Beware The Ogre

Narrado por Lily Evans.

 

-Eu to dizendo, Zac, a gente tá indo pro lado errado! - dizia Sirius.

-Não, cara, eu estou certo e para de incomodar – respondeu ele.

-Mas o retorno para Birminghan era ali.

-Aquele era pra voltar pra Londres, não inventa.

-Vamos nos perder de novo...

-Olha gente, como o asfalto está pretinho! - gritou Dorcas.

Os dois ficaram em silêncio. Finalmente, pensei. Eles estavam com essa briguinha há pelo menos meia hora. Acho que nem eles se aguentavam mais.

Quase três dias no hospital, e Sirius se tornara um saco. Parecia que tinha um bicho mordendo seu traseiro, porque ele não conseguia ficar parado por dois minutos.

A única pessoa que estava realmente feliz com nossa longa viagem em uma van era James. Ele, não sei como, arranjara tinta e pintara seu cabelo de verde. O que contraria seu quase natural tom de azul. Não estou dizendo que não ficou legal. Mas é que quando a gente para nos pedágios ele costuma assustar as criancinhas dos carros vizinhos. Duas vezes pais irritados vieram reclamar com Zac, que afirmara que James tinha problemas mentais e que devia ser mantido amarrado.

Remus e Dorcas já era outro caso. Os dois estavam estranhamente próximos desde que nos encontramos naquela lanchonete fedida. Passavam o tempo todo conversando e rindo. Uma vez, eu juro, vi Remus segurar a mão dela.

-Daqui a pouco vamos parar para descançar – anunciou Zac, depois de um tempo em silêncio – Não queremos outro acidente, não é?

Bocejei e estiquei as pernas por cima da bateria de Sirius, que Zac trouxe junto com a van. Ficamos tão desesperados em chegar logo para fazer os testes na RL Records que nem nos importamos em trazer os instrumentos. Se bem que oito pessoas, uma bateria, uma guitarra, um baixo, meu microfone e seu pedestal junto com intermináveis fios que eu não faço a mínima ideia pra que servem não caberiam em um fusca.

-Podemos passar no Mc Donald's? - perguntou Marlene. Todos olharam para ela – O que foi?

-Hum... Você é Marlene Mckinnon – disse James – Você só come alface.

A garota deu de ombros e voltou a olhar pela janela. Ela andava meio triste desde que Zac voltou a assumir o controle da banda, e deve ter aceitado isso como uma falta de confiança nela. Óbvio que confiamos nela. Só acho que Lene não tem muito talento em ser produtora de uma banda de rock.

Só acho.

 

Narrado por James Potter.

 

Agora que eu percebi isso, mas... A vida é muito estranha sem Chloe e Alyson tagarelando sem parar. Passamos tanto tempo juntos que eu via as vozes delas como quase um som permanente. Espero que Chloe consiga provar para os médicos que não é tão perturbada quanto parece e consiga se ver livre daquele hospital.

Íriamos nos encontrar em Liverpool, mas mesmo assim eu sentia saudades delas. Principalmente de Alyson. Não deixe Lily ouvir isso.

Ah, e falando de Liverpool... NÓS VAMOS TOCAR NO FESTIVAL, MANO, NO FESTIVAL! ONDE TODAS AS BANDAS DE ROCK LEGAIS VÃO ESTAR, E ONDE ESTAREMOS TAMBÉM! MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS! ACHO QUE EU VOU EXPLODIR.

Respira, James, respira. É só o Festival Internacional de Rock de Liverpool. Só isso.

Se liga na ironia.

-O que vocês acham de sair pra beber? - convidou Marlene, olhando para Lily.

-Uhu, legal! - exclamei – Tô dentro.

-Ah, eu queria fazer uma noite só de garotas, mas acho que você se encaixa bem no contexto – disse Lene. Zac riu alto.

-Eu não falo mais com você – disse com uma falsa seriedade para Marlene, que riu – E não ouse ficar empurrando idiotas para minha ruivinha.

-Own, que amor – disse Lily, colocando a cabeça no meu ombro – Quem seria mais fantástico do que você?

-Ãn, todo mundo que não parece o Shrek? - riu Marlene.

-HEY, ISSO É BULLYING! - gritei – Sirius, segura sua namorada! Isso e culpa sua, não dá atenção pra ela, e depois ela fica incomodando os namoros alheios!

Zac estava quase se afogando de tanto rir.

-Estou triste demais para xavecar qualquer pessoa – remungou Sirius, do banco mais traseiro da van – E você está mesmo parecendo o Shrek, Jay-Jay.

Abri a boca para responder, mas Dorcas me interrompeu.

-Olha o asfalto!

 

Narrado por Dorcas Meadowes.

 

-Lene, por favor, tenta não se matar – disse Lily.

Marlene estava quase deitada em cima da mesa, com um copo balançando perigosamente em sua mão.

-Eu acho que estamos fazendo besteira – disse ela, se endireitando rapidamente.

-O que você quer dizer com isso? - perguntei distraída, bebericando meu refrigerante e observando o bar ao redor. Não estava cheio, por ser dia de semana, mas a maioria eram adolescentes revoltados que fugiam de casa à noite para beber com os amigos. Como a gente era alguns anos atrás.

-Ah, vocês ainda não perceberam? - perguntou Marlene, perplexa. Quando viu nossas caras de confusas, continuou – Esse Festival sei lá do quê. Acho que é pura bobagem.

-Você acha que ele não existe? - perguntou Lily, meio rindo.

-Não. Eu acho que a School of Rock não está incluida nas apresentações

Ficamos um tempo em silêncio, absorvendo o que ela queria dizer.

-Voce acha que... Zac mentiu? - perguntei. Lene deu de ombros.

-Ele já fez isso antes, não é?

-Mas isso... - tentei – É...

-Pensa, Dorcas, pensa! - exclamou Marlene – Se a School Of Rock tem mesmo um lugar nas atrações, porque ninguém conhece a banda? Com certeza eles não colocariam uma simples bandinha de garagem em um festival internacional, não?

-Mas na Batalha das Bandas... - começou Lily.

-Isso foi há quatro anos, Lily. Muitas bandas são completamente esquecidas em menos que isso.

Ficamos um tempo em silêncio, encarando Marlene.

-Você está bêbada – falei, e me levantei para pegar uma bebida.

Uma garota de mini-saia fez questão de bater o ombro no meu, mas não se virou quando eu reclamei. Já no bar, comecei a pensar.

Por mais que Lene esteja fora da casinha, não posso deixar de me incomodar com o que ela disse. Simplesmente não tinha como a School of Rock se apresentar no Festival Internacional de Liverpool. E isso só tem uma explicação.

Zac mentira. De novo.

 

Narrado por Lily Evans.

 

Quando a vi, não acreditei. Ela não podia estar aqui. Não em Birminghan.

-Petúnia! - gritei, e a garota se virou. É. Era ela.

-Lily? - ela se aproximou, com uma cara apavorada – O que faz aqui?

-Estou em turnê – respondi, enquanto ela ocupava o lugar de Dorcas – Como eu te avisei por telefone, mês passado. O que você faz aqui? Achei que tinha ido viajar com uns amigos? E que roupa é essa?

Petúnia se encolheu na cadeira, escondendo a saia-hiper-curta-que-mais-parecia-um-cinto.

-Bem, eu viajei – respondeu ela, com um meio sorriso – Mas não pude voltar.

-Porque não? - perguntei.

-Eu e Vernon nos separamos de alguns amigos, no litoral, e viemos para cá. Estamos há duas semanas em Birminghan. Achava que poderia arranjar um emprego, começar uma nova vida, somente nós dois... Mas tudo desandou.

-O que você quer dizer com isso? – perguntei, assustada.

-Lily... - Petúnia fechou os olhos, quase chorando – Eu estou grávida.

Ah, ótimo, pensei, enquanto Marlene resmungava alguma coisa sobre pôneis malditos.

Além de ruiva, baixinha, cantora de rock, fracassada, namoradora de Shreks, agora sou titia.

Definitivamente, não tem como piorar.

 

Narrado por Marlene McKinnon.

 

Minha cabeça girava. Eu estava tonta. Queria vomitar. E James não ajudava em nada.

-O que elas estão fazendo lá? - perguntava ele, andando de um lado para o outro em um dos quartos que alugamos, em um hotel. Lily e Petúnia se enfiaram no outro quarto há umas duas horas, e James estava pirando – O que é que essa... Garota está fazendo aqui, afinal? Porquê elas conversam tanto?

-Não faço a mínima ideia – respondeu Sirius, fazendo cafuné em minha cabeça, que estava em seu colo.

-Ah, é que ela está gravida – falei de uma vez.

-Coméqueé? - disse James, pálido. Depois ele ficou vesgo e desmaiou. O quarto ficou em silêncio.

-Acho que ele achou que você estava falando da Lily – disse Zac, logo voltando para sua revista. Ninguém se prestou a tirar James do chão.

-Ogro burro – resmunguei, antes de fechar os olhos.

 

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