Longe é Lugar que Não Existe



  


 


Queridos leitores,


Seria mais fácil pular este capítulo e já partir direto para o reencontro de Ron e Hermione. No entanto, meu desafio é escrever as “entrelinhas” dos nossos dois amados personagens. Então, não podia deixar de falar desses momentos, que contemplei com a minha bola de cristal e mostram o nosso ruivinho distante dos amigos. Isso porque acredito que foram momentos cruciais para o amadurecimento de Ron e também do sentimento que tem por Mione. Tal maturidade fica perceptível no retorno dele à missão.


Boa leitura!


Morgana


P.S: Mesmo que este capítulo ficasse uma “obra-prima”, nada justificaria demorar looongos 19 dias (pelo menos não ultrapassei meu "recorde") para atualizar a fic. Infelizmente, não posso prometer que de agora em diante será diferente. Mas faço questão que saibam que chegarei ao fim!


 


* * * * *


 


 


 


 


Tudo aconteceu muito rápido e Ron mal teve tempo de refletir. Os sentimentos confusos que experimentava nos últimos dias se transformaram em revolta. Gina e Neville haviam sido castigados por Snape, depois de heroicamente tentarem pegar a espada de Gryffindor. Mas Harry e Hermione pareciam mal ter se importado ao saber disso.


A menina retirou o quadro de Fineus Nigellus da bolsa de contas para saber do ex-diretor detalhes da mal-sucedida aventura dos amigos. Ela e Harry começaram a bombardear o ex-diretor de Hogwarts de perguntas. Ron não conseguia prestar atenção naquela conversa. A sua família corria perigo, a sua irmã tinha sido castigada “cruelmente” e os dois se preocupam apenas com o destino daquela maldita espada?!


Mesmo se estava chateado também com Hermione, a sua indignação maior era direcionada a Harry, de quem esperava liderança na missão. E com a mesma fúria da chuva desabando sobre a barraca, Ron finalmente falou sobre tudo que o oprimia. Ou pelo menos sobre quase tudo. Não conseguia abordar um assunto ainda tão conturbado para ele: o ciúme que sentia de Mione com Harry.


Sentimentos e pensamentos negativos tumultuavam a cabeça de Ron. Ele tinha perdido o jogo. Mais uma vez. Hermione preferiu o Menino-que-Sobreviveu. Melhor era bater em retirada. Desaparatar para um lugar bem distante, onde pudesse chorar a sua dor e esquecer o sonho que havia se tornada uma desilusão.


O rapaz viu as lágrimas e o olhar suplicante de Hermione, ouviu seus desesperados gritos que a chuva conseguia abafar, mas não silenciar. Mas estava decidido. Harry o havia desafiado a ir embora, deixara bem claro que não necessitavam dele. Precisava partir. Não voltaria atrás.


Durante a aparatação, não pensou muito em qual seria a sua destinação. Queria simplesmente se afastar o máximo possível dos amigos e acabou indo parar naquele estranho vilarejo. Tentou passar despercebido, porém, mais rápido do que imaginava, chamou a atenção de uma das muitas quadrilhas de sequestradores. Esses bandos percorriam vilas e cidades buscando nascidos trouxas e “traidores de sangue” que entregavam ao Ministério em troca de recompensa.


Ele sabia que precisaria ter um pouco da inteligência de Hermione e da coragem de Harry para conseguir escapar. Os sequestradores eram cinco e, para piorar, haviam apanhado a sua varinha. Já arrependido de ter deixado o acampamento, com o coração partido por descumprir a promessa de jamais se afastar de Mione, o rapaz queria voltar à missão. Por isso tentou manter o sangue frio para agir na hora certa.


A oportunidade chegou. Dois integrantes da quadrilha começaram a brigar e outros dois, perplexos, acompanhavam o tumulto. Ron reuniu toda a sua força para dar um soco no estômago do quinto sequestrador, que o segurava, retirando a varinha dele e conseguindo recuperar a própria em seguida.


Tinha pelo menos dois pré-requisitos para aparatar com sucesso: deliberação e determinação. Afinal, sabia o queria e estava decidido a alcançar esse objetivo. Quanto à destinação, depois de rodar tanto, já não conhecia a localização precisa do último acampamento. Lembrou-se do lugar à beira do rio, próximo a um bosque de árvores baixas, do qual havia se afastado há algumas horas. Mas a sua recordação mais forte era do rosto triste de Hermione. Fechou os olhos pensando na menina e desapareceu da vista dos sequestradores.


Alguma coisa saiu errada. Ron estava às margens de um rio, mas aquela não parecia ser a floresta certa. Para piorar, seus dedos sangravam muito. Havia estrunchado mais uma vez, perdendo duas unhas. A dor física se misturava ao sofrimento que dilacerava o coração do rapaz. Experimentou um grande medo de não conseguir voltar ao acampamento. Medo de não ver mais os amigos e poder dizer a Harry e Hermione como tinha sido idiota ao se deixar levar por aqueles sentimentos negativos que se fortaleceram com o uso do medalhão. Medo de não ter uma chance de falar para Mione o quanto a amava.


Sem poções curativas e desconhecendo fórmulas mágicas que ajudassem com o ferimento, limitou-se a lavar bem a mão nas águas geladas do rio. Em seguida amarrou o lenço, que costumava levar no bolso do jeans e algumas vezes enxugara as lágrimas de Hermione, para estancar o sangramento. Foi inevitável pensar que a menina cuidaria dele com muito mais competência e especial carinho.


Ron sentou-se à beira do rio, encostado em uma árvore de tronco largo, provavelmente centenária. Não eram apenas os dedos machucados a causa do sofrimento do ruivo. Todo o seu corpo doía pela força com a qual havia sido detido pelos sequestradores, a cabeça latejava. Ainda assim, era um alívio não sentir o coração paralisado como sempre acontecia ao usar o medalhão. Seu coração voltara a bater, por isso também sangrava de arrependimento.


As lágrimas custaram a cair, mas, quando chegaram, foram abundantes. Depois de três meses vivendo como errantes, transferindo-se a cada nova manhã, já não sabia mais o nome do lugar do último acampamento. Por isso parecia uma missão maior que a sua capacidade encontrar aquele local. Entregue a certeza do próprio fracasso, encostou a cabeça na árvore e acabou adormecendo. Acordou com os primeiros raios de sol atingindo o seu rosto e se deu conta que perdera muito tempo.


Ao se levantar e observar mais uma vez as árvores e o rio, Ron percebeu que havia parado a poucos quilômetros do local onde acampavam. Pela direção que corriam as águas e o som da correnteza, teve certeza que estavam um pouco acima. Com maior confiança e esperança, segurou firmemente a varinha e aparatou mais uma vez.


xxx


Ter uma família numerosa, na qual todos se amavam, era algo tão natural para Ron que jamais tivera consciência de ser privilegiado. Convivendo com Harry, que perdeu os pais muito cedo e recebia apenas desprezo dos tios e primo, começou a intuir isso. Mas foi durante a missão, ao sentir-se tão longe dos pais e irmãos e sem possibilidade de estar com eles, que finalmente percebeu a grandeza da família.


Sentia muita falta do calor da lareira, local de encontro nos dias frios, daquela convivência marcada por brigas, mas, especialmente, pelo respeito às diferenças. E se pudesse resumir esse relacionamento em uma única palavra, essa seria AMOR! Mesmo se Percy estava de relações cortadas com a família, Ron sabia que a reconciliação era questão de tempo.


Encontrar-se novamente em uma casa com lareira e observar o relacionamento de pais e filhos era, portanto, algo muito bom. Foi inevitável sonhar com a sua futura família e, mais inevitável ainda, pensar que a formaria junto com Hermione. Permitiu-se ficar por alguns instantes nesse devaneio, chegando a imaginar como seria o rosto de um filho dele com Mione.


Estava tão concentrado nessas boas sensações que perdia no jogo de xadrez. “Xeque-mate”, anunciou o simpático menino de rosto redondo e cabelos louros. Sim, acabara de ser derrotado e, para piorar, por uma criança de 10 anos! O mais estranho, porém, é que nem se importava com isso.


- Você jogou muito bem, Matthew, parabéns! – disse um sorridente Ron.


- Jogou bem nada! Ele trapaceou e você nem notou. É sempre tão desligado assim? – perguntou a menina de 12 anos e olhar inteligente.


Ron sacudiu a cabeça. Por que aquela garota de cabelos castanhos claros presos em uma grossa trança o lembrava tanto Hermione? Não parecia fisicamente com ela, mas tinha a leve arrogância característica das pessoas geniais.


- Não, Sophie, você está enganada! Matt não trapaceou. Ele jogou melhor do que eu – o rapaz fez questão de esclarecer.


Os dois irmãos começaram uma discussão. Talvez a décima que Ron presenciava em um dia hospedado na casa dos Ashfield. Mas até mesmo aqueles bate-bocas lhe soavam agradáveis agora que estava distante da família. Quando Matthew e Sophie desapareceram pela porta, deixando-o sozinho na espaçosa sala, foi que o ruivo voltou a pensar na decisão que devia tomar.


Considerava uma grande sorte ter sido encontrado por Stanley Ashfield, amigo pessoal e colega de turma de Arthur Weasley em Hogwarts. Ron havia estado com Stanley, um autêntico gentleman inglês, poucas vezes, a última delas no casamento de Gui e Fleur. Ainda assim, o sr. Ashfield não apenas o reconheceu, quando caminhava confuso e perdido no vilarejo próximo a Londres, como o chamou para ir para a casa dele.


Depois de chegar ao local exato do acampamento e não encontrar os amigos, que provavelmente haviam partido apenas alguns minutos antes, Ron prosseguiu em sua busca ao longo de todo o dia. Aparatou e desaparatou incontáveis vezes, andando por lugares dos quais ouviu os amigos falar nas conversas em que enumeravam os possíveis esconderijos das horcruxes.


Ao anoitecer, vencido pela fome, decidiu buscar uma boa refeição no pequeno vilarejo, que visitara uma vez com o pai. No acampamento, os três amigos se revezavam na função de “comprar” alimentos e por isso Ron trazia consigo alguns galeões. Acreditou que a quantia seria suficiente para adquirir um prato de comida naquela noite fria e solitária.


O ruivo achou que o mais prudente era vestir-se como um bruxo. Por isso colocou o longo sobretudo negro, além de um chapéu muito comum na comunidade mágica, que pertencera ao avó Septimus Weasley e por isso tinha um significado especial para ele. Um dos poucos objetos que havia separado quando Hermione o intimou a arrumar a mochila antes de partirem para a missão, o chapéu encobria os cabelos vermelhos e o rosto do rapaz.


Ron estava parado diante de uma taberna quando foi abordado por Stanley Ashfield, que a princípio não reconheceu. O bruxo alto e magro, de rosto pálido, o convidou a entrar no estabelecimento. “Não se preocupe. Sou amigo do seu pai há muitos anos. Não é seguro andar pelas ruas daqui nesse horário”, afirmou.


Apesar da insegurança e teimosia muitas vezes não deixarem Ron usar as suas melhores habilidades, certo era que ele tinha uma forte intuição de bruxo. Sempre que desprezava tal capacidade, o rapaz acabava cometendo equívocos. Dessa vez resolveu se deixar conduzir por isso e acreditou na sinceridade de Stanley, logo estabelecendo uma relação de confiança com ele.


Jamais contaria sobre a missão e muito menos que a abandonara. No entanto, Ron precisava esclarecer o sr. Ashfield sobre duas realidades: não era possível para ele retornar À Toca e seus pais não podiam saber que estava próximo a Londres. “Procuro por dois amigos e é muito importante encontrá-los. Mas não tenho a mínima ideia de onde estão”, revelou, sabendo não ser prudente dizer nada além disso.


- Ronald, você não pode ficar vagando sem rumo certo por aí. Todo o Reino Unido está repleto de bandos a serviço do Ministério, que buscam nascidos trouxas e bruxos considerados traidores de sangue. São tempos muito difíceis. Você precisa de um refúgio, um lugar no qual possa estudar as possíveis pistas desses seus amigos e assim partir para um destino preciso – explicou Stanley.


Tinha que admitir que o experiente bruxo estava certo e por isso aceitou a oferta de se hospedar na casa dele até decidir para onde ir. Na grande e antiga residência dos Ashfield, encontrou boa comida, quarto aquecido, cama confortável e, acima de tudo, aquele clima de família. Stanley morava na casa, que pertencera aos seus avós, com a esposa Moira e o casal de filhos. De origem alemã, Moira tinha longos cabelos louros, olhos cinzentos e temperamento mais reservado que o marido, apesar de ser simpática e solícita.


Um lado de Ron, aquele mais impulsivo que levava a tomar decisões sem pensar e o estimulara a abandonar o acampamento, queria partir logo em busca dos amigos. O lado racional, porém, o alertava que ainda precisava de um tempo para planejar uma busca eficaz. Não podia voltar para A Toca, já que seu pai e irmãos não entenderiam seu gesto de covardia e a mãe o prenderia ali. Portanto, um único lugar se apresentava como refúgio até ter uma direção precisa: o Chalé das Conchas, residência de Gui e Fleur.


Parecia estranho ser hóspede na moradia de dois jovens recém-casados. Ron também sabia que o irmão mais velho, sempre muito correto e corajoso, questionaria o fato de ter abandonado a missão. Ainda assim, conhecia Gui o suficiente para acreditar em sua descrição e, acima de tudo, no grande afeto que tinha por ele. “Será algo temporário. Em uma semana, no máximo, vou estar de partida”, pensava, tentando convencer o próprio coração.


Lamentava um pouco deixar a casa dos Ashfield. Tinha gostado muito do casal de irmãos, com que se distraíra em conversas descontraídas e brincadeiras. Sentia saudade do tempo em que era uma criança, sem grandes preocupações. Às vezes achava que havia sido obrigado a tornar-se adulto rápido demais. Os desafios, perigos e medos que enfrentava pareciam intransponíveis para os seus 17 anos. Reconhecia, porém, que Harry e Hermione suportavam dificuldades tão grandes ou ainda maiores. E ele já não estava mais ao lado deles para apoiá-los.


- Então, Ronald? Já decidiu o que vai fazer? Saiba que, por Moira, eu e as crianças, você pode ficar em nossa casa pelo tempo que quiser. Todos nós gostamos muito de você. O Matthew, por sinal, ficou inconsolável quando falei que talvez partisse nos próximos dias –  disse o sr. Ashfield, despertando-o de dolorosas lembranças.


Ainda doía muito lembrar-se do momento que deixara o acampamento, da expressão de raiva de Harry, do olhar triste e suplicante de Hermione. E por causa deles não podia parar em seu comodismo. Precisava sair e procurar pelos amigos. O Chalé das Conchas seria apenas o passo seguinte nessa direção.


- Tudo o que eu disser ou fizer não será suficiente para agradecer a vocês. Aqui eu me senti realmente em casa, em família. Mas tenho que partir. Vou ficar uns dias na casa do meu irmão Gui e de lá sigo na jornada à procura dos meus amigos – Ron explicou.


Depois de perguntar se Ron tinha certeza daquela decisão, Stanley afirmou que a casa deles estaria sempre de portas abertas para o rapaz. “Não é seguro aparatar à noite. Espere o amanhecer”, sugeriu o experiente bruxo. O ruivo seguiu a dica do novo amigo. Mas não foi fácil partir e ver as lágrimas nos olhos de Matthew e Sophie.


“Mesmo se é um ótimo jogador, você me pegou em um mau momento. Prepare-se que na próxima partida a vitória será minha”, garantiu depois do abraço prolongado que deu no garoto. Lutando para também não chorar, Ron terminou de se despedir da família, colocou a mochila nas costas e desaparatou no aprazível jardim dos Ashfield.


xxx


Não foi uma recepção festiva, mas acolhedora. E isso era tudo o que Ron precisava naquele momento. “Você veio para ficar uns dias, não é?”, foi a única pergunta de Gui. Fleur, que sempre tratava o rapaz de um jeito afetuoso, logo ofereceu um farto café da manhã e pediu que levasse a mochila para o quarto de hóspedes.


Naquele primeiro dia, Gui nada mais perguntou ao irmão. Percebeu o quanto ele estava abatido, com uma expressão sofrida, mais magro e tão pálido que as suas sardas pareciam ter desbotado. Passava muito tempo em frente à lareira, distraído com o crepitar das chamas, e não foi difícil imaginar que havia passado frio e fome.


Na tarde do dia seguinte, quando já estava menos pálido, bem alimentado e aquecido, Gui achou que era o momento de conversar com o irmão. O conforto físico experimentado na acolhedora casa de Gui e Fleur, a maravilhosa vista do mar que era possível ter de quase todos os cômodos, não conseguiam calar a dor do coração de Ron.


Já era o quarto dia que passava distante dos amigos. Agora conseguia conviver com a dor, mas ela estava lá, todo tempo, a lembrá-lo que havia sido covarde e desleal. Chegara a pensar que Harry e Hermione não o aceitariam de volta. Ainda assim, precisava ir atrás deles, saber como estavam. Não se conformaria se algo acontecesse aos dois.


Distraído com esses pensamentos, olhando as chamas da lareira, não percebeu o irmão mais velho se aproximar. Gui sentou-se na poltrona próxima a de Ron e permaneceu alguns minutos em silêncio, talvez procurando a melhor forma de iniciar aquela conversa.


- Ron... O que aconteceu? – Gui finalmente perguntou.


- Ah, tanta coisa... Não sei o que devo ou posso falar – começou, sem coragem de olhar para Gui.


- Está tudo bem com Harry e Hermione? – Gui continuou, olhando Ron com atenção para entender melhor o que se passava com ele.


- Acho que sim... Eu... na verdade não sei, Gui. Pareciam bem há quatro dias, quando estive pela última vez com eles – falou, finalmente encarando os olhos azuis do irmão mais velho.


- Você não estava engajado na missão delegada por Dumbledore ao Harry? Por que voltou? – Gui deu a voz ao questionamento que o sufocava desde a chegada do irmão ao Chalé das Conchas.


O mais jovem dos Weasley se levantou da poltrona, caminhando em direção à janela da sala. Observou por alguns instantes o mar e não pôde deixar de pensar como estava distante dos amigos. Sentia-se profundamente triste, decepcionado com a própria fraqueza, arrependido de ter deixado a missão. Doía o seu coração lembrar-se das palavras duras dirigidas a Harry, da forma como olhou e falou pela última vez com Hermione. Não se conformava por haver se recusado a ouvir os apelos da menina para que voltasse. Mas o ruivo sofria, de modo especial, por ter quebrado a promessa de jamais abandonar e de sempre proteger Mione, que não era mais simplesmente a sua melhor amiga e sim o amor de sua vida.


- Fui um fraco, um covarde... Não suportei ver como Harry e Hermione estavam cada vez mais próximos um do outro e distantes de mim. Não sou genial como eles. Harry é o Escolhido, um cara corajoso que se arrisca pelos outros, excelente em Defesa contra as Artes das Trevas. Quanto a Mione... Acho que não preciso dizer o quanto ela é brilhante, uma das melhores alunas de Hogwarts de todos os tempos, e encantadora também. Ao lado dos dois, sou apenas uma sombra... – Ron tentou explicar.


 - Cara, não é bem assim. Os dois podem ser geniais. Mas você também é, ao seu jeito – Gui argumentou, recebendo de Ron um olhar incrédulo.


- Eu genial?! Definitivamente, não. Sou um bruxo normal, sem grandes talentos. Com muitos defeitos, para ser mais exato – reforçou.


- Caso não fosse genial, não seria o melhor amigo de Harry e de Hermione. E também Dumbledore não teria sugerido que Harry dividisse com você e Mione os segredos revelados por ele para vencer Você-Sabe-Quem – enfatizou Gui.


- Acho que escolheram o Weasley errado. Poderiam ter escolhido você, um bruxo de grande coragem, Carlinhos, com toda a sua habilidade no trato de animais fantásticos, Percy que, mesmo se chato, tem uma inteligência brilhante, Fred e Jorge, especialistas em ludibriar os outros com seus inventos geniais...


- Não escolheram o Weasley errado! Não foi por acaso que você dividiu a cabine do trem com Harry Potter na sua primeira viagem para Hogwarts. Muitas vezes ouvi Harry e Hermione falando sobre você e, pode ter certeza, eles o consideram um grande amigo, leal, corajoso, muito perspicaz e divertido também. Eu concordo com os dois e digo ainda mais: é difícil encontrar alguém com um coração tão bom quanto o seu – prosseguiu o irmão mais velho.


- Eu não sou tudo isso, Gui. E mesmo que fosse, de que adiantou? Eu me deixei levar pelo ciúme e pela ira. Briguei com Harry, fui grosseiro com Mione, abandonei a missão...


- Foi um erro se deixar levar por sensações que não são verdadeiras e abandonar a missão. Mas sei que está muito arrependido e não vou apontar essas falhas novamente, fazendo aumentar a sua dor. Mas saiba que a grandeza de um homem não é medida pela perfeição de suas ações e sim pela capacidade de reconhecer as próprias limitações, saber perdoar a si mesmo e corrigir percursos – por fim afirmou Gui, mostrando maturidade.


- Por essa razão estou muito ansioso para reencontrar Harry e Hermione. Preciso pedir desculpas aos dois, suplicar que me aceitem de volta na missão. Porque mesmo se não sou grande coisa, pelo menos posso me colocar na frente deles e evitar que sejam acertados por algum feitiço – disse sério, mas logo deixando escapar uma gargalhada.


Gui olhou nos orbes profundamente azuis de Ron. Sabia que não falara mais uma de suas tiradas e sim uma verdade. Ele seria capaz de sacrificar a própria vida pelos amigos. Conhecendo o forte sentimento que tinha por Mione e também a insegurança do irmão, imaginou a verdadeira razão do abandono da missão. Por isso, achou que precisava tratar daquele assunto, por mais doloroso que fosse.


- Ron, você sente ciúme de Harry com Hermione? – disparou Gui após alguns segundos de silêncio.


- Eu?! Claro que não. Eu... Está bem, Gui, eu admito. Sinto ciúme, muito ciúme dos dois. Harry é o herói e eu... apenas um bruxo desengonçado, sem grandes poderes e pobre – reconheceu.


- Harry é o herói? Pode ser para muitas pessoas, mas não para Hermione. O herói dela é você, Ron! Mione acha você um bruxo extraordinário e não está nem aí para a sua conta bancária. Ou melhor, falta de conta bancária – garantiu de forma enfática, para em seguida dar uma risada.


O ruivinho, que tinha senso de humor e sabia rir até dos próprios infortúnios, também abriu um largo sorriso. Mas o seu semblante voltou a se fechar, enquanto pensava nas palavras do irmão. Com gostaria que fosse como Gui havia falado. Porém, depois de Hermione recusar o beijo dele, acreditava cada vez menos que o seu sentimento pela menina fosse correspondido. Por isso foi firme ao rebater o irmão, dizendo que estava enganado.


Gui, que costumava fazer sucesso com o sexo oposto, não se conformava com a insegurança do irmão. “Eu sei o que estou falando. Já tinha percebido isso há muito tempo e observei com atenção Hermione nesses últimos dias que ficou n’A Toca. Estava sempre lhe dirigindo olhares apaixonados e o semblante dela se iluminava quando falava de você”, recordou.


Durante as caminhadas à beira-mar, que faziam parte da rotina de Ron naqueles dias nos quais estava hospedada no Chalé das Conchas, ele lembrava o tempo todo de Hermione. No acampamento, sob a influência negativa do medalhão, havia decidido desistir daquele amor tão forte. Mas agora reconhecia a impossibilidade de abrir mão de algo que habita no mais profundo do nosso ser. Seria o mesmo que viver sem ar. O ruivo sabia, portanto, ter apenas duas opções: calar o sentimento, o que levaria a perpetuar seus dias tristes, ou lutar para conquistar o amor de Mione. 


Caminhando sozinho na praia, Ron refletia sobre as palavras ditas pelo irmão há cerca de 10 dias, mas que não saiam de sua mente. “O herói dela é você” era uma das frases repetidas mentalmente na tentativa de convencer a si mesmo daquela verdade que apenas ele não percebia. “Mione acha você um bruxo extraordinário” era outra frase que sempre relembrava. Essa esperança lhe dava força para não desistir de buscar pelos amigos e, especialmente, de lutar pelo amor de Hermione. Ainda não tinha qualquer pista de onde estavam, mas algo dentro dele dizia que se aproximava o momento de reencontrá-los.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


(Everything I Do) I do It For You


http://bit.ly/9Meb7d


Look into my eyes...
You will see what you mean to me
Search your heart, search your soul
And, when you find me there, you'll search no more 


Don't tell me it's not worth trying for...
You can't tell me it's not worth dying for...
You know it's true: everything I do, I do it for you... 


Look into your heart...
You will find
There's nothing there to hide!
Take me as I am, take my life
I would give it all, I would sacrifice... 


Don't tell me it's not worth fighting for
I can't help it, there's nothing I want more
You know it's true: everything I do, I do it for you... 


There's no love like your love
And no other could give more love
There's nowhere, unless you're there
All the time, all the way!
(…)

 

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Comentários (22)

  • Morgana Lisbeth

    Lilian, desculpa demorar a responder seu comentário. Também eu estou completamente ansiosa pelo novo capítulo... Como deve imaginar, não é fácil, mas ao mesmo tempo fascinante, escrever sobre o caminho de volta percorrido por Ron :)Vivika, que saudade! Bomo saber que, mesmo sem comentar, você estava acompanhando! Mas acho muito bom quando escreve (hehe). Você, como caçulinha entre os meus leitores, é muito especial! Então, sempre que puder deixar umas palavrinhas, vai me fazer feliz! Amo escrever sobre Ron e Mione e espero que, de alguma forma, isso passe para os textos. Bjs!

    2012-10-20
  • ViviKa

    Morgana! Nossa! Quanto tempo sem acompanhar não é! Bom, eu tenho um motivo, eu tive que criar a conta de novo poque o Potterish bloqueo pelo tempo fora do ar, acompanhava, mas não comentava, aí, depois desse capitulo que eu AMEI de paixão, eu tive que dar um jeito na conta. Bom em fim! Voltei! Haha! E estou aqui pra dizer que eu AMEI muito! Demais esse capitulo! Sua habilidade de cuidar deles para não tirar dos trilhos me surpreende a cada dia! Não vou deixar de comentar sua habilidade na escrita não é? Eu AMO sua escrita, tudo tão certinho, tão pefeitinho! Haha parei! Bom, meu parabéns por mais um capitulo maravilhoso. E prometo que não vou mais ficar tanto tempo sem comentar! Beijos da sua fã número 1!!ViviKa 

    2012-10-19
  • Lilian Granger Weasley

    Adooooooooooooooroooo! totalmente anciosa para o proximo capitulo!!!! :) o reencontro deles!!!! 

    2012-10-16
  • Morgana Lisbeth

    Duas "heróinas da resistência" acabam de aparatar!Gego, fico sempre tão feliz quando recebo um comentário seu! É um desafio conquistar e manter uma leitora FIEL tão especial assim. De modo particular, porque sei um pouco da sua luta, às vésperas do Enem. Muito obrigada por estar todos os capítulos aqui. Espero que, mais uma vez, você me acompanhe até o FIM ;)Fernandinha, mil desculplas por ter lhe deixado tão ansiosa! Vou me esforçar para atualizar mais rápido dessa vez! Obrigada por comentar sempre e me deixar assim feliz :D

    2012-10-15
  • FernandaGrif2

    Pra começar este comentario, devo dizer que só não comentei ontem por que a minha internet não deixou u.u Agora... Eu concordo plenamente com você na parte em que Ron tinha que amadurecer, levando com que ele descobrisse todos os seus sentimentos mais profundos. A Música que você colocou, me tocou ainda mais e, como sempre, Você está de parabéns pelo maravilhoso capitulo. Já estou imaginando a forma como você vai colocar no capitulo do reencontro dos dois. (Aposto que vai ser maravilhosamente bom) Bem... Um beijo e ate a proxima 

    2012-10-15
  • Gego

    Como sempre perfeito. Super criativo! Adorei como você expressou as emoções do Ron e a objetividade dele em querer voltar pros amigos. Você fez bem em escrever esse capítulo antes do reencontro dos dois, assim conseguiu mostrar o que levou o Ron a agir de maneira mais madura após a sua volta.Esperando ansiosamente pelo próximo capítulo.Beijos! 

    2012-10-15
  • Morgana Lisbeth

    Olá! Agradeço as minhas "heroínas da resistência" que, apesar das longas demoras desta ficwriter, não desistiram da história! Aline, parabéns! Desta vez você foi a primeira (ganhou por pouco da Luluweasley, que tem uma bola de cristal e sempre sabe qdo estou postando um novo capítulo hehehe)! Obrigada, minha querida bruxinha, pelos comentários sempre estimulantes. Ah, e pelo pó de flu também! De fato, meu estoque tinha acabado :) Lulu, este capítulo exigiu emoção e razão em igual medida. Fico feliz que o resultado tenha agradado você. Acho que devia um capítulo inteiramente dedicado ao nosso ruivinho, um personagem muito especial, não é mesmo? Bjs! Lumos, acho Rowling genial justamente por isso. Nada acontece por acaso. E a gente percebe o carinho particular que ela tem por Ron ao possibilitar que o ruivo passe por algumas situações dolorosas até, mas fundamentais para se libertar de suas inseguranças *_* Mellissa, infelizmente, o Ron ainda vai cortar um dobrado (hehe). Que mandou se apaixonar por uma bruxa temperamental como Hermione? Mas vai "amansar a fera" com aquele jeitinho que só ele tem de mexer com os sentimentos da nossa sabe-tudo. Beijinhos!

    2012-10-15
  • Mellissa Weasley

    É preciso passar por certas provações para se amadurecer, principalmente no caso do Ron, mas me sinto tão triste de vê-lo deprimido, ahauhaua. Enfim, o capítulo é simplesmente emocionante e mal posso esperar pelo 16!

    2012-10-14
  • lumos weasley

    Amei o capítulo! Amadurecer às vezes é um caminho duro a percorrer, mas mesmo assim muito necessário. E acho que o Ron deve estar aprendendo isso.Bjs! 

    2012-10-14
  • luluweasley

    Intenso. A palavra que melhor descreve o capítulo. Os sentimentos de Ron são tratadas com tamanha intensidadeque chega a ser completamente envolvente. Concordo que enquanto Ron esteve ausente de seus amigos, foi o momentocruicial para atingir maturidade antes não possuida. Parte disso foi conseguida com a conversa entre Gui e Ron. Adorei o capítulo! Transmitiu a emoção digna de J. K. Rowling. Bjs!  

    2012-10-14
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