Olhe para ela
LOOK AT HER
Olhe para ela. Vamos, Ronald, olhe para ela. Levante a cabeça e olhe para ela. Vamos... Não pode ser tão difícil assim.
Ronald Weasley levantou a cabeça bem devagar - com um esforço exagerado, diga-se de passagem – e olhou para ela. E desviou o olhar mais rápido do que achava necessário.
Qual é a dificuldade em olhar para ela? É uma garota comum! É só uma garota.
O ruivo olhou novamente para a garota. Desfrutou daquele ínfimo segundo de coragem que havia arranjado sabe-se lá de onde. E desviou o olhar de novo. Pelo menos, dessa vez, você olhou uns dois segundos a mais do que a primeira vez.
Ronald Weasley! Olhe para ela. Não é tão difícil. Olhe para ela. Ela é bonita e gentil. Vai valer a pena. Agora, levante a cabeça e olhe para ela.
O garoto levantou a cabeça novamente. Tomou coragem e olhou. Olhou e sentiu aquele arrepio característico de quando olhava para ela. Seu impulso foi desviar o olhar, mas ele forçou-se a olhá-la.
Cabelos cacheados e castanhos, olhos castanho-escuro (beirando o negro), lábios cheios e rosados, nariz fino, maças do rosto acentuadas. Um rosto típico da Inglaterra. Ela tinha belas mãos. Um ar de garota inteligente. A teimosia não era visível naquele momento, embora Rony ache sua teimosia um charme.
Bonita, ele concluiu.
Desvie o olhar! Desvie o olhar! Ronald, desvie o olhar!
- O que foi, Rony? – Hermione perguntou, ligeiramente irritada.
- Nada.
- Como “nada”? Você está me olhando de um jeito estranho.
- Não estou.
Hermione deu de ombros e voltou sua atenção para o livro que estava lendo.
Era uma tarde de começo de inverno. Batia uma brisa gelada. Ambos estavam sentados no jardim, sendo que Hermione estava bem agasalhada com um moletom azul escuro, enquanto Rony estava distraído demais para sentir frio.
Mas que droga! Hermione o havia distraído de seu exercício. Um exercício de merda, se permitem que se use esse vocabulário. Porque ele precisava desse exercício? É simples. Ronald não conseguia olhá-la nos olhos desde que soube do maldito baile de inverno.
Porque? Essa era uma boa pergunta.
Talvez ele pretendesse convidá-la. Ou não. Porque a convidaria? Ela era, basicamente, um rato de biblioteca. Pior! Ela era o rato de biblioteca mais lindo que ele já vira.
Ora, e desde quando isso era importante? Nunca foi. Não tinha porque ser.
Então porque você não consegue olhá-la?
Ronald levantou a cabeça e olhou-a. Um arrepio irritante subiu pela sua espinha, fez seu coração dar pulos e se instalou em seu estomago, fazendo-o dar voltas. Não era algo confortável.
Ele voltou a desviar o olhar para a grama. Ocupou seu tempo tentando arrancá-la do chão, sem muito sucesso.
Bobagem. Não precisava olhá-la. Para que isso lhe serviria? Ele nem pretendia convidá-la para o baile. Duvidava que Hermione soubesse dançar. Duvidava até que ele soubesse dançar. E Ronald não precisava convidá-la, afinal, se ele não o fizesse ninguém mais o faria. Ninguém queria ir ao baile com um rato de biblioteca.
Mas você quer.
Não, ele não queria.
Você sabe que sim.
Não, ele sabia que não.
Então olhe para ela. Nada vai lhe acontecer mesmo.
Mas antes que Rony pudesse fazer qualquer movimento, Hermione estremeceu ao seu lado. Foi uma coisa inesperada, uma coisa sem sentido, sem motivo. Talvez fosse por causa do livro. Pode ser um livro de terror e ela esta com medo. Ou pode ser um livro de romance e ela está emocionada. Ou talvez seja por causa do frio.
Porque não tira a prova? Olhe para ela.
E Ronald olhou. E congelou naquela posição. Hermione também o olhava, estupefata. Seus olhos haviam se encontrado tão bruscamente que nenhum deles sabia o que fazer.
O livro escorregou do colo da garota, mas ela não se preocupou em recuperá-lo. Ronald passou seus olhos pelo rosto de Hermione, sentindo uma série de arrepios irrompendo de sua coluna.
Olhou para sua boca, rosada de lábios cheios, os dentes mordiam o lábio inferior por algum motivo. Nervosismo talvez.
Olhou para os olhos castanho-negros. Contou cada um dos cílios que contornavam aqueles olhos. Viu que alguns cachos caiam-lhe pela face.
Rony estendeu a mão e colocou os cachos atrás da orelha dela.
A morena corou.
- Huum... – fez ela, constrangida. – Ah, você viu o Harry?
O ruivo balançou a cabeça negativamente, não querendo recolher a mão do rosto de Hermione, sem prestar realmente atenção à pergunta.
Não vai tirar a mão dai?
Ele precisava tirar?
Bem, foi só uma sugestão.
Qual o sentido em sugerir isso?
Nenhum. Mas, conhecendo você como conheço, achei que esse gesto não duraria muito tempo.
Ouvir a consciência é algo obrigatório?
Não. Mas existe um motivo para você querer continuar com a mão ai.
Ora, ele não precisava de motivos. Se quisesse, Rony poderia ficar com a mão ali para sempre.
Se quer tanto ficar com a mão ai, então porque não a beija?
Isso é obrigatório?
Vamos. Eu sei que você quer.
- Talvez, Harry esteja procurando alguém para ir ao baile – chutou Ronald, a mão ainda no rosto da amiga.
Hermione segurou a mão de Rony e retirou-a gentilmente de seu rosto. O toque macio das mãos dela, fez o coração do garoto pular e parar e voltar a bater. Como ele havia dito, ela tinha belas mãos.
Com medo de não ter outra chance como aquela, Rony segurou a mão de Hermione antes que ela pudesse soltá-la.
- É, talvez esteja mesmo. – disse Hermione.
Você devia fazer o mesmo...
Ele devia?
Convide-a para o baile.
Ronald franziu a testa em concentração. Eles ainda se olhavam.
- Você devia fazer o mesmo. – disse ele, em voz alta.
Hermione pareceu despertar de um devaneio.
- Fazer o que?
- Procurar um par para o baile.
A garota riu, sem graça.
- Não são os garotos que procuram pares no geral? – perguntou.
- Sim... Mas no seu caso, acho que você deveria procurar. – disse, sem saber exatamente o porque de ter começado aquele assunto. Ele deveria tê-la convidado, só isso. Porque era tão difícil?
Hermione puxou a mão que o ruivo segurava e recuperou seu livro, voltando a folheá-lo.
Ótimo! O que mais pretende dizer à ela?
O que ele deveria dizer?
Peça desculpas, o que mais?
- Desculpe, Hermione, não foi o que eu quis dizer.
- Mas já disse.
Ronald abaixou a cabeça, triste por ela ter desviado o olhar e envergonhado por ser um imbecil sem igual.
- Posso, pelo menos, voltar a segurar sua mão?
- Me dê um motivo plausível. – pediu uma Hermione irritada.
O garoto deu de ombros.
- Não acho que tenha um.
Hermione levantou a cabeça e olhou para ele, apenas para lhe mandar a língua, fazendo cara feia.
Rony aproveitou a oportunidade e acariciou-lhe o rosto, como fizera antes. A garota tirou a mão de seu rosto com brutalidade.
Eu tenho a solução.
Então que dissesse à ele!
Porque não a beija?
Ronald voltou a estender o braço e tocar-lhe o rosto. Mas antes que ela pudesse tirar a mão dele, o menino usou a mão para trazer o rosto de Hermione para perto.
E, sim, por incrível que pareça, ele a beijou. Pode até parecer impossível e improvável, mas é a mais pura verdade. É verdade também que vários arrepios passaram pelo corpo inteiro de Ronald Weasley. A pele dele se arrepiou. Foi como se milhões de fagulhas explodissem de uma vez dentro do coração dele.
Hermione deixou escapar um suspiro e movimentou seus lábios em sincronia com os de Rony, passando os braços pelo pescoço dele apaixonadamente, sentindo os braços do garoto enlaçarem sua cintura, sentindo seu corpo quente em contraste com o vento frio do inverno.
Harry, que se aproximava, à procura dos amigos, até sorriu e virou-se para ir embora, sem querer se fazer notar.
A língua de Rony tomou seu lugar na boca da garota, arrancando-lhe um novo suspiro. Ela fez o mesmo, tornando o beijo ainda mais prolongado. Foi correto, foi bonito. Foi interessante e incrivelmente presunçoso.
A morena sugou-lhe os lábios, antes de se separar do ruivo, desnorteada. Se estivesse de pé, teria cambaleado.
Incorrigivelmente corado, Ronald lhe deu um último selinho e soltou-a gentilmente, voltando a olhar para o nada, encostado na árvore, seu coração a mil.
Hermione, confusa, pensando no que havia feito de errado, voltou sua atenção para o livro.
Olhe para ela. Vamos, Ronald, olhe para ela. Levante a cabeça e olhe para ela. Vamos... Não pode ser tão difícil assim.
Comentários (3)
O Rony "viajou" enquanto buscava coragem para convidar Hermione a acompanhá-lo ao baile? Seja como for, é uma linda fic!
2012-10-20Um sonho...? Uma realidade tão fantástica que chega a parecer um sonho ou quem sabe uma bela visão do futuro? Parabéns! Bela fic :)
2012-10-17Thomas, Thomas... Essa fic tinha que ser sua.
2012-04-08