One Shot
Harry saiu do armário embaixo da escada da casa dos Dursley, aborrecido.
Mais um dia se iniciava, e mais uma vez ele desejava com todas as forças sair daquela casa. Não aguentava mais Duda e seus amiguinhos tirando sarro dele, de seus óculos com fita adesiva, as roupas velhas de Duda bem maiores do que ele.
Cada dia ficava pior; os tios o tratavam da pior maneira possível, e faziam questão de que ele se sentisse um nada, um fragmento de sujeira muito indesejável...
Ele parou sob o primeiro degrau, ouvindo os tios conversarem com Duda.
— E então, Dudoca, você gostou da sua nova televisão?
Harry revirou os olhos, deprimido. Ele nem podia assistir televisão, e Duda, mesmo tendo apenas 10 anos, tinha a sua própria. As entranhas do garoto se enroscaram por tamanha injustiça; Harry não sabia o que tinha feito pra ser tão odiado.
Duda não respondeu o pai de uma forma exatamente compreensível; sua boca estava cheia da torta que tia Petúnia fizera pra ele.
— Ela é muithco lecal — respondeu, salpicando o pai de torta mastigada e molhada.
Harry entrou na cozinha, tropeçando na barra muito comprida da calça. Ele fungou pra anunciar a sua presença.
— Ah — bufou tio Válter. — Você ainda está aqui.
— É, estou. Caso não tenha percebido, eu existo.
— Ora essa, moleque, não fale assim comigo na minha casa!
Harry se virou para a pia, e tia Petúnia lhe lançou um olhar raivoso.
— O que você quer? — perguntou rispidamente.
— Tomar um copo de água, ou não posso nem fazer isso?
Tia Petúnia o olhou com um profundo desprezo, e então o entregou um copinho descartável de plástico.
— Agradeça sua tia! — urrou tio Válter, indignado.
— Obrigado — disse Harry com a maior má vontade que podia.
— Dudinha, quer mais torta, meu amorzinho? — perguntou tia Petúnia, indo até o filho, que já comera dois terços da torta.
Ele fez que sim com a cabeça, e sua papada balançou um pouco.
— Esse é o meu garoto! Isso aí, Dudoca, coma bastante pra ficar bem forte, ao contrário de algumas pessoas magricelas e raquitícas que tem por aí — bufou, olhando em direção á Harry, que inocentemente bebia sua água no copinho de plástico, que estava furado.
Sua barriga deu um ronco baixo de fome. Ele olhou discretamente para a torta que Duda devorava furiosamente, as bochechas sujas de creme e as mãos melecadas.
Ele colocou o copinho de volta á pia, e saiu da cozinha, em direção á porta, acompanhado pelo olhar desgostoso de tio Válter.
Harry foi até o quintal e se sentou na calçada, arrancando tufos de grama com a mão.
A coisa que ele mais queria era que sua vida mudasse, que a injustiça que sofria sumisse. Ele olhou para uma casa qualquer, e a velha Sra. Figg acenou pra ele da janela. Harry acenou de volta, um pouco tímido.
Sentia, intimamente, que logo sua vida iria mudar.
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