Capítulo Único
Terra-média. Foi para lá que Voldemort partiu deixando a Terra dos Imortais para trás, e, por conseguinte, as leis de Ilúvatar. Ele, Voldemort, abdicou também dos bons sentimentos, assim como Morgoth havia feito muito tempo antes dele.
Voldemort e Morgoth poderiam juntar forças facilmente, muitos assim pensam; porém há espíritos que não foram feitos para se subjugar a outros. Jamais.
E muitas vezes, espíritos malígnos duelam uns contra os outros antes mesmo da Luz enfrentar as Trevas. Esta história é uma dessas vezes. O mal se voltará contra a própria escuridão. Quanto à Luz, bem, esta não será tão cândida assim. Porém, muito mais que uma luta entre forças, esta é uma luta na qual regiões de Arda são reclamadas. Leste,mortal versus Oeste, imortal.
Seja bem-vindo(a) a Arda, muito cuidado ao perambular pela Terra-média.
Ele abria caminho por entre a negra colcha d'acromântula, ouvia um choro e pinças, ouriçadas, tilintando à distância. As correntes quebradas, ainda com as braçadeiras presas aos pulsos, sacolejavam a cada movimento do braço forte, de modo que o machado, preso à cinta de dragão, parecia não precisar ser usado tão cedo. Ultrapassar as teias da gigante aranha não era um problema. Nada era, pois nada temia, nem mesmo a ira de Ilúvatar ou dos demais valar.
Adentrou a fenda escura, encarou quem lá estava, assustados, igualmente ferozes, gigante e criatura, grito de fúria, cego-olhar demoníaco. Dispararam ameaças de ataque, e ignorando todas elas aproximou-se Aulë, e antes de qualquer ataque ou protesto, Aragogue, a acromântula, estava livre e ilesa da armadilha, que ela mesma criara.
─ Aragogue livre, livre!, ó meu Senhor - o gigante envolveu Aulë, num abraço de urso ─ Desculpe...
O gigante emudeceu ao perceber que, ao contrário do que pensava, Aulë não sentira a menor dor.
─ Quem é você e o que quer? ─ sobressaltou-se.
─ É Hagrid, não é, o seu nome? ─ o gigante Hagrid assentiu. ─ Procuro por Voldemort, o conhece?
Finalmente Aragogue saiu do estado de inércia em que se encontrava, soltando um grunhido atemorizante, recuou.
─ Aquela víbora... falso... mentiroso... ─ cuspiu o gigante , que encarava Aulë, com os punhos cerrados pronto para se defender, caso necessário.
─ O que quer com aquele...? ─ gritou o gigante, aproximando-se do estranho.
─ Acalma-se ─ disse, calmo ─, quero apenas... matá-lo.
O aspecto lamacento aos poucos dava lugar ao líquido tanto desejado e indispensável para a conclusão dos planos traçados pela engenhosa mente de Voldemort.
Com a varinha, capturou a quantidade necessária para preencher o pequeno frasco.
─ A Lord Voldemort ─ brindou, sem beber do líquido, guardando o frasco no bolso da túnica negra.
Negro também era o firmamento em Hithlum, pois o sol há muito tinha se ido, Voldemort preferia assim, trabalhar no escuro, próximo às montanhas, a noroeste de Hithlum, onde não corria o risco de ser visto. Sentia que a Terra-média pertencia somente a ele. Em breve seria.
Dentro de alguns dias, Sauron, a mando de Morgoth, se infiltraria entre os homens novamente, para enganá-los ou corrompê-los, era essa a oportunidade que Voldemort precisava, e feliz ficou quando seu plano não tardou a se concretizar.
“...Nunca conhecerá o fim dos dias... nunca! Vejam os valar. Vejam! A pele é veludo, força e espírito, resistentes feito aço. Pedra. Nada os destroi. Sabem por quê? Aman, é Aman, senhores, A Terra dos Imortais. Enquanto vocês padecem, morrem a minga, Os Senhores do Oeste gozam da eternidade...” ─ Deu-se um coro de vozes alvoroçadas, de longe, Voldemort os espiava estufarem os peitos e socarem o ar, bradando como heróis prestes a entrarem no ermo. Voldemort não pode deixar de admirar a perspicácia e a técnica que Sauron usava para enganar os homens. Sem dúvida tinha de ser muito mais ágil do que pensara para abordá-lo, só precisava de um mísero fio de cabelo...
A multidão se dispersou. Sorrateiro, rastejou até Sauron, que sequer avistou sombra alguma, qo golpe na cabeça fora rápido, ocultou o corpo desacordado numa arca e então partiu, levando-a consigo.
─ Senhor ─ o homem abaixou-se, fazendo uma breve reverência ─, desculpa a intromissão, mas as novas são sérias.
─ É bom que sejam, Fenrir ─ falou Morgoth, ameaçador. ─ Não aceito ser procurado por menos.
─ Bem, os ataques, meu senhor, não estão indo muito bem, muitas baixas, desertores...
Calou-se Fenrir ao ver Morgoth erguer-se do trono, haveria algo errado?
─ Ataques?!
Fenrir confirmou sem compreender a pergunta. Então Morgoth, vagarosamente aproximou-se de Fenrir, que não teve tempo para justificativas ou uma fuga. O castigo era iminente, quiçá fatal.
O que estava acontecendo? Qual era o problema?, e por que seu coração tinha de gritar tão alto a ponto de sair do peito desse jeito? Pobre Fenrir, que não conseguia silenciar o receio. Gritava por “clemência”, mas Carcharoth, o lobo e guarda mais temível de Morgoth, era implacável, cruel.
O falso-Sauron (ou Voldemort, se preferir) assistia com o sadismo a carne de Fenrir ser dilacerada.
“Foi ele, a culpa é dele” ─ quis gritar Fenrir, mas já não tinha forças o sufiente nem para respirar, a última coisa que viu antes de fechar as órbitas foi uma outra ainda maior, lá estava ela, a plácida e límpida lua cheia.
Os rumores sobre a morte Hepzibá, uma nobre senhora, tinha levado Aulë a Hithlum. Diziam que Hóquei, a serviçal, tinha envenenado Hepzibá, pois queria os valiosos objetos da nobre senhora para si. A pobre criaturatinha tinha se lembrado de ter posto algo na bebiba da velha, mas Aulë, desconfiado, não a acreditou. Quando questionou por detalhes, Hóquei tinha se mostrado incerta, titubeava entre pontos e exclamações, e o olhar, ora ou outra, vagava sem rumo, parecia que suas lembranças tinham se esvaído de algum modo.
Outras mortes, outras direções. Foi para o sul, em Ered Wethrin, onde, certa vez, encontrou o gigante e Aragogue.
Nem sinal de Voldemort, mas Aulë não estava sozinho, montado em Nahar, Aulë encontrou um outro vala, seu nome era Oromë. ─ Ora, ora! ─ falou ao desmontar do cavalo.
─ O que quer?
─ Foge e pergunta o que quero? ─ falou colérico. ─ Vim lhe buscar, e você irá comigo!
─ Perdeu seu tempo, então melhor que volte, agora.
Oromë caminhou até Aulë, parecia estar prestes a atacá-lo, puni-lo, mas Aulë surpreendeu-se ao receber um abraço fraternal, de vala pra vala.
─ Pare com isso enquanto há tempo! ─ pediu Oromë.
─ Não posso... Já chega. Desta vez quem me traiu terá o que merece.
─ Então você entende Ilúvatar, entende sim! Para ele isso é o mesmo.
─ Não, não é, e você sabe. Eu o amo. Nunca o trairia.
─ Então volte, deixa essa obsessão de lado, pois é esse o nome que se dá para tudo isso que está fazendo.Você já não sabe pra onde ir, perdeu o rastro de Voldemort.Venha, Aulë. Venha comigo!
Aulë recuou alguns passos, não iria voltar, com pesar, Oromë sabia disso antes mesmo de fazer o pedido, então falou:
─ Ilúvatar sabia mesmo que você não viria, pois bem... ─ Oromë montou Nahar ─ então repetirei o que Ele me disse: “... provou que não me ama ao fugir de meus domínios, de minha palavra, de minhas leis, mas se ele ainda ama seus próprios filhos, voltará; pois Ilúvatar não ama o filho daquele que não ama Eru. “
Milhares de cabeças à frente do exército das trevas de Morgoth, lideradas por Sauron-Voldemort, marchavam em direção ao oeste, era lua cheia, havia uivos de lobos soprando de norte a norte, calafrios perpassavam nos espíritos de muitos dos homens, mas não poderiam temer antes da batalha contra os Grandes do Oeste sequer ter começado, não ainda.
Os orcs vinham logo atrás, vestidos em armaduras gastas e amassadas; acima, sobrevoando o céu feito abutres, estavam os sinistros balrogs.
Esta era a belicosa Terra-média, pronta para invadir o lugar oposto.
Valaróma anunciava a chegada de Oromë e Aulë. Em tempos antigos, a chegada de ambos os valar seria festa em Amam, mas dadas as circunstâncias, o semblante fechado de Manwë, senhor dos valar, não era surpresa, em pensar que ele sempre fora tão solene, sereno, bom. Ao lado dele estavam os demais senhores do oeste, Tulkas vivenciava contrates de emoções, transitava de raiva para preocupação num piscar de olhos. Ulmo, Mandos e Lórien estavam quietos, observando Aulë ser novamente acorrentado, mas desta vez, com algemas e correntes que ele não conseguiria quebrar.
─ Levem-no até a Fortaleza de Mandos ─ disse Manwë.
─ Creio que seja melhor levá-lo até Yavanna primeiro ─ falou Mandos enfim.
E assim aconteceu, mas Yavanna não estava em sua casa, muito menos no galpão em que Aulë costuma trabalhar. Aço, ferro, e pedras, tudo estava do jeito que deixara antes de partir para Terra-média, deu meia-volta para portal, mas a voz de Ilúvatar o impediu.
─ Aulë.
─ Ilúvatar ─ ajoelhou-se ─, me pordoe, mas...
─ Vieste pelo amor que tens pelos teus filhos, os anões, e não por mim!
─ Senhor...
Ilúvatar pediu que Aulë se calasse.
─ Tu me decepcionaste, Aulë.
─ Ó Ilúvatar!, o que posso fazer para me redimir?
O ataque fora de surpresa, embora tivesse sido anunciado pelos uivos dispersos ao vento durante longas horas daquela noite, Fenrir, agora lobo Greyback, surgira bípede, apinhado de pelos no corpo e na cara, e garras terríveis. Sua senhora, a lua, resplandecia e o guiava para que enterrasse as garras e dentes em determinado homem ou orc, suas vítimas eram sempre os mais terríveis do bando.
─ Aguarrem-no - disse o líder dos orcs no idioma orc.
Entretando, a fúria de Greyback era indomável, as lanças passavam longe do corpo e pelo, as espadas cegas eram, os orcs recuavam, recuavam, enquanto que os homens, muitos deles, ingenuos, enganos por Sauron, fugiam na outra direção; no entanto estavam indo de encontro com uma ira ainda maior, a dos valar.
Guerra da Ira.
Os valar e elfos desembarcaram no litoral, e marchavam imponentes. As armaduras, confeccionadas por Aulë, reverberavam como mil astros presentes num mesmo céu, Oromë tocou valaróma, a ordem estava dada.
Beleriand Tremia.
A Terra-média gritava perante a fúria imortal, na correria, a arca que prendia Sauron se abriu, libertando-o para uma guerra que ele desconhecia. A hoste negra parou de súbito, dois Saurons e uma dúvida. O falso fugiu, levando Greyback a seguir seus passos.
“Ataquem” ─ dizia o líder dos orcs, enquanto o rei dos homens dizia ao seu povo que fugisse.
Não precisou muito mais tempo para o exército de Morgoth ser dizimado, o próprio tentou fugir de Angband, mas a ira dos valar o seguiu e o mandou para os confins do mundo, Sauron desapareceu também, e de Voldemort não se teve notícia por muito, muito tempo, assim diziam.
A Guerra da Ira acabou, e com ela, Beleriand. Boa parte do território da Terra-média fora destruído, afundado, despovoado. A distância entre oeste e leste passara a ser intransponível.
Irrevogável.
─ Hagrid?!
O gigante sorria para Aulë através das grades da cela, muito tempo havia corrido desde a primeira vez em que eles se encontraram.
─ O que faz aqui? ─ indagou, pondo-se de pé.
─ Oromë me trouxe um pouco antes de achar você... me trouxe pra cá!, ele é muito bom, tudo aqui é bom... me deixaram ficar!, eu e Aragogue... tão bons os valar, tão bons comigo, um gigante... tão bons... ─ Hagrid assoava o nariz, Aulë, contrangido, ficou quieto, era primeira vez que via algo tão grande mostrar tanta sensibilidade.
─ Deixe-nos a sois, Hagrid ─ Mandos surgiu no corredor ─ quero ter com Aulë.
Após uma reverência desajeitada Hagrid os deixou.
─ Boa pessoa... ele ─ disse Aulë.
─Sim. Oromë está cuidando de domesticar Aragogue, está ensinando a comer somente das árvores do sul, mas temo que o que o apetece seja a carne.
─ Pelo menos as árvores de Yavanna ficam em paz ─ tentou brincar Aulë, porém a ausência da esposa lhe apareceu amarga.
─ Em breve vocês voltam as boas. Ela acabará lhe perdoando, se Ilúatar o perdoou...
─ Yavanna consegue ser cruel quando quer.
─ Não duvido, meu caro, mas há tempo para brigas e para fazer as pazes.
─ E quanto a minha soltura, em que tempo se dará?
─ Esta eu receio que demorará um pouco.
─ Mas minha sentença foi de ficar aqui até que Voldemort caísse...
─ Sim, foi isso mesmo, e este dia não chegou, Aulë.
─ Como? O que quer dizer, Mandos? Mandos...? Volte aqui!
Não havia castigo pior para Aulë do que não estar a par dos acontecimentos, não demoraria tanto assim para o vala ser liberto, apenas dezesseis anos. Tinha passado muito tempo mergulhado na magia das trevas, descobira feitiços grandiosos, dominou a morte, partira alma, é verdade que falhou em conseguir a silmarils para si, mas conseguira outros tesouros, as sua Horcrúxes, que eram a sua forma de se manter imortal.
Mandos era o único dos valar que sabia dessas coisas, sabia também que não cabia ao valar comprar essa guerra, estava no destino da Terra-média, sairia de lá o responsável pela derrocada de Voldemort
─ Que Ilúvatar esteja sempre com Harry Potter ─ disse Mandos ao deixara sua inexpugnável Forteleza para dar uma volta nos belos jardins de Aman, pois os dias de trevas tinham se ido. Era tempo descanso.
- Fim
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Notas:
Arda - Terra. Dividida em duas: Oeste e Leste. Oeste é conhecido como Aman, A Terra dos Imortais. Ao leste temos a Terra-média.
Ilúvatar - Ou Eru. O Grande, criador supremo.
Valar - Ou Vala (singular) os Grandes Senhores do Oeste, responsáveis pela criação de todas as coisas e pela proteção dos elfos. Agem sob as ordens de Ilúvatar.
Valaróma - Trombeta de Oromë.
Nahar - cavalo de Oromë.
Yavanna - valië (feminino de vala) esposa de Aulë.
Ered Wethrin , Hithlum e Beleriand - regiões da Terra-média.
Carcharoth - lobo cruel de Morgoth.
Fortaleza de Mandos - local onde é mantido os presos.
Balrogs - Demônios do Mundo Antigo.
Silmarils - três gemas, criadas pelo elfo Fëanor
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Comentários (2)
Lis: Nossa!, q feliz, nem espera mais coments e e e Obrigaaaada *______*Silma<3
2012-10-27Silmarillion! Gostei muito desse cross, você encaixou muito bem as situações e os personagens, ficou ótimo!
2012-10-22