Reencontro

De volta...

Rony e Harry andavam em silêncio agora. Ambos ainda molhados e com frio. Rony parecia aflito, como se temesse pelo pior; mesmo depois de tudo que haviam passado momentos atrás, ele sabia que o pior ainda estava por vir. Ficou parado por alguns instantes quando os dois se aproximaram do acampamento. Seguiu Harry com passos contidos. Sentiu seu coração bater mais depressa, estava a apenas alguns passos de reencontrá-la. Havia um misto de euforia, medo e angústia que pareciam de repente o impedir de dar mais um passo.

Respirou fundo antes de segurar o amigo pelo braço, impedindo que este continuasse andando.

 

- Harry? Eu... er... a Hermione deve estar furiosa comigo.

 

Harry notou a apreensão no olhar de amigo, e sorriu de uma forma solidária, tentando reconfortá-lo, mesmo sabendo que Hermione certamente tentaria, no mínimo, estuporar Rony quando o visse.

 

- É, ela deve estar sim, mas você ter salvo minha vida certamente vai abrandar o ódio dela. – Brincou, mas Rony não sorriu, apenas murmurou em tom desolado: - Eu não teria tanta certeza disso.

 

- Relaxa cara! Vamos. – Chamou Harry, enquanto abria a barraca, chamando por Hermione que ainda estava dormindo. Era cedo, o sol recém começava a despontar detrás das colinas cobertas de gelo.

Rony sentiu seu coração pular ansioso dentro do peito, mas preferiu ficar próximo à saída, ainda tinha as marcas dos pássaros assassinos que ela lhe lançara no ano anterior.

 

A garota abriu os olhos com dificuldade, ao ouvir seu nome, maneando a cabeça em direção à voz que lhe chamara.

 

- Harry? – ergueu-se debilmente do beliche, mirando o amigo sem parecer realmente enxergá-lo.

 

- Hermione! – Harry voltou a chamá-la, deixando finalmente transparecer sua euforia.

 

- O que aconteceu? Está tudo bem? – perguntou agora levantando lentamente e andando em direção a ele desnorteada e um tanto quanto escabelada.

 

- Sim, muito bem na verdade – disse o garoto sorrindo e indicando com a cabeça a pessoa parada ao lado da entrada da barraca, esquivando-se a seguir para o lado, tentando se fundir a lona da barraca. Rony estava escorado, segurando a espada. Seu rosto sério e os cabelos e as roupas pingando água.

Ele fazia um enorme esforço para controlar seu impulso de correr até ela e abraçá-la o mais forte que pudesse.

 

Hermione virou a cabeça confusa finalmente notando a presença do ruivo. Seus olhos ainda sonolentos se arregalaram, seus lábios crisparam, formando uma linha muito fina, e sua respiração ficou suspensa por alguns instantes. Ela andou em direção a ele como uma sonâmbula. Rony permaneceu imóvel, mas deu um leve sorriso, parecendo esperançoso. Sentiu seu coração bater mais depressa ao vê-la se aproximar.

 

- Oi – disse sem saber se cedia ao seu desejo de correr e abraçá-la ou se desaparatava imediatamente. A expressão no rosto dela era assustadora, ele não poderia se iludir, Hermione estava furiosa, a conhecia há bastante tempo para saber que aquela não era uma expressão exatamente amigável.

 

Hermione sentiu-se tonta, por breves instantes achou que suas pernas não iriam sustentar seu próprio corpo. Ela havia chorado durante tantas noites, praticamente convencida de que nunca mais o veria, e agora Rony estava parado diante dela?

 

- Você?! – o rosto dela inflou como um balão, ficando muito vermelho e a deixando ainda mais assustadora, pelo menos na opinião de Rony. - Seu... seu... ridículo, seu grande imbecil – Hermione pontuava cada palavra com um soco, agredindo todas as partes que alcançava do corpo de Rony.

 

- Ai... ui... para... para com isso Hermione – Rony se esquivou, tentando se proteger com a mão livre dos socos da garota.

 

- Como você ousa voltar aqui depois de semanas... SEMANAS – esganiçou-se, batendo nele com ainda mais força.

 

- Ei... para... eu... eu...

 

- Você o quê? Seu maldito, seu grande imbecil. Harry, onde está minha varinha? Me dê a minha varinha – ela precipitou-se até Harry, fazendo o garoto recuar alguns passos. Ele realmente nunca havia visto a amiga tão furiosa.

 

- Não está comigo!

 

- Claro que está com você, me dê ela agora – vociferou a garota.

 

- Não, eu... não está comigo, estou falando sério. – mentiu Harry, assustado com a expressão do rosto dela.

 

- Ok, eu não preciso de uma varinha – ela voltou a andar na direção de Rony, parecendo cada vez mais furiosa e descontrolada.

 

- Protego – bradou Harry antes que ela pudesse voltar a agredir Rony. Um escudo invisível se formou entre os dois. A violência foi tal que a jogou de costas no chão. Cuspindo os cabelos da boca, ela se levantou, colocando os fios que insistiam em cair sobre seu rosto para trás da orelha com fúria. Cruzou os braços, bufando como um animal enfurecido.

- Hermione... calma – tentou Harry, vendo-a respirar tão depressa que parecia que suas veias do pescoço explodiriam a qualquer momento e seu pulmão escaparia pela boca.

 

- NÃO, EU NÃO VOU ME ACALMAR – ela berrou se jogando novamente contra o escudo; um baque surdo ecoou quando ela bateu de frente contra a parede invisível que havia entre ela e Rony. – EU NÃO ESTOU BRINCANDO POTTER, DEVOLVA A MINHA VARINHA JÁ!

 

Rony a olhava parecendo atônito, ele realmente não esperava que Hermione fosse se jogar em seus braços quando o visse, mas nunca imaginara que ela o odiasse com tanto fervor.

 

- Hermione, por favor, tente se controlar.

 

- CALA A BOCA HARRY POTTER, NÃO ME DIGA O QUE FAZER! – A voz dela tremeu e Harry supôs que logo ela estaria entregue a um choro descontrolado. Mas ela manteve-se firme, segurando bravamente as lágrimas.

 

- E VOCÊ! – ela apontou o dedo em riste para Rony e respirou fundo, erguendo a cabeça altiva, certamente tentando impedir que as lágrimas caíssem. O garoto recuou vários passos, mesmo sabendo que havia uma parede invisível entre eles; Hermione parecia fora de si. – Eu corri atrás de você, eu... – ela inspirou todo o ar possível para os pulmões – eu implorei para que voltasse. – As palavras pareciam rasgar sua garganta ao saírem.

 

- Eu sei... eu ouvi você me chamar. – Disse Rony num sussurro, parecendo terrivelmente envergonhado.

 

- Ah, você ouviu?! – ela se aproximou mais uma vez do escudo, os olhos brilhando, o rosto se contorcendo em uma careta enfurecida.

 

- Hermione... eu... eu sinto muito, juro, eu realmente não queria...

 

- NÃO QUERIA? AH VOCÊ NÃO QUERIA! – ela o interrompeu, gesticulando e abanando as mãos no ar num gesto completamente descontrolado. Sua voz estava carregada de ironia e rancor. Rony engoliu em seco, dando-se conta do tamanho da mágoa que provocara nela ao ir embora.

 

- Não, e eu realmente lamento. – disse humilde, não querendo provocá-la ainda mais.

 

A grande verdade era que voz dele a afetava tanto que ela sequer conseguia raciocinar, Rony estava de volta, parado diante dela com aqueles malditos olhos azuis cravados nos seus, fazendo-a tremer involuntariamente. Mas a raiva que percorria cada célula do seu corpo a impedia de deixar que a voz dele a afetasse o suficiente para acalmar toda a angústia, toda a fúria, toda a mágoa, todo o desespero e toda a dor que a deixava cega e praticamente surda. No momento, ela agia por instinto, um instinto que a fazia irracional.

Tudo que Hermione sabia era que lamentar jamais compensaria tudo o que ela havia passado.

 

- Ah você lamenta! – bradou olhando para ele e virando-se em seguida para Harry. - Ele LAMENTA, Harry!

 

Ela deu uma gargalhada aguda, descontrolada. Rony olhou para Harry como se pedisse ajuda, o amigo apenas deu de ombros, deixando claro sua incapacidade diante da situação.

 

- Você realmente acha que depois de tudo, basta chegar aqui e dizer que lamenta?! Você só pode estar brincando, Ronald. – Hermione praticamente cuspiu as palavras.

 

- E o que mais eu posso dizer? Inferno sangrento! – gritou Rony perdendo a paciência. Afinal, ela achava que era a única que tinha sofrido?!

 

- Hermione – interrompeu Harry ficando seriamente preocupado – ele acabou de salvar a minha vida.

 

- E eu com isso! – gritou ela - eu não quero saber o que ele fez! Semanas e mais SEMANAS... – ela parecia simplesmente bloquear o que Harry ou Rony diziam. - Poderíamos estar mortos! MORTOS! – berrou encarando Rony novamente. Os olhos dela pareciam querer saltar das órbitas, e nem mesmo ela reconhecia o tom agudo dos seus gritos.

 

Hermione realmente não se importava. O que quer que Rony tivesse feito não fazia a menor diferença para ela. Um ato heróico, entre tantos, não amoleceria seu coração, afinal ela jamais havia duvidado da coragem e da capacidade dele. Ela o admirava por sua coragem desde o primeiro ano em Hogwarts, quando ele a salvara daquele trasgo e se sacrificara naquele jogo de xadrez bruxo para ajudar Harry, portanto os feitos heróicos de Rony definitivamente não importavam no momento.

 

- E você acha que eu não sofri, que não me penalizei todos os dias e todas as noites por ter sido um completo idiota? – urrou Rony, abafando a voz de Hermione e se aproximando pela primeira vez do escudo. – você não sabe o que eu passei...

 

- É mesmo? Nós não sabemos o que ele passou, Harry – ironizou se virando para Harry e cruzando os braços com força, voltando, em seguida, a encarar Rony – então, Weasley, o que você passou? – a voz dela estava tão aguda que os garotos mal conseguiam entender o que ela dizia.

 

- Não importa... realmente não importa – disse agora tentando controlar o misto de sentimentos que o tomavam. – Mas eu quis voltar no momento que aparatei...

 

 

- E como nos achou agora? – perguntou num tom cheio de acusação, cruzando mais uma vez os braços com ferocidade. Harry pareceu intrigado também, olhando-o com expectativa.

 

- Com isto. – ele retirou um objeto que estava no bolso e o ergueu.

 

- O desiluminador? – perguntou admirada, esquecendo de demonstrar toda sua ferocidade com o garoto. – Mas... como...?

- Eu não sei exatamente como funciona... só sei que foi ele que me trouxe aqui. Eu estava escutando o rádio, e então de repente escutei a sua voz – ele olhou para Hermione.

 

- Você me ouviu pelo rádio? – perguntou confusa e incrédula.

- Não, eu ouvi sua voz saindo do meu bolso. – ele tornou a erguer o desiluminador.

- Mesmo? E o que foi que eu disse? – perguntou novamente irônica.

- Meu nome! “Rony” Como um sussurro. – O ruivo esboçou um breve sorriso com a lembrança. - E... alguma coisa sobre varinhas. Então eu o tirei do bolso e uma luz prateada surgiu, e tive certeza de que aquela luz me levaria até vocês. Foi algo meio maluco, confuso, mas eu simplesmente fui envolvido por ela, senti meu peito se aquecer de uma forma boa e reconfortante, e soube que aquela luz prateada saberia onde me levar.

Os olhos de Hermione estavam extremamente brilhantes agora e ela parecia fazer muito esforço para não piscar, pois sabia que se o fizesse as lágrimas escapariam e rolariam soltas pelo seu rosto, e ela definitivamente não queria dar o braço a torcer, não agora! Virou o rosto para o lado, evitando continuar encarando Rony.

 

- Quando meus pés tocaram o chão, senti minha certeza se esmaecendo lentamente, mas continuei andando, mesmo sem saber para onde ir ou como encontrar vocês; foi quando vi a corsa.

 

- Viu o quê? – perguntou Hermione, voltando a olhar na direção de Rony e só agora vendo a espada de Gryffindor em sua mão, estivera tão cega pela raiva que sequer prestara atenção ao que ele carregava. – E o que vocês estão fazendo com a espada? Como... como a encontraram?

 

Os garotos se entreolharam e começaram a contar tudo que acontecera desde o momento em que Harryviu a corsa prateada, até o momento em que Ronyperfurou o medalhão com a espada. 
E Rony agradeceu intimamente por Harry ter omitido o que o medalhão lhe disse e mostrou antes de destruí-lo.

Decidindo que era seguro, pois a expressão de Hermione havia abrandado consideravelmente, Harry removeu o feitiço escudo com um aceno de varinha.

Hermione se levantou, o coração batendo furiosamente dentro do peito, suas pernas ainda pareciam fracas demais para sustentar seu corpo. Rony se encolheu apreensivo quando notou que ela andava em sua direção, Harry ergueu a varinha, preparado para gritar “protego” a qualquer momento, mas deixou o braço pender frouxo ao lado do corpo quando Hermione se jogou nos braços de Rony.

Ela havia desejado abraçá-lo e beijá-lo desde que o vira parado, molhado com aqueles olhos azuis a perfurando sem piedade. Continuava agindo apenas seguindo seus instintos, e foram eles que a levaram até Rony e a fizeram beijá-lo diretamente na boca.

 

O ruivo demorou alguns instantes para perceber que estava sendo beijado pela garota, mas não precisou mais que dois segundos para envolvê-la pela cintura e corresponder ao beijo com o mesmo ardor e entusiasmo. Os lábios dela se moviam sobre os seus como se tivessem sido projetos especialmente para beijá-lo. Hermione o beijava de forma tão urgente que ele a ergueu no chão, desesperado para corresponder o beijo a altura e fazê-la entender o quão havia desejado aquele momento.

 

Depois de alguns minutos, em que ambos ficaram completamente envoltos pelas sensações que um provocava no outro, se separaram. Os dois muito vermelhos e respirando com certa dificuldade. Rony ensaiou um sorriso, quando notou o olhar furioso de Hermione e algumas lágrimas escapando pelo canto dos olhos.

 

- Fique longe de mim, Ronald! – Hermione se afastou com as bochechas muitas coradas, andou até a cama e se tapou com o cobertor até o topo da cabeça.

 

Rony ficou parado, aparvalhado, no meio da barraca, tentando entender o que havia acabado de acontecer.  Maneou a cabeça para o lado e só então se lembrou de que Harry ainda estava lá. Seu amigo parecia tão ou mais assustado do que ele.

 

- Garotas! – Disse coçando a cabeça sem graça.

 

Harry apenas sorriu.

 

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N/B por Viviane Barreda

Eu amo a forma como a Hermione é dura, não só com ele, mas com ela mesma, ela é uma mulher de fibra e princípios... hehehe... E o Ron mereceu, não é? Cada soco, cada olhar desdenhoso e especialmente o beijo... principalmente o beijo caloroso e confuso num momento de emoção objetiva, Ron ficou com cara de “ela é maluca estou te dizendo”.

Eu sempre quis que essa cena terminasse com um beijo, eis que a Di ez acontecer!!

 

Espero que todos tenham gostado, e não esqueçam de deixar os comments no Menu da Fic!!

Mil Bjs,

Vivi

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N da A: É tão bom estar aqui de novo... Ron e Hermione sempre deram cor aos meus dias, ter eles por perto de alguma forma faz com que me sinta viva. A FeB se tornou durante muito tempo meu refúgio, meu cantinho mágico, onde podia divulgar minhas fics, compartilhando com vocês esse amor desmedido.

Fiquei muito tempo sem escrever por motivos pessoais. Na verdade, ainda me sinto um pouco perdida, mas mesmo diante de todos os contratempos, nunca deixei de desejar fervorosamente voltar a escrever sobre o casal mais irresistível da literatura :)

Essa one não é um texto inédito, eu apenas adaptei um capítulo de DFI. Acho que sempre quis que Hermione se jogasse nos braços do Rony, embora sempre achasse que ela deveria mesmo tê-lo espancado e sido fria com ele, afinal ele mereceu cada soco.

Enfim, sempre tive a impressão de que ela foi tomada por uma confusão de sentimentos quando percebeu que ele havia voltado.

Bem, estou feliz em estar de volta. Muito obrigada a todos que leram e que me apoiaram ao longo desses meses...

Agradecimentos mais que especiais a Viviane pela betagem.

Beijos
Disomers 

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