"Não quero dizer sinto muito"
CAPÍTULO 14 – “NÃO QUERO DIZER SINTO MUITO”
Ginny abriu os olhos e sentiu sua cabeça doer. Fechou os olhos mais uma vez, apertando-os com bastante força.
Tivera um pesadelo; o mais terrível que poderia ter tido.
O quarto estava muito iluminado e mesmo de olhos fechados a claridade incomodava; sua mão apertava alguma coisa. Abriu os olhos de novo e finalmente notou que não estava em seu quarto...
Estava na Ala Hospitalar. O que estava fazendo ali? O que Harry estava fazendo? Ela estava confusa. Lembrava-se perfeitamente de ter ido dormir em sua cama depois do encontro com Malfoy naquele dia de Natal. Como fora parar ali?
Harry dormia sentado em uma cadeira ao lado de sua cama, debruçado sobre o colchão e segurava a sua mão. Ele estava gelado. Fazia realmente muito frio e continuava não entendendo o que estava acontecendo. Por que estava ali e não em seu quarto? Por que Harry segurava a sua mão e dormia ali, tão desconfortável, velando por seu sono.
O garoto abriu os olhos, sonolento.
“Que bom que acordou”, ele falou, tentando sorrir.
“O que eu estou fazendo aqui?”, Ginny perguntou.
“Não lembra?”, Harry perguntou, ajustando os óculos que estavam tortos, e passou a mão livre nos cabelos – mas eles continuaram desalinhados.
“E do que deveria me lembrar?”
“Nada”.
“Então o que faço aqui? Tudo que lembro é de ter dormido em minha cama. No dormitório e...”
“Que dia é hoje, Gina?”, perguntou, parecendo entender o que estava acontecendo.
“É Natal! Quero dizer... Pelo visto já não é mais. Dia vinte e seis?”, perguntou incerta. Harry fez que não.
Já era dia vinte e sete de Dezembro. Ela parecia ter apagado de sua memória o dia anterior. Olhava-o intrigada. Confusa. O que ele iria fazer agora? Devia contar?
Ginny olhou para a cama que ficava do seu outro lado e viu Hermione dormindo.
“O que houve com ela?”
“Foi encontrada desmaiada em um dos corredores ontem. Pouco depois de...”, ele não continuou a frase.
“De quê?”, ela perguntou.
“Nada, Ginny”, ele cortou dando um sorriso amarelo. “Está tudo bem. Durma mais um pouco. Você precisa descansar e não precisa se preocupar. A Mione já está bem”.
Ginny se deitou novamente e fechou os olhos. Ele continuou segurando a mão e velando por seu sono durante minutos intermináveis. Ele poderia ficar ali por toda a eternidade, não se importaria. Cuidaria dela, mesmo que ela dormisse ignorando completamente aquela ação.
Mesmo depois do que tinha acontecido no dia anterior ela ainda preservava um ar tranqüilo. Talvez só estivesse calma por ter esquecido. Era estranho... Como alguém poderia esquecer algo tão importante?
A porta da enfermaria se abriu. Era o diretor. Harry foi até ele, mas antes arrumou o cobertor de Ginny. Dumbledore o cumprimentou.
“Bom dia, Harry. Está tudo...”
“Ela não lembra”, revelou aflito.
“Não?”, o professor perguntou calmamente.
“Não. Ela acredita que ainda estamos no dia de ontem”.
“Era de se esperar. Tudo que ela viu deve ter sido bastante traumatizante”, ele olhou para Ginny, que permanecia em seu sono tranqüilo.
Harry ficou quieto. Lembrou-se de que o diretor não sabia de fato sobre o romance, mas se perguntava se ele realmente não sabia? Provavelmente já tinha deduzido o que havia acontecido naquela sala; provavelmente sabia por que Lucius matou seu filho, mas Harry resolveu não tentar confirmar as suspeitas do Diretor.
“O que aconteceu com o Sr. Malfoy?”, Harry perguntou.
“Acredito que Lucius não encontrará conforto para sua alma, mas tentou”.
“O que o senhor-”
“Ele matou Blaise Zabini, aumentando o tamanho dessa tragédia. Não consigo entender as atitudes de Lucius”, falou olhando pela janela. O sol iluminava aquele aposento com bastante força, mas não diminuía o frio. Depois olhou para Harry, fazendo com que o garoto se sentisse analisado. Dumbledore sabia. Só queria confirmar.
“E o senhor já sabe quem atacou a Mione?”, desconversou.
“Tudo indica que foi Lucius também. Ele estava fora de si e atacou quem viu primeiro”.
“Ele vai para Azkaban?”, perguntou esperançoso.
“Creio que não seja tão simples. O Sr. Malfoy parece ter ficado louco. Não fala coisas com sentido e acredita que o filho está vivo. Pode ser que ele seja enviado ao St. Mungus, mas certamente irá para Azkaban posteriormente.
“Mas a única testemunha é...”
“Também testemunharei. Assim como você, Hermione, a Minerva e o Severo... Ginny Weasley deve testemunhar também”.
“Mas elas... Nenhuma das duas tem condições”.
“O julgamento não será tão breve e até lá Ginny e Hermione terão se recuperado do trauma”, ele fez uma pausa e encarou o garoto. “O que desejo saber, Harry, é o que a Srta. Weasley fazia naquela sala, enquanto pai e filho duelavam?
“Acredito que o Malfoy tenha tentado matá-la. Ele é o culpado por tudo o que aconteceu ano passado... Ele...”
“Minha pergunta não é sobre o que você sabe sobre um passado distante, Harry. Diga-me o que ocorreu ontem...”
“Não sei”, respondeu com sinceridade. Apesar de suspeitar, não tinha certeza. “Apenas acredito que Draco Malfoy tenha tentado enfeitiçar Ginny, ou algo do tipo. Não entendo porque o Sr. Malfoy o matou. Vai ver já estava louco naquela hora...”
“É uma hipótese, não é mesmo?”, perguntou dando um breve sorriso.
“Professor...”
“Não precisa me contar nada agora, Harry. Quando você se sentir seguro para isso, pode me procurar”, o diretor sorriu bondosamente mais uma vez e se retirou da enfermaria.
O garoto voltou para sua cadeira e se sentou novamente. Levou um susto ao ver que Ginny estava de olhos abertos e que suas lágrimas caíam silenciosas.
“Ginny, por que-”
“É mentira, não é?”, perguntou séria.
“O que-”
“Eu ouvi o professor Dumbledore”, falou interrompendo-o. “É mentira, não é?”, insistiu, sem emoção na voz. Não chorava desesperadamente como no dia anterior.
Parecia que não tinha mais forças para isso.
“Você sabe que não”, disse tristemente.
Ela fechou os olhos, expulsando mais lágrimas deles.
“Eu sei, mas... Eu não quero acreditar”, confessou ainda de olhos fechados.
“O que aconteceu lá?”, perguntou baixinho.
“Não me faça falar sobre isso, Harry. Por favor”.
“Desculpe, mas acredito que seja necessário. O Sr. Malfoy precisa ser julgado pelos crimes que cometeu”.
“Crimes?”, ela abriu os olhos, confusa.
“Ele matou o Zabini também. E atacou a Mione, mas ela já está bem, não precisa se preocupar”.
Ginny olhou para o lado e suspirou.
“Eu envolvi tanta gente inocente para no final das contas...” ela levou uma das mãos ao rosto e sua voz morreu para finalmente chorar de verdade.
“Não fale assim... A culpa pelo que aconteceu ontem não foi sua”.
“Como não, Harry?”, sua voz soava estranhamente aguda. “Aquele feitiço era para me matar e não...”
“Então foi como eu imaginei. Ele morreu para-”
“Proteger-me”, sussurrou trêmula.
Ela se sentou na cama. Harry a olhava, também se sentindo culpado.
Se não tivesse se negado a admitir que estava apaixonado meses antes, naquele momento estariam juntos. Ginny não estaria chorando a morte de Malfoy e tudo estaria como deveria estar. Então, naquele momento seus pensamentos confusos se direcionaram em uma idéia...
“Você pode esquecê-lo”, falou baixinho, olhando nos olhos dela.
“Impossível, Harry. Como...”
“Existem feitiços que podem fazê-la esquecer o que aconteceu”, interrompeu.
“Não”.
“Ginny, você não precisa mais sofrer por causa disso”.
“Harry, não...”
“Basta esquecer o que aconteceu entre você e o Malfoy, então tudo fica resolvido”.
“Harry eu não...”
“Você não precisa mais sofrer”.
“Não...”
“Não tem que se sentir culpada. Não...”
“Não, Harry!” ela gritou, olhando firmemente para o garoto; seu rosto vermelho e molhado pelas lágrimas que não cessavam.
“Mas...”
“Não vou esquecer. Não quero!”, ela falou mais alto do que pretendia.
“Pense com-”.
“Não tem o que pensar”, interrompeu. “Não quero esquecer um dos sentimentos mais nobres que eu já tive; nem quero esquecer nenhum dos segundos que eu passei ao lado dele. Muito menos esquecer o cheiro, sua pele macia...
“Você prefere continuar sofrendo?”, interrompeu, falando baixo.
“Não. Seria burrice dizer que prefiro continuar sofrendo. Não quero sofrer. Não quero mais chorar, mas... Também não quero apagar da minha memória a minha história com o Malfoy. Principalmente agora.
“Ginny...”
“Desde que ele descobriu que eu era a garota da festa, eu nunca tive certeza de seus sentimentos. A certeza só veio com a morte dele”, falou segurando as cobertas com força, em suas mãos. “Seria injusto esquecê-lo. Não é justo que eu esqueça aquela pessoa que morreu por minha causa e eu não quero lembrar dele com ódio ou como o inimigo da minha família, Harry”, ela desviou o olhar do garoto. Olhava para as próprias mãos, que apertavam as cobertas com mais força ainda. “Porque é isso que vai acontecer se eu apagar meu sentimento, e eu quero me lembrar do Draco como eu lembro agora.
“Desculpe, não queria fazê-la sofrer ainda mais”.
“Tudo que eu sonhei nesses últimos meses foi ouvi-lo dizer que me ama, mas... Por que essa declaração tinha que vir dessa forma?”, ela levou as mãos ao rosto e continuou a chorar.
Harry já não sabia o que dizer... Ou o que fazer. Estava confuso. Doía-lhe a alma escutá-la falar de Malfoy daquela forma. Mais do que nunca queria aquela garota para si, precisava protegê-la dela mesma.
“Fica comigo”, pediu. Sua voz saiu quase que instintivamente.
Ela olhou-o confusa. Ele definitivamente não estava perguntando aquilo.
“Harry, o que...”
“Fique comigo”, repetiu, e dessa vez não era um pedido.
“Como você pode me pedir uma coisa dessas? Harry...”
“Não digo que seja agora, Ginny. Só não quero te ver assim. Você merece outra chance de ser feliz, e eu acredito que pelo menos afeto você ainda tem por mim. Não consigo enfiar em minha cabeça que você não sente mais nada”.
“Mas eu não amo você, Harry”.
“E eu não me importo!”, disse com firmeza.
Ele segurou as mãos dela entre as suas. Ginny ainda tentava processar aquela atitude inesperada.
“Como não se importa, Harry? Ficaria comigo mesmo sabendo que eu ainda amo...”
“Ficaria”, ele a interrompeu. “Quero cuidar de você, fazer você feliz e eu não me importo. Não ligo se você ama o Malfoy”.
“Harry”, ela começou, falando baixo. “Não me faça tomar decisões agora. Porque com certeza a resposta que eu lhe daria seria “sinto muito””.
“Mas...”
“Eu não quero dizer isso. Não agora”, ela passou uma das mãos no rosto. A outra continuava entre as mãos do garoto. “Não quero me arrepender depois. Entende o que eu quero dizer? Não quero dizer “sinto muito” agora, para no futuro ouvir um “sinto muito” de você, como eu fiz há alguns meses. Se eu falar isso agora, se eu der uma resposta precipitada, provavelmente vamos amar um ao outro eternamente e o orgulho vai nos impedir de dizer “eu te amo”. E isso sempre nos trará de volta ao “sinto muito””.
“Eu entendo”.
“Harry, eu amo o Malfoy. Você sabe disso. Talvez nunca mais volte a sentir por alguém a mesma coisa, mas posso voltar a amar de uma forma diferente... Só não consigo imaginar como, ou quando...”, as lágrimas voltaram a cair. “Mas isso não significa que eu não queira...”, ela levou a mão ao rosto e continuou a chorar.
Harry a abraçou. Não podia imaginar a dor que ela estava sentindo, mas provavelmente também estaria daquele jeito se ela tivesse morrido.
Naquele mesmo dia, pouco depois do jantar, Hermione e Ginny já estavam liberadas da Ala Hospitalar. A ruiva não queria falar com ninguém e passou o resto da noite em sua cama, no dormitório, oculta por trás das cortinas.
Ninguém sabia o que tinha acontecido de fato. Todos acreditavam que o Sr. Malfoy havia enlouquecido, matado o filho, matado Zabini e atacado as duas garotas. Hermione alimentava a história, apesar de saber que estava longe de ser verdade. Só ela sabia o que havia passado nas mãos de Draco, sendo obrigada a fazer coisas que jamais faria. A primeira coisa que fez ao encontrar Harry depois de se livrar do feitiço foi se desculpar.
“Perdão”, ela pediu, enquanto conversavam em um canto mais reservado, no Salão Comunal da Griffyndor.
“Não preciso perdoar nada, Mione, não era você. No começo eu até acreditei que você realmente gostasse de mim, mas depois daquela noite em que você pediu para que eu salvasse a Ginny...”
“Então você já sabia?”
“Desconfiava. Seu comportamento era igual ao do Sr. Crouch. Você deve ter sofrido tanto...”
“Não mais do que a Ginny. Sei que ela está arrasada com a morte do Malfoy...”
“Eu é que sei o quanto...”
“Não acredito que conheça a verdade por completo, Harry. Não sei se eles ainda estavam namorando e eu estou muito confusa sobre o que é verdade e sobre o que é a “verdade” que o Malfoy me fazia acreditar. Mas sei que Lucius descobriu tudo... Não sei como, mas descobriu. Sei que foi por isso que matou o filho. Só não entendo como Ginny conseguiu sair daquela sala viva”.
“Também não sei, Mione”, mentiu.
“Estou tão confusa. Acho que vou levar muito tempo até me acostumar a ser livre novamente”.
Harry sorriu sinceramente.
“Isso não vai ser difícil. Nós nos acostumamos rápido com o que é bom”.
“Tem razão”.
Naquele momento Ron se aproximou dos dois.
“Posso”.
“Claro! Senta aqui!”, pediu Hermione.
“Sinceramente estou feliz por vocês não estarem mais namorando”, Harry olhou para Hermione, intrigado.
“Por quê?”, perguntou Harry achando aquilo engraçado, pois sabia dos sentimentos do amigo. Só não esperava que ele resolvesse se declarar para Hermione ali mesmo. A cara de Ron estava muito vermelha e havia um sorriso nervoso estampado em seus lábios.
“Não agüentava mais ficar sozinho!”, Harry riu. Era exatamente a resposta que ele esperava. “E também não agüentava mais ver vocês brigando. Quem briga com a Mione aqui sou eu, Harry! Você fica quieto e finge que não escuta, esqueceu?”
“É verdade”, confirmou Harry ainda sorrindo, mas não conseguia esquecer que em um dos dormitórios, Ginny provavelmente chorava desesperadamente a morte de um slytherin que lhe salvara a vida.
Fora a decisão dela. Não poderia fazer mais nada. Ela decidiu que não esqueceria sua história com Malfoy e ele não iria interferir. Aquela história de amor que começara sem querer e terminara de uma forma que ninguém queria... Era um segredo.
Um segredo guardado a sete chaves;
E essas chaves apenas ele, Hermione e Ginny possuíam.
Epílogo
Onze anos depois
“Surpresa!”, gritaram todos juntos.
A Família Weasley crescera.
Os cinco garotos de Molly e Arthur, que continuavam vivos, haviam se casado e tiveram filhos. A Toca estava lotada naquele dia de festa.
Bill se casara com Fleur. Era de se esperar que as aulas de inglês que ele dava a garota lhes rendessem mais do que uma amizade. Os dois tinham um lindo casal de gêmeos que já estavam em Hogwarts, assumindo o posto de Fred e George e levando Filch à loucura com as Gemealidades Weasley compradas na loja dos tios.
Charllie casara-se com uma romena apaixonada por dragões. Ainda não tinham filhos, mas ela já estava bem próxima de dar a luz o primeiro.
Fred e George também se casaram e era algo engraçado vê-los como homens de negócios e cheios de responsabilidades. Harry nunca conseguiu se acostumar. Fred casara-se com Angelina, a ex-capitã do time da Griffyndor e já tinha uma filha de nove anos.
George se casara com uma bruxa que fora contratada para trabalhar na loja. Fora o último da família a se casar, e tinha uma filha de três anos chamada Louise.
Ron e Hermione finalmente pararam de brigar e, quando isso aconteceu, não precisava ser nenhum vidente para ver onde a história ia terminar. Os dois se casaram três anos depois de terminarem Hogwarts e tinham bons cargos no Ministério. Tinham dois filhos. Um se chamava Percy e o outro Neville. Hermione insistira em fazer uma homenagem ao amigo que morrera pelas mãos do ruivo e que ninguém, exceto ela, Harry e Ginny, sabia. Ron fizera questão de fazer uma homenagem ao irmão que morrera na guerra.
Quando Ginny abriu a porta da sala de casa e viu todos reunidos ficou muito feliz. A única filha dos Weasley também havia se casado. Sabia que teria uma festa, mas não imaginava que todos poderiam comparecer. Além da sua família, estavam presentes Lupin e Tonks.
“Nossa mamãe! Isso tudo é para mim?”, perguntou um garoto que segurava a sua mão.
“Claro”, confirmou um homem, de olhos verdes e cabelos desalinhados, que acabara de entrar na sala. “Desde os presentes, até aquele bolo de chocolate e nozes enorme ali em cima da mesa”.
“Você merece, Érin. Recebeu a carta de Hogwarts!”, Molly disse abraçando o menino, que tinha os cabelos castanhos claros, levemente avermelhados, e olhos azuis.
“E isso tem que ser comemorado!”, Arthur também o abraçou.
Érin cumprimentou seus tios e primos, um a um. Cumprimentou seus padrinhos, Tonks e Lupin, e logo após se sentou ao lado do casal de gêmeos, Gabrielle e Seth. Perguntando mil e uma coisas para os primos que já iam cursar o segundo ano em Hogwarts.
Harry olhava pela janela, observando o por do sol. Érin percebeu o pai perdido em pensamentos e pediu licença aos primos. Levantou-se e foi até ele.
“Harry”, o garoto chamou.
Harry se virou e o olhou com uma expressão reprovadora, porém um tanto divertida.
“Não seria mais fácil me chamar de pai?”, perguntou com os braços cruzados, olhando para o menino que beirava os onze anos de idade. Estavam em meados de Julho e o garoto havia nascido no início de Agosto.
“Não precisa, Harry. Eu sei que você não é meu pai de verdade”.
O homem não soube o que responder e ficou em silêncio por alguns segundos. Depois falou.
“Quem disse que eu não sou?”, perguntou baixinho.
“Ouvi você a mamãe conversando uma vez”.
Harry ficou em silêncio.
“Você conheceu meu pai?”, perguntou o menino, baixinho.
“Conheci”, respondeu, dando-se por vencido.
“E como ele era?”, perguntou a criança, com ar sonhador.
“Não nos dávamos muito bem”, Harry aliviou um pouco os termos. Não poderia dizer que o sentimento que tinha era algo próximo ao ódio mortal.
“Não se davam bem por causa da mamãe?”
“Também”, respondeu.
“Harry... Não precisa se preocupar, porque eu amo o senhor assim ó...” ele abriu os braços o máximo que pôde.
Harry sorriu.
“Sério mesmo?”
“Não. Eu amo mais, só que meus braços ainda são meio curtos”, o homem sorriu de novo.
“Fico muito feliz em ouvir isso, porque também amo muito você”.
“O que aconteceu com o papai? Ele brigou com a mamãe?”
“Ele... Ele morreu antes de você nascer, Érin. Mas não fique triste. Tenho certeza que se ele não tivesse morrido também amaria muito você”, falou sem muita certeza.
“Ele amava a mamãe?”
Harry ficou em silêncio por um instante, mas sorriu e respondeu.
“Sim”, disso ele não tinha dúvidas.
O garotinho sorriu e o abraçou.
“Não importa mais porque você é meu pai agora. Foi o senhor que cuidou de mim... Acho que já posso te chamar de papai agora, né, Harry? O senhor deixa?”, perguntou ainda abraçado ao Auror.
“É tudo que eu mais quero”, respondeu.
“Então tá!” disse saindo do abraço. “Hum... Só não deixa a mamãe saber que eu sei”.
“Certo”.
“Bem... Pai... Er... Vou ficar ali com a Gabrielle e o Seth. Eles estão me contando tudo sobre Hogwarts!”
“Claro, vá”.
Então o garoto correu na direção dos primos.
Harry ficou observando-o por alguns momentos até que uma voz feminina lhe chamou a atenção.
“Você não se arrepende?”, perguntou Ginny.
“De quê?”
“De ter ficado comigo só para assumir o Érin”.
“Não”.
“Tem certeza?”, insistiu. “Você poderia ter se casado, tido filhos... Poderia ter sido feliz e...”
“Eu sou feliz. Tenho você e o Érin. Faço parte de uma família maravilhosa como a sua e...”
“Falo de ter uma esposa de verdade. De ter filhos seus...”
“O Érin é meu filho, Ginny. Não importa se não tem meu sangue”.
“Eu sei que você o ama como se fosse, mas... Harry, você já tem vinte e oito anos e nunca viveu um amor de verdade...”
“Eu vivo um amor de verdade”.
“Mas-”
“Eu disse...”, ele a interrompeu. “Que iria esperar. Não importa o tempo que passe, eu vou continuar esperando”.
Ela sorriu e segurou o rosto de Harry entre suas mãos. Continuaram se olhando até que ela o beijou. Era um beijo que Harry havia esperado por onze anos... Não que ela nunca o tivesse beijado durante esse tempo, mas o significado daquele beijo era muito maior. Quando cessou, ela o abraçou. Harry fechou os olhos e procurou não pensar em mais nada.
Como no início dessa história que envolveu amizade, ódio e principalmente amor, eles dividiam um segredo. Só que agora o segredo mudara de nome... Já não se chamava Malfoy... Chamava-se Érin. Um segredo que ela acreditava ser só deles, como ela acreditou que seria aquele que revelou na casa dos gritos à quase doze anos.
Enquanto o abraçava o sol acabava de se pôr e trazia lembranças tristes àquela mulher enquanto olhava pela janela. Sentiu as lágrimas virem aos olhos, mas as conteve... Pois aquele era um pôr do sol feliz.
N/A.: Comentários são bem vindos, principalmente porque esse é o último capítulo. Não demora nada e nem dói. Não se sitam obrigados a elogiar. Se não gostou do capítulo, pode falar também, pois criticas construtivas também são muito bem vindas, mas se gostou de verdade por favor avise, comente. Ainda tem um capítulo de Bônus, que escrevi a pedidos (em 2002), um tempo depois que terminei a fic.
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