6 de Setembro de 1972



6 de Setembro de 1972


 


Lily,


 


Não sei por que você insiste em mandar cartas pra mamãe e pro papai e uma separada pra mim. Será que você ainda não entendeu que eu não quero ter nada a ver com essa sua anormalidade?


         Não que eu vá responder alguma dessas cartas. Não. Até mesmo essa que eu estou escrevendo agora vai ser guardadas na caixinha florida que eu tenho escondida na minha gaveta de meias. Não quero que você saiba que eu fico furiosa pelo fato de você ter me abandonado. Não. Prefiro que você pense que eu estou apenas te evitando.


         Você mencionou na sua última carta sobre como os alunos daquela casa cujo nome eu esqueci – na verdade, não quero escrever pra não dar azar -, cujo símbolo é uma cobra, são esnobes, superficiais e metidos. Pois é. Acho que eu sei como se sente. Sei bem como é conviver com alguém que se acha melhor que todo mundo simplesmente por saber fazer feitiçaria.


         Um dia antes das minhas aulas começarem a mamãe me levou naquele salão que ela sempre vai e me deixou fazer manicure. Ela disse que como sou uma moça eu posso andar com as unhas pintadas, mas só de cores discretas. Nada de vermelho, vinho ou coisas do tipo. Ela deixou que eu pintasse de um bege clarinho e meio translúcido. Viu? ISSO é coisa de gente normal. Ficar transformando sapos em taças de pedra NÃO é normal.


         Por que você não pode simplesmente desistir dessa anormalidade e voltar pra casa que é o seu lugar? Estudar numa escola normal, ter amigos normais e ter uma vida normal... Por que, raios, papai e mamãe têm mais orgulho de você, que está metida com essa arte do demônio do que de mim, que sou responsável e só tiro notas altas?


         Acho que certas coisas eu nunca vou entender.


 


Sinceramente,


Tuney.

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