Destino



Quanto mais os dias se passavam, mais Rose se sentia uma idiota. Agora que eu disse aquilo, ele nunca mais vai olhar pra mim... ela pensava. Eu sou ridícula, uma idiota, completa idiota.


Ela ficou muito tempo sem falar com quase ninguém, sem olhar para quase ninguém, a menos que não pudesse evitar.


O Natal de Rose foi péssimo. Seu pai descobriu, de alguma forma, que ela estava gostando de Malfoy ("Sabe quem me ligou, Rose? Draco Malfoy. Me contou coisas interessantíssimas!), e embora estivesse com quase todo o resto da família a apoiando, ela não conseguia mais se concentrar nos estudos quando voltou à Hogwarts.


Rose não comia direito, fazia apenas três pequenas refeições por dia. Era como se obrigasse a comida a entrar em sua boca e mastigava sem animação, enquanto tentava estudar.


Depois de algumas semanas, não dormia direito. Não falava nem com os parentes mais próximos, mas sabia que eles falavam dela pelas costas, porque toda vez que passava perto de seus primos podia ver que pareciam mudar de assunto de repente.


Hermione mandava cartas à filha toda semana, mas depois de um tempo, a menina parou de responder. Hermione chegou a ir até a escola pedir para vê-la, mas Rose deixou o dormitório e se trancou em uma sala escura e vazia.


Queria chorar, queria desabafar pelo menos com ela mesma tudo que havia passado. Ela já não sabia mais se Scorpius gostava de outra garota, ou se pelo menos já sentira mesmo alguma coisa por ela na vida, mas ela não podia saber, porque estava ali, sozinha e vulnerável, e não o via desde aquele dia.


O medo veio à tona. E se ele estivesse com outra? E se ele descobrisse que ela gostava dela? E se a suposta namorada dele descobrisse? Rose não queria se meter em confusão, tudo que ela queria era que ele gostasse dela, que ele tomasse uma atitude e que, acima de tudo, ela parasse de ser tão imbecil.


As roupas de Rose já estavam molhadas, ela não conseguia mais refrear as lágrimas. Ela se sentia a maior idiota do universo. Por que eu não beijei ele quando pude?, ela pensava, ele queria me beijar, ele me deu uma chance e eu desperdicei.

Ela não achava mais que não havia o beijado por orgulho. Foi porque ela não estava pronta, ela não esperava nem um pouco por isso. De qualquer jeito, não podia voltar atrás, não podia mudar o passado. Não sem desobeder pelo menos duzentas regras sobre o uso de magia.


E aí aconteceu. Foi tudo tão rápido, apenas um clique da porta para despertar o maior temor que Rose já sentira. Ela estava ali, sentada no chão de uma sala de aula empoeirada e escura, completamente fraca e com lágrimas caindo por todas as direções do rosto.


No momento, pareceu surreal. Talvez, tenha sido apenas o destino. Quando ela viu a imensidão cinza azulada dos olhos do loiro pelo qual agora estava perdidamente apaixonada, não pôde evitar fazer o pedido que soou muito bobo na hora.


- Tá bravo comigo?


Scorpius sentou-se do seu lado. Era tão bom estar ali, pertinho dele, sentindo calor humano que não fosse dela mesma.


- Tudo bem. Só... - ele pareceu confuso - Amigos?


Rose queria voltar a chorar de novo. A vida dela tinha acabado, oficialmente, e ela não achava que mais nada podia trazer os bons momentos de volta. Nada mais importava. Scorpius Malfoy queria ser só amigo dela. Só amigos, e mais nada.


- Claro - ela disse, num tom de voz fraco. Estava muito cansada de sofrer, queria parar, queria voltar a ser quem era antes, a Rose estudiosa e alegre, a Rose que amava a companhia dos amigos, a Rose saudável.


Scorpius sorriu levemente, e Rose retribuiu, ou pelo menos tentou.


- Então... Vai ficar trancada aqui sozinha? - Scorpius perguntou, mas não obteve resposta imediata - Quero dizer, acho que esse lugar é muito bom para se ficar sozinho, você enfeitiçou a parede perfeitamente bem, mas esqueceu de um feitiço que poderia ter feito toda a diferença, e aí eu não teria conseguido entrar aqui.


- Como sabia que eu estava aqui? - Rose perguntou, sem ouvir direito as últimas palavras do loiro, apenas pensando consigo mesma.


- É aqui que eu venho quando quero ficar sozinho também - ele respondeu - mas parece que você já havia descoberto meu esconderijo.


- E por que você queria ficar sozinho? - ela perguntou. Se sentia uma Rita Skeeter da vida fazendo todas essas perguntas sem dar a mínima para o sentimentos dos outros. Mas ela já era uma idiota por ter perdido a chance mesmo, e agora que eram só amigos, não tinha mais importância.


- Ah, é uma longa história - ele esperimentou brincar com os próprios dedos.


- Eu tenho muito tempo.


- Certo - ele se indireitou e suspirou antes de começar a contar, olhando bem nos olhos de Rose - Já faz tempo que eu conheci uma menina com quem sempre implicava e nunca me dava bem. Até que há algum tempo atrás, eu comecei a vê-la por outro lado e descobri que estava apaixonado. Mas o orgulho bateu mais forte e fui falar com ela, com esperanças que ela retribuísse o que eu sentia por ela - os olhos azuis acinzentados agora estavam muito úmidos - mas ela não sentia o mesmo. Ela parou de comer e de falar com as pessoas, e eu nunca mais consegui falar com ela, e nem queria, porque tinha medo de levar outro fora, e porque acho também que ela está afim de outro cara. Só agora eu percebi que demorei tempo demais para continuar lutando, e acabei por desistir. Por isso vim aqui, um lugar que antes era sozinho e só meu, mas acabei encontrando com ela e agora tenho a absoluta certeza que ela está afim de um cara.


Rose estava sem palavras. Não importava mais se ele era Sonserino ou não, esta havia sido a coisa mais sincera que já ouviu na vida. Mas, ao contrário da última vez, ela resolveu aproveitar o momento e dar a deixa, com a esperança que tudo fosse dar certo.


- Eu também vim para cá por quase a mesma coisa - ela disse, e vendo que Scorpius pareceu interessado, prosseguiu - Antes eu implicava com ele, mas de uns tempos para cá as coisas mudaram, eu descobri que estava apaixonada mas já era tarde demais, já tinha perdido as minhas chances. Me deixei abalar muito por isso e acaberi trazendo más consequências para a minha vida. Achei essa sala o lugar perfeito para me esconder por um tempo.


Scorpius parecia sem reação, e inclinou a cabeça para o lado onde estava mais escuro, como se quisesse esconder alguma coisa.


- Não sofra por ele, Weasley - ele disse. - Amar dói muito.


- Scorpius - ela chamou, sentindo-se completamente feliz por estar usando aquele nome, finalmente, com prazer - Qual o nome da garota?


Ela sabia que estava o provocando a falar, e agora era a hora da verdade. Ela saberia se ele gostava dela ou não, e se teria alguma segunda chance. A expectativa era imensa, como se Rose nunca tivesse tido esperança nenhuma outra vez na vida.


- Rose Weasley - o coração dela bateu a mil ao ouvir essas palavras saindo da boca dele. Dessa vez, ela não ia deixar tão barato, não iria desistir. Com o tempo, Rose aprendeu que às vezes você tem que se arriscar.


- Amor não devia doer, Scorp - ela disse - Principalmente quando a pessoa te corresponde - ela sorriu.


- Ela não me corresponde - ele continuou falando como se Rose ainda não soubesse que era dela que ele gostava.


- Quem sabe ela não se surpreende? - ela perguntou, pegando na mão dele.


E eles foram chegando mais perto, mais perto, mais e mais... Até que seus lábios se tocaram e Rose sentiu uma coisa que nunca tinha sentido antes, ela estava ali, com ele, um Sonserino.


Finalmente, foi o que ela pensou.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.