Começo
CAPÍTULO 2 - COMEÇO
A biblioteca estava vazia – como sempre ficava durante o ano, ao contrário da loucura e do burburinho irritante de alunos desesperados quando as prova se aproximavam. Não havia melhor lugar para Hermione estudar... ou, pela primeira vez em sua vida, fingir que estava estudando. Uma semana – esse era o tempo exato que Aaron estava em Hogwarts. Uma semana, tempo o suficiente para virar a cabeça de Hermione.
Desde que ele fora selecionado para Sonserina, a garota fizera questão de se esconder dele – sabia de alguma forma até irracional que ele a estava procurando a todo tempo. Mas ela não suportava sequer imaginar ocupar o mesmo recinto que um sonserino – sendo ele bonito ou não.
“Preconceito de casas.”
Mas não conseguia apagar aquelas cores – verde e amarelo misturados em um olhar no mínimo sedutor.
“Não... Transfiguração!”
Ela balançou a cabeça – garotos estavam fora do seu foco. Fitou os livros, forçando a prestar atenção ao que deveria ler. Era isso que importava, e apenas isso. As palavras encheram sua mente, então, procurando espaço para serem gravadas – como sempre. Entretida pelos estudos, não percebeu a aproximação de uma visita... indesejada.
-Oi. – tímido, Aaron se sentou a frente da morena. Não queria atrapalha-la, mas não conseguiu conter a vontade de se aproximar assim que a viu... De fato, a procurara por semana toda – queria conhecê-la, queria conversar com ela –, contudo, Hermione não facilitara o caminho de suas intenções.
A garota não reconheceu a voz, mas não se assustou. Estava acostumada a ser atrapalhada durante os seus estudos, em qualquer época, por qualquer pessoa desesperada por uma ajuda. Seus olhos, contudo, se arregalaram ao vê-lo diante de si... Não o esperava naquele local – não era exatamente o recinto favorito dos sonserinos... talvez dos corvinais, mas definitivamente não das cobras, principalmente quando se tratava dos capangas de certo loiro oxigenado.
Por mais que tivesse evitado Aaron Loo de todas as maneiras possíveis, era impossível não notar a companhia que ele escolhera...ou por quem fora escolhido. Com certeza fora convidado por Malfoy; ninguém escapava das garras da fuinha... Ele deveria ser simplesmente sedutor dentre os cobras – mas não tinha nenhum poder sobre ela. Ah, não tinha... Ou tinha sim – de fervê-la por completo, trazer à tona todos aqueles sentimentos ruins que ela odiava ter.
-Atrapalho?
A educação do garoto a constrangeu, mas nenhuma palavra a faria ser caridosa com um sonserino. Como se ele fosse pior que um verme, ela ignorou sua presença, voltando aos seus estudos, sem sequer responder-lhe – ou foi o que pareceu aos olhos de Aaron. Hermione, contudo, por mais que olhasse para seu livro, não conseguia desviar sua atenção de sua companhia. Mesmo sem olhar, sentia-o por perto.
-Desculpe-me. – Aaron se levantou sem dizer mais nada, e Hermione não precisou olhá-lo para saber que tinha destruído qualquer esperança do garoto de alcançá-la. Sinto pena do garoto – mesmo sendo da casa que ela mais odiava, não tinha feito nada para prejudicá-la... ainda. Ela sabia que bastariam mais alguns dias na companhia de Malfoy para ser completamente corrompido e virar um verdadeiro cobra, humilhando e pisando em todos ao redor, se assim lhe aprouvesse.
“Ele pode ser diferente”
-Aaron. – ela não levantou os olhos, não queria confiar completamente em alguém que andava por Hogwarts vestindo o maldito verde, mas queria dar uma chance para Aaron. Talvez apenas ele fosse um pouco menos de arrogante. – Pode ficar.
Mesmo sem vê-lo, a morena tinha certeza que ele sorria. Em silêncio, ele voltou para o lugar onde estava e esperou pacientemente até que a garota cansasse de fazer tipo, ignorando sua presença. Não demorou muito – Hermione apenas fingiu terminar de ler; não queria tratá-lo mal antes de realmente conhecê-lo.
-Aaron Loo – ele esticou a mão, ainda sem jeito, sem saber exatamente como começar, o que dizer. Colocando os livros de lado, ela fitou a mão do garoto – tocar-lhe seria realmente se abrir para um sonserino. Onde é que ela estava com a cabeça? Onde é que ele estava com a cabeça? Não sabia que deveria odiá-la e xingá-la ao em vez de tentar ser educado?
-Hermione Granger.
O garoto sorriu ao toque de suas mãos como uma criança ao ganhar o presente de Natal que tanto queria.
-Eu tinha certeza que era você... – ele não continha a felicidade; uma felicidade que Hermione não compreendia, como se ele já a conhecesse de outras eras, outras vidas. A garota, contudo, não tinha a mesma sensação. Era apenas mais alguém... Tá, um cara muito bonito, ela tinha que admitir.
-Você já me conhece? – ela tentou não parecer acusatória, mas algo estava estranho naquele sorriso que Aaron apresentava. O garoto ficou desconcertado, como se tivesse tocado em um assunto proibido. Ele soltou a mão de Hermione, o medo tomando-lhe conta.
-Não, não... É que Draco falou de você umas vezes, e na hora eu tive certeza que era de você. Não sei porque.
A fúria dominou Hermione, como sempre acontecia quando Malfoy aparecia. Aquela maldita fuinha.
-O que foi que aquele maldito loiro oxigenado falou de mim? – seu tom de voz assustou o garoto e no mesmo instante ele compreendeu. Do mesmo jeito que Malfoy odiava Hermione, devido às palavras do loiro, Hermione odiava Malfoy.
-Nada que eu gostaria de repetir.
-Desgraçado. – Hermione já não falava com Aaron; só a menção de Draco Malfoy já a levou para outro mundo. Sem saber o que dizer, o garoto olhou para o lado. Não era exatamente daquele jeito que deveria ser aquele encontro; não era assim que tinha planejado. Se tudo desse errado, ele perderia aqu... Não, não iria fracassar, não daquela vez.
-Ele é apenas carente de atenção; te perturbar o coloca nos holofotes. – a ideia veio como um raio na cabeça de Aaron; ele simplesmente sabia as coisas certas a se dizer.
-É, eu sei. – Hermione conteve um sorriso; talvez Aaron não fosse um maldito cobra.
[ - ]
Já estava quase na hora do jantar quando Hermione deixou a biblioteca. Aaron não incomodou tanto quanto ela imaginava – o garoto parecia uma planta quando percebia que Hermione não queria ouvir sua voz. A morena conseguiu, apesar de sua companhia, terminar seus estudos como de costume, e precisava admitir, não foi a pior sessão de estudos de sua vida; na realidade, só não foi das melhores, pois nada se comparava a estudar com Harry e Rony.
-Eu preciso deixar meus livros no meu quarto antes do jantar. – ela disse, tentando encontrar uma forma indolor de se livrar de Aaron antes que alguém os visse juntos. O garoto entendeu o que estava por trás das inocentes palavras de Hermione, mas não se deixou afetar. Ele balançou a cabeça, passando-lhe a mensagem de que estava tudo bem.
-A gente se vê... – ele disse, tocando o queixo de Hermione de forma carinhosa antes de partir. Seu jeito de andar, seu jeito de falar, seus gestos... tudo denunciava o verdadeiro Aaron como um outdoor para Hermione.
“Galinha”
Riu para si mesma. Como pode se deixar levar por um rostinho bonito? Talvez ele não fosse mesmo arrogante e egocêntrico como Draco Malfoy, mas definitivamente não o exemplo de bom moço. Galanteador, essa era a melhor palavra para defini-lo. Deveria estar na Corvinal junto com todos os outros galinhas sedutores de Hogwarts.
[ - ]
Gina parecia um verdadeiro incêndio. Não apenas por ser estonteantemente bonita, ou por ter um corpo de dar inveja em toda a ala feminina de Hogwarts. Seu jeito voraz a tornava a metáfora perfeita de seus cabelos ruivos – fogo. Ansiosa como sempre, a garota se sentou ao lado de Hermione na mesa do jantar. A morena nem se deu ao trabalho de perguntar o motivo de tanta euforia, Gina contaria... Ela não conseguiria se conter até que alguém perguntasse.
-Eu me inscrevi. – ela fez uma pausa dramática, daquela vez esperando a interação da plateia. Rony não desviou os olhos do frango, mãos e boca encharcadas de molho dominando-o por completo. Harry, pelo riu que soltou, já sabia o que viria depois. A morena teve que fazer então o papel de amiga e reagir a ansiedade da amiga.
-No que?
-Grupo de teatro, aquele que te falei. – Gina parecia menos ansiosa ao soltar a notícia. Ela era sempre assim. Feito balão, ela apenas precisava explodir com as novidades e depois, parecia apenas restos de algo que momentos antes foi apavorante. Talvez um vulcão fosse mais apropriado para descrevê-la que um balão.
Havia algo estranho na ideia de Gina fazendo teatro. De fato, era fácil imaginá-la num palco, encenando – não que a ruiva fosse uma desesperada por atenções, mas ela era destemida e definitivamente não era tímida, mas era carente. Jamais entraria em nada se não carregasse alguém... mesmo que fosse apenas para aplaudi-la.
-E quem mais vai fazer?
Gina olhou para os lados, como se procurasse um lugar para se esconder. E precisava mesmo, ela sabia disso. Sabia que uma palavra seria o suficiente para sentencia-la para morte. A ruiva se virou para o prato em sua frente e começou a comer – enquanto estivesse de boca cheia não precisaria responder nada.
A morena não conseguiu ler as atitudes de Gina, então se convenceu de que a ruiva tinha finalmente se livrado de suas carências e inseguranças e conseguiria fazer algo sem precisar de um guarda-costas.
-Rony detesta fazer papel de ridículo – Gina disse entre mordidas – Harry está ocupado demais com Dumbledore fazendo não sei o que. Então só tive uma opção... – a ruiva tentou fazer parecer o mais natural possível, mas escolhendo as palavras certas para que a explosão não viesse do lugar errado.
Hermione estava prestando atenção, mas nem toda a sua inteligência era o suficiente para prever as palavras de Gina. A morena era ingênua no que se tratava da amiga; nada do que Gina fazia era o que a outra esperava.
-Bom, eu não queria ficar sozinha... e ai eu inscrevi você.
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