Apenas um Rapazinho
–Ele esta trancado naquele quarto a tanto tempo!- A mãe do menino que mais recentemente se tinha noticia de ter sido acometido pela Licantropia chorava desesperada agarrada as vestes do marido. - Sinto que estou perdendo meu filho a cada dia, a cada nova Lua cheia! Faça alguma coisa, ajude nosso filho!
As janelas eram impedidas de serem abertas e na frente dela uma cortina muito grossa havia sido colocada para impedir que a luz natural entrasse. A mobília empoeirada e os brinquedos agora empilhados num canto. O papel de parede estava rasgado em alguns pontos, à marca das mãos de uma criança marcada com sangue. Nada ali dizia que alguém poderia estar vivendo dentro do quarto. Mas por debaixo das grossas cobertas a respiração pausada de Remo era perceptível.
Já se tinham passados muito ciclos lunares e no qual o garoto vinha sofrendo constantemente acorrentado no porão da própria casa. Remo se recusava a comer e a manter qualquer tipo de dialogo. O menino curioso e aventureiro se esvaiu com as esperanças de cura, que não existiam.
–Meu filho, você não vai conseguir se manter assim para sempre. Nós precisamos de você, e você precisa de nossa ajuda. Você é tão jovem, tão inteligente, pode aproveitar a vida de tantas formas! Não consigo imaginar a dor que você está sentindo ou que você sente, mas sou seu pai e não consigo ver você sofrendo dessa forma. - O pai fez uma pausa quando o filho se mexeu debaixo das cobertas. - A tanta coisa lá fora para se explorar, a tanto para se ver.
Os olhinhos âmbar de Lupin apareceram espiando sob o cobertor.
–Nós te amamos muito, e vamos dar um jeito em tudo isso. Pode crer que vamos meu filho. - O pai se levantou e colocou as mãos dentro do bolso do grande casaco puxando um pacote dourado. –Caso você queria ler algo novo.
Assim que a porta se fechou Lupin se levantou devagar e pulou para pegar o pacote. ANIMAIS MÁGICOS E ONDE HABITAM era o titulo, junto com o livro um tablete de chocolate ao leite. A mordida faminta do garotinho quase pegou metade de todo o chocolate e dentro dele foi crescendo um calor quando a chocolate desceu, a alegria estava presente. A alegria era um presente, um presente que o pai tinha trago com o livro, o chocolate e as palavras de preocupação e carinho.
Ele devorou assim como o chocolate o livro. Dobrou as cobertas e abriu as cortinas deixando a luz que deixou seus olhos lacrimejarem entrar; pediu ajuda a mãe para tirar a poeira dos móveis e comeu um prato cheio de delicias que a mãe mais do feliz e orgulhosa o preparou.
A cicatriz que agora não era feia nem visível não o incomodou ao olhar-se no espelho ao escovar os dentes. Aquela cicatriz era um sinal de sobrevivência e aventura, uma marca, uma prova que nem os piores acontecimentos devem ser considerados a ponto de acabar com a vida de alguém, afinal Remo era só uma rapazinho agora e daqui uns anos talvez ele pudesse mostrar a todos que ele continuava o mesmo, só que com sangue de Lobisomem.
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