tem certeza Harry? - ela perguntara, bem baixo. - Desculpe não ter respondido suas cartas, foi uma época dificil para mim.
_Eu sei. Está tudo bem. O importante é que... "cabeça de dragão" - sussurrara e o quadro girara para o lado, revelando a passagem - Está devolta, e isso é algo a se comemorar. Está no nosso sangue sermos amigos, assim como nossos pais. - naquele sorriso sutil havia certo encanto, certa doçura de Lílian, como pudera perceber nas fotografias antigas.
_Obrigada Harry. - sussurrara Ann, e seu olhar acastanhado pairara sobre as janelas bem desenhadas e coloridas da torre.
Aquele salão vermelho, com a lareira no centro e os alunos com as insignias do leão no peito, era verdadeiramente um lar.
Nada, nenhum outro lugar no mundo, possuía aquele ar acolhedor e familiar, nem aquelas cores vibrantes e ainda assim, tranquilas.
Ele subira os degraus em direção ao dormitório feminino, deixando as malas da recém chegada aos pés de sua cama, e descera.
Ann caminhara, sem dar atenção aos olhares curiosos (ou mesmo ciumentos de uma garota em especial), até a janela, e espiara o mundo ao redor de sua toca.
Sorrira espontâneamente, com docilidade, quando seus olhos recaíram, despertos pelo brilho dourado dos fios finos de Draco e o brilho sutil das cascatas negras de Alexandra, sob uma árvore, próximos ao lago.
Ele sorria, de uma forma como quase nunca vira.
Era diferente, e uma cena tão terna, vê-los sorrindo, conversando, ainda que inaudivelmente, tão próximos e íntimos, a troca de olhares, e as flores que conjurava para ela em troca de sorrisos mais abertos.
Poucos acreditariam que aquilo era real.
_ Esse é um Draco que quase ninguém conhece não é? - sussurrara o Potter, quase em seu ouvido, e tocara o ombro de Anna.
_Talvez só tenham começado da forma errada. - sussurrara devolta com seu tom crédulo e fitara-o.
O rapaz abraçara-a de lado, desviando suas jades para o casal reluzente.
_Talvez tenha razão. - assentira, observando-os.
_Sim, talvez eu tenha. - concordara a grifinória, voltando sua atenção ao foco inicial. Alguns cachos soltos caíram sobre os ombros, empurrados pela leve brisa.
Harry fora distraido por eles.
Admirara-os e rira fraco.
_É a marca dos Black, não? - perguntara, enrodilhando um dos largos cachos no dedo indicador.
_Creio que sim, assim como a dos Potter são os fios rebeldes. - ela dissera, sentando-se no parapeito. Draco sentara-se e atirava folhinhas nos cabelos bem cuidados de Alex, que retribuia com galhinhos quebrados.
Anna ria, era divertido vê-los assim.
_Acha que ele pode mudar? - perguntou a ela, sentando-se de frente, empurrando seus joelhos com os próprios.
_Quem sabe? O amor é capaz de tudo não é? - fora a resposta, causando outra serie de sorrisos. Ele limpara os óculos na camisa e recolocara-os. - Vem comigo, o dia está bonito demais para ficar enfurnado aqui em cima.
_Onde vamos? - a empolgação juvenil era incapaz de ser ocultada naquele tom de voz fino e semi risonho.
_Segredo. - e puxara-a porta a fora.
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