Clube do Coral



Clube do Coral


Sirius POV:


- Ih, que cara de enterro é essa, Pontas? – perguntei para ele, enquanto tomávamos café da manhã no Salão Principal. Parecia abatido, meio aborrecido.


- Nada. – ele resmungou, brincando com o ovo em seu prato.


- Acho que esse problema começa com "L". – Aluado riu.


- Tenho certeza. – Rabicho completou.


- O que aconteceu dessa vez? Tá carente? – brinquei.


- Eu sou estúpido. – ele disse enfim, soltando um longo suspiro.


- Ih, tá depressivo. – eu ri.


- Ontem eu tentei beijar a Lily. – ele soltou.


- Você o quê? – Remo disse surpreso. Parei de comer pra encará-lo.


- Tentei beijar a Lily. – ele suspirou novamente. – Sou tão idiota! Por que fui fazer isso?


- Eu é que pergunto. Por quê? Onde vocês estavam? – perguntei.


- Na sala comunal. Depois que eu encontrei ela pendurada...


E ele começou a contar toda história, e eu ria a cada detalhe, imaginando a cena da Lily pendurada e vomitando na janela. Vou me lembrar de não passar perto de alguma janela do terceiro andar hoje.


- E foi isso. – ele finalizou.


- Amigo – comecei –, você é muito burro.


- Eu sei.


- Foi um idiota.


- Eu sei.


- Ela nem vai olhar na sua cara hoje.


- É, eu sei.


- Tenha calma, Pontas. – Aluado dizia, voltando a leitura de seu precioso Profeta Diário, que mais parecia a biografia de Lord Voldemort. – Com o tempo você vai recuperando o tempo perdido.


- Preciso achar um jeito de me aproximar dela. – Pontas falou, pensativo.


- Só se você fosse monitor como o Aluado. – Rabicho disse.


- Ela é legal e simpática, você só precisa achar um jeito certo de falar com ela. – Aluado bebericou seu suco.


- Fácil pra você falar, já que não desgruda dela. – Pontas disse, ciumento.


- E por falar no diabo... – eu ri.


Lílian vinha caminhando meio sonolenta, bocejando. Quando nos viu, lançou um pequeno sorriso para Aluado, ignorando a mim e Pontas. Ela tinha que ver Pontas!


- Ei, Senhora Pendurada! – exclamei, entre risos. Eu sentia Pontas me fuzilar com o olhar.


Ela parou e olhou pra trás, enfurecida. Caminhou lentamente até nós com o olhar de poucos amigos. Pelo menos agora ela olhava pra Pontas.


- Detenção, Potter. – disse simplesmente. James arregalou os olhos.


- O quê... mas o que foi que eu fiz?


- Por ficar perambulando de noite!


- Mas eu te salvei!


- Mas não precisava espalhar pelo castelo inteiro!


- Eu não espalhei pro castelo inteiro! – Pontas protestava.


Lílian me encarou significantemente, e deu as costas.


- Obrigado, Almofadinhas. – Pontas disse irritado. Pegou sua mochila, jogou nas costas e caminhou pra fora do Salão Principal.


Aluado e Rabicho me olhavam deprimidos. Balançaram a cabeça e voltaram a ler e comer.


- O que foi? – perguntei inocentemente.


Droga.




Maria POV:


Lílian se juntou a nós na mesa com a expressão aborrecida.


- O que foi dessa vez?


- James Potter. – ela balançou a cabeça, se servindo de pão.


- O que tem ele? – perguntei despreocupadamente; a história sempre se repetia.


E ela começou a me contar uma história louca de ontem a noite. Fui dormir cedo, portanto não a vi voltar, supondo que ela ainda fazia a ronda. A medida que ela contava a história, eu ficava cada vez mais risonha.


- Por favor, não conte a ninguém! – ela pediu.


- Certo, mas peraí... – comecei, raciocinando. – Ele tentou de beijar?


- É. Aquele estúpido, arrogante e imbecil. Eu sabia que aquela máscara de pessoa responsável ia cair logo logo. Quero dizer, o que ele fazia a noite naquelas horas? Devia tá aprontando alguma coisa, aquele ogro, infeliz...


- Se acalma, Lily. – eu ria. – Ele só tá apaixonado.


- Ele gosta é de me atormentar a vida. – ela revirou os olhos.


McGonagall começou a entregar os horários ao longo da mesa. Alice apareceu correndo e arfando na mesa, a tempo de pegar o seu.


- Perdi a hora! – ela disse, ofegante. – Odeio ser esquecida...


- Hoje vamos ter aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. – Lílian comentou, passando os olhos pelo horário.


- Estou ansiosa pra ter aula com aquele professor gato! – exclamei entre risos, e Lily riu também, me dando uma pequena cotovelada.


- Ele é lindo mesmo. Mas o assunto de agora é Jason McKinnon. Todas as garotas andam se derretendo por ele. – Alice comentou.


- McKinnon? – Lílian perguntou. – Irmão da Sophie McKinnon?


- Esse mesmo. Está lindo. – Alice disse entre risinhos.


- Ele é inteligente. – Lílian disse. – Mas com certeza a fama já deve estar remoendo a cabeça dele, como certas pessoas daqui. – e lançou um olhar para onde apenas três dos marotos estavam sentados.


- Não me lembro desse tal de Jason. – eu disse vagamente. – Nunca prestei muita atenção.


- Claro, antes ele era tão magro que era quase invisível. – Alice brincou.


- James Potter também não é de se jogar fora. – respondi e olhei diretamente pra Lily, que fingiu prestar atenção em seu horário.


- Sem dúvidas, afinal ele é um maroto, não é? – Alice me apoiou.


- Sim. Um ótimo jogador de quadribol, inteligente, esperto, talentoso...


- Ok, é melhor nós irmos. – Lílian disse rapidamente. – Temos Transfiguração no primeiro tempo.


Eu e Alice rimos, e então acompanhamos Lílian pra fora do Salão Principal.




Sophie POV:


- Droga! Droga, droga! – eu repetia, desesperada.


Todo primeiro dia de aula eu perdia a hora. Sempre foi assim desde que entrei em Hogwarts. Agora não acho minha pena nem meu livro de Herbologia. Tô perdida.


Dorcas é uma amiga tão fiel que acordou e não me chamou. Emelina deve ter acordado muito cedo, como sempre fazia.


Desci meio atordoada as escadas em espiral. A Sala Comunal estava vazia. Merlim, eu nem sabia meu horário! Tenho que achar McGonagall.


Mas parecia ter mais um atrasado junto comigo. E pra minha surpresa era um dos marotos, Sirius Black, também descia as escadas, segurando um livro que supus que ele havia esquecido.


- 'Dia. – ele disse quando me viu.


- 'Dia. – falei enquanto ele saia para o buraco do retrato; então aproveitei a sorte. – Ei, estou sem horário. Sabe qual a primeira aula?


- Transfiguração. – ele respondeu, e voltou a andar.


Vou arriscar. Acho que era o mesmo que o meu, pois Transfiguração não é uma matéria que eu havia desistido.


Então saí pelo corredor afora.




James POV:


Não consegui me concentrar em nada durante a aula de McGonagall. Primeiro que fora interrompida duas vezes por Almofadinhas e outra garota que chegaram atrasados, fazendo que McGonagall gastasse um bocado de tempo dando-lhes uma bronca – o que é bom, porque gasta minutos da aula. E segundo porque não conseguia tirar Lily da cabeça. Enquanto McGonagall continuava seu discurso sobre os N.I.E.M.'s eu olhava para ela por sobre o ombro. Estava bastante concentrada, não sei se me notou a encarar. Estava sentada ao lado da amiga dela, Maria MacDonald. Lembrei que no quinto ano Aluado tinha uma quedinha por ela.


E então McGonagall encheu o quadro negro, e não deu pra prestar atenção em mais nada, apenas em Almofadinhas rindo de coisas fúteis. Será um longo dia.




Dorcas POV:


Aulas chatas, professores chatos. Fiquei dormindo parte do tempo na aula de História da Magia – sinceramente, não sei por que ainda assisto a essa aula -, e quase fui queimada por uma poção louca e fumegante da minha aula de Poções. Lílian, como sempre, fora a melhor da turma a preparar a poção. Anotei mentalmente sentar com ela na próxima aula.


O sinal tocou finalmente, indicando o almoço. Não estava muito faminta, e sim ansiosa. Porque eu tinha um plano.


É claro que eu não deixaria Jason McKinnon passar despercebido. Tracei todas as táticas ontem antes de dormir. Estava no papo.


Sai na frente de todos propositalmente, para não ter que acompanhar Emelina e Sophie. Eu tinha que fazer isso sozinha.


Fui pra um corredor vazio e esperei um tempo para que o Salão se enchesse um pouco, então fui até lá.


Eu sou uma pessoa muito observadora, confesso. Sempre sei dos costumes e coisas que qualquer um sabe fazer. Por exemplo, sei que James Potter sempre bagunça o cabelo antes da aula de Poções porque sabe que Lílian estará lá; Alaric Newton da Corvinal sempre espirra antes de comer almôndegas; Blaine Zabini gosta de chutar a canela dos outros embaixo da mesa e culpar os outros, e outras coisas completamente desconhecidas.


Jason McKinnon sempre chegava à mesa antes de seus amigos, que por acaso, não sei o nome. Então Sophie conversava um pouco com ele e voltava junto a mim e Emelina. E ele ficava um pouco sozinho até seus amigos chegarem. Sempre observei isso nos anos anteriores, até mesmo quando ele não era cheio.


E, como era de se esperar, minhas observações estavam certíssimas. Ele lia o livro de Poções enquanto mordiscava sua torta de maçã, e estava sozinho. Me aprumei e caminhei até ele, sorridente.


- Posso me sentar? – perguntei com minha voz mais agradável possível.


Ele deu um pequeno sorriso.


- Claro.


Me sentei e balancei meus cabelos, para que meu shampoo de morango ficasse no ar.


- Poções, eh? – puxei assunto. – É incrível. Não sou muito boa, mas queria ser.


- É uma das melhores matérias de Hogwarts. – ele respondeu. – Acho muito interessante. Ainda mais para quem quer ser auror.


- Auror? Uau! – bajulei. – Muita coragem a sua. Poucas pessoas se arriscam assim.


- É meu sonho desde que me entendo por gente. – ele sorriu. Era tão educado! – E você, o que deseja ser?


- Ministra da Magia. – respondi prontamente.


- Boa sorte. – ele respondeu, e voltou à leitura.


Isso não acabaria por aí.


- E então, achando o sexto ano difícil?


- Com certeza não tanto quando o quinto. – ele fez uma careta. – Os N.O.M.'s apertavam muito.


- Assim como os N.I.E.M.'s nesse ano. Espero conseguir suficientes.


- Boa sorte. – ele repetiu.


Cadê o assunto?


Fiquei quieta por um tempo, mas pra minha surpresa, ele que começou a falar.


- Você é amiga da minha irmã, não é?


Ele se lembra de mim, já é um começo.


- Sim. – falei meio sedutora. Ele pareceu perceber, mas não disse nada, pois seus amigos chegaram na mesa.


Me senti totalmente irritada quando ele se esqueceu completamente de mim e se virou para falar com seus amigos. Quem ele pensa que é pra dispensar Dorcas Meadowes?


Isso não vai ficar assim. Se prepare Jason McKinnon, pensei em quanto me levantava em busca de Emelina, você ainda não viu nada.




Franco POV:


- Estou animado com a matéria de Herbologia esse ano – eu dizia a Alice no almoço. – É incrível.


- É mesmo. – ela concordou.


- Vou relatar ao professor Beery todas minhas descobertas de plantas raras da América do Sul. Acha que ele vai gostar? – perguntei.


- Aham. – ela disse, e parecia entediada.


- Algum problema, Alice?


- Hein? – ela parecia ter acordado. – Não, nenhum. Continue.


- Se eu estiver falando demais, pode pedir que eu paro. – falei.


- Não, Franco, é sério. É que eu... – ela respirou fundo. – Estou com sono, quase perdi a hora hoje, estou meio lerda. Mais que o normal. Mas continue.


- Tudo bem, então. – falei. – Eu simplesmente adoro plantas rejuvenescentes...


Pelo resto da conversa, Alice parecia menos interessada, mas continuava a afirmar que estava tudo bem. As vezes tenho que parar de falar um pouco, como minha mãe sempre dissera.




Lílian POV:


O dia foi cansativo. As aulas foram cansativas. Os alunos estão cansativos, por Merlim! Não sei qual o pior, os novatos que se perdem e acabam parando nas masmorras ou os novatos pentelhos que parecem ter nascido pra infernizar minha vida.


Hoje teve um momento desagradável perto da hora do almoço. Depois de conduzir alguns alunos perdidos, topei com Snape no corredor. Apesar de ter oficialmente finalizado minha amizade com ele, parecia que ele queria se aproximar. Nos encaramos, eu corei. Dei meia volta e fui embora. Pretendi esquecer isso.


A aula de Herbologia foi um massacre, pois parecia que todas as plantas decidiram se rebelar. Sai cortada e cheia de terra na cara, uma beleza. E Alice teve que ficar pra trás pra ouvir os intermináveis relatos de Franco Longbottom.


E a última aula do dia era de Defesa Contra as Artes das Trevas. Nunca vi as meninas mais agitadinhas pra uma aula assim, o que achei ridículo.


Todos se acomodaram na sala esperando pelo professor, que logo entrou, meio acanhado.


- Bom dia, alunos. – ele disse com um sorriso. – Como sabem, sou David Moreau, novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.


- O senhor é francês? – Dorcas, com certeza, tinha que perguntar.


- Sim. Dei aulas em Beauxbatons por um tempo. E creio que não seja muito diferente daqui. – ele sorriu novamente.


E a aula correu normalmente para um professor novato e bonitão, como Maria disse. Tivemos que fazer 20cm de redação sobre tudo o que aprendemos ano passado, o que foi fácil. Parte das garotas olhava ele fazer a chamada, sorridente, suspiravam e riam. Francamente! Ainda tive que aguentar os olhares de James Potter, e Alice reclamar que Franco não parava de falar. Fora isso, a última aula foi agradável.


Antes e depois da janta fui fazer a habitual ronda, antes de ter a surpresa ao chegar à Sala Comunal mais tarde.




David POV:


Os alunos foram ótimos comigo, fiquei muito satisfeito. Eles eram muito inteligentes também, e poucos tinham dificuldades. Pelo menos um lado bom de todo o resto do meu dia.


Eu mesmo não acreditaria nisso senão tivesse presenciado. Dumbledore anunciou para os professores a novidade da escola, o Clube do Coral, onde tinha que ter um disponível para cada casa assim como no quadribol, tendo competições e tudo o mais. O mais apropriado era que cada diretor fosse responsável por sua casa, mas nem todos ficaram confortáveis com isso.


Beauxbatons tinha um coral, e creio que ninguém de Hogwarts acreditaria que eu era um dos coordenadores.


Dumbledore anunciou com desânimo que ninguém, além de Nina Stanley havia se inscrito. Ela coordenaria Corvinal, porque como dizia, eram pessoas inteligentes. Antes eu a achava simpática e bonita de vista, mas meus conceitos mudaram a partir que ela abriu a boca.


- Acho que ninguém é corajoso suficiente para esse tipo de desafio. – ela dizia com desdém. – Não sei como haverá competição se somente uma casa terá um coral!


- Estamos providenciando isso, Nina. – Dumbledore respondeu.


Providências! Acho que a arte no mundo bruxo tem que ser tão valorizada quanto no mundo trouxa!


Notei o suspiro de desagrado de McGonagall.


- Não acredito que ninguém aqui tem coragem suficiente! – ela repetiu, irritada.


Ouviu-se o silêncio.


- Por Merlim! – ela guinchou.


- Eu me inscrevo. – falei.


Todos os olhares se voltaram para mim, e senti meu rosto ruborizar um pouco.


- Você? – a mulher deu uma risada. Ela era uma novata ou não?


- Eu. – coloquei-me de pé. – Eu coordenava o coral de Beauxbatons.


Dumbledore sorriu.


- Ora, mas isso é excelente! – bradou com os olhos brilhando. – Veja Nina, um competidor.


Stanley franziu a testa com desprezo.


- Tudo bem. Que vença o melhor quando for a hora. – ela disse se sentando, e fez uma cara irritante. Me controlei.


- E que casa é de sua preferência? – ela perguntou com displicência.


Não hesitei.


- Grifinória.


- Ótimo! – Dumbledore saudou, e os outros professores ainda me olhavam surpresos.


Já sentia que entre mim e Nina Stanley podia ter de tudo, menos amizade.




Lílian POV:


Havia um tumulto diferente quando passei pelo buraco do retrato. Supus que fosse James e seus amigos marotos fazendo alguma graça, mas notei que todos rodeavam o quadro de avisos.


- Oi! – me aproximei de Alice e Maria, que observava a cena aos risos. – O que está havendo ali?


- Novidade na escola. – Maria sorriu.


- Cada casa vai ter um coral e terá uma competição ocasionalmente. – Alice resumiu.


- O quê? – falei surpresa. – Nunca tinha ouvido falar nisso antes.


- Coisas de Dumbledore. – Maria disse, risonha.


- Então deu certo, deve haver muitas inscrições. – falei, olhando de relance para as pessoas que se empurravam.


- Que nada. – Alice riu. – As garotas estão estéricas porque o coordenador é ninguém mais ninguém menos que David Moreau.


- Ah, não. – bufei, olhando com desprezo pro empurra-empurra.


- Por um instante pensei em me escrever. Imagina eu vendo aquele deus grego todo dia? – Maria brincou.


- E por acaso você sabe cantar? – perguntei com uma sobrancelha erguida.


- No chuveiro sim. E você?


- Bom, eu fiz balé aos seis anos de idade. – comentei, me lembrando.


- Você poderia entrar. – Alice disse.


- Acho melhor não. - sorri.


Esperamos os alunos se dissiparem para nos aproximarmos e ler. As inscrições iriam até sexta-feira a noite, e a audição seria no sábado de manhã. Ninguém havia assinado.


Ainda faltavam quatro dias. Será que alguém se arriscaria?




James POV:


- Clube do Coral! Que estúpido! – Almofadinhas bufou, entre risos. – Não tinham como escolher nada melhor não?


- Acho que Dumbledore quis satisfazer todas as garotas também. – Aluado respondeu. – Afinal, não são todas as que gostam de quadribol.


- Nada justifica o fato de ser idiota. – Sirius deu de ombros.


- O que você acha, Pontas? – Rabicho perguntou.


- Sei lá. – disse, desinteressado.


- Ainda está pensando em certa monitora ruiva? – Almofadinhas zombou.


- Você fica quieto, Almofadinhas. Estragou tudo. – falei entre dentes.


- Eu? Quem foi que tentou beijá-la? Eu?


- Se fosse, com certeza não estaria vivo. – Aluado riu.


- Mas você contou a ela que eu te contei! – respondi irritado. – Como sempre você não consegue controlar sua boca.


- Não me culpe por coisas que você fez. – Almofadinhas olhou pro dossel da cama.


- Cale a boca. – resmunguei irritado, me levantando. – Vou descer, tomar um ar.


- Ele vai é ver a Lílian no mapa, como ele sempre faz. – ouvi Sirius cochichar quando sai.


Desci as escadas deprimentemente, e pra minha surpresa encontrei Lily ali, escrevendo rapidamente. Hesitei.


- Olá. – falei com cautela.


Ela me olhou, e sua expressão passou rapidamente pro desprezo. Recolheu suas coisas e subiu o dormitório sem falar nada.


Soltei um suspiro e sentei em frente a lareira, observando as chamas bruxulearem. Fiquei absorto por um tempo.


Acho que fiquei tempo suficiente ali pra ficar mergulhado em pensamentos. Ia subindo para as escadas, mas por curiosidade dei uma olhada na lista do Clube. Estava vazia.


- Está pensando em se inscrever? – ouvi uma voz atrás de mim.


Me virei e deparei com Alice Longbottom.


- Er... Não. – falei com um sorriso. – Estava só espiando.


- Bem, eu vou. – ela disse, me deixando completamente perplexo.


Se aproximou da lista e assinou convicta.


- O que foi? – ela perguntou quando percebeu minha cara de espanto.


- Você? Vai participar? – eu disse incrédulo.


- Sim. Qual o problema?


- Você parece ser tão... tímida, não sei. Nunca imaginaria você cantando.


- Cantar é minha paixão. – ela disse com simplicidade. – A sua não?


- Com certeza não. – eu ri.


- Deveria ser. Você é talentoso em vários aspectos, não? – ela sorriu. – Espero que mais pessoas se inscrevam. Não quero ficar sozinha.


Não respondi.


- Bom, o fato é que eu decidi seguir meus instintos, quem eu sou de verdade. Eu gosto de cantar, o que vou perder entrando no coral?


- Tempo?


- Será divertido.


- Não sei. – dei de ombros.


- Nunca se sabe. – ela piscou e começou a caminhar em direção ao dormitório feminino. – Boa noite.


- Boa noite. – respondi.


Por que eu tinha a impressão que isso foi uma indireta pra mim?




Alice POV:


- V-Você o quê? – Maria arregalou os olhos negros ao máximo que pode.


- Me inscrevi no coral. Estou ansiosa para as audições. – respondi, ignorando as caras assustadas das outras. – Qual música vocês acham que eu devo cantar?


Maria e Lílian continuavam a me encarar, boquiaberta.


- Eu estava pensando em Beyoncé... – continuei, mas Maria me interrompeu.


- Peraí! Tem alguma coisa errada aqui! – ela levou as mãos ao alto. Ergui as sobrancelhas.


- Passou mais blush do que deveria? – falei com falsa inocência.


- Você não pode entrar para o coral. – Maria disse de supetão.


- E por quê não?


- Porque você é Alice Brown. – Maria disse como se eu houvesse perdido a memória ou algo do tipo. – Hogwarts inteira sabe que você é tímida, acanhada, uma garota na sua.


- E daí? – me divertia por dentro, enquanto atacava minha omelete.


- Além do mais, desde quando você canta? – Maria questionou.


- Desde sempre. – dei de ombros. – No chuveiro. Na minha casa. É sério, sou simplesmente viciada no Freddie Mercury que...


- Então canta pra gente ver? – Lílian pediu. Era a primeira coisa que ela falava na conversa; seus olhos brilhavam.


Pigarreei e as encarei.


Lílian estava ansiosa e Maria incrédula. Olhei pro teto encantado.


- Vocês vão ver no dia da audição. – sorri, e pegando minha mochila saí sem dizer mais nada, deixando a curiosidade tomar conta das duas.


Durante todo o dia as pessoas me olhavam, como se eu fosse a única do mundo a ter entrado no coral da minha casa. Será que eu seria? Quero dizer, tem outros corais nas outras casas não? Qual o problema?


- Ei, Alice! – Dorcas gritou quando passou por mim no corredor. – Vê se não estoura suas cordas vocais, porque você vai ter que valer por um coral inteiro!


Corei um pouco, mas levantei a cabeça. Era isso que eu queria, é isso que eu vou fazer. Como minha mãe sempre disse: "Bola pra frente, e que se dane todo o resto".




Franco POV:


- Você ficou sabendo? Alice Brown vai fazer audição para o coral da Grifinória! – foi o que eu ouvi o dia inteiro, nos corredores, na aula, no Salão Principal.


Eu queria achá-la para perguntar por que ela fez essa loucura, mas não a encontrei em lugar nenhum. O horário dela é diferente do meu em dia de terça-feira.


Porém, depois da janta, a encontrei sentada a um canto na Sala Comunal, já adiantando os deveres de começo de ano. O sétimo ano não estava fácil, o que me faz lembrar que tenho que encomendar um livro novo de Herbologia que vi no Profeta Diário.


Me aproximei de Alice, que por acaso estava sozinha, e ela sorriu ao me ver.


- Olá, Franco. – disse docemente quando me sentei.


- Oi. – respondi, e decidi ir direto ao ponto. – Por que é que você entrou pro coral?


Ela revirou os olhos.


- Você também? Eu quis entrar porque gosto de cantar.


- Desde quando? – questionei.


- Desde sempre. – ela disse meio irritada. Nunca a vi desse jeito.


- Você não acha uma... tolice participar de algo assim?


- Sinceramente? Não.


- Toda a escola está comentando. – insisti. Ela parecia ficar vermelha. A questão é se a causa é raiva ou vergonha.


- Não ligo para o que as pessoas dizem. – ela começou a fechar os livros. Ela não me escaparia.


- Desde quando?


Ela bufou.


- Desde quando o quê?


- Desde quando você não liga para o que as pessoas dizem? – repeti, e definitivamente, a vermelhidão era de raiva.


- Desde sempre. Você saberia disso se ao menos me deixasse falar! – ela soltou. – Acha que é fácil desde que te conheço aguentar seus infinitos relatos sobre sei lá o que de Herbologia? Não. Você acha isso mais importante até mesmo que nossa amizade!


Ela respirou fundo, e eu continuei sem resposta.


- Você nunca parou pra pensar o tanto que eu quis ter uma conversa normal com você e você só queria saber de plantas e de aulas sobre as milhares de espécies que existem na América do Sul? – ela perguntou, um pouco mais controlada.


Sentia o remorso me invadir, mas não queria senti-lo.


- Só me responda... – ela voltou a falar. – Diga apenas duas coisas que me agradam. Apenas duas.


Não respondi. Meu cérebro funcionava, e com desprezo de mim mesmo percebi que nada sabia, e que as poucas vezes que ela falava eu não prestava atenção.


- Não sabe, não é? – vi seus olhos lacrimejarem, mas não sabia o que fazer.


Apesar do barulho das conversas na sala comunal, eu me sentia num silêncio constrangedor. Alice me fitava profundamente.


- Tudo bem. – ela disse, secando os olhos. – Me desculpe por isso Franco. Deve ser estresse, porque todos os alunos de Hogwarts decidiram me julgar hoje. Vou me deitar.


Ela deu as costas e começou a caminhar, porém parou.


- E acho melhor você arranjar um outro alguém para você detalhar Herbologia. Não estou mais disponível. – disse, apesar de ter um sorriso fraco.


Nunca me senti tão péssimo na vida. Por que eu não percebera isso antes? Como fui um idiota!


Alice era uma das poucas amigas que eu tenho, e agora foi tudo por água abaixo, por causa da minha boca enorme. Droga, mamãe sempre me avisou!


Alice deve estar péssima, e deve haver algum jeito de me redimir. Fiquei pensando um pouco, ao mesmo tempo em que terminava uma redação de Feitiços, quando certo lugar do Salão Comunal me chamou atenção.


Era isso! Ali estava a resposta.


Eu já sabia o que fazer.

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