Me deixa ser seu



 Não sei exatamente qual a diferença entre “pegador” e “galinha”. Os dois adjetivos se referem às mulheres e ambos se referem à Sirius Black. Para as mulheres, ele é galinha. Para os homens, ele é pegador. Mas os homens não usam os neurônios corretamente, de modo que a opinião feminina é a válida.


 Acima de tudo, nunca vou entender o porque de os homens que beijam muitas garotas são pegadores, e as mulheres que beijam muitos garotos são galinhas. E depois dizem que o mundo é movido pela igualdade.


 Eu nunca me considerei galinha. Pelo contrário. Sempre pensei em mim como o tipo de garota que faz questão de procurar muito antes de escolher alguém. E é por esse motivo que eu já beijei boa parte da população masculina de Hogwarts.


 Muitas garotas acham que sou vadia, vaca, puta, vagabunda... e mais uma série de adjetivos que não pretendo me lembrar. Mas o que elas pensam de mim deixa de ser problema meu. Tenho amigos que me aceitam pelo o que eu sou e não pela minha cota de garotos.


 E hoje, um sábado à noite delicioso, estou indo à festa na Sala Comunal da Corvinal. Todos foram convidados, mas duvido muito que os sonserinos vão, principalmente aqueles que não querem ferir a própria honra. Acho isso tudo pura bobagem, afinal uma festa serve para diversão e não para rivalidade. É claro que existem vários sonserinos legais – de quem eu gosto muito – que provavelmente vão à festa.


 Coloquei um short jeans, uma blusinha branca simples, um colete de renda branco, meu all star preto. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo e passei um lápis de olho apenas para não ir crua.


 Lily e Katherine já tinham descido antes mim. Elas tinham seus pares fixos para passar a noite. Eu? Não, nada de par fixo. Procuraria alguém interessante para passar a noite.


 Desci as escadas do dormitório calmamente e segui em direção à Sala Comunal da Corvinal. A música estava alta, eu conseguia ouvi-la de onde estava. Não foi necessário saber senha alguma para entrar. A porta estava programada para se abrir para quem quisesse entrar.


 Os Corvinais podem ser um bando de nerds, mas vamos combinar que eles sabem dar uma festa. O ambiente estava todo escuro, iluminado precariamente pelas luzes de neon coloridas. A pista de dança tinha o chão verde limão fluorescente. Havia um bar no canto do salão que servia todo tipo de bebida não-alcoólica. E havia muita gente. Muita, muita, muita gente. Muita gente mesmo.


 Olhei em volta, admirada. Encontrei Lily sendo perseguida por James. Peguei uma bebida azul em uma bandeja que passou flutuando por mim, enquanto Lily vinha até o meu lado.


 - Ele te deu um toco? – perguntei, experimentando a bebida.


 - Ele quem? O Potter? Quem me dera...


 Revirei meus olhos.


 - Não estou falando do James, estou falando do John!


 - Ah... – fez ela. – É, ele me deu um toco.


 - Eu te disse que ele não prestava.


 - Mas você já beijou ele!


 - Por isso que eu sei que ele não presta.


 Lily suspirou, cansada. Ela agarrou a bebida da minha mão e virou o copo.


 - Porque isso não tem álcool? – questionou ela.


 - Eu me pergunto isso desde que cheguei aqui.


 - E porque só os garotos feios vem falar comigo?


 Agarrei o copo vazio da mão dela e troquei por outro cheio, dessa vez por um líquido vermelho.


 - O James não é feio. – disse eu.


 - Eu não vou beijá-lo!


 - Não foi isso que eu disse... – resmunguei. – Mas eu se fosse você, daria uma chance à ele, afinal, você acabou de levar um toco.


 - Não precisa anunciar para todo mundo.


 Decidi ignorá-la. Ela era minha amiga, mas essa história de Lily-é-difícil-e-bate-no-James cansa a minha beleza. Sem falar que todo mundo (inclusive o próprio James) sabe que ela gosta dele e vice-e-versa.


 Voltei minha atenção para a pista de dança. Se Lily não queria um par, eu sinceramente queria. Havia muitos garotos mais interessantes que bonitos, uns outros mais legais que feios, mais alguns chatos e feios, e aqueles realmente bonitos.


 Olhei para Lúcio Malfoy. Sim, eu já tinha beijado ele. E não adianta me olhar desse jeito. Eu disse que achava esse negócio de rivalidade uma besteira. Por incrível que pareça, ele estava na festa. Isso verdadeiramente me surpreendeu, mas decidi não pensar muito sobre o assunto. Talvez ele não quisesse deixar de vir nessa festinha extravagante para não parecer idiota.


 Lúcio era um loiro daqueles. Tinha lábios finos, cabelos cuidadosamente penteados. Ele jogava no time de quadribol, por isso tinha um corpo atlético, bem típico dos apanhadores. Estava usando uma camisa preta de mangas compridas dobradas até os cotovelos, uma calça jeans clara, um tênis de couro bege. Tomava uma bebida igual à minha. Estava encostado na parede, seu ar sarcástico parecia me chamar.


 Havia um outro pelo qual me interessei. Eu não sabia o nome dele, nem a qual casa ele pertencia. Só sabia que ele tinha um piercing na sobrancelha esquerda.


 Do outro lado da sala, uma garota olhava Lúcio com desejo. Eu a conhecia, ela já havia beijado Sirius uma ou duas vezes. Eu não sabia porque a odiava, mas não deixaria ela beijar o loiro antes de mim. Ou daria um tapa na cara dela. Achei melhor agir rápido. 


 - Vou caçar, Lily. – avisei, com um sorriso maroto.


 Lily riu alto.


 - Boa sorte.


 


This one is for the boys with the boomer system


Top down, AC with the cooler system


When he come up in the club, he be blazin’ up


Got stacks on deck like he savin’ up


(Este é para os cara com boomer


Com a capota abaixada, ar condicionado ligado


Quando ele chega na balada, ele está radiante


Tem grana no bolso como se fosse um cofre)


 


 


 Passei pelo meio da multidão de adolescentes que dançavam. A música que estava tocando não era lá das melhores, ou eu teria chamado Lúcio para dançar comigo. Olhei para ele e sorri. Era do tipo que não se demorava nas festas e ia só para marcar presença.


 E ele com certeza marcava. Lúcio não era do tipo que se gabava por nada (a não ser pelo dinheiro e pelo status de sangue, mas isso é o de menos). Podíamos ver que ele era “superior” (entre aspas, porque na verdade ele não era nada), mas ele nunca aparecia nos lugares para se gabar de sua “superioridade”. Ah, isso não faz o menor sentido! Vamos voltar ao momento.


 Olhei para Lúcio novamente e pude ver que ele já tinha me visto indo em sua direção, porque ele sorriu, irônico, para mim.


 Devolvi o sorriso.


 


And he ill, he real, he might gotta deal


He pop bottles and he got the right kind of bill


He cold, he dope, he might sell coke


He always in the air, but he never fly coach


He a muthafuckin trip, trip


Sailor of the ship, ship


When he make it drip, drip


Kiss him on the lip, lip


That's the kind of dude I was lookin' for


And yes you'll get slapped if you're lookin' hoe


(Ele é demais, ele é real, ele tem uma coisa a mais


Ele abre garrafas e é do tipo que não presta


Ele é frio, é muito louco, talvez até venda coca


Ele está sempre no ar, mas nunca tá se achando


Ele é um porra louca, porra louca


Ele é quem comanda o barco, comanda o barco


Quando ele arrasa, arrasa


Eu beijo ele na boca, na boca


É esse tipo de cara que eu tava procurando


E você vai levar uma bofetada se ficar olhando, vagabunda)


 


 Cheguei perto dele e me encostei à parede ao seu lado.


 - Com saudades, McKinnon? – ele perguntou, se virando para me olhar.


 - Na verdade, não. – respondi, trocando meu copo vazio por outro da mesma cor. – Mas hoje as opções são poucas.


 Lúcio não gostou do meu comentário. Pude ver que seu sorriso se desfez e seu rosto se fechou em uma carranca brava.


 Não pude deixar de sorrir, satisfeita com meu ato.


 - Eu também notei. – ele desconversou.


 Eu ri alto, mas o barulho foi abafado por causa da música.


 - Então pensei que poderíamos compensar essa falta de gente interessante. – comentei, inocentemente. – Já que somos as únicas exceções. O que acha?


 O loiro olhou para mim e deu um sorriso de lado.


 - Sem compromisso? – perguntou.


 - Sem compromisso. – confirmei, sabendo que tinha vencido.


 Ele pareceu sinceramente surpreso e riu, abaixando a cabeça, talvez envergonhado com a minha falta de vergonha na cara. Lúcio virou o copo. É, talvez ele não estivesse envergonhado. Um Malfoy? Envergonhado?


 - Porque sempre eu? – ele perguntou, sem realmente querer saber.


 - Porque você deve ser o meu tipo. Sei lá. Acho você interessante o suficiente... Bem mais interessante do que o garoto com o piercing. – acrescentei. – Ou talvez você seja um cara “beijável”.


 - Seu vocabulário me enoja. – Lúcio resmungou.


 Eu dei de ombros.


 - Isso não parecia te incomodar na semana passada.


 


I said, excuse me you're a hell of a guy


I mean my, my, my, my you're like pelican fly


I mean, you're so shy and I'm loving your tie


You're like slicker than the guy with the thing on his eye, oh


Yes I did, yes I did, somebody please tell him who the F I is


I am Marlene McKinnon, I mack them dudes up


Back coupes up, and chuck the deuce up


(Eu disse, licença, você é um puta cara


Tipo, você é, é, é muito melhor que os outros


Quero dizer, você é tão tímido e eu adoro a sua gravata


Você é mais maneiro que o cara com o negócio no olho


Sim, eu falei, sim, eu falei, alguém diz pra ele que merda eu sou


Eu sou a Marlene McKinnon, eu conquisto todos esses caras


Levanta a capota do carro e vamos para o banco de trás)


 


 E Lúcio Malfoy me beijou. Sim, ele beija muito bem. Talvez não tão bem quanto Sirius Black. Eu sei. Que mancada beijar um cara pensando em outro. Mas a verdade é que de todos os garotos que já beijei, Sirius é o que me dá vontade de repetir a dose.


 É estranho. Mas é verdade. E eu me sinto ridícula indo para uma festa com o intuito de beijar todos os garotos de lá só para ver se Sirius Black sai da minha cabeça.


 Senti que Lúcio me prensava na parede e percebi que não estava retribuindo o beijo dele. Mordi seu lábio inferior para disfarçar e passei os braços por seu pescoço, voltando a beijá-lo.


 O ruim de beijar garotos repetidos é que o beijo não muda e tudo acaba se tornando chato e sem graça. Pelo menos, é o que eu acho. Em dois minutos eu já tinha deixado minha mente vagar pela música que estava tocando.


 No terceiro minuto, me distanciei dele.


 - Foi, novamente, um prazer – Lúcio disse, parecendo satisfeito, como da última vez.


 Sorri-lhe e sai andando pela pista. Avistei um garçom e troquei meu copo novamente, lamentando o fato de não haver bebida alcóolica. Em um canto da pista, vi Lily e James dançando.


 - Finalmente! – berrei, minha voz abafada pelo barulho, e fui me juntar a eles.


 Em um outro canto da pista de dança, vi Remus e Dorcas aos beijos. Senti vontade de berrar outro “finalmente”, mas mordi a língua. Logo, ambos se juntaram a nós também.


 Dançamos cerca de duas músicas e eu avistei Sirius Black se agarrando (literalmente) com uma loira de aspecto “corrimão” (que todo mundo já passou a mão, no sentido literal da expressão) e vulgar. Meu estomago se revirou de nojo. E se revirou de novo por causa de alguma coisa que não identifiquei.


 Dancei mais uma música e troquei de bebida de novo, quando Sirius veio se juntar à nossa rodinha. Senti vontade de berrar outro “finalmente”, mas achei melhor ficar quieta.


 Sirius cumprimentou os garotos com um aperto de mãos e deu um beijo no rosto de cada garota. Quando chegou a minha vez, ele se demorou com os lábios em minha bochecha. Senti meu coração palpitar durante todo o tempo.


 


Boy you got my heartbeat runnin' away


Beating like a drum and it's coming your way


Can't you hear that boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


Yeah that's that super bass


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


Yeah that's that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


(Cara, você fez o meu coração parar de vez de bater


Batendo como um tambor e está indo na sua direção


Você não ouve o boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


É, aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


É, aquela, aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida)


 


 


   Certo, eu admito. Sirius me deixou meio tonta. Pelo menos eu não desmaiei como daquela vez em que ele me abraçou. É, eu sei. Foi constrangedor. E ele ficou rindo pelas minhas costas durante o resto da semana.


 - Oi, Black. – cumprimentei, sem graça.


 - Oi, McKinnon. – Sirius disse, parecendo divertido com minha situação. E como se soubesse que aquilo iria me deixar mais vermelha do que um tomate com febre, ele acrescentou: - Você está linda hoje.


 E eu corei. Eu odeio corar. Todo mundo diz que a adolescência é a melhor parte da nossa vida. Eu concordo em partes. Corar faz com que a minha adolescência seja uma bosta. Sem contar que corar na adolescência é muito pior do que seria na vida adulta. Os adultos que coram são lindos, fofos e coisa e tal. Os adolescentes que coram são tolos.


 - O-obrigada. – gaguejei e passei as mãos pelos cabelos. Sirius sorriu marotamente. Senti vontade de bater nele.


 E então caiu a ficha. Como assim “você está linda hoje”? “Hoje”? Quer dizer que nos outros dias eu estou feia? Fechei a cara para Sirius.


 Outra música começou a tocar e achei que dançar seria uma boa saída para meu desconforto. Essa música era conhecida, então todos começaram a dançar e a pista ficou entupida de gente.


 Dentre as pessoas que chegaram para dançar, vi um garoto no canto do salão, um dos poucos que não tinha vindo para a pista. Ele parecia ser um corvinal, porque vestia uma camisa polo azul, calça jeans e sapatênis. Tinha cabelos castanhos e olhos verdes. Sua timidez era um charme.


 Comecei à em sua direção, mas Sirius agarrou minha mão.


 - Ei, aonde vai?


 - E desde quando isso é da sua conta? – revidei. Eu tinha sido educada com ele, mas eu também tinha meus limites.


 - Desculpe ter rido de você. – Sirius disse, adivinhando meus pensamentos. – Por favor, fique aqui comigo. – pediu.


 Ah, eu realmente quis ficar. Mas fiz questão de me lembrar que, assim como o menino que eu ia beijar, eu não significava nada para Sirius. Que nosso beijo tinha sido só um beijo. Que ele não se importava. E que eu também não devia me importar.


 - Sinto muito, Black – eu sentia muito mesmo – mas nós dois sabemos que você não me quer aqui.


 Sorri para meus amigos e dei as costas para a pista de dança, indo em direção ao garoto de camisa polo.


 


This one is for the boys in the polos


Entrepeneur niggas in the moguls


He could ball with the crew, he could solo


But I think I like him better when he dolo


And I think I like him better with the fitted cap on


He ain't even gotta try to put the mac on


He just gotta give me that look, when he give me that look


Then the panties comin' off, uh


(Essa é pros caras vestindo polo


Manos empreendedores são os mestres


Ele pode curtir com a galera ou ficar sozinho


Mas acho que curto mais ele quando ele tá por conta própria


E acho que curto mais ele de boné


Ele não precisa nem dar uma de garanhão


Ele só tem que olhar pra mim, quando ele olhar pra mim


A calça vai cair, ah!)


 


 O garoto, cujo nome eu ainda não sabia, olhou para mim e sorriu amigavelmente. Ele parecia mais inocente do que eu. Bem mais inocente do que eu. Sorri para ele também, mas meu sorriso estava longe de ser amigável. Tenho certeza de que ele percebeu.


 Outro garçom passou por mim e eu troquei meu copo pela milésima vez naquela noite. Se as bebidas tivessem álcool, eu com certeza estaria bêbada. Vendo que o garoto não estava bebendo nada, peguei uma bebida para ele também.


 - Oi. – eu disse e lhe entreguei a bebida.


 - Eu não bebo – ele disse, afastando o copo.


 - Você, como bom corvinal e um dos donos da festa, deve saber que as bebidas não tem álcool. E se a sua preocupação for se eu coloquei algo na sua bebida, pode esquecer. Eu não sou esse tipo de garota.


 O corvinal sorriu e pegou a bebida da minha mão.


 - Obrigado. – agradeceu.


 - Não tem de quê. – respondi e estendi a mão. – Sou Marlene McKinnon.


 O garoto pegou minha mão e apertou.


 - Eu sei.


 Levantei a sobrancelha.


 - E você, quem é?


 - Stefan. Stefan Blake.


 - Um nome interessante. – comentei, me sentando ao seu lado.


 Stefan deu de ombros.


 - Sou americano. – justificou.


 - Então parece que tirei a sorte grande.


 Stefan fez que sim com a cabeça e provou da bebida. Imitei seu gesto, bebendo também.


 - Não vejo como discordar. – ele disse. – Você tem belos olhos. – elogiou.


 Então, talvez, meus indiscutíveis olhos azuis servissem para alguma coisa.


 


Excuse me, you're a hell of a guy


You know I really got a thing for American guys


I mean, sigh, sickenin' eyes


I can tell that you're in touch with your feminine side


Yes I did, yes I did, somebody please tell him who the F I is


I am Marlene McKinnon, I mack them dudes up


Back coupes up, and chuck the deuce up


(Eu disse, licença, você é um puta cara


Eu curto muito os caras americanos


Quero dizer, ah, com olhos de enlouquecer


Dá pra ver que você tem também seu lado feminino


Sim, eu falei, sim, eu falei, alguém diz pra ele que merda eu sou


Eu sou a Marlene McKinnon, eu conquisto todos esses caras


Levanta a capota do carro e vamos para o banco de trás)


 


 


 Num canto do salão, vi Sirius xavecando uma outra garota loira. Era impressão minha, ou Sirius Black só havia beijado garotas loiras esta noite? Se pensasse um pouco mais adiante, poderíamos ver que a maioria das garotas que ele havia beijado eram loiras. Mas, afinal de contas, o que ele tinha contra as morenas? Preconceito? Racismo? Ou, quem sabe, ele não preferisse as garotas loiras porque elas não pensam (tirando minha amiga Dorcas, ela é loira, mas é uma exceção)? Porque, nesse caso, ele havia me beijado?


 Em um gesto impensado, agarrei Stefan. É, eu sou uma idiota. Não, não precisa ficar repetindo.


 Stefan ficou paralisado (de surpresa, ou susto, eu não sei), mas logo pegou o ritmo. Ele passou as mãos pela minha cintura com delicadeza, um carinho gostoso... e eu senti vontade de chorar. O carinho podia até ser bom e diferente, mas senti falta da indiscutível pegada de Sirius Black.


 O que só fez eu me sentir pior do que eu já estava. Mas o que tinha dado em mim? Desde quando eu saia agarrando todos os garotos apenas para tentar esquecer outro? Qual era o meu problema?


 Senti que Stefan ia me soltando e abri meus olhos.


 - Porque está chorando, Lene? – ele me perguntou.


 Ótimo. Agora eu estava chorando. O garoto vai se assustar e fugir, pensando no quanto eu sou estranha e desagradável. Minha fama vai se espalhar por toda a escola e eu vou acabar solteira, sozinha e depressiva.


 - Ah, droga – grasnei, limpando as lágrimas que eu não tinha notado cair. – Me desculpe, Stefan.


 - Está se desculpando por chorar? – ele riu. – Deixe disso. Chorar não é nenhuma vergonha.


 Alivio. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu teria uma conversa inteligente com um garoto da minha lista. Stefan era legal.


 - Não sei nem o que dizer... – murmurei, envergonhada.


 - Que tal começar com o motivo?


 Fiz que sim com a cabeça.


 - Sirius Black. – disse, e engoli o choro.


 - Entendo... – disse ele. – Vocês dois fazem a mesma coisa: saem por ai beijando todos os indivíduos que tenham boca. – comentou, rindo. Eu ri também. – Um dia vocês acabaram se cruzando.


 - Não foi nada sério. – argumentei.


 - Você o ama. – Stefan disse, sério. Ele pegou minha mão e fez carinho na palma. Ninguém nunca tinha esfregado isso na minha cara antes. – Eu acho isso sério o suficiente.


 Dei de ombros, fazendo pouco caso.


 - Ninguém se apaixona apenas por um beijo. – tentei.


 - Parece que você sim.


 - Mas já beijei tantos garotos e isso nunca aconteceu.


 - Bem... – disse ele, tirando a franja dos meus olhos. – Talvez você só precisasse beijar a pessoa certa.


 Stefan Blake era tão impossivelmente lindo, e legal, e fofo, e compreensivo... Poderíamos até ser amigos, se ele deixasse.


 - E essa pessoa tinha que ser Sirius Black? – perguntei, acabada, abaixando a cabeça.


 - E o que tem de errado? – questionou Stefan. – Você ainda nem contou à ele.


 - Até agora nem eu mesma sabia.


 Ele riu e levantou minha cabeça.


 - Agora que já sabe, conte à ele. – disse o corvinal.


 - Já posso até ver. Ele provavelmente vai fazer pouco caso.


 Stefan levantou uma sobrancelha.


 - Mesmo? – fiz que sim. - Então ele é um verdadeiro idiota. – xingou. - Eu me sentiria lisonjeado. 


 Sorri-lhe.


 - Desculpe novamente.


 - Se precisar, eu estou aqui.


 Dei-lhe um beijo na face, o mais carinhosamente que pude. Esse aí é para casar.


 Me levantei e voltei para a festa, trocando meu copo novamente. Desta vez, me deparei com uma bebida rosa choque, para a qual olhei com insegurança. Dei de ombros e bebi. O gosto não era ruim.


 Vi Lily e James se beijando em meio à multidão de pessoas que estavam na pista de dança. Não encontrei Dorcas e Remus. Do jeito que eram – monitores – eles já deviam ter ido se deitar.


 Mas, a única pessoa que eu havia decidido não procurar (apesar das palavras de meu amigo), apareceu para mim. Se materializou na minha frente. Se teletransportou para a minha dimensão.


 E, como sempre acontecia, meu coração bateu desregulado. Por Merlin, será que Sirius podia ouvir?


 


Boy you got my heartbeat runnin' away


Beating like a drum and it's coming your way


Can't you hear that boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


Yeah that's that super bass


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


Yeah that's that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


(Cara você fez o meu coração parar de vez de bater


Batendo como um tambor e está indo na sua direção


Você não ouve o boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


É, aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


É, aquela, aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida)


 


 - Se divertindo, McKinnon?


 - Estava. Até você aparecer. – retruquei.


 - Uau, que mal humor. – ele comentou, se balançando para lá e para cá no ritmo da música. – Tudo isso porque não conseguiu agarrar de vez aquele corvinal?


 Senti meu rosto esquentar de raiva e vergonha. Eu queria bater nele.


 - E desde quando isso é da sua conta?


 - Você sabe que é verdade.


 - Pois saiba que eu não sou um inseto desprezível como você. Não beijo as pessoas e depois zombo delas. Eu as respeito. E talvez você não tenha notado, mas Stefan Blake é um homem muito melhor do que você. – cuspi as palavras para ele, contendo o impulso de dar-lhe um soco.


 Sirius recuou, aturdido.


 - Mas que merda. O que eu te fiz?


 - Você não me respeita. – disse eu. – Me beijou e agora zomba de mim pelas minhas costas.


 - Quem é que te garante?


 - Quem é que não me garante?


 - EU!


 - O que é que você me garante? – perguntei, meio confusa.


 - Te garanto que não zombo de você. Nunca faria isso.


 Olhei para ele, com os olhos estreitos, desconfiada.


 - O que é que você quer de mim, afinal?


 Assim que as palavras saíram da minha boca, me arrependi profundamente delas. Ou talvez não tenha me arrependido. Não sei ao certo. Estava muito ocupada para pensar no assunto.


 Sim. Sim, ele me beijou. E meu coração quase explodiu.


 


See I need you in my life for me to stay


No, no, no, no, no I know you'll stay


No, no, no, no, no don't go away


Boy, you got my heartbeat runnin' away


Don't you hear that heartbeat comin' your way


Oh it be like, boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, bass


Can't you hear that boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, bass


(Veja, eu preciso de você na minha vida pra eu ficar


Não, não, não, não, não eu sei que você vai ficar


Não, não, não, não, não vá embora


Cara, você espantou as batidas do meu coração


Você não ouve a batida indo na sua direção?


Fica tipo, boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, bass


Você não ouve o boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, bass)


 


 Eu me agarrei a Sirius de um modo exagerado. Como ele conseguia ser assim tão único? Já beijei tantos garotos... Não é possível que nunca tenha beijado alguém assim.


 Ele tinha um cheiro ótimo, um sabor ótimo, uma ótima pegada. Percebi que eu adorava o fato de ele ter ombros largos, de ele jogar quadribol, de ele ser um galinha, um imbecil, um insensível. Se fosse diferente, eu não gostaria tanto dele.


 Estávamos no meio da pista de dança e as pessoas esbarravam em nós com frequência, mas eu não ligava. Eu simplesmente não conseguia senti-las ao meu redor.


 Sirius descolou os lábios dos meus e olhou nos meus olhos.


 - Quero que você seja minha, Marlene. – ele respondeu minha pergunta. – Só minha.


 Olhei para ele, confusa.


 - O que?


 Sirius bufou, impaciente. Suas mãos agarraram meu rosto.


 - Descobri que queria você.


 - O que?


 Ele riu de minha confusão.


 - Você é minha. – ele me deu um selinho. – Me deixa ser seu.


 E meu coração bateu contra meu peito com tanta força, que achei que morreria ali mesmo de ataque cardíaco.


 - Eu deixo. Eu deixo, Sirius.


 


Boy you got my heartbeat runnin' away


Beating like a drum and it's coming your way


Can't you hear that boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


He got that super bass


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


Yeah, that's that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, he got that super bass


(Cara você fez o meu coração parar de vez de bater


Batendo como um tambor e está indo na sua direção


Você não ouve o boom, badoom, boom


Boom, badoom, boom, bass


Ele tem aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom, badoom, boom, bass


É, aquela, aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida


Boom, badoom, boom, boom


Badoom, boom, ele tem aquela super batida).


 


 


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