Desaparecimento



 


O gigantesco castelo de Hogwarts elevava-se na paisagem, com suas diversas torres sendo iluminadas pelo Sol poente naquele típico dia de fim de Outono. Pelos terrenos da escola, alguns poucos alunos passeavam ignorando o clima frio, e nas grandes estufas uma turma de alunos do terceiro ano da Grifinória e da Lufa-Lufa assistia à aula de herbologia do professor Neville.


 


A estufa na qual os alunos estavam naquele momento era espaçosa, possuía diversas mesas sobre as quais repousavam vasos com as mais variadas espécies de plantas. Algumas se moviam sozinhas quando alguém se aproximava ou as tocava, e outras emitiam ruídos que por vezes sobressaltavam os alunos que estavam por perto. Naquele momento o professor conduzia a aula ao encerramento.


 


- Por fim, podem as folhas mais perto da base da planta...


 


Neville era um homem alto e corpulento, com cabelo preto, curto, e olhos castanho-claros. Trajava vestes negras de bruxo, que estavam bastante sujas de terra, e naquele momento mostrava aos alunos como podar corretamente uma figueira cáustica. A maioria prestava atenção na explicação do professor, cujo cenho estava enrubescido e enrugado pela concentração, porém havia um aluno que estava completamente alheio aos ensinamentos.


 


James Sirius Potter era um rapaz alto e magro, com cabelo negro, um pouco comprido e muito arrepiado semelhante ao do pai. Sua pele era branca, mas o rosto estava corado pelo frio e ansiedade. Seus olhos castanhos correram para o relógio preso à parede da estufa: eram 17:58. Cerrou os punhos, nervoso. Devia estar na cabana de Hagrid em dois minutos. Se atrasar no primeiro encontro com uma garota que ele sondava há tempos não soava como uma coisa muito inteligente.


 


- Não tem jeito... – Pensou, colocando a mão no interior das vestes de bruxo.


 


Tateou levemente, sentindo imediatamente escorregar para seus dedos um tecido leve com textura semelhante à água. Tirou a pontinha dele para fora, quando ouviu uma voz feminina repreendê-lo.


 


- Quer fugir da aula de novo, James?


 


Ele parou no ato de tirar a Capa de Invisibilidade de dentro da roupa. Exasperado, virou-se para encarar a dona da voz. Era uma moça baixa, com a mesma idade dele, mas parecia mais nova. Tinha cabelos ruivos, ondulados e longos, que quase alcançavam sua cintura. Seus olhos verdes estavam estreitados em desaprovação, que também era indicada pelos traços finos de sua face. Seu cenho estava enrugado, e ela não desviava aquele olhar penetrante do amigo.


 


- É inevitável, Lucy... Eu tenho um compromisso importante.


 


Lucy Powell ergueu as sobrancelhas, descrente. Era a melhor amiga de James há muitos anos, e justamente por isso sabia exatamente o que ele planejava com uma mera troca de olhares.


 


- Importante? Sei... Que garota é dessa vez?


 


O moreno abriu um sorriso maroto.


 


- Megan Harvey, da Corvinal. Sabe que faz semanas que ando sondando ela, né?


 


Lucy impacientou-se.


 


- Francamente, James... Você terminou com a Alice há menos de um mês! Não pode ficar um tempo sem namorar, não?


 


Ele irritou-se.


 


- Eu não terminei com a Alice por querer. Ela era muito ciumenta, você sabe... Não quero ficar com uma garota que tenha ciúmes da minha melhor amiga. Você é linda, mas acho que nunca daria certo entre nós dois.


 


A ruiva corou levemente e desviou o olhar, irritada.


 


- Muito menos eu quero namorar um cara que recebe duas detenções por semana. Boa sorte com a Megan, James.


 


James olhou novamente para o relógio. Eram 18:00, e o professor Neville continuava tentando podar a planta. O rapaz olhou ao redor: ninguém olhava para ele, todos se divertiam com as tentativas do mestre. Virando um pouco a cabeça, observou a porta da estufa aberta, muito próxima. Todos estavam tão concentrados, ninguém perceberia... Sacou de dentro das vestes a capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto. Colocou ambos no colo de Lucy, para surpresa da garota.


 


- Mas o que...?


- Leva isso pro Al. Falei que ia emprestar pra ele hoje.


 


A ruiva abriu a boca para reclamar, mas James já tinha levantado e disparado correndo para fora da estufa. Irritada, ela guardou os dois itens no interior das vestes, fixando novamente o olhar no professor Neville. Contudo, não prestava atenção na explicação. Sentia uma estranha angústia no peito.


 


ooo ooo ooo


 


James corria pelo pátio apressadamente. Ciente do atraso, formulava mentalmente possíveis desculpas que daria a Megan. Foi um alivio quando, passados alguns minutos, avistou a pequena cabana de Hagrid na orla da Floresta Proibida. Pela fumaça que saía da chaminé, o rapaz presumiu que o amigo já preparava o jantar. Ou possivelmente chocava um ovo de dragão, como certa vez seu pai lhe contou. Rindo ao imaginar essa possibilidade, sentiu-se mais calmo.


 


Ao se aproximar da cabana, passou a mão pelo cabelo bagunçado, na esperança de baixá-lo um pouco. Não teve o menor sucesso. Contornando a pequena construção, ficou na ponta dos pés e espiou pela janela. A lareira estava acesa, mas Hagrid não estava. Avançou mais, ansioso para ver Megan. Já tinha a desculpa que daria na ponta da língua. O professor Neville pediu sua ajuda para manusear um visgo do diabo. Sim, aquela era uma desculpa perfeita. Chegou ao local combinado, e então viu que estava deserto. Ficou ali, parado e sentindo-se um idiota por uns poucos segundos.


 


- Ela já foi embora... Droga! Devia ter fugido antes!


 


Neste momento, ouviu um farfalhar de folhas atrás dele. Virando-se, percebeu que a alguns metros, nos limites da floresta, estava Megan Harvey. Era uma moça bela e alta do quinto ano, com cabelo castanho e encaracolado que caía até as costas. Seus olhos de cor mel estavam fixos nele, e exibia uma expressão sorridente. James, aliviado, rapidamente adiantou-se.


 


- Megan! Desculpe-me por esse atraso, o professor Neville...


 


A jovem adiantou-se e abraçou-o, o que o fez se calar. Não esperava aquilo, Megan era sempre tão tímida...


 


- Tudo bem... O importante é que você veio.


 


James encarou-a, sorrindo. Estava um pouco frustrado por ter inventado desculpas a toa, mas tudo bem. Estava com ela, era isso que importava.


 


- ESTUPORE!


 


O rapaz não teve tempo nem de perceber o que estava acontecendo. Durante o abraço, Megan apontou-lhe a varinha e lançou o feitiço. Imediatamente James tombou desacordado aos pés da moça. Ela ficou encarando-o por longos segundos, com o olhar levemente desfocado, e em seguida apontou-lhe novamente a varinha.


 


- Mobilicorpus!


 


O corpo desfalecido de James Potter imediatamente começou a flutuar no ar, como se estivesse suspenso por fios invisíveis. Dando as costas, Megan caminhou em direção à Floresta Proibida, com o inconsciente rapaz a seguindo.


 


ooo ooo ooo


 


A aula tinha acabado e Lucy voltava sozinha ao castelo, caminhando sobre a grama rala. Lançou um olhar breve e frustrado em direção à cabana de Hagrid. Naquele momento, James e Megan deviam estar agarrados. Sentiu um intenso ciúme, e voltou a olhar pra frente.


 


- James idiota. – Murmurou incomodada.


 


Subindo as escadarias, em alguns minutos estava na sala comunal lotada da Grifinória. Olhou para os lados: Al não parecia estar por lá. Algumas amigas a chamaram para um grupinho de conversa.


 


- Espera, eu já volto. – Pediu, começando a subir as escadarias que conduziam aos dormitórios masculinos.


 


Parando perante a porta do dormitório de Al, bateu três vezes. Não houve resposta. Após tentar novamente, ela entrou no aposento. Estava vazio. Caminhando até a cama do garoto, tirou do bolso a capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto. Fixou os olhos no objeto. Poderia ver onde estava Al e entregar pessoalmente, afinal...


 


- Eu juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.


 


Imediatamente começaram a aparecer no grande mapa as localizações de todas as salas e estudantes de Hogwarts. Correu os olhos para a cabana de Hagrid, irritando-se consigo mesma. A quem queria enganar? O que realmente queria saber era se James e Megan ainda estavam lá. O mapa negou seu pensamento. Distraída, ela sentou à beira da cama e começou a procurar vestígios dos dois irmãos.


 


Passados alguns minutos localizou um deles: Al se dirigia para o salão comunal, acompanhado por Rose Weasley. Pouco tempo após a moça localizá-lo, o garoto entrou no dormitório, surpreendendo-se com a presença dela ali.


 


Albus Severus era um garoto mirrado, que parecia ser uma cópia menor do irmão mais velho: Pele pálida, cabelos negros e olhos verdes. Adiantou-se até a ruiva, surpreso.


 


- Lucy? O que faz sentada na minha cama?


- Seu irmão pediu pra entregar a Capa de Invisibilidade e o Mapa do Maroto...


 


O garoto mostrou-se muito empolgado.


 


- Ah! Não acredito que ele emprestou mesmo! Da última vez eu precisei pegar escondido...


 


Lucy riu. Em seguida, sentiu aquela sensação incômoda novamente. Queria saber onde James estava. Estaria no dormitório da Corvinal? Nervosa, correu os olhos para lá. Não viu sinal do rapaz. Al, percebendo que ela procurava por seu irmão, adiantou-se para ajudá-la. Juntos, os dois procuraram por todo mapa por longos minutos. Antes com ciúme, lentamente a moça começava a se preocupar. Onde estaria ele?


 


Após checarem o mapa quatro vezes, Lucy mordeu o lábio, nervosa. Teriam os dois ido à Floresta Proibida? Ou à Sala Precisa? Com esse segundo pensamento em mente, a mulher levantou-se e apressadamente deixou o aposento, com Al no seu encalço. Alheia aos chamados dos companheiros da casa, saiu do salão comunal e após vários minutos estava parada no corredor da sala precisa. Ofegante, Al a alcançou logo em seguida.


 


- Você corre muito rápido... – Resmungou, se apoiando na parede.


 


A ruiva estava nervosa demais para responder. Parando perante a tapeçaria de Barnabás, o Amalucado, checou o Mapa do Maroto. Felizmente não havia ninguém por perto. Ela fechou os olhos, e passou três vezes em frente à porta invisível.


 


- Eu quero ir para o lugar onde James Sirius Potter está.


 


Lucy ficou ali, parada por longos segundos. Não houve resposta. Repetiu o ato com outro pensamento.


 


- Eu quero ver Megan Harvey.


 


Nada aconteceu novamente. A moça impacientou-se. Será que a sala estava negando sua entrada, ou simplesmente nenhum dos dois estava lá dentro? Se não estivessem... Onde os dois tinham ido? Frustrada, entregou o Mapa do Maroto a Al, dando as costas em seguida.


 


- Ei, onde você vai? – Perguntou o garoto, surpreso pela súbita entrega do objeto.


- Dar uma volta...


 


Desceu as escadarias até o térreo, e caminhou em direção aos grandes portões que conduziam ao pátio. Como era noite, o zelador Argus Filch já os tinha fechado. Lucy caminhou de volta à sala comunal, muito preocupada. Teria acontecido algo? Ficou lá, sentada em uma poltrona, mal ouvindo as conversas dos companheiros.


 


Quando chegou a hora do jantar, um Al muito nervoso lhe informou que não tinha visto o menor sinal do irmão. Lucy levantou-se decidida. Com certeza tinha acontecido alguma coisa. Saiu da sala comunal, sendo seguida pelo garoto.


 


- Onde estamos indo?


- Vamos ver a diretora McGonagall.


 


Al ofegou. Tinha muito medo da professora Minerva, devido à sua expressão severa. Alheia à expressão de terror do amigo, a ruiva continuou avançando. Nesse momento, o retrato da Mulher Gorda se abriu e por ele passou a melhor amiga do jovem.


 


Rose Weasley era uma garota bonita. Mais alta que ele, tinha cabelo ruivo, liso e comprido. Seus olhos azuis estavam fixos no amigo, e exibia uma explicação preocupada.


 


- Não acharam ele?


 


Al balançou negativamente a cabeça.


 


- Lucy está indo falar com a diretora McGonagall.


- Mesmo? Então vamos também, por que está aqui parado?!


 


O garoto sequer teve tempo de reclamar e a amiga já o puxava pelo braço. Em pouco tempo alcançaram Lucy, que estava muito quieta e angustiada.


 


- Onde vocês dois se meteram, James...? – Pensou nervosa, mordendo o lábio enquanto parava perante a estátua que dava acesso à sala da diretora.


 


Lá fora, uma brisa gelada soprava agitando as copas das árvores da Floresta Proibida, cuja densidade era tamanha que nem mesmo a luz da lua conseguia penetrar para eliminar a escuridão.

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