Briga de luxo



- Capítulo doze -
Briga de luxo

O sábado amanheceu com uma indicação no ar de que o dia seria maravilhoso. Harry acordou e olhou o céu pela janela. Haviam uns clouveris ali perto da Torre da Grifinória, por vezes tomando formas variadas em nuvens, por vezes sumindo completamente no ar.
O garoto estava em um ânimo repleto. Era verdade que seu estado de animação era surpresa para ele, até porque na noite anterior quase cometera um suicídio. Bem, pensara muito e chegara à conclusão de que não adiantava ficar para baixo, porque não podia deixar que Hermione percebesse que ele lhe ocultava algo. Decidira seguir as recomendações de Dumbledore, e não contaria nada a ela, e menos ainda tomaria outra decisão precipitada novamente. Não, decidira seguir em frente e ver aonde vai dar este túnel escuro que cruza sua vida desde que Lord Voldemort soubera de sua existência.
Além do mais, Harry estava feliz por causa de seus amigos, que lhe provaram serem muito mais importantes do que pensava. Agradeceu, também, à Edwiges, que fizera o oposto do que ele mandara ao entregar a carta de despidida aos amigos. A coruja deveria ter percebido que ele pretendia algo ruim.
Sem falar que, como lhe disseram, antes de chegar a sua hora, ele deveria proteger Hermione de qualquer mal, e não poderia fazê-lo se atirando de uma torre, mesmo que esta escolha eliminasse Voldemort para sempre.
O que mais preocupava Harry era o fato do Torneio. Hermione queria ser auror, e poderia ser muito perigoso para a garota, ainda mais sabendo que, agora, ela corria tanto perigo quanto Harry.
Ele se vestiu e desceu para encontrar Hermione, pois estava morrendo de saudades dos beijos apaixonantes que só a garota sabia dar.
- Oi - cumprimentou ela, hesitante, na escada que dava acesso ao dormitório. - Eu ia ver se você estava... bem.
- Ah... hum - pigarreou Harry. - Hum... tudo ok, e com você?
- Estou bem... - começou ela, mas logo acrescentou. - Bem, nem tanto. Quero dizer, estou preocupada.
- Com o que? - quis saber Harry.
- Bem, ontem não nos falamos o dia inteiro - explicou Hermione. - Você parecia estar me evitando...
- Eu... claro que não, porque evitaria? - desatou Harry a mentir. - Não, eu quis muito te ver, verdade, mas estava cumprindo uma detenção que o Snape me passou por eu ter faltado à aula dele. Ele me dispensou muito tarde e você já estava dormindo quando cheguei.
- O professor Snape te deu uma detenção por faltar a uma aula dele? - perguntou Hermione, alterada. - Mas ele não pode fazer isso, vai contra as regras da escola. Além disso é injusto. O professor Dumbledore precisa saber disso...
- Não! - exclamou Harry, talvez um pouco alto demais. - Tudo bem, eu sei o quanto Snape é injusto e... não quero causar mais problemas.
Hermine franziu ligeiramente a testa.
- O Rony não te contou que eu estava cumprindo uma detenção? - perguntou. - Pedi para o Rony te avisar...
- Avisar o que? - disse uma voz atrás de Harry.
Harry, assustado, virou-se para encará-lo e tentar passar uma mensagem visual a Rony, que estava parado no topo da escada.
- Rony - Harry deu duas piscadelas exageradas ao amigo -, você não avisou à Mione que eu precisei cumprir uma detenção com o Snape?
- Acho... que eu esqueci - respondeu Rony, olhando confuso para Harry.
Hermione pareceu se convencer e os três desceram juntos para o café da manhã.

Às onze horas, Moody, o Sr. Weasley e Tonks chegaram à escola. Eles foram encarregados de levar os garotos ao Centro com segurança. Malfoy os observou com interesse quando passaram com Harry, Hermione, Rony, Gina, Max e Daisy (Daisy não tinha ninguém com quem ir a não ser o próprio irmão Max, então eles se encarregaram de levá-la também).
Dumbledore conseguira permissão para criar uma Chave de Portal que os transpotasse para dentro do Centro. Harry ficou imaginando como a namorada reagiria se descobrisse que toda aquela proteção agora não era só para ele, e sim para ela também.
Eles entraram mais uma vez na sala onde Rômulo Lupin dera a palestra.
- Então, Potter - rosnou Moody. - Vejo que vocês dois vão muito bem.
- Sim, senhor - afirmou Harry, que segurava a mão de Hermione.
- Então é sério mesmo o rolo entre vocês...?
- Não é da sua conta a vida amorosa deles, Olho-Tonto - disse Tonks, passando à frente do auror para falar com Rômulo Lupin, que estava sentado na escrivaninha preenchendo uns papéis.
Moody fez uma careta para as costas da moça.
- Ela se incomoda porque nunca namorou - resmungou. - Invejosa...
Rony deu risadinhas mas se calou ao olhar irritado de Hermione.
Harry percebeu que a garota parecia muito nervosa. Estava mais pálida que o normal. Alguma coisa não corria bem. Ele não se atreveu a perguntar o que seria porque a garota parecia em um nervo só aquela manhã. Sendo que Harry só a beijara uma vez desdê que a encontrara, percebeu que seu beijo mudara. Não tinha mais aquela intensidade, aquela paixão... alguma coisa abalava os dois...
A porta da sala se abriu e Draco Malfoy entrou, seguido de perto por Vítor Krum, que vestia um terno preto muito chamativo.
- Sim, sim, agora que estão todos aqui queiram me seguir, sim? - pediu Rômulo, quando terminou de conversar com Tonks.
Eles acompanharam o mestre pelo corredor e, mais uma vez na sala principal do Centro, entraram em uma porta em que o letreiro indicava: SALA DE TESTES.
A sala de testes era um aposento grande e muito iluminado. Haviam cinco cabines separadas e iguais, exceto pelo letreiro à porta que correspondia a cada participante do torneio.
- Bem, e aqui estão todos os cinco sortudos - disse Rômulo, postando-se na frente deles para vê-los melhor. - Muito bom, muito bom. E a primeira etapa aguarda vocês dentro de sua respectiva cabine. Lá há uma espécie de prova que consiste em nada menos que quinhentas perguntas de múltipla escolha relacionadas às artes das trevas e os seus componentes. Cada pergunta só tem uma resposta válida... peço que nem tentem marcar mais de uma alternativa, porque... bem... as penas não serão muito amigáveis se isso acontecer... O participante que responder menos perguntas corretas será eliminado do torneio. Vocês têm... - e consultou o relógio - seis horas exatas, e poderão sair assim que terminar. Desejo-lhes, então, muita boa sorte.
Harry desejou boa sorte à Hermione antes de entrar em sua própria cabine (ficara irritado ao peceber que Krum fizera o mesmo).
Dentro da cabine Harry notou uma escrivaninha com um bloco de pergaminhos em cima. Sentou-se na cadeira e pegou a pena cinza de lâmina afiada que estava ao lado. O garoto leu, então, a primeira pegunta:

N°1 - Qual é o feitiço que quando executado lhe protege da maioria dos feitiços mais simples?
A - Escudo
B - Patrono
C - Deletrius

Era uma pegadinha, pensou Harry, feliz por logo ter percebido: a pessoa poderia se confundir entre a alternativa A e a alternativa B; mas ele percebeu que era A, porque afinal o Patrono não defendia só feitiços simples, era capaz também de afugentar dementadores, uma das criaturas mais perversas do mundo da magia. Portanto, feitiços simples sobravam para Protego, o Feitiço Escudo e, sendo assim, Harry marcou a alternativa certa.
Ao decorrer da prova, Harry percebeu que ela já não era tão fácil como antes pensara que fosse. A coisa ia ficando muito mais difícil e, na pergunta número trezentos, ele achava que seu cérebro já estava se desmanchando.

N°300 - Qual é o carcucere que foi descoberto na Sétima Lei de Gapalotte?

A - Os Robishis
B - As Carcalangas
C - Os Testrálios

Mas que diabos eram as Carcalangas mesmo? Ele franziu a testa (embora parecia-lhe que franzisse o cérebro) e coçou a cabeça com a ponta da pena. Estava entre as respostas A e B. Nada tinha a ver os Testrálios, tinha certeza disso... Assinalou a alternativa A por palpite. Então lembrou-se, tarde demais, que o professor Binns mencionara algo sobre Carcalangas em sua Lei de Gapalotte. Nunca achara que as aulas de História da Magia fossem tão importantes para ele algum dia. Aproximou a pena à alternativa B pensando em razurar a prova mas quando o fez a pena tremeu violentamente em sua mão. Olhando preocupado para a ponta afiada da caneta seguiu para a próxima pergunta.
Respondera outras noventa e nove perguntas em uma hora. Na pergunta número quatrocentos ele sorriu, por poder respondê-la de imediato:

N°400 - Os Patronos são capazes de mudar de forma quando:

A - O condutor tiver esgotado a energia de seu Patrono anterior
B - O tempo muda constantemente provocando alterações em sua forma corpórea
C - O condutor sofre uma mudança emocional muito forte

Harry assinalou a alternativa C lembrando nitidamente do patrono de Hermione.
Harry chutou a pergunta número quinhentos e saiu da cabine.
- Bom, foi o segundo a terminar - disse Rômulo, recebendo o bloco.
O garoto não precisou perguntar quem teria sido o primeiro porque ele se encontrava encostado à parede do corredor: Vítor.
- Bem, Sr. Potter, em breve o senhor receberá o resultado do teste por correio coruja juntamente com a data para a segunda etapa que, cá entre nós, vai esquentar muito o torneio - explicou Rômulo, dando uma piscadela. - E parabéns pelo Patrono.
A antipatia por Krum que se formara em Harry era tão forte que o garoto nem o cumprimentara, dera apenas um aceno dado de mal gosto com a cabeça. Mas o rapaz viera até ele...
- Harry, tudo bem? - e apertou-lhe a mão com força. - Estou a esperar a Mione.
- Está? - perguntou Harry, com frieza.
Que liberdade era essa de chamar sua namorada com tal intimidade?
- Eu vou convidá-la parra uma festa - explicou. - Gostarria muito que fosse.
Harry o odiou. Odiou cada centímetro daquele rapaz de colarinho metido a James Bond. Na verdade não sabia porque, mas uma onda de ódio incontrolável crescia em seu ser.
- E você se perguntou por um acaso se ela tem namorado? - retrucou aproximando-se.
- Potter, eu acho que estou apaixonado pela Mione. Ela tem enamorado?
- Tem, sim, sou eu, seu retardado - gritou Harry, sacando a varinha da jeans. - E apaixonado uma pinóia. LARGA DO PÉ DA HERMIONE OU EU... - e apontou para o coração de Krum, pressionando-o contra a parede.
- Opa, opa, garotos... droga, Dumbledore me disse que isso poderia acontecer... - disse a voz de Rômulo atrás deles.
Vítor meteu um soco no nariz de Harry. A mão de Rômulo segurou Harry pelo ombro mas o garoto se desvencilhou e partiu para cima de Krum.
- HARRY! - gritou a voz de Hermione, que acabara de sair de sua cabine. - PARE, HARRY!
- Harry, o que é que há, cara? - berrou a voz de Rony. - Soca ele legal! Não dá mole não!
- RONY! CALE ESSA BOCA SEU IDIOTA! HARRY, SAI DE CIMA DELE!
Mas ele não queria parar, socou o peito de Krum como se socasse um saco de batatas. Deu uns sopapos mal calculados em seu rosto. Krum chutara-lhe o saco em cheio e Harry caiu de costas no chão a tempo de ver a varinha de Rômulo apontada para seu rosto.
Um jorro de luz branca mergulhou em seus olhos e, deixando sua raiva repentina para trás, mergulhou em um sono muito calmo e gostoso.


Harry sentiu que acordara, mas não abriu um olho. Onde estava e quanto tempo passara ele não sabia, mas ouviu a voz de Rony ao longe.
- Vejam, ele está acordando.
- Dêem isso a ele.
- Mas o que é isso?
- Dumbledore disse para dar a ele se algo assim acontecesse, vai ajudar a alcamá-lo...
Harry sentiu um líquido quente que lhe proprorcionava paz descer pela sua garganta e se infiltrar em cada parte do corpo.
- Harry, você está bem? - perguntou Hermione.
- Estou - respondeu ele se levantando. - Aconteceu de novo, não é? Voldemort...
- Cara, você sabe o que você fez? - disse Rony. - Você encheu a cara de Vítor Krum de sopapos.
- E ele está bem? - perguntou Harry, se levantando. - Saiu vivo?
- Bem, ele ficou assustado com seu comportamento agressivo... - explicou Hermione. - Mas eu contei a ele que não era sua culpa. Ele entendeu e te perdoou.
- Porque ele te esperava? - quis saber Harry, tentando manifestar raiva, embora a poção da paz não o deixasse.
- Bem, ele queria me convidar à festa da irmã...
- Creio que mudou de idéia depois disso, não foi? - falou Harry, encarando-a.
- Bem... não - disse Hermione. - Mas você vai também, ele deixou levar meus amigos.
- Amigos?
- Bem, eles - acrescentou a garota depressa, apontando para Max, Daisy, Gina e Rony que os observavam.
- E vocês aceitaram? - perguntou Harry, calmo, mas no fundo com uma leve irritação. - Você aceitou, é? Acho que terão de ir sem mim...
- Mas o que é que há, Harry, é só uma festa... - implorou Hermione. - Da irmã dele... Por favor! Será grosseria recusar!
Seus amigos lhe lançaram olhares significativos que diziam com todas as palavras: "você tem que ir com ela".
- Ok - concordou ele. - Mas quando é?
- É hoje - explicou Hermione. - Pedi ao Sr. Weasley e ele disse que tudo bem. Mas nós teremos de passar essa noite por lá, porque a festa vai terminar tarde.
- Imagine só - sussurrou Rony, quando todos iam saindo. - Passaremos um dia na mansão de Vítor Krum...

Vítor conduziu os garotos até a estrada de Hogsmeade, onde uma limusine enorme os esperava. Havia um "V.K." gravado na porta entre duas vassouras.
O queixo de Gina caiu. Max arregalou os olhos por debaixo dos óculos quadrados. Daisy se beliscou e soltou uma exclamação. Rony, porém, parecia tão excitado que não se aguentava quieto:
- Esta é a sua limusine oficial?
- É - falou krum, abrindo a porta para Hermione entrar primeiro.
Harry adoraria muito poder socar Krum novamente, mas estava muito calmo para fazê-lo.
Hermione sentou-se no canto, Harry em seguida (e o fez quase derrubando Krum no chão, com medo que ele se aventurasse a sentar ao lado de sua namorada).
- Como vocês foram no teste? - perguntou Daisy sentada ao lado de Max. - Eu achei muito difícil, e em umas duas perguntas a pena ameaçou me furar... na terceira ela me furou de verdade, porque eu rasurei...
- Eu achei que foi bem elaborado - disse Hermione. - Estava realmente difícil. E você, Harry, como foi?
- Bem, acho... mas teve muitas que eu não fazia idéia do que se tratava...
- Eu achei ela um pouco fácil demais - disse Krum, sentado no banco à frente de todos.
Harry olhou para a cara daquele playboyzinho metido e imaginou como seria pegar aquela cabeça grande e esmagá-la em mil pedacinhos com os punhos e socá-la dentro de um liquidificador...
Rony que olhava de lado para Harry deu-lhe um toque, pois parecia ter percebido que o amigo tinha uma expressão maníaca no rosto.
- Bem... e o Malfoy, vocês o viram? - disfarçou Harry.
- Ele saiu depois de... bem... seu ataque de raiva - disse Gina, olhando Krum com vergonha. - Ele ficou muito contente de ver você no chão, Harry, e saiu cantarolando uma música que, desculpe, mas você tem que concordar que é bem criativa: "Potter, Potterzinha, vi o Potter desmaiar. Vamos dar um viva a ele por ser tão gay vamos brindar".
- Valeu, Gi - falou Harry, mais uma vez se irritando intimamente por não conseguir manifestar sua raiva.
Daisy começou a rir loucamente.
- Qual é a graça? - perguntou Rony, erguendo uma sobrancelha.
- Ah... é que vocês não viram, mas... Quando Malfoy ia saindo, eu fiz o chiclete mascado de Daisy flutuar e grudar no cabelo dele - disse Max.
Rony também caíra na gargalhada.
- Aquele caspudo vai ter grandes problemas para arrancar o chiclete daquela cabeça loura nojenta - disse ele entre risinhos. - Ótima idéia a de vocês...
Daisy parecia não caber em si de tanta felicidade.
A viagem prosseguia e Harry percebia olhares de Krum à Hermione. Ele não tinha boas intenções em mente... não mesmo.
- Chegamos - disse Krum, espiando pelo vidro escuro.
- Mas aonde estamos, afinal? - perguntou Harry, tentando ver também.
- Na Búlgaria - respondeu Krum.
Harry boquiabriu-se, Gina soltou uma exclamação, Max quase caiu do banco e Daisy levantara de um salto dando uma cabeçada no teto.
- Ai! - gemeu ela, sentando e massageando o cocoruto.
- Como chegamos tão rápido na Búlgaria?
- Tecnomagia, meu caro, tecnomagia... - disse Krum.
Hermione olhou para Krum e os dois caíram na gargalhada.
- Qual é a graça? - retrucou Harry.
- Nam estams na Búlgaria, seu bobo - caçoou o rapaz. - Foi uma pegadinha.
- Ah, sim, muito engraçado - disse Harry lançando um olhar gélido de esguelha à namorada. - Tô me mijando...
- Estamos em Northshore - explicou Hermione, intimidada.
O chofer abriu a porta da limusine e Harry teve a primeira visão da senhorial mansão de Vítor Krum, o jogador búlgaro mais famoso de que se tem notícia.

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