Always



O céu cinzento se rompia em relâmpagos violentos, que, por segundos traziam alguma luz ao negro dia. Poças se formavam nas ruas estreitas e sombrias, construindo um espelho quase ininterrupto, refletindo o caos acima de si, como se as nuvens agora tomassem forma no chão, misturando-se com a doce e densa nevoa, e como se relâmpagos partissem de todas as direções, prontos para ferir a qualquer um.


Era um dia tempestuoso, frio, e para a maioria das pessoas isto significaria que ficar em casa seria uma boa opção. Ainda assim uma figura esguia e encapuzada andava rapidamente por entre as poças. Seu andar em meio à agua era gracioso, e seus desvios e tropeços ocasionais se assemelhavam a uma dança, não contra, mas com os raios.


A cena pareceria assustadora a qualquer um, porém ao vê-la Snape somente sorriu. Ele realmente queria que ela o viesse visitar. Ele andou até a porta, e abriu-a no exato momento que a figura pôs os pés na calçada. Ela andou até a soleira da velha porta de madeira escura, e abaixou seu capuz, revelando seu longo cabelo ruivo. O sorriso malicioso na face dele se dissolveu rapidamente ao observar os olhos verdes esmeralda sempre radiantes, descerem ,evitando contato visual.


Snape deu um passo para trás e permitiu a entrada dela. Ele virou em sua direção, esticando o braço e colocando sua mão sob a face dela, e obrigando-a a encara-lo. Então ele percebeu; Os olhos vermelhos, a cor verde levemente acentuada, o pequeno inchaço em suas bochechas... Ela havia chorado.


Ele baixou sua mão e deu um passo preocupado em sua direção, abrindo os braços. Ela imediatamente se atirou neles.


-Lily... O que aconteceu?


Ela somente balançou a cabeça negativamente, enterrou a mesma em seu peito e deixou as lagrimas fluírem. Ele apertou os braços ao seu redor, querendo desesperadamente fazer qualquer que fosse o problema dela desaparecer por entre a nevoa.


Após algum tempo ela se desvencilhou do abraçou, mordendo o lábio e limpando o rosto com as costas da mão, e então se sentou no sofá, curvada sobre si mesma, com os cotovelos apoiados nas coxas e o rosto sob as mãos. Ela deixou as mesmas correrem por seus longos cabelos enquanto olhava para cima. Ele se sentou ao seu lado, colocando sua mão sobre o ombro dela, massageando-o de leve, como só ele sabia, para acalmar Lily.


Ela respirou fundo por um momento, e, evitando olhar nos olhos dele disse:


-Sev... É melhor que... Que nós paremos de nos ver. – Uma lagrima rolou em sua bochecha ao pronunciar a frase pensada com tanto cuidado, e ela limpou-a rapidamente, tentando disfarça-la, e conter as outras. Mas ela nunca fora boa nisso.


O choque tomou conta de Snape. Depois daquele quatro meses se encontrando as escondidas ele realmente achava que os dois tinham uma chance. Dor. O que ele havia feito para perder a única pessoa que amara em toda sua vida? Sim, claro, ela era casada, mas todos sabiam que ela e James não estavam tão bem assim. Se ao menos ela tivesse pensado antes de dizer ‘sim’ talvez eles estivessem juntos há anos... Mas não importava, foi por isso que eles decidiram tentar, por isso decidiram continuar o caso começado em um reencontro que havia saído controle dos dois, somente mostrando-lhes o verdadeiro sentimento do amor. Qualquer possibilidade de felicidade valia a pena e ele achava que um dia os dois ainda acabariam juntos, e que James seria esquecido como mais um erro cometido no passado, como tantos outros. Como a vez em que ele a chamara de sangue ruim, como a vez em que ela o ignorara por boatos muito tolos para serem contados ou acreditados, ditos por James...


Lilian notou a tristeza de Snape. Ela se identificava com ele, gostaria tanto de nunca ter tomado decisões imprudentes, de te-lo perdoado mais cedo... Entretanto, não tinha escolha.


-Sev, eu estou grávida.- ela olhou para ele, os olhos cheios d’agua.


A compreensão atingiu Severo como um balaço. Era definitivo, então. Ela simplesmente não poderia ficar com ele, não tendo um filho, um filho do Potter. Ele sabia, ela seria uma ótima mãe, e para isso faria sacrifícios. E ele nunca a faria escolher entre ele e seu filho.


- Sev? Me responde uma coisa com toda a sinceridade do mundo? – perguntou ela, a voz falhando com a insegurança.


Demorou um segundo até que ele encontrasse sua voz.


-Sempre, Lily. – disse-lhe com certo receio.


- Você me acha louca? – ele abriu a boca, mas ela o interrompeu com um aceno da mão, e falando mais rápido a cada segundo tentou se explicar – quer dizer, este sempre foi meu maior sonho, uma família, filhos... Mas, sev, eu não queria te perder. Tudo parece tão... Tão errado com James e com aquele tipo de família. E, ao mesmo tempo... Eu, eu não posso continuar com isso, tendo um filho! Eu quero estar presente, você me conhece... Ser uma mãe... Exemplar – ela bufou com a palavra. – Eu só... Não consigo! Não consigo escolher, e nem posso! Não posso desistir deste filho e... argh, eu só queria... – ela suspirou – eu só queria ter feito outra escolha, por que agora não tenho como...


- Eu nunca a faria escolher, Lily. E Você não é louca. – Ele sabia que não havia alternativa. Queria poder lhe dizer que havia alguma chance. Queria dizer que ela nunca o perderia, mas por mais que fosse verdade, de nada adiantaria, e ele não achou sua coragem para pronunciar as palavras que dariam alguma falsa esperança que poderia vir a se tornar alguma ideia na mente dela. Alguma ideia que nunca daria certo e somente partiria mais um pouco o coração dos dois. Eles se olharam tristemente por um momento, contendo as lagrimas.


Levantaram-se silenciosamente, e seguiram para a porta, ele a abriu, e ela saiu, sem olhar para trás. Ele voltou a janela, e a observou andar até a metade de sua calçada, sem se incomodar em colocar o capuz. Ela parou em frente à velha cerca da casa, e olhou para trás, e em seguida para ele, na janela, tristemente.


Ele não se conteve, correu a porta, e abrindo-a sem se importar em fecha-la, correu em direção a ela.


Na chuva, os dois se abraçaram, e segurando seu rosto entre as mãos, ele a beijou, sem temores ou restrições. O momento durou pouco, mas para os eles, ambos sem se importar em ser vistos, seria para sempre a mais importante lembrança.


Ele a olhou dentro de seus olhos como se visse sua alma, e sussurrou-lhe:


-Eu te amo, Lily.



Ela o olhou, e mesmo sem pronunciar as palavras, Severo sabia que era reciproco. Lentamente ele afrouxou seus braços, e a deixou ir. Ela deu dois passos para tras, e se virou, andando de novo na chuva, e olhando para tras ocasionalmente, sem se importar em pisar nas poças, observava-o, parado na chuva, as lagrimas lentamente escorrendo por seu rosto.


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