Sol poente



E pensei que sentiria diversas dores, Dor por ir, dor por não saber voltar. E agora, é como se eu sentisse conhecer o vento e o sol, e apenas eles. Como se eu só pudesse lamentar perde-los. Aquela era minha ultima tarde ali. Continuei a seguir e a olhar. Toda paz daquela propulsão quieta veio sentar-se ao meu lado. Hoje eu fico triste com um pôr-do-sol, eu sempre fiquei.
Agora esfria no fundo da planície, anunciando a entrada da noite. E é cheiro de terra, areia e poeira. Mato queimado pelo sol. Ar pesado. E são essas minhas sinestesias. A minha tristeza não é sossego. A minha tristeza revolve meu interior sussurrando um hálito gelado, e meu peito não treme mais de frio. Penso em ficar aqui eternamente, sentada da grama seca. Mas para alem da curva da estrada os meus pensamentos são contentes e evito pensar que o são. Pensar neles incomoda como andar na chuva, quando o vento descende e as gotas espetam os ombros. E agora, apenas agora, não me culpo por não ter mais ambições e desejos. Estou sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz, mas finge compreender.
Pois passado isso, eu desejo novamente. Desejo o sol e o quente. E desejo uma pequena casa com uma grande janela aberta e uma cadeira predileta. Desejo não limpar o suor da testa e tomar chá. E não desejo mais.
Porque ao lembrar do que tanto evito, qualquer desejo é simplório e vil. E desejar, por menos que seja, me aperta e me fura. Levanto. Meu olhar é nítido, acho que devia andar pelos caminhos, olhar para as esquerdas e de vez em quando para trás. E o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes tinha visto. Por onde ando não passa nada e ninguém. Hoje é um dia firme. Quando eu parar de andar deitar-me-ei ao comprido na erva e fecharei os olhos ferventes, sentirei todo o meu corpo deitado na irrealidade, não saberei a verdade e serei feliz.
Não escurecerá mais. A poeira arde na pele e o sol ainda está lá. Estou esperando um milagre sim, confesso. E o milagre já está aqui. O sol não se foi como sempre o fez. E nem o chão, pois continuo andando e sempre chego. Onde estou é calmo como um lago estéril.
Meu corpo se cansa e eu caio, caio na terra silenciosa. E é só terra. E o milagre acaba. O ar volátil da noite enche meus pulmões com um gole de imensidão e é preciso esforço para respirar. Nada dói. É tudo angustia, espalha-se como um medo fértil. Angustia por acreditar na falsidade do decorrer.
Minha carne está morna e corada, meu corpo limpo, meus cabelos presos e meu perfume permanece, na resistência em me abandonar.
Ele estava de pé, bem perto de mim. Olhei-o até a alma. E suas mãos agarraram meus pulsos que me apoiavam ao chão. E senti-me cansada, como nunca antes senti. Vi os olhos dele, e minha vida se deslumbrou para a eternidade, Ele me levantou.
‘Certas palavras de amor não são, por acaso, tão perturbadoras como o beijo nos lábios?’ Perguntou-me.
‘Jamais, Tom’ minha boca delineou as palavras como se as tivesse repetindo toda a vida.
Meus olhos cerraram e quase para sempre, pois senti o peso deixar meu corpo. Tom me carregava nos braços, e nada mais podia me segurar.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.