Segredos



Um raio de sol atravessava a espessa nevoa da manha, e entrava pela minúscula brecha da cortina na sala de Severo, despertando-o. Lily, em seus braços, observava-o dormir, como sempre. Eles sorriram um para o outro, e ela o abraçou, enfiando a face na cavidade de seu pescoço. Ele encarava o teto agora, passando suas mãos em suas costas e no longo e macio cabelo ruivo.


Nenhum dos dois queria sair dali, mas eles não precisavam falar para saber, se entendiam em cada mínimo gesto, toque e olhar.


Severo sentiu as lagrimas de Lily correrem por seu peito nu. Abaixou o olhar e segurou o rosto dela nas mãos.


–Lily...eu sinto muito. – e beijou-lhe o topo da cabeça.


Aos poucos eles concordaram em levantar, e colocaram suas roupas de novo. Ele não pode deixar de reparar que o cabelo vermelho vivo contra a pele branca que sempre fora impecável, agora, mesmo brilhando, parecia desbotado, e que Lily parecia mais magra.


Ela se sentou de volta no sofá, ele foi até o armário, pegar uma bebida, e enchendo duas taças, sentou-se com ela.


Eles se olharam por um instante, e ela respirou fundo.


–Severo... Eu... Eu tenho que... – falando rapidamente, em lufadas de ar, como se estivesse prestes a chorar de novo, ela mexeu as mãos rapidamente e fez um movimento para começar a se levantar.


–Não, Lily, não precisa ser assim. – ele olhou para ela longamente, analisando se deveria ou não falar. Mas ele não tinha nada a perder. - Nós podemos ficar juntos! Não... Não se mate pela criança. – disse-lhe, gentilmente, olhando em seus olhos e segurando sua mão, escolhendo as palavras com cuidado.


–Sev, eu já tomei minha decisão. – ela mordeu o lábio.


–Então por que veio aqui? – perguntou, irritado por um momento, mas em segundos já se arrependia da rispidez de suas palavras. E culpado pelas lagrimas que agora escorriam pelo rosto dela. De novo. Ele não vira Lilian chorar muitas vezes, mas em todas, sem exceções, ele se sentia desesperado e impotente. Aquela vez não era diferente, mas... Era muito. Quando ela chorava, era tudo de uma vez, e então acabava. Fim, não havia, como ela mesma dizia, mais motivo para lamentar o que já acontecera. Sua cabeça se erguia e ela seguia em frente. Mas morte não era uma sentença da qual se podia esquecer.


Entretanto, não era este o único motivo das lagrimas desesperadas dela. O maior deles talvez, e suas consequências, mas não o único.


– Sev, eu... – Ela tomou folego, tentando fazer com que a coragem que a tinha feito vir aqui voltasse - Er, primeiro eu preciso de ajuda no feitiço, e pensei que você poderia me emprestar algum destes livros...eu nunca fui boa em historia da magia, magia antiga e este tipo de coisa – disse-lhe, olhando em volta, com um leve sorriso no rosto, lembrando-se de como os dois costumavam estudar juntos, e como ele sempre a ensinara magia antiga, poções, defesa contra as artes das trevas...


–Então, você realmente veio aqui para acabar comigo de novo, certo?- As palavras escaparam por seus lábios tão sem querer, que imediatamente ele se arrependeu. Ela não. A magoara, logico, mas realmente parecia a verdade, e ela lamentava mais do que tudo sua decisões. Ele também lembrava dos estudos, mas lembrava de como tudo acabara, ele não queria aquele sentimento de novo. Tinha decidido lidar com aquilo depois, mas a visita de Lily acabara de mudar de rumo, e ele, como tantas vezes antes, sentia-se usado. Era de mais para ele que quando ele finalmente tinha conseguido se distanciar de seus sentimentos tudo acontecesse de novo. Todavia, por mais que ela precisasse sim de ajuda, uma vez mais, havia mais coisas que nunca poderiam ser esquecidas. Como o que ela sempre sentiu por ele.


–Não, não, Sev... Eu te amo, mas você sabe que principalmente agora não temos mais chances juntos. – disse ela, apressadamente.


Severo segurou as lagrimas, sabia que a culpa era inteiramente dele, e por isso nunca a teria. Ela reconheceu a expressão em seu rosto, ela pôs uma mão sobre as dele, e disse suavemente:


–Não é sua culpa Sev...


–Claro que é! Claro que é, Lily! Se eu não tivesse sido estupido e covarde nada disso teria acontecido! – gritou. – E talvez, se nada disso tivesse acontecido, nós poderíamos ter um futuro juntos!


–Teria acontecido de qualquer maneira, Severo. Você vai me ajudar? – ela estava determinada a cumprir o que viera aqui fazer, e não conseguia ignorar a raiva que começava a se espalhar pelo seu corpo, não só dele e de todo aquele sentimento de culpa, mas dela mesma.


–Por que eu te ajudaria a se matar pra salvar uma criança que...


–Sev... Não continue, por favor. Só... Por favor?


–ME DE UM MOTIVO! – disse ele, explodindo. – QUALQUER UM PARA TE AJUDAR NESSA INSANIDADE! – ele não podia mais lidar com aquilo, sabia que ela preferiria o filho e não teria palavras para contraria-la, nem queria, mas também não seria capaz de ajuda-la a se matar.


–ELE É SEU FILHO! – e então Lily começou a chorar copiosamente. A verdade finalmente viera a tona e fora mais difícil pronunciar as palavras do que deveriam ser. Talvez pelo simples fato de que eles nunca poderiam ser uma família, e de que ambos sabiam que esta historia teria um fim trágico.


As palavras atingiram Severo como uma facada, e o choque impediu que ele se movesse por alguns minutos. Quando ele conseguiu focalizar Lily de novo, ela chorava ainda mais do que antes. Ele a abraçou, deixando-a chorar.


–Lily... Não é possível. – ele lhe disse, fazendo as contas, quando ela se recompôs – É?


Ela acenou com a cabeça e ele entendeu: ela já tinha feito aquilo, já havia contado um milhão de vezes, antes de pensar em dar a noticia.


–Desde quando...? – ele perguntou, sem conseguir terminar as frases.


–Sempre soube. - disse ela, com um olhar suplicante.


Ele não precisou discutir, sabia o porquê ela havia por tanto tempo escondido aquilo. Eles não poderiam ficar juntos, e com ela esperando um bebe dele, seria suspeito e errado. Não precisava de explicações, e não havia por que ficar nervoso. Pelo menos era o que sua mente dizia, sendo que ele mal sentia seu corpo. Ele sabia o que fazer, pela primeira vez na vida, e entendia Lily.


Ele assentiu, levantou-se e foi até a estante mais distante do sofá, pegando um dos livros antigos na ultima prateleira, e sem palavras, entregou-o a Lily.


Ela murmurou um ‘’obrigada’’ de volta, e começou a ir para a porta.


–O que vai acontecer? – Ele perguntou, mas ele sabia a resposta. Ele sabia o desfecho deste conto, afinal de contas. Ela também, entretanto, para que se martirizar se ainda lhe restavam algumas horas... Quem sabe até dias. E ela respondeu sem se virar:


–Não sei, Sev...


–Lily! – severo a chamou, quando ela já estava com a mão na maçaneta, e ela se virou. – Você se lembra... Qual foi a ultima coisa que te disse na ultima vez que nos vimos?


Ela balançou a cabeça afirmativamente, e ele a abraçou murmurando em seu ouvido: Eu te amo, Lily. Em cada momento e para sempre.


– Eu te amo, em cada minuto, a cada respiração minha, e enquanto alguma coisa ainda existir neste universo.



Eles se afastaram, e ele a deixou ir. Depois de alguns minutos, Snape elevou sua varinha ao ar e dela se soltou a corça prateada, que graciosamente atravessou as paredes em direção a Lily. Ele viu-a entrar na sala alguns minutos depois, mas sabia que esta não era a sua. Era Lily, acendendo, uma vez mais, uma chama de esperança, uma lembrança. Porém, na manha seguinte, ela estava morta, e assim estava uma parte de mais duas pessoas.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
n/a: Entããão gostaram? me contem nos reviews, combinado? haha obrigada por ler, um beijo
Ju 


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.